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6 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

A mutilação genital feminina (MGF) – 6 de fevereiro de 2018

«As mães não têm poder de decisão nos casos de mutilação genital feminina porque acontece serem os pais quem obriga as meninas a submeterem-se a esta prática, segundo denuncia a presidente da Associação Humanitária contra la Ablação da Mulher Africana (AHCAMA), Aissatou Diallo.»

Oito mil crianças do sexo feminino são vítimas em cada dia que passa, mais por pressão dos pais do que das mães.

Leio no “Publico. Es” e não consigo imaginar o indizível sofrimento de quase 3 milhões de crianças a quem a religião e o tribalismo mutilam em nome da tradição. Não há uma só crueldade contra a mulher que não encontre justificação na tradição misógina das tribos patriarcais da Idade do Bronze. Grave é permitir que os costumes que chocam a civilização, matam e mutilam mulheres, encontrem na Europa oportunidade para se perpetuarem.

Este costume troglodita, de origem animista, não é apanágio do islamismo. Praticou-se entre os cristãos coptas e outras comunidades, mas hoje perdura apenas em contexto islâmico e estima-se que existam mais de 100 milhões de mutiladas.

O testemunho da presidente da AHCAMA, ela própria uma vítima que carrega, desde os 8 anos, a dor a que a condenaram, mutilada para a impedir de ser mulher e dispor do prazer que negaram à máquina reprodutiva em que decidiram transformá-la.

A sua luta é a luta de todos nós, homens e mulheres, que seremos cúmplices se nada fizermos para pôr fim à barbárie.

3 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Citação

«QUANDO SE TRATA DE DINHEIRO, TODOS TÊM A MESMA RELIGIÃO.»

(Voltaire)

30 de Janeiro, 2018 Luís Grave Rodrigues

O Prémio

27 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

À conversa com o pregador João César das Neves

Há mais de 11 anos

A homilia, de hoje, do santo pregador católico, João César das Neves, é portadora de avanços teológicos (V/ Diário de Notícias) no que diz respeito ao domicílio do Inferno (sito no Céu em regime de sublocação).

JCN – Vivemos numa daquelas raras épocas que não sabe bem o que pensar acerca do Céu e do Inferno – diz com a sabedoria dos eleitos, do Papa e da irmã Lúcia. Deixa-nos a convicção de que sabe muito bem, não por ouvir dizer, mas, tal como Bush, por falar com Deus.

Diário Ateísta: (em pensamento) O raio dos alcalóides!

JCN – O segundo elemento desta questão é que Deus nos ama apaixonadamente, a todos e a cada um, porque «Deus é amor» (1 Jo 4, 8 e 16). Assim, na Sua própria natureza, Deus quer a total felicidade para qualquer pessoa. Isso significa que Deus não condena ninguém. Ele leva sempre todos para o Céu.

D. A. – Com a paixão, Deus manda guerras, terramotos, maremotos, epidemias, pragas e outras manifestações da sua infinita bondade para mais depressa chamar as pessoas ao gozo da sua divina companhia.

JCN – Deus quer a total felicidade para qualquer pessoa. Isso significa que Deus não condena ninguém. Ele leva sempre todos para o Céu.

D. A. – Então o Inferno está às moscas!?

JCN – Tal significa que há zonas do Céu em que o egoísmo elimina o amor, em que a violência e o prazer são os objectivos, em que o orgulho expulsa o próprio Deus. A essas zonas do Céu chama-se Inferno.

D. A. – (verificando que Deus se converteu à economia de mercado e aproveita o direito de sublocação) – Então o Diabo existe?

JCN – Claro que existe (…) de facto, quando deixámos de acreditar nessa personificação maléfica, baixámos as defesas e passámos a tolerar algumas das suas manifestações mais horríveis. Aborto, depravação, pornografia, gula, arrogância, e muitas outras, são hoje vistas como anedotas, expressões de personalidade, traços culturais, comportamentos excêntricos. Por isso o Diabo nunca foi tão visível como desde que deixámos de falar dele.

D. A. – Ah! E isso do lago do fogo, do Juízo final, dos condenados?

JCN (com evangélica paciência) – Trata-se simplesmente de uma forma sugestiva e colorida de dizer o mesmo, como uma mãe que assusta o filho com o papão se ele mexer em fósforos ou fichas eléctricas. O nosso tempo age como o rapazola insolente que, descobrindo que não há papões, vai meter os dedos na tomada de corrente.

Nota: As frases de JCN e algumas do Diário Ateísta são da homilia – «Ideias claras sobre o essencial».

21 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Texto divulgado por Alfredo Barroso

SOBRE ORGIAS NO VATICANO E OUTRAS “PEQUENAS FESTANÇAS”
– por François Reynaert (*)

Nos momentos difíceis, é preciso saber encontrar o apaziguamento no longo rio da História. Consideremos então o “fait divers” proveniente de Roma que veio apimentar o início do Verão [de 2017]: chamada por vizinhos já exasperados por uma incessante barulheira, a polícia italiana irrompeu, no final de Junho [de 2017], por um prédio situado no Vaticano, acabando por descobrir o que foi descrito como uma “orgia gay”. Com eclesiásticos, “go-go boys” e cocaína à tripa-forra. Acontece, por outro lado, que a residência em questão pertence à piedosa Congregação para a Doutrina da Fé e que o organizador da “pequena festança” era o secretário particular de um dos cardeais mais importantes da Cúria, e estava em vias de se tornar bispo. Este prelado, que terá certamente de esperar um pouco mais antes de obter a promoção, foi encontrado num estado tal que justificou o seu internamento urgente para efectuar uma cura de desintoxicação. Não são muitos os detalhes sobre o caso – o que se lamenta. Mas não se duvida que vai causar mais preocupação ao Papa e a alguns católicos mais aflitos.

Como convencê-los a não ficarem assim tão preocupados com este caso? Antes de mais, contrariamente ao que a Imprensa se apressou a repetir em contínuo, este caso nada tem de um “novo escândalo sexual” a abater-se sobre a Igreja. Recordemos que os últimos escândalos que vieram à baila foram atrozes histórias de pedofilia. O “fait divers” de Junho [de 2017] tem a ver com adultos que sabiam perfeitamente o que estavam a fazer. A História poderá ser, também, de grande ajuda para relativizar os desvios de comportamento que agora foram descobertos. No que se refere a “desordens contra natura”, como dantes se dizia, o trono de São Pedro já viu muitas outras.

Confessemos, todavia, que a tradição específica de que se está a falar não é fácil de apreender, porque se mistura frequentemente com outras tradições. No século X, por exemplo, durante um período mais tarde baptizado como da “pornocracia pontifícia” (904-963), Roma está sob o domínio duma poderosa família que impele os Papas a todos os excessos, para fazer deles os seus fantoches. Mas parece que as rédeas da Igreja estavam sobretudo nas mãos das cortesãs, o que nos afasta do nosso tema. O famoso grande cisma do Ocidente (1378-1417), esse período em que o trono de São Pedro, dividido entre Avinhão e Roma, é disputado por dois Papas e às tantas por três, oferece-nos igualmente um momento propício. Mas também aqui os excessos que nos interessam são submergidos por outros. Assim, o Antipapa João XXIII, posto em julgamento pelo Concílio de Constança, é acusado de ter praticado a sodomia com monjes – um clássico – mas também de outras “preciosidades”, entre as quais a violação de mais de 300 monjas, de modo já não se sabe a que diabo nos devemos confiar.

Faustosa sob todos os pontos de vista, a Roma pontifícia da Renascença é a das grandiosidades artísticas – basílica de São Pedro, capela Sistina, Miguel Ângelo, Rafael, Bramante e toda essa parafernália – mas também a de outras proezas. Alexandre VI (1492-1503), um dos dois Papas Bórgia, orienta-nos para uma falsa pista. Obcecado em provocar a perda do belo Astorre Manfredi, que lhe recusara a sua moradia de Faenza, diz-se que o terá violado antes de o mandar lançar ao rio Tibre. Mas é uma acusação sujeita a caução. Uma outra das sua proezas, devidamente confirmada por um prelado alsaciano em serviço no Vaticano, é digna de fé mas claramente heterossexual: em 31 de Outubro de 1501, mandou vir 50 prostitutas para as proporcionar à sua corte, submetendo-a a uma espécie de concurso de virilidade, arbitrado pelos seus próprios filhos, os célebres César e Lucrécia Bórgia.

Em matéria de vício italiano, como se dizia nessa época, mais vale recorrermos ao Papa Sisto IV (1471-1484), que passava por escolher os seus cardeais exclusivamente por critérios físicos. Ou ao Papa Júlio III (1550-1555), cujo primeiro acto que praticou, logo que a tiara pousou na sua augusta fronte, foi nomear cardeal o seu jovem favorito, de 17 anos de idade, do qual nunca se separava, nem mesmo para dormir. Com tal golpe, o detalhe causou escândalo. A época tornou-se mais dura. Entretanto, aconteceu o cisma da Reforma, cujo mundo protestante festejou meio milénio [em 2017]. Contrariamente ao que por vezes se escreve, Lutero não rompeu com Roma por causa dos deboches que ele viu multiplicarem-se durante uma viagem que fez em 1510. O grande escândalo, a seus olhos, era a venda das indulgências, isto é, a possibilidade que os cristãos tinham de comprar a sua salvação a troco de dinheiro, comércio que foi relançado por Leão X (1513-1521) para financiar a edificação da basílica de São Pedro. Assim sendo, uma vez consumada a ruptura, os ataques vindos dos luteranos e, sobretudo, dos muito puritanos calvinistas, contra « a nova Babilónia» ou «a grande prostituta romana», terão quase sempre o seu alvo abaixo da cintura. Roma sente que é preciso impor a calma nesse lado. Após o concílio de Trento, Pio V (1566-1572) decreta o fim da recriação e impõe aos seus palácios e ao seu clero um estilo asceta. Aqueles que querem continuar a divertir-se deverão fazê-lo com discrição…

(*) Texto publicado no semanário francês “L’OBS” em 3 de Agosto de 2017

14 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Humor

9 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

O negócio das almas

O Paraíso não é um bar de alterne, nem um lugar especialmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de patifes a jogar as cartas com no Paraíso e a servir bebidas ao Padre Eterno.

Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabia-se de ciência certa, com aquela honestidade que se conhece ao clero, que os não batizados tinham por destino o Limbo, sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades, atribuído ao Deus de Abraão como destino de almas sem bênção, e que um papa recente extinguiu, por vergonha ou falta de rendimento.

No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer despachar mais mercadoria.

É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma catástrofe para o negócio.

Os clérigos, encarregados das almas e do negócio, ficaram apavorados com o fim da perseguição criminal às mulheres que interrompem a gravidez.

Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para a reprodução e louvores ao Deus regional.