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22 de Outubro, 2004 André Esteves

O começo do fim do mundo foi há 160 anos atrás

Há 160 anos, por todos os Estados Unidos, pessoas vestidas com túnicas brancas puseram-se em cima de telhados e colinas, à procura de um melhor lugar para ver a chegada de cristo…

William Miller tinha começado anos antes a pregar a volta de cristo, e conseguiu praticamente sozinho, trazer de volta a mania do «Fim está próximo» e o espectro do ano 1000. A partir da profecia da final refundação do templo de Jerusálem, no Livro de Daniel, capítulos 8 e 9, William calculou que Cristo viria à terra em 1843. Mais precisamente em 21 de Março, á volta das 5 da manhã (William devia achar que Cristo gostava de se levantar cedo). Todos os seus seguidores foram para os telhados e colinas… e nada…

No dia seguinte, William Miller pediu desculpas. Tinha esquecido de contar com o ano 0 do calendário gregoriano (porque é que os bons pregadores nunca são bons em matemática?), pelo que reviu a sua previsão para 22 de Outubro do ano seguinte.

E então há 160 anos atrás, pelas 5 horas da manhã: Nada. Niente. Zip. Cristo não apareceu, outra vez…

Nesta altura, a maior parte dos seus seguidores (estima-se entre cem e cinquenta mil pessoas, numa população de 4 milhões) já se tinha desfeito de todos os seus bens terrestres, na expectativa de entrarem em 1ªclasse no paraíso e desertaram, desiludidos e gozados pelo resto da população. Tudo isto ficou conhecido como o Grande Desapontamento.

Claro que Williams endireitou as coisas perante uma pequeníssima minoria que se manteve fiel (pessoas demasiado orgulhosas, estúpidas ou simplesmente viciadas na adrenalina gerada por conviver com William Miller e viver na titilante expectativa da proximidade do fim do mundo). Com a sua morte, as discussões doutrinais aumentaram entre os seguidores e partiram-se em todas as seitas que professam o «Fim está próximo». (Adventistas do Sétimo dia, ramo ortodoxo e ramo davidiano (que depois deu no que conhecemos, em Waco Texas), Testemunhas de Jeovah, etc).

O fim está próximo… todos os dias, como depois escreveu William Miller.

Enquanto os emuladores de Miller existirem, acrescento eu.

22 de Outubro, 2004 André Esteves

Raizes evangélicas do Juche

Hoje estive a ver um documentário na SIC Notícias sobre a Coreia do Norte. Apanhei uma surpresa. O Juche, ideologia oficial da Coreia do Norte é uma mistura de estalisnismo, confucionismo e protestantismo missionário!!

A Coreia do Norte aproxima-se mais de uma enorme seita evangélica com o estado e o grande líder Kim Il Sung no lugar de Deus e Cristo. As ferramentas de manipulação psicológica assemelham-se com as utilizadas pelas seitas e igrejas evangélicas. Os próprios pais de Kil Il Sung eram protestantes e ele bebeu profundamente das suas raízes evangélicas…

Enquanto isso, em Washington, do lado do «bem», o Reverendo Moon , segue uma agenda muito semelhante. Também é Deus na terra…

As diferenças só estão na propaganda com que continuamente nos enchem os ouvidos.

Qual será o autêntico eixo do mal?

20 de Outubro, 2004 André Esteves

Malformações morais

(NOTA: Se se sente ofendido com o espectáculo, deixe-me informá-lo que ainda há crianças-fetos-recém nascidos em condições muito piores e que apesar de não serem viáveis, sobrevivem ainda durante meses…)

20 de Outubro, 2004 André Esteves

Palavras que não estão na Bíblia…

«A próxima vez que um crente lhe disser que a “separação do estado e das igrejas” não aparece nos nossos documentos fundadores, digam-lhes para pararem de utilizar a palavra “Trindade”. A palavra “Trindade” não aparece em nenhum lugar da bíblia original. Nem advento, nem segunda vinda ou pecado original. Se ainda estiverem incrédulos (ou sem palavras) por isto, então juntem omnisciência, omnipresença, sobrenatural, transcendência, vida após a morte, divindidade, teologia, monoteísmo, missionários, concepção imaculada, Natal, cristandade, evangélico, fundamentalista, metodista, católico, papa, cardeal, catecismo, purgatório, expiação pessoal, transsubstanciação, excomunhão, dogma, castidade, pecado venal e mortal, infalibilidade, encarnação, epifania, sermão, eucaristia, o Avé-Maria, a Sexta-feira de cinzas, Tomé o céptico, a escola dominical, o mar morto, a regra dourada, moral, moralidade, ética, patriotismo, educação, ateísmo, apostasia, conservador (a palavra liberal está…), pena capital, monogamia, aborto, pornografia, homosexual, lésbica, lógica, républica, democracia, capitalismo, funeral, decálogo ou bíblia.»

— Dan Barker, em Perdendo fé na fé: De pregador a ateu»

20 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Kerry excomungado ?

Um advogado de Los Angeles, Marc Balestrieri, que dirige a organização católica De Fide, interpôs uma acção canónica em Junho último pedindo a excomunhão de John Kerry pelo seu apoio aos direitos reprodutivos das mulheres. Há dois dias viu a sua pretensão corroborada por uma carta do Vaticano.

Nesta carta, escrita por Basil Cole a pedido de Augustine di Noia, subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício da Inquisição) a resposta é: sim, Kerry está excomungado. Assim como todos os políticos que pessoalmente sejam contra o aborto mas a favor da liberdade de escolha.

Ted Kennedy, Tom Harkin, Susan Collins e o ex-governador do estado de Nova Iorque, Mario Cuomo, são os próximos na lista do preocupado advogado. Que certamente faz parte desta organização que reza online para a re-eleição de Bush.

19 de Outubro, 2004 André Esteves

Kabalada cardíaca

Phillip Berg fundador do Centro Kabbala de Los Angeles acabou de ter um enorme ataque cardíaco.

Infelizmente, as fitinhas vermelhas «cheias de energia do túmulo de Esther» não parecem ajudar muito no acumular do colesterol…

Podemos ler no Renas mais pormenores sobre a famosa fitinha vermelha e a família de Madonna.

19 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Presunção e água benta II …

O inenarrável João César das Neves volta a atacar, desta vez não um dos mais prestigiados neurocientistas da actualidade, mas o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, com pleno recurso às habituais falácias e proselitismo com que mimoseia semanalmente os leitores do Diário de Notícias.

Tenho imensa pena que o Diário de Notícias tenha deixado de disponibilizar os seus conteúdos online, já que ler a opinação do supracitado colunista era o meu momento zen das segundas feiras. Mas desta vez o conteúdo da coluna de J.C. das Neves é demasiado forte, até mesmo para o que nos habituámos a ler saído da sua pena sofista.

A prosa de ontem versa sobre a sua inquietação em relação ao estado antidemocrático e populista (na opinião dele, claro) que caracteriza a Espanha actual. Manifestando a sua indignação profunda por os espanhóis terem um Primeiro Ministro em que os eleitores não se revêm. Manifestando a esperança que o PSOE consiga fazer de Zapatero um estadista. Em causa, como é óbvio, estão as recentes medidas do governo socialista espanhol que conduziram a uma guerra aberta com a delegação em Espanha da Igreja Católica Apostólica de Roma.

Como tão bem diz o Rui Tavares do Barnabé no post A obra-prima do disparate «César das Neves está tão preocupado com Espanha que chega a sugerir que o país possa cair numa nova guerra civil. E isso porque a Igreja Católica espanhola “está a ser perseguida”, o que, aliás, “sempre tem tido boas consequências para a fé… tempos difíceis afirmam o fervor e avançam a evangelização”. Diz César das Neves que não é um problema de legitimidade de Zapatero, mas “que o seu cargo também lhe dá poder e legitimidade para deitar fogo ao Museu do Prado”, uma barbaridade equivalente às barbaridades que verbera César das Neves sem nunca nos dizer exactamente quais são, mas que se imagina que sejam as decisões do governo espanhol acabar com a obrigatoriedade das aulas de religião e aceitar o casamento homossexual.

Nota para João César das Neves: em Espanha, tal como outrora em Portugal, quando há eleições os partidos apresentam programas. O partido que ganha deve cumprir com o seu programa, que foi validado pela maioria dos eleitores. No programa do PSOE não estava deitar fogo ao Museu do Prado (eram capazes, sei lá, de ter perdido), mas estava legalizar as uniões homossexuais e desobrigar os alunos de terem aulas de religião. Promessas com que ? sabe-se lá como ? ganharam. E agora ? esta é a parte chocante, eu sei ? estão a cumprir as promessas.»

O espírito do pio Pio IX, que invectivou a «ultrajante traição da democracia» condenando a democracia como um «princípio absurdo», a liberdade de opinião como «loucura e erro» e especialmente condenatório do laicismo, continua presente na Igreja Católica actual.

Consequentemente a ICAR e seu prosélitos consideram-se perseguidos quando não os deixam impor as suas morais absolutas! Neste caso queixando-se paradoxalmente de um défice democrático, quando na realidade de sentem ultrajados pela própria existência da democracia, que, no léxico de Tomás de Aquino, é catalogado nos regimes políticos maus e ilegítmos

Em relação ao Filipe da respública, que criticou o Carlos Esperança, classificando-o de ateu intolerante pela crítica que fez a J. C. das Neves, devolvo-lhe (e aos demais católicos fundamentalistas) o conselho: «respeitem os outros na medida em que vocês próprios querem ser respeitados. É verdadeiramente triste que ainda não tenham aprendido isso». E, já agora, aprendam também o significado de democracia! E laicismo! Porque quer Portugal quer Espanha são democracias laicas!

19 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Presunção e água benta…

O Cardeal Renato Raffaele Martino, responsável máximo do Conselho pela Justiça e pela Paz do Vaticano, garante que há uma nova «Inquisição» anti-católica na Europa, adiantando, como exemplo, a campanha para impedir Rocco Butiglione de se tornar comissário europeu.

Foi esta nova Inquisição, nomeadamente o comité para as liberdades civis do Parlamento Europeu, que votou contra a candidatura de Buttiglione depois deste candidamente ter afirmado que a homossexualidade era um pecado e que o casamento existe apenas para que as mulheres tenham filhos e sejam protegidas pelos seus maridos. Afirmando uns dias depois que as mães solteiras não são boas pessoas.

Esta presunção do Vaticano de se achar perseguido quando os seus sequazes são democraticamente vetados para posições que lhes permitam impor as suas políticas de homofobia e discriminação das mulheres já enjoa!

Suponho que na sua vitimização autista os dignos eclesiásticos e seus prosélitos não se apercebam do tiro no pé que constitui a comparação de uma votação para um cargo numa instituição democrática com uma instituição absolutista que assassinou no decurso da sua tenebrosa existência muitas centenas de milhares de inocentes. Entre os quais exactamente os grupos que pretendiam continuar a discriminar: mulheres (estima-se entre seiscentos mil e nove milhões o número de «bruxas» queimadas na fogueira) e homossexuais!

18 de Outubro, 2004 André Esteves

O Kitsch religioso da semana

A publicidade que vêm à vossa direita, é um anúncio de uma igreja finlandesa a tentar chamar os mais jovens dos seus computadores para a igreja.

Os computadores e a religião são dois comboios, prestes a chocar a alta velocidade. O computador é A inovação tecnológica sem precedentes na história da humanidade.

Turing, Von Neuman e tantos outros, tornaram reais construções teóricas que só pretendiam lidar com os problemas postos pela lógica matemática. Mas quão profícuos se demonstraram essas construções teóricas!!

Hoje, a mundivivência religiosa dos crentes é abalada pelo computador. Esse objecto que para as crianças tanto está vivo, como não pode morrer.

A sua existência é uma dissonância profunda numa visão de um mundo construído por um deus. E as questões filosóficas que os próprios objectos computacionais levantam são subversivas…

Por exemplo, o problema de Turing levanta a questão da validade da revelação, já que não podemos distinguir entre esta e a sua emulação(e logo mentira) por parte do profeta. O que levanta a própria questão das boas intenções de Deus, e logo ao problema do mal.

E a capacidade cada vez maior de cálculo e raciocínio, faz-nos antever um dia a existência de computadores inteligentes…

Ainda me lembro da liberdade e mudança de mentalidades que um mero undo num programa de ambiente gráfico trouxe a muitas pessoas. A vida também se podia viver, experimentando, aprendendo com os nossos erros. E isso, é liberdade.

As igrejas e religiões utilizarão os computadores como um novo medium para as suas actividades proselitadoras (Até já há igrejas virtuais e sacramentos em ambientes virtuais..). Mas o irónico, é que «o meio é a mensagem» e com os computadores ninguém pode ser, a partir de certo ponto de envolvimento, um mero e obediente receptor da mensagem divina.