Loading

Categoria: Não categorizado

2 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Ainda o princípio antrópico, II: a posição «cientificamente correcta»

«Na sua versão «forte» o Princípio Antrópico diz o seguinte: O Universo é tal que:

1) Necessariamente leva ao aparecimento da Vida e da Vida inteligente;

2) Uma vez surgida a Vida inteligente, esta prosseguirá a sua evolução sem nunca desaparecer.

Dito de outra maneira: a Vida inteligente é como que um feto do Universo (implantado talvez por Deus) que se irá desenvolvendo de forma harmoniosa… E não há aborto, voluntário ou não, possível.

À primeira vista, esta tese não parece muito convincente. De facto sabemos que muitas espécies têm desaparecido (os dinossauros constituindo o caso mais espectacular). Os humanos, esses estariam condenados a não desaparecer…

Por um lado, se a Humanidade – a nossa Humanidadezinha – continuar com os pés na Terra, certamente que desaparecerá. Isto porque o Sol, fonte de vida, da energia e da nega-Entropia, é, como todas as estrelas, uma estrela condenada. Condenada a gastar o seu (abençoado) combustível nuclear até à exaustão.

Por outro lado, a Humanidade construiu armas poderosas- bombas nucleares capazes de levar a uma autodestruição. Por que é que tal não aconteceu, em particular nos anos quentes da guerra fria? Será que Kennedy e Kruchov ou Reagan e Bresnev tinham uma protecção (divina) que travava os seus instintos destruidores?

Mais uma vez aparece a pescadinha a querer meter o rabo na boca. Será pelo facto de haver um princípio teleológico que a Humanidade existe, ou será exactamente o contrário: porque a Humanidade existe inventou-se um princípio teleológico?

Em conclusão: a posição «cientificamente correcta» – a posição cc – parece continuar a ser a de Monod e Weinberg: somos fruto do acaso e da necessidade, nada mais há para além disso.

Naturalmente que todos temos o direito – e talvez o dever -, como Einstein, de nos deslumbrarmos, encantarmos, comovermos com o milagre do Universo e da Vida.

Haverá mesmo, talvez, irredutibilidade das questões de Gauguin (donde viemos, onde estamos, para onde vamos) a um tratamento estritamente científico. A razão poderá ter a ver com a impossibilidade que temos de responder a questões mais globais que se colocam na teoria. A questão do Nós e o Cosmos poderá ser uma questão meta-científica no sentido do teorema de Gödel. Por palavras simples: não se pode explicar tudo. Não pode haver teoria explicativa completa!

Termino com uma citação de Max Planck, o Físico dos Quanta, do fim do século XIX e do começo do século XX:

«A Ciência não pode resolver o mistério final da Natureza. Isto porque, em última análise, nós próprios somos parte do mistério que tentamos resolver»

Eu penso que Gödel não teria dito melhor!»

2 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Ainda o princípio antrópico, I: pescadinha de rabo na boca

Há uns dias tive oportunidade de escrever aqui a minha opinião sobre o Circulus In Demonstrando ou verdade de La Palice que dá pelo nome princípio antrópico, apresentada como uma alternativa deísta ao evolucionismo «ateu». Uns dias depois, em conversa com o presidente do CENTRA, o Centro Multidisciplinar de Astrofísica do Instituto Superior Técnico, Jorge Dias de Deus, um paradigma nacional em divulgação científica, pedi-lhe uma contribuição para o Diário Ateísta sobre esse e outros temas.

O Jorge informou-me que já tinha dissertado sobre o assunto, nos longínquos finais do século XX, quando todos pensávamos que a religião não seria sequer um parâmetro equacionável na descrição do «ser» do Universo, quando o Jorge afirmava que «a Evolução é uma das noções que, após grandes reacções de fundamentalismos vários, mais fortemente se enraizou na tradição científica», muito menos teria a evolução catastrófica para o progresso da Humanidade a que o dealbar do século XXI assistiu.

Assim, enquanto todos esperamos futuras contribuições, deixou-me com uma palestra que apresentou em Julho de 1998, no âmbito de uma iniciativa de divulgação científica, os V Cursos Internacionais de Verão de Cascais.

Palestra que, por ser demasiado extensa para transcrição na íntegra, partilho parcialmente em duas partes com os leitores do Diário Ateísta.

«Há um princípio, Princípio Antrópico, que pretende demonstrar que o número de civilizações inteligentes é necessariamente maior ou igual a um e, para os defensores mais extremistas do princípio, o número é exactamente igual a um. Trata-se efectivamente de uma tentativa de recuperar um sentido para o Mundo, através de um princípio teleológico, correspondendo a uma actualização das ideias de Teilhard de Chardin.

O Princípio Antrópico, na sua versão «fraca» diz que:

1) as forças da Natureza Têm as intensidades e alcances que têm:

2) as massas, cargas e outras características das partículas têm os valores que têm;

3) o Universo tem a idade que tem, de modo a permitir a existência e evolução da Vida (com base no carbono).

Em relação ao Universo, já vimos que a sua idade (na ordem de 1010 anos) é compatível com a evolução (cerca de 109 anos para que se chegue, por Evolução, à Vida Inteligente). Se fosse mais velho haveria menos estrelas a funcionar (teriam já gasto o seu combustível nuclear) e a probabilidade de se encontrar um Sol e uma Terra baixaria enormemente. Se fosse muito mais novo não teria havido tempo para o aparecimento de um Sol e de uma Terra, e não teria havido tempo para a evolução.

Quanto às massas das partículas, se a massa do electrão fosse 200 vezes maior do que é (se fosse igual à massa do muão) o átomo seria 200 vezes mais pequeno e nós seríamos igualmente 200 vezes mais pequenos! De facto, a situação é mais dramática do que isso: com átomos 200 vezes mais pequenos os electrões (de carga negativa) ficam dentro do campo dos protões (de carga positiva) do núcleo, sendo por estes capturados com a produção de neutrões e neutrinos (de carga zero). Os núcleos acabariam por ser instáveis e, por exemplo, as estrelas ficariam neutras, incapazes de produzir luz, que é uma pré-condição essencial para a vida. Dito de outra maneira: não haveria Sol!

Mas haverá, sim ou não, algo de misterioso nestas – chamemos-lhe assim – coincidências? É difícil de dizer onde é que está a boca e onde é que está o rabo da pescadinha: mas realmente parece um problema de pescadinha de rabo na boca. Não viveremos, talvez, no «melhor dos Mundos», mas temos de viver num Mundo onde possamos viver. Ou então não viveríamos.

Portanto, o Princípio Antrópico, nesta versão fraca, só serve para chamar a atenção para a necessidade de consistência entre as características da Vida inteligente conhecida, e as características do Mundo exterior. Em certa medida, o Princípio é tautológico. Por outro lado, nesta versão, não é de modo algum inconsistente com a evolução e o darwinismo. Limita-se a dizer: se eu existo têm que existir pré-condições para a minha existência.»

(continua)

1 de Dezembro, 2004 Aires Marques

Na Figueira

No próximo dia 5, na Figueira da Foz, pelas 16H00 no Auditório do Museu Municipal, promovida pela Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, há uma palestra «Humanitarismo e a Solidariedade nas Religiões» proferida pelo prof. Dr. Moisés Espírito Santo seguindo-se a apresentação, feita pelo Prof. Dr. António Faria, de uma obra assinada pelo investigador prof. Pedro Ramos Brandão, «A Igreja Católica e o Estado Novo em Moçambique».

Quer pelas personalidades envolvidas quer pelos temas abordados estes eventos nerecem atenção.

1 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

ENA III: Cardápio

A Comissão Organizadora do ENA III, após uma árdua demanda pelos hóteis, casas de pasto, restaurantes, tascos, centros de congressos e salas de exposições da cidade de Coimbra, encontrou um local para o III Encontro Nacional de Ateus, a realizar no dia 19 de Dezembro.

Quem nos irá dar guarida é o hotel D. Luís, situado em Santa Clara, na margem esquerda do Mondego e com uma bela vista sobre a Lusa Atenas, mais propriamente à frente da rotunda da Ponte Europa.

A refeição, porque não podemos trabalhar correndo o risco de nos dar uma fraqueza, tomará a forma de um bufete composto por, sopa, entradas, dois pratos quentes (peixe e carne), várias saladas (umas de vegetais, outras de polvo e de orelha de porco), carnes frias e uma variedade de sobremesas (doces e fruta).

O preço será de 14 euros com o suplemento de 2,50 euros por pessoa para vinhos ou águas ou refrigerantes.

Agora, resta apenas inscreverem-se.

1 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Para os que não sabem

Para os que não sabem, aqui estão as instruções para a inscrição no III Encontro Nacional de Ateus, que irá decorrer em Coimbra, no dia 19 de Dezembro.

1. O e-mail a ser usado para as inscrições é [email protected].

2. O tópico do e-mail deve ser: «Inscricao Ena 3»

Caso levem acompanhantes o tópico pode ser «Inscricao Ena 3 ( +Y )» em que Y é o número de acompanhantes.

3. O corpo do e-mail deve ser:

Nome: Nome do Participante

Email: Email_do_participante@blah

Telefone: 666 666 666

Se houver acompanhantes:

Nome: Nome do Acompanhante 1

Email: Email_do_Acompanhante 1@blah

Telefone: 666 666 666

Nome: Nome do Acompanhante 2

Email: Email_do_Acompanhante 1@blah

Telefone: 666 666 666

4. O formato dos emails para as inscrições TEM que respeitar as regras mencionadas. Existe um filtro e os e-mails que não seguirem este formato arriscam-se a ser automaticamente apagados pelo sistema. Inscrições para a lista assoc_ateista, despertar ou ateismo.net também NÃO SERÃO consideradas.

5. A inscrição é considerada como definitiva, mas pode ser cancelada. Uma semana antes do evento será enviada uma mensagem a todos os inscritos a confirmar a inscrição.

1 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Imoralidade sidosa

Como a Palmira assinalou, hoje é o dia mundial da luta contra a sida.

Para assinalar este acontecimento, o Vaticano disse considerar que, por trás do contágio, está uma «imunodeficiência de valores morais e espirituais» e reiterou, acertadamente, a necessidade de as empresas farmacêuticas baixarem os preços dos medicamentos e, obviamente, a observância da castidade.

Javier Lozano Barragán, presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, citou o João Paulo II ao afirmar que esta doença é uma «patologia do espírito» que deve ser combatida com o «ensino do respeito pela valores sagrados da vida e uma correcta prática sexual», ou seja, a supressão de qualquer comportamento sexual, especialmente aquele que envolve uma boa sessão de sexo escaldante.

Barragán não se pronunciou sobre a propaganda anti-preservativo feita pela Igreja, nomeadamente a afirmação de que os preservativos não protegem contra a transmissão do vírus do HIV, e, como informou a Palmira, sobre o patrocínio de campanhas pela queima de preservativos.

1 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Religião e saúde

Sob o título «Bispos enfatizam assistência espiritual» o «Público» de hoje informa que o presidente da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde», padre Vítor Feytor Pinto, defendeu ontem, em Fátima, uma maior formação de médicos e enfermeiros para integrarem a assistência espiritual no tratamento dos doentes.

Acusando os referidos profissionais de que «absolutizam a técnica « e ignoram o apoio espiritual que deve ser dado aos doentes», lembrou que «o novo Plano Nacional de Saúde, que está em vigor até 2014, inclui a assistência espiritual e religiosa como uma acção terapêutica junto dos doentes».

– Quais as bases legais que levam as autoridades a aprovarem «a assistência espiritual e religiosa como uma acção terapêutica»?

– Quais as bases científicas que garantem a eficácia? Há ensaios duplo-cegos que provem a eficácia superior ao placebo e ausência de toxicidade?

– Qual é a legitimidade ética para impor a pessoas, debilitadas pela doença, semelhante bizarria?

Já se imaginou um médico a prescrever um antibiótico mais uma ave-maria, um analgésico intervalado com padre-nossos ou o tratamento prolongado de cortisona com uma novena?

Um enfermeiro não tem legitimidade para obrigar o enfermo a debitar uma salve-rainha enquanto aplica um clister, a rezar o acto de contrição a um paciente com uma blenorragia, a impor o credo enquanto administra o óleo de rícino, a solicitar um padre para ministrar a eucaristia como tisana para a obstipação ou obrigar a rezar uma oração aos pastorinos de Fátima a um doente achacado com hemorróidas.

É preciso pôr cobro aos desvarios da ICAR.

1 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Agradecimentos

Os colaboradores do Diário Ateísta registam sensibilizados as numerosas mensagens de simpatia recebidas pelo seu 1.º aniversário:

Causa Nossa

Renas e Veados

Club-silêncio

Os tempos que correm

Povo de Bahá

Pula pula pulga

La pipe

O narcisista

Blasfémias

Critico

O olho do girino

Ao Marco «Açores», Júlio Reis, Ana, aar, Marco Oliveira, J. H. Coimbra, Carlos Camacho e a todos os que, involuntariamente, possamos ter omitido, agradecemos as felicitações enviadas.

Agradecemos igualmente a todos os leitores que ao longo deste primeiro ano nos acompanharam nesta estimulante caminhada.

30 de Novembro, 2004 André Esteves

Os Andorinhos andam mais bonitões…

Nos últimos 30 anos foram observadas mais de 1.500 mudanças morfológicas em espécies por todo mundo, documentando os processos naturais da evolução. Agora chega-nos a notícia das mudanças mais dramáticas de que há conhecimento: um aumento em 10% das penas posteriores laterais nas andorinhas macho do norte da Europa.

Anders Pape Moller da Universidade Pierre e Marie Curie de Paris, juntamente com o seu colega, Tibor Szep do Colégio de Nyiregyhaza na Hungria,medem há 20 anos as características físicas das andorinhas europeias. Neste período de tempo assistiram a mudanças dramáticas nos machos da espécie.

A andorinha europeia realiza um ciclo anual de migração entre o norte da Europa e a África do Sul atravessando um hemisfério entre os seus terrenos de procriação no norte da Europa e os de invernia na África do Sul. Pelo meio, encontram o Sahara.

A hipótese apresentada por Moller e Szep indica que as modificações globais no clima, ao aumentarem as fronteiras do Sahara introduziram também uma maior pressão evolutiva nas espécies migratórias que o atravessam. Assim, ao tornar-se mais difícil atravessar o Sahara só os machos com características genéticas de maior estamina e saúde natural conseguem sobreviver às dificuldades acrescidas. Essas vantagens genéticas manifestam-se por sua vez durante o periodo de acasalamento no crescimento de enormes e saudáveis penas. Outros biólogos evolucionistas, no entanto, acham que para uma mudança tão dramática deverá haver a sobreposição de várias pressões selectivas que proporcionaram esta mudança tão significativa.

Quantos aos criacionistas que passavam o tempo a reclamar que a evolução não se via a olhos vistos: mostrem-lhes agora o cu das andorinhas, se fazem favor…