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25 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Intolerâncias

«The right to search for truth implies also a duty: one must not conceal any part of what one has recognized to be true. (O direito à busca da verdade implica também um dever: não se pode esconder alguma parte do que se reconheceu como verdade)» Albert Einstein.

Por contingências profissionais apenas este fim de semana tive disponibilidade para espreitar a blogoesfera católica nacional e finalmente satisfazer a curiosidade despoletada pela crítica do Filipe a um post do Diário Ateísta. Devo confessar que fiquei estarrecida!

No primeiro blog em que me detive envolvi-me numa discussão acesa acerca de uma afirmação velada do Timóteo no post O caso Buttiglione que insinuava ser prática de ateus e agnósticos comerem criancinhas ao pequeno almoço (obrigado Luís pela simplificação simbólica dos dislates do Timóteo).

O meu pasmo intensificou-se quando, motivado pela negação do Timóteo da possibilidade de existência de um sistema moral fora dos auspícios divinos, o meu desabafo: «Para os cristão a paz, a justiça e o respeito pela natureza são heresias ateístas (de facto foram ateístas que as introduziram…) e como tal sem valor se não forem a paz (?) e a justiça (?) de Cristo. O respeito pela natureza então é uma dupla heresia de inspiração pagã porque um bom cristão sabe que Deus fez o homem à sua imagem e criou a Terra com todo o seu recheio biológico para os restantes habitantes se sujeitarem ao Homem… O beato Bellarmino queimou vivo Giordano Bruno por este se opor a esta visão da Terra…» é respondido pelo Timóteo com a inesperada apropriação de valores ateístas: «Para um cristão a paz, a justiça, nomeadamente a justiça social e ambiental (sendo esta apenas um ramo da justiça social), não são heresias. São os nossos valores. E gostamos que certos ateus também os defendam. Só é pena é que estes apenas pretendam defender estes valores por conveniência utilitária (que, enquanto conveniência de circunstância, é um valor simplesmente relativo). É que se os defendem apenas porque acreditam neles são crentes (que apenas não se assumem como tal).»

Ou seja, depois de ter manifestado o meu assombro pela apropriação abusiva pelo digno prelado Martino, em nome da santa Igreja de Roma, dos créditos da ciência ocidental, sinto-me sem adjectivos para qualificar a afirmação deste créu católico que desconsidera de cruz todos os ateístas (ateus e agnósticos no meu léxico) como amorais, ou mais exactamente imorais, e reinvidica para os crentes os valores introduzidos por ateístas impenitentes.

Assim, gostaria apenas de relembrar ao piedoso Timóteo que a justiça social, quer em sentido restrito quer lato, só muito recentemente foi incorporada no léxico católico, mais especificamente no léxico católico laico, já que os dignatários do Vaticano continuam a reiterar, por oposição, a justiça divina, como já tive oportunidade de indicar. Nomeadamente na voz do cardeal Ratzinger que se lamentava recentemente «Não é um bom sinal que muitos ambientes cristãos se caracterizem hoje não pela fé na Trindade, mas na fé de uma tríade repetitiva como mágica: ‘Paz, justiça, respeito pela natureza’».

Mais, quiçá será uma surpresa para o Timóteo terem sido ateístas que combateram eficazmente a escravatura, por cujo apoio e difusão pela ICAR apenas em 1993 o Papa João Paulo II pediu desculpas envergonhadas e inconvincentes. Na herança da escravatura e do concomitante colonialismo evangelizador, fonte de misérias e racismos, que legou ao mundo uma legião de deserdados da sorte e andarilhos perdidos, pode-se inscrever boa parte da injustiça social actualmente vigente!

Será igualmente novidade para o intolerante crente que é no iluminismo francês, profundamente ateísta, que assenta a declaração dos direitos do homem (ainda hoje contestada por muitos cristãos), para além do laicismo e da democracia. E que a independência nos EUA de 1768, que serviu de exemplo aos ideais de liberdade e igualdade, foi igualmente devida a ateístas (alguns, por questões semânticas, denominados na época deístas naturais, na linha de Voltaire) Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, John Adams e Thomas Paine.

«A religião Cristã começa com um sonho e termina com um assassinato.» Thomas Paine

«As religiões são todas iguais – fundadas sobre fábulas e mitologias.» Thomas Jefferson

«A pergunta que a humanidade enfrenta é se o Deus da Natureza deve governar o mundo pelas suas próprias leis ou se o devem governar padres e reis por milagres fictícios» John Adams

Post Scriptum: Suponho que para repor a verdade histórica que o revisionismo católico quer obliterar se impõe uma série de posts devotados ao humanismo e iluminismo. Pelo que serão o objecto dos meus próximos posts!

24 de Outubro, 2004 André Esteves

Os Fait-Divers dos Últimos Dias

Marinha Britânica autoriza Satanismo

Numa decisão sem precedentes, a Marinha Britânica autorizou o culto do Satanismo, variante da Igreja de La Vey, a bordo de um dos seus barcos. Chris Cranmer, 24, alferes foi autorizado pelo seu capitão a praticar rituais satânicos a bordo do barco HMS Cumberland da Marinha Britânica. Assim de acordo com a prática da Marinha de sua majestade, se morrer em combate terá direito a um funeral segundo os preceitos da Igreja de Satanás. O capitão do HMS Cumberland procura agora registrar a Igreja de Satanás no role de religiões reconhecidas pela Marinha Britânica.

Imagino que se poderá dizer que trata-se de uma religião menos hipócrita, perante as circunstâncias da guerra, que os seus equivalente tradicionais. A partir de agora, as orgias de Sábado à noite, em mar alto nos barcos de sua majestade passam a ter «um caracter religioso»…

A Notícia [Inglês]

Igreja baptiza cavalo chamado «O Reverendo Corredor»…

Numa polémica iniciativa, um pregador sul-africano resolveu baptisar, numa cerimónia pública de angariação de fundos, um cavalo. O dito cavalo oferecido por um criador à igreja, irá se chamar «O Reverendo Corredor». Na cerimónia, o cavalo foi aspergido com água e de seguida, vendidos talões de rifa. O vencedor da rifa irá ter direito a 49% dos rendimentos do cavalo, no circuito das corridas. A igreja já realizou, anteriormente, a rifa de outro cavalo, mas é a primeira vez que o baptiza. Por causa disso, o Pastor encontrou alguns problemas com os membros mais conservadores da sua congregação. Desculpou-se, dizendo: – Isso é uma questão entre mim e Deus…

Deus deve ter pedido ao reverendo pastor que apostasse uns rands por ele. Deve andar farto de jogar com decaimentos atómicos.

A Notícia [Inglês]

Monges budistas tailandeses em orgias de droga e bebida

Um grupo de seis monges budistas foram presos e obrigados a deixar o sacerdócio, pelo monge responsável do mosteiro, por realizarem orgias de drogas e bebida. Tudo começou, com o aumentar de queixas de barulho e bandalheira por parte dos vizinhos do mosteiro: toda uma aldeia.

Ninguém gosta de gente na vizinhança, que ande «iluminada»…

A Notícia [Inglês]

Pastor Adventista preso por mostrar «uma bomba» em aeroporto

Um Pastor Adventista do Sétimo dia foi preso no aeroporto de Nashville, Tennesse. Ao ser inquirido se transportava uma bomba (pergunta legalmente obrigatória no sistema legal americano, nas vistorias de passageiros), respondeu entusiasmado que sim, sacando imediatamente da sua Bíblia. Foi preso e apresentado ao tribunal por «fazer uma afirmação falsa».

Há pessoas que julgam que a vida é uma pregação, vivendo num nevoeiro de adrenalina e testosterona que os leva a «dar testemunho» a qualquer momento. Aos seguranças, o nevoeiro é outro, o do medo e stress de deixar passar uma bomba. Decididamente não combinam e nos EUA, mentir às autoridades é crime e dá pena de prisão. Até vem na bíblia, segundo alguns pregadores…

A Notícia [Inglês]

Livro de Mormon irá sair em versão de banda desenhada…

Doze Volumes completos. O primeiro sai para a semana. Pergunto-me como o autor vai desenhar os personagens. Peles-vermelhas à la «judeu ortodoxo» ou judeus com penas na cabeça e a viver em tipis?

A Notícia [Inglês]

23 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Obstipação e indulgências

O final do século XIV e o século XV marcaram o fim da supremacia absoluta da Igreja de Roma na Europa. Para além da ameaça que o conhecimento científico leigo apresentava, esta viu-se confrontada com a Reforma protestante, despoletada pelo empenho que Leão X devotou à construção da Basílica de S. Pedro, concentrando a recolha de fundos para a edificação da sumptuosa Basílica no comércio intensivo de «indulgências», perdão garantido para todos os pecados possíveis e imagináveis, passados, presentes ou futuros, comércio esse que atingiu dimensões e contornos que escandalizaram o piedoso (e obstipado) Martinho Lutero.

Foi recentemente redescoberta a sanita que proporcionou a Martinho Lutero longos momentos de reflexão, certamente sobre a escandalosa vivência da maioria do clero e a opulência e ineficácia do papado que lhe motivaram as 95 teses. O próprio admitiu que foi em momentos contemplativos possíveis devido aos préstimos de tão inestimável objecto que lhe adveio a inspiração para afirmar que a salvação se deve somente à fé e não às obras.

Os pensamentos higiénicos de Lutero foram difundidos, muito rapidamente graças a Gutenberg, na forma de panfletos e livros em que negava a autoridade absoluta do Papa, atacava a riqueza e a corrupção da Igreja e o papel privilegiado dos padres na sociedade. Claro que tal afronta não ficou sem resposta de Roma e, em 1520, através da bula Exsurge Domine, o papa Leão X condenou e depois excomungou Lutero. A Reforma foi encorajada em segredo e por razões políticas pelo mui católico rei de França e pelo cardeal seu primeiro-ministro. Acendeu-se, com mais fervor, a fogueira da revolta, que culminou com a «guerra dos camponeses» (1524-25).

Para reafirmar as doutrinas tradicionais e fazer frente à reforma protestante que se tinha espalhado por todos os países da Europa Ocidental e da Europa Setentrional, com vários reformadores a reinterpretar o cristianismo para além de Lutero, como Ulrico Zuínglio, Guilherme Farel, Filipe Melanchton, João Calvino e João Knox, é convocado o Concílio de Trento em Dezembro de 1545.

A última sessão do Concílio de Trento decorreu no dia 4 de dezembro de 1563. Nesse dia foram lidas todas as decisões tridentinas, formalmente aprovadas pelo Papa Pio IV em 26 de janeiro de 1564.

Para além de reafirmar a doutrina da transubstanciação, defender a concessão de indulgências, aprovar as preces dirigidas aos santos e de insistir na existência do purgatório, a profissão de fé tridentina marca a ascendência de Tomás de Aquino, isto é Aristóteles, no catolicismo. Assim a doutrina é definida sob um ponto de vista teológico, imiscuindo-se, por outro lado, no domínio científico. A Terra imóvel, centro do mundo, torna-se palavra do Evangelho. Os Santos Padres arrogam-se ao direito de decidirem acerca de tudo, mesmo em matéria «científica», e quem passe para lá destes ditames incorre a partir do Concílio de Trento nas sanções mais severas.

23 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Estará tudo louco no Vaticano?

Na longa tradição do revisionismo histórico de uma Igreja de Roma que pretende ter a Inquisição de facto assassinado pouquissimas pessoas, já que apenas queimavam… manequins e não pessoas nas fogueiras,
leio com natural estupefacção que o cardeal Renato Raffaele Martino numa alocução a que chamou «Ciência e Fé ao serviço do homem», proferida no Festival da Ciência de Bérgamo pôs em dúvida «a já habitual consideração que se tem de que a ciência é resultado do Iluminismo», pois, «para os grandes cientistas e teólogos da Idade Média como São Alberto Magno, Roberto Grossatesta e Santa Ildegard von Bingen, a relação entre fé e ciência era quase co-natural». Assim percebiam estes «eminentes cientistas e crentes no Deus do universo» «a harmonia entre estas duas formas de conhecimento» -reconheceu o presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz- mas «esta harmonia entre ciência e fé vem a quebrar-se em uma época que corresponde mais ou menos ao início do Iluminismo».

O digno eclesiástico afirmou ainda que houve «instrumentalização» do caso Galileu Galilei, que foi assim usado «como símbolo de uma suposta oposição entre ciência e fé, que levou muitos a sustentar» a «incompatibilidade entre ambas». «Ao contrário, a ciência moderna é produto genuíno de uma visão judaico-cristã do mundo que tem sua fonte de inspiração na Bíblia e na doutrina do Logos»

Acho que raramente li algo tão absurdo! Uma Igreja, pela voz do Papa, que acusa os cientistas de se estarem indevidamente a imiscuir em assuntos que pertencem a Deus, que perseguiu, matou e censurou ao longo de toda a sua história, mesmo a mais recente, os cientistas que ameaçam a visão absurda da Terra escrita na Bíblia dizer uma barbaridade destas é tão ridículo que precisei confirmar se a página onde a li pela primeira vez não corresponderia a um jornal satírico, tipo The Onion!

Ainda por cima não percebi muito bem porque citou Ildegard von Bingen, que tanto quanto sei só é conhecida pelas suas vinte e seis visões místicas da salvação por Cristo, explanadas no livro Scivas e pela sua música. Enfim, praticava aquilo a que agora se chamaria medicina mística mas não estou exactamente a ver como alguém lhe pode chamar grande cientista!

Roberto Grosseteste (mentor de Roger Bacon) e Alberto Magno (professor de Tomás de Aquino) podem-se considerar contributores para o iluminismo renascentista já que tornaram aceitáveis pela Igreja Católica as obras do “pagão” empiricista Aristóteles, introduzidas na Europa no século XII pelo filósofo muçulmano Averrois. De facto, Averrois, que foi médico na corte cordovesa até ser acusado de heresia em 1195 e desterrado para Lucena, e Avicena ou Abu Alí Ibn Sina (980-1037), o autor do “Canone de Medicina”, o qual impregnou profundamente todas as obras medievais sobre farmacopeia e química, são os mais decisivos pensadores medievais.

Em relação aos apelidados cientistas cristãos são mais conhecidos pelas suas vertentes «mágicas» e alquimistas, que não são exactamente o que eu designaria por ciência. Roger Bacon enfatizou o papel primordial da observação e da experimentação, mas, tal como Alberto Magno, acreditava na iluminação divina dos dados experimentais. Por exemplo, Bacon explica o arco-íris com Genesis (IX): Deus fez o arco-íris para selar o fim do dilúvio, portanto para eliminar uma quantidade excessiva de água.

A relação quase co-natural entre fé e ciência de Alberto Magno e Gosseteste citada pelo prelado e a interpretação mística de dados experimentais quer por parte de Roger Bacon quer de Alberto Magno, propiciaram a dissolução da ambição de ambos os teólogos: unir numa síntese sólida a teologia natural e a teologia revelada. Especialmente devido à influência crescente dos filósofos árabes, em particular Averrois, que exaltava com vigor essa separação.

As obras de Averrois foram (em vão) proíbidas pela Igreja, por instigação de Tomás de Aquino e Alberto Magno, porque, para além de advogarem a supremacia da razão sobre a fé, os averroístas aceitavam a concepção aristotélica de Deus como o motor imóvel que move eternamente um mundo eternamente existente não criado nem conhecido por ele, para além de afirmarem que a alma não é imortal!

As bases para revolução intelectual no Ocidente situam-se na Espanha do século XII onde se redescobriu a ciência árabe e grega, onde, para além das obras de Averrois e Avicena, se podiam encontrar trabalhos originais árabes como a Álgebra de Al-Khwarizmi, e a óptica de Ibn al-Haytham (latinizada como Opticae Thesaurus), para além de traduções e comentários árabes sobre textos gregos de Aristóteles, Ptolomeu e Euclides.

Assim, a cristianização de Aristóteles por Tomás de Aquino e a sua afirmação de que «Procurar compreender as leis da natureza é procurar compreender a obra de Deus, é, por conseguinte, aproximar-se dele», ou seja, a sua tentativa de tornar a ciência uma aliada da fé, são apenas manobras da Igreja de tomar as rédeas de um processo imparável. Não esqueçamos que até então vigoravam as pias palavras do prior de Clairvaux, Bernardo, que, dois séculos antes, pregava a ignorância piedosa afirmando que «Deus não obedece à lei ordinária.»

A invenção da imprensa em 1440 foi mais um passo para a cisão irreversível entre ciência e religião, já que a partir da invenção de Gutenberg o controle da difusão do saber escapou à Igreja. Não obstante o Index librorum prohibitorum. E o princípio do fim do monopólio científico (se é que lhe podemos chamar isso) e filosófico dos religiosos começa com o humanismo de Petrarca e Lorenzo Valla…

23 de Outubro, 2004 Ricardo Alves

Foi há 94 anos…

Decreto de 22 de Outubro de 1910


Para satisfazer ao espírito liberal e às aspirações dos sentimentos republicanos da Nação Portuguesa:
Tendo em vista que o Estado não pode obrigar as famílias, e, portanto, as crianças a determinada crença religiosa;
Considerando que o ensino dos dogmas é incompatível com o pensamento pedagógico que deve regular a instrução educativa das escolas primárias;
O Governo Provisório da República Portuguesa, em nome da República, decreta o seguinte:
Artigo 1º Fica extinto nas escolas primárias e normais o ensino da doutrina cristã.
Artigo 2º O ensino da moral nas escolas primárias e normais primárias será feito sem auxílio de livro, intuitivamente, pelo exemplo da compostura, bondade, tenacidade e método de trabalho do professor, e pela explicação de factos de valor cívico e moral, que imprimam no carácter dos alunos o sentimento da solidariedade social.
Artigo 3º A educação cívica nas escolas primárias e normais primárias, enquanto não forem aprovados novos livros segundo o espírito democrático da República, será feita também por prelecções do professor, que se deverá inspirar sempre nos sentimentos da Pátria, amor do lar, do trabalho e da liberdade.
Pela Direcção Geral da Instrução Primária serão oportunamente publicadas instruções complementares do presente decreto.
Determina-se, portanto, que todas as autoridades a quem o conhecimento e a execução do presente decreto pertencer, o cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nele se contém.
O Ministro do Interior o faça imprimir, publicar e correr. Dado nos Paços do Governo da República, aos 22 de Outubro de 1910. O Ministro do Interior, António José de Almeida




(Sim, foi há 94 anos. E hoje seria desejável que se publicasse novamente o mesmo decreto, sem alterar uma vírgula…)

22 de Outubro, 2004 Mariana de Oliveira

Santo Pereira

Eureka! D. Nuno Álvares Pereira entrou no ramo da oftalmologia e realizou um milagre – eis o último elo que permitirá a conclusão do processo canonização do beato.

De acordo com Francisco Rodrigues, vice-postulador para a Canonização do Beato Nuno de Santa Maria, falta apenas a autorização do Vaticano para a constituição de um tribunal eclesiástico que analisará a questão uma vez que os relatórios médicos da cura confirmam que não existe explicação científica para este caso.

O que catalizou o milagre? Uma senhora de 61 anos, residente em Ourém, cujo olho esquerdo (não sei se há algum significado político oculto) foi queimado com óleo que saltou de uma frigideira a ferver. Em Setembro de 2000, a vitimada submeteu-se à ciência médica que chegou à conclusão de que uma eventual recuperação da visão nesse olho demoraria sempre um mínimo de um ano. O olho deveria ficar tapado de forma a não ser sujeito à luminosidade do sol (será mais uma mensagem subliminar?) e o organismo submetido à toma diária de medicamentos. «Mas mesmo com esses tratamentos não havia garantia de cura e a solução poderia ser um transplante de córnea», disse o padre Francisco Rodrigues.

Depois de várias novenas – não há informações acerca do número exacto – a Nuno Álvares realizadas pelo pároco local e por familiares, na noite de 7 de Dezembro de 2000, a senhora «encheu-se de coragem», rezou de forma intensa ao beato e beijou uma imagem sua. «Logo então sentiu uma paz imensa. Foi sentar-se no sofá, ligou a televisão e apercebeu-se que via desse olho», disse o sacerdote. Milagre!

Segundo o vice-postulador, existem «várias graças divinas» que envolvem o Beato Nuno, nomeadamente na área da oncologia, mas os responsáveis do processo acharam por bem avançar apenas com este caso já que é mais «evidente» e «simples de provar». A existência de vários documentos médicos que confirmam a incapacidade e a posterior recuperação da visão esteve na base da decisão da Postulação para a Causa para a Canonização do Beato Nuno para avançar com o processo, que foi recebido com júbilo pelo Vaticano. Neste momento falta apenas a confirmação da Santa Sé para que o tratamento e acompanhamento desta cura seja feita pelo Patriarcado de Lisboa, que irá constituir um tribunal diocesano.

«O cardeal D. José Policarpo está muito empenhado, bem como o cardeal D. Saraiva Martins», prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, entidade que tutela os processos de santidade antes de chegarem ao Papa. De seguida, a Congregação dos Carmelitas terá de «propor a canonização do Beato Nuno», explicou Francisco Rodrigues.

Nuno Álvares Pereira foi beatificado em 1918 e já tinham tentado a sua canonização por duas vezes. O Papa Pio XII, em 1940, queria «canonizá-lo por decreto» como «exemplo do soldado cristão num tempo de guerra» mas rapidamente escolheu um processo normal, baseado em milagres ou graças divinas. A Ordem dos Carmelitas, nos anos 60, reiniciou o projecto, que foi abortado com o começo da guerra colonial com receio de que fosse mais valorizado o seu papel como soldado do que como religioso.

O vice-postulador entende «que agora é que é o momento certo para a sua canonização. Em que é mais importante o seu papel como frade do que como militar», contudo salientando que as virtudes pessoais já eram visíveis durante a crise de 1383-85. Que virtudes? Segundo o padre, D. Nuno Álvares Pereira nunca praticou «guerra ofensiva» e obrigava os seus soldados a confessar-se e a ir à missa com regularidade, proibindo-os ainda de perseguir os espanhóis derrotados após as batalhas.

22 de Outubro, 2004 André Esteves

O começo do fim do mundo foi há 160 anos atrás

Há 160 anos, por todos os Estados Unidos, pessoas vestidas com túnicas brancas puseram-se em cima de telhados e colinas, à procura de um melhor lugar para ver a chegada de cristo…

William Miller tinha começado anos antes a pregar a volta de cristo, e conseguiu praticamente sozinho, trazer de volta a mania do «Fim está próximo» e o espectro do ano 1000. A partir da profecia da final refundação do templo de Jerusálem, no Livro de Daniel, capítulos 8 e 9, William calculou que Cristo viria à terra em 1843. Mais precisamente em 21 de Março, á volta das 5 da manhã (William devia achar que Cristo gostava de se levantar cedo). Todos os seus seguidores foram para os telhados e colinas… e nada…

No dia seguinte, William Miller pediu desculpas. Tinha esquecido de contar com o ano 0 do calendário gregoriano (porque é que os bons pregadores nunca são bons em matemática?), pelo que reviu a sua previsão para 22 de Outubro do ano seguinte.

E então há 160 anos atrás, pelas 5 horas da manhã: Nada. Niente. Zip. Cristo não apareceu, outra vez…

Nesta altura, a maior parte dos seus seguidores (estima-se entre cem e cinquenta mil pessoas, numa população de 4 milhões) já se tinha desfeito de todos os seus bens terrestres, na expectativa de entrarem em 1ªclasse no paraíso e desertaram, desiludidos e gozados pelo resto da população. Tudo isto ficou conhecido como o Grande Desapontamento.

Claro que Williams endireitou as coisas perante uma pequeníssima minoria que se manteve fiel (pessoas demasiado orgulhosas, estúpidas ou simplesmente viciadas na adrenalina gerada por conviver com William Miller e viver na titilante expectativa da proximidade do fim do mundo). Com a sua morte, as discussões doutrinais aumentaram entre os seguidores e partiram-se em todas as seitas que professam o «Fim está próximo». (Adventistas do Sétimo dia, ramo ortodoxo e ramo davidiano (que depois deu no que conhecemos, em Waco Texas), Testemunhas de Jeovah, etc).

O fim está próximo… todos os dias, como depois escreveu William Miller.

Enquanto os emuladores de Miller existirem, acrescento eu.

22 de Outubro, 2004 André Esteves

Raizes evangélicas do Juche

Hoje estive a ver um documentário na SIC Notícias sobre a Coreia do Norte. Apanhei uma surpresa. O Juche, ideologia oficial da Coreia do Norte é uma mistura de estalisnismo, confucionismo e protestantismo missionário!!

A Coreia do Norte aproxima-se mais de uma enorme seita evangélica com o estado e o grande líder Kim Il Sung no lugar de Deus e Cristo. As ferramentas de manipulação psicológica assemelham-se com as utilizadas pelas seitas e igrejas evangélicas. Os próprios pais de Kil Il Sung eram protestantes e ele bebeu profundamente das suas raízes evangélicas…

Enquanto isso, em Washington, do lado do «bem», o Reverendo Moon , segue uma agenda muito semelhante. Também é Deus na terra…

As diferenças só estão na propaganda com que continuamente nos enchem os ouvidos.

Qual será o autêntico eixo do mal?

20 de Outubro, 2004 André Esteves

Malformações morais

(NOTA: Se se sente ofendido com o espectáculo, deixe-me informá-lo que ainda há crianças-fetos-recém nascidos em condições muito piores e que apesar de não serem viáveis, sobrevivem ainda durante meses…)

20 de Outubro, 2004 André Esteves

Palavras que não estão na Bíblia…

«A próxima vez que um crente lhe disser que a “separação do estado e das igrejas” não aparece nos nossos documentos fundadores, digam-lhes para pararem de utilizar a palavra “Trindade”. A palavra “Trindade” não aparece em nenhum lugar da bíblia original. Nem advento, nem segunda vinda ou pecado original. Se ainda estiverem incrédulos (ou sem palavras) por isto, então juntem omnisciência, omnipresença, sobrenatural, transcendência, vida após a morte, divindidade, teologia, monoteísmo, missionários, concepção imaculada, Natal, cristandade, evangélico, fundamentalista, metodista, católico, papa, cardeal, catecismo, purgatório, expiação pessoal, transsubstanciação, excomunhão, dogma, castidade, pecado venal e mortal, infalibilidade, encarnação, epifania, sermão, eucaristia, o Avé-Maria, a Sexta-feira de cinzas, Tomé o céptico, a escola dominical, o mar morto, a regra dourada, moral, moralidade, ética, patriotismo, educação, ateísmo, apostasia, conservador (a palavra liberal está…), pena capital, monogamia, aborto, pornografia, homosexual, lésbica, lógica, républica, democracia, capitalismo, funeral, decálogo ou bíblia.»

— Dan Barker, em Perdendo fé na fé: De pregador a ateu»