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Categoria: Não categorizado

29 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Maratona de devotos celibatários

Sob os auspícios da Comunidade Taizé, comunidade internacional e ecuménica, fundada em França, em 1940, na localidade que lhe dá o nome, chegaram ontem a Lisboa milhares de jovens para uma maratona de oração, meditação, leitura da Bíblia, cânticos e outras actividades litúrgicas, que se prolongarão até ao próximo dia 1 de Janeiro.

Os «irmãos», todos comprometidos com o celibato, são acompanhados pelo fundador, irmão Roger, e os pontos altos das festividades terão lugar na sexta-feira, a partir das 23:00, nas paróquias, em comunhão com os povos que sofrem, «vigília de oração pela paz», seguida de uma «festa das nações», também nas paróquias. O Encontro religioso termina em apoteose às 18:30 do dia 1 de Janeiro com uma «Eucaristia Vespertina da Epifania em Fátima».

Do vasto programa do encontro constam piedosos objectivos e vários pedidos a Deus, nomeadamente um futuro de paz. No entanto, face à calamidade que varreu o Sudoeste Asiático no último Domingo e às pavorosas consequências do terramoto e do maremoto que se seguiu, temo que os irmãos celibatários de Taizé e os jovens que os acompanham, ao chegarem a Lisboa, tenham chegado tarde, ao sítio errado e com as preces trocadas.

29 de Dezembro, 2004 André Esteves

Fait Divers dos Últimos dias

Pastor Baptista burla seguradora em falso assalto

O Pastor Benjamin Joseph Martin da Igreja Baptista de Grace foi preso e acusado por simular um roubo na sua casa e pedir milhares de dólares em compensação da sua seguradora.

Trata-se de um esquema muito comum nos Estados Unidos. Deus só lhe devia dar migalhas e o bom pastor fartou-se. Preferiu ser ele próprio a fazer o milagre da apólice de seguro…

A Notícia

Reverendo da Igreja da Inglaterra condenado por abuso de menina de 13 anos

O agora ex-Reverendo Kevin Conway, professor e pai de 3 crianças foi condenado por abuso sexual a uma menor de 13 anos. O abuso começou quando a menina lhe foi pedir apoio por ser maltratada pelos seus colegas no recreio da escola.

A posição de poder e confiança adquirida é a primeira parte do problema da pedofilia no clero.

A Notícia

Padre atingido a tiro por antigo abusado, vai a tribunal

Por um milagre, o padre Maurice Blackwell sobreviveu aos três tiros que a sua antiga vítima lhe apontou. A antiga vítima tinha sido abusada enquanto ajudava à missa numa paróquia de Baltimore. Pela foto, podemos ver que a pedofilia católica não escolhe raças, tal como os seminários.

A Notícia

Monges budistas tibetanos prevêem fim do mundo para 2012. Vamos ser salvos por extra-terrestres.

A influência cultural do New Age parece chegar ao Tibete. Este gênero de «visionamentos astrais» são o que acontece quando as únicas visitas dos monges no Tibete são viciados em OVNIS e crentes nas energias dos cristais. É tempo de mais gente, sem manias de cristais, levantar a voz pela ocupação do Tibete pela China. Tibete livre já!!

A Notícia

OVNIS passeiam-se sobre instalações nucleares iranianas

Alguém já leu os dossiers da CIA sobre o uso dos OVNIS como arma psicológica?

A Notícia

Relíquia do tesouro do Rei Salomão é logro

A juntar à tábua de consagração do templo de Israel e ao sarcófago de Tiago. A manipulação da arqueologia para fins ideológicos não parece ter fim na terra santa. A origem destes artefactos fraudulentos já foi traçada aos grupos de extrema direita israelita, tanto para fortalecer as «bases históricas» do estado judaico como para alimentar o interesse da direita cristã americana na questão judaica. Aparentemente, com fé e raça fazem-se grandes descobertas arqueológicas em Israel…

A Notícia

Polícia colombiana à procura de droga em caixa, encontra bonecas Vodu. Polícias fogem em debandada.

É o que acontece quando temos uma guerra à droga financiada pelos EUA. Os agentes americanos devem encher os seus colegas colombianos de histórias sobre seitas satânicas.

Será a Colômbia, o maior exportador mundial de bonecos de vodu (recheados de droga)? E a diversificação para ídolos pagãos, imagens católicas e múmias egípcias? É para quando?

A Notícia

Médium chileno recebe MMS’s da Virgem Maria

Segundo este conceituado médium chileno, ele terá recebido uma mensagem da virgem no seu telemóvel. Ficamos a saber que a mãe de Jesus acompanha a moda e que já comprou um telemóvel com câmara fotográfica. E já agora… Quando é que alguém oferece um à irmã Lúcia?

A Notícia

Homem Santo indiano não se senta ou deita há dois anos

Segundo as suas palavras: «senti uma energia divina dentro de mim e desde então nunca mais me sentei.» As crises crónicas de hemorróidas são assim…

A Notícia

Pai Natal deixa de receber dinheiro do estado dinamarquês. Sem dinheiro para os selos das cartas, só responde aos e-mails

Uma organização dinamarquesa que respondia às cartas de crianças ao pai natal, deixou de receber financiamento estatal. Talvez por propagar um logro…

Para quando o fim do financiamento da igreja luterana dinamarquesa e companhia?

A Notícia

Pai Natal espancado por gang de miúdos ladrões de doces

O Pai Natal já devia saber. Isto dos doces torna as crianças hiperactivas…

A Notícia

Cornflake que parece um cornflake à venda no e-Bay

Alguém farto da tosta com cara e do cereal em forma de homem, resolveu pôr à venda um cornflake com aspecto de cornflake. Considerando o recente aumento de ofertas de objectos milagre no e-bay, um cornflake que se parece um cornflake é realmente uma raridade.

A Notícia

29 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Propaganda política à moda medieval

Veja aqui um detalhe do mural, e aqui a obra completa

Um mural do século XIII descoberto há quatro anos na cidade Massa Marittima, Toscana, na opinião do Dr. George Ferzoco, constitui o primeiro exemplar de propaganda política na História.

No livro que publicou recentemente, o perito em história toscana explica que este mural pretendia ser um aviso aos locais dos apoiantes do papado, os Guelphs, para que não permitissem a subida ao poder dos seus rivais políticos, os Ghibellines, já que estes introduziriam a heresia, perversão sexual, feitiçaria e caos.

Os Guelphs e os Ghibellines constituíam duas facções que, durante a Idade Média, lutaram por décadas pelo poder na Toscana em particular e no norte da Itália em geral. Niccolo Machiavelli é certamente mais (injustamente) conhecido pelo «O Príncipe» mas a sua obra prima «História de Florença», especialmente a partir do capítulo V, ilustra magistralmente este episódio de uma Itália dividida por guerras fraticidas que pretendiam o controle secular pela Igreja de Roma.

No dito mural propagandístico domina uma árvore deveras peculiar, já que os seus ramos estão recobertos de exemplares sortidos de uma parte específica da anatomia masculina. Debaixo da árvore são representadas mulheres, que Ferzoco diz simbolizarem bruxas, entregues a uma tarefa muito popular, de acordo com o folclore toscano dominante à época: o cultivo em ninhos de aves dessa parte da anatomia masculina, previamente roubada a incautos, que depois de assim tratadas adquiririam vida própria.

Duas das mulheres representadas parecem lutar pela posse de um destes animizados orgãos sexuais masculinos magicamente cultivados. Outra é sodomizada por um dos vinte e cinco «objectos» mágicos voadores.

«Na Idade Média, os heréticos dedicavam-se a uma coisa em especial que era a sodomia.» explica o Dr Ferzoco. «Para a mente italiana medieval, tal constituía um acto que exemplificava o agir contra natura, desarmonia, e falta de sentimento de comunidade.»

O autor relembra ainda uma passagem do tenebroso Malleus Maleficarum, o manual de caça às bruxas da santa Inquisição, responsável pela queima na fogueira de entre seiscentas mil a nove milhões de mulheres inocentes. Nela monges indicam ser prática das bruxas «a recolha de orgãos sexuais masculinos em grandes números, tantos como vinte ou trinta, e colocam-nos num ninho de pássaros ou fecham-nos numa caixa, onde eles se locomovem como membros vivos e comem aveia e milho, como tem sido visto por muitos e é alvo de descrição comum».

29 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Os fantasmas do Vaticano

Há temas, ditos fracturantes, que a ICAR gostaria de silenciar. O aborto, a eutanásia e o casamento de homossexuais são os que mais a crispam e apaixonam. E, no entanto, não podem ser ignorados nem perpetuamente adiadas as soluções legais.

A moral não é universal nem legitima a imposição de todas as normas e, muito menos, a punição pela sua violação. O divórcio, por exemplo, que é um mal, não pode ser proibido e só a intolerância religiosa e a cumplicidade da ditadura o limitou e, na prática, impediu, até ao regresso à democracia. O adultério é certamente iníquo e, no entanto, ninguém de são juízo se atreveria a propor uma punição legal, mas é bom lembrar que foi esse o crime que levou Camilo Castelo Branco ao cárcere.

Os que hoje se opõem à descriminalização do aborto são os mesmos que, já depois do 25 de Abril, não aceitavam que o risco de vida da mãe, as malformações fetais e a violação fossem motivos legítimos para a interrupção voluntária da gravidez, como se a lei impusesse a obrigação e não, apenas, consagrasse a permissão.

O mesmo acabará por acontecer com a eutanásia e com os casamentos dos homossexuais, cujo precedente existe em vários países europeus, apesar do terrorismo ideológico com que os adversários se opuseram. Convém repetir que é um direito que se consagra e não uma obrigação que se impõe.

O que surpreende nos adversários das alterações legais liberalizadoras, ou da simples discussão, não são as opiniões que perfilham, é o ódio que nutrem pelas ideias que colidem com as suas.

Há pessoas para quem a liberdade religiosa se confunde com o direito ao proselitismo e a exigência de conversão dos réprobos. Não lhes passa pela cabeça que a conversão e a apostasia, a ortodoxia e a heterodoxia, a devoção e o agnosticismo, a beatice e o ateísmo são direitos que se inserem na liberdade religiosa que, até hoje, só a laicidade do Estado conseguiu tornar efectiva.

29 de Dezembro, 2004 jvasco

A maioria dos crentes

Sou da opinão que a generalidade dos crentes não são pessoas transcendentais.

Sou da opinião que a generalidade dos crentes não gosta lá muito de pensar em religião (evita a missa, a não ser para casamentos e funerais), e que pensa pouco sobre Deus, sobre o mistério da criação, sobre aquilo que Deus é.

A generalidade dos crentes na nossa sociedade, creio eu, não tem uma ideia muito concreta sobre aquilo que é Deus, nem deixa que a sua religião influencie muito o seu dia-a-dia.

A generalidade dos crentes não quer ter muitas dúvidas ou pensar muito sobre porque é que o Universo é como é: aprenderam dos pais que Deus existe, e têm dele uma ideia vaga de velho barbudo e bondoso, que criou o Universo e que castiga os adúlteros e criminosos.

A ideia que têm do Universo, por ser tão vaga e tão pouco questionada, parece fazer sentido.

Eles preferem não falar de religião. Respeitam as opções religiosas dos outros, claro! E conversas sobre religião só trazem discussões que não levam a nada…

Além disso, não querem questionar aquilo em que acreditam, nem experimentar a incerteza de mudar radicalmente a forma de ver o mundo.

Muitos são crentes para não terem de duvidar nem se questionar como faziam quando tinham 9 anos.

Muitos são crentes para não terem de duvidar nem se questionar, nunca mais.

28 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança

Desolação, horror e tragédia

O maior sismo dos últimos 40 anos, seguido de um violento maremoto, levou aos países do sudoeste asiático a morte, a destruição e o desespero. Um domingo macabro.

Dezenas de milhares de mortos, inúmeros desaparecidos, uma multidão de feridos e estropiados é o resultado de uma tragédia que as condições precárias de países pobres se encarregam de ampliar. A fome, a falta de água potável, a cólera e outras doenças vão dizimar uma grande parte do milhão de desalojados vítimas da tragédia.

Falar de Deus nestas alturas não é apenas um acto gratuito, é uma obscenidade cruel para quem sabe que há meios para prevenir a dimensão destas tragédias e minorar o sofrimento dos sobreviventes.

Perante a desgraça vem-me à memória uma balada de Paul Ford: «Se todos os homens do mundo quisessem dar-se as mãos…».

27 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Contra a homofobia dos bispos

Vários grupos de defesa de lésbicas, gays e transexuais espanhóis manifestaram-se pela necessidade de o «Fiscal General del Estado» actuar oficialmente contra a Conferência Episcopal Espanhola pelo seu último documento aprovado relativo ao casamento homossexual.

Os porta-vozes destes grupos expressaram a sua indignação pelos termos empregados no texto redigido pelos bispos que, segundo a sua opinião, incitam à homofobia. Neste sentido, reclamam que o governo espanhol promova a aprovação de uma norma que condene este comportamento e que impeça a ICAR de proclamar, por exemplo, que a homossexualidade é «um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral».

A presidente e porta-voz da «Federación Estatal de Gays y Lesbianas» sublinhou que os bispos têm «uma atitude muito pouco cristã que incita à violência, ao ódio e à homofobia».

Esta atitude de condenação dos LGBT’s pela hierarquia católica levou milhares de madrilenos destas orientações sexuais a solicitar a desbaptização.

O presidente de outra associação, a «Asociación de Transexualidad Clínica de Madrid», chegou a afirmar que «temos de considerar se não é mesmo conveniente denunciar os acordos entre a Igreja e o Estado porque o Vaticano está a imiscuir-se nos assuntos internos da Espanha», referindo-se à posição dos bispos face aos projectos legislativos para a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Para tornar as coisas mais interessantes, a Conferência Episcopal espanhola iniciou ontem uma campanha contra o casamento homossexual e o seu direito à adopção que foi «celebrada por 69 dioceses do país, com a distribuição de sete milhões de desdobráveis nas paróquias espanholas, nos quais se indica que ‘no matrimónio, Deus une homem e mulher para que, formando uma só carne, possam transmitir a vida humana’».

É assim que a Igreja Católica Apostólica Romana promove a tolerância e a igualdade.

27 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Espírito natalício

A maioria dos creús acredita que a religião é condição sine qua non para a existência de um sistema moral, ou seja, insinua que o ateísmo é incompatível com a moralidade. Na realidade tais afirmações não passam disso mesmo, insinuações sem qualquer suporte experimental, são dogmas de fé que não carecem demonstração. E, aliás, os dados das prisões norte-americanas, que mantêm registos das religiões professadas pelos presos, indicam que os ateístas nas cadeias são apenas 0,21%, uma percentagem marcadamente inferior aos estimados 8-16% ateístas na população americana.

Para além da superioridade moral conferida pela verdade absoluta de dogmas revelados que não questionam, outra característica dos crentes consiste no paradoxo de se considerarem perseguidos se não puderem impor as suas crenças e dogmas. As suas prelecções de tolerância esgotam-se na imposição do seu proselitismo e os exemplos de intolerância em relação aos que não partilham as suas crendices são uma constante na História.

Um exemplo recente demonstra a vacuidade da apregoada tolerância cristã e do amor ao próximo, que era suposto caracterizar especialmente o tal espírito natalício.

Numa escola preparatória em Boulder, Colorado, os piedosos e promissores crentes de palmo e meio perseguem fisica e verbalmente os que não professam a fé cristã ou não a professam com o fervor adequado, acreditando em heresias ateístas como o evolucionismo. Os pais de vários alunos, vistos pelos colegas como perigosos ateus ou pagãos, queixaram-se em vão da perseguição de que estes eram alvo. Um dos abominados ateus de 13 anos chegou a ser preso por ter declarado num momento de desespero que ou o deixavam em paz ou suicidava-se e levava com ele todos os que o perseguiam. Apenas depois de outra aluna se ter tentado suicidar pelo mesmo motivo as autoridades escolares investigam finalmente o problema.

26 de Dezembro, 2004 lkrippahl

Foi Natal.

Recentemente muitos celebrámos um dia que se associa à mitologia Cristã. É certo que esta celebração é muito mais antiga, originalmente ligada ao solstício de Inverno, mas marca hoje em dia um dos acontecimentos principais para os Cristãos: o nascimento do seu deus. O único que o rivaliza é a Páscoa, também uma celebração muito anterior ao Cristianismo, mas que agora marca a morte do seu deus.

E isto dá que pensar. Parece que os principais marcos do Cristianismo são o nascimento e a morte do seu deus. O próprio credo Católico parece resumir a história de Jesus a isto:

«Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos Infernos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna. Amén.»

Não terá esta história coisas mais importantes que um nascimento milagroso, uma morte dolorosa, e uma ressurreição?

Há vinte séculos foram escritas muitas histórias acerca de Jesus. A Bíblia Católica contém quatro evangelhos seleccionados especificamente pela forma como se encaixam, para minimizar contradições. Mas mesmo estas, selecção limitada, não foram escritas com intuito de serem crónicas rigorosas da vida deste personagem. Foram escritas como expressões de ideologia, que codificassem os princípios deste movimento religioso.

Mesmo que não possamos dizer se existiu um Jesus de facto, se era um personagem composto de vários episódios que tenham acontecido a várias pessoas, ou se era apenas um personagem metafórico e imaginário, o facto é que houve um grande esforço filosófico e literário por detrás destas obras, quer dos evangelhos quer das várias cartas escritas pelos fundadores do Cristianismo. Vejamos alguns.

«Amarás o teu próximo como a ti mesmo» Gal.5:14. Inovador na altura, e muito actual hoje em dia. Não só amar, mas respeitar os outros como a nós próprios. Igualdade, liberdade, fraternidade. Uma ideia central na nossa sociedade moderna. Infelizmente, não para a Igreja Católica, onde as mulheres são discriminadas e onde uns são mais iguais que os outros.

«Então Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam» Mat 21:12. O Jesus desta história era obviamente contra a comercialização da religião. Mais, as suas críticas aos Fariseus, os seus ensinamentos que a oração devia ser privada, a sua rejeição da autoridade religiosa de então, da soberba das vestimentas, do ritual repetitivo e pouco sincero, tudo isto transmitia uma ideia que pode ser facilmente projectada na nossa sociedade moderna: a religião como algo pessoal e privado, e que deve estar separada do poder político e económico. Mais um ensinamento importante que a Igreja Católica esqueceu. A Igreja Católica controla vastos fundos mas não paga impostos. Uma Concordata com o Estado Português confere-lhe poderes à margem da lei do nosso país. O ritual público, a hierarquia da Igreja, a própria forma como os seus líderes se vestem vão contra estes ensinamentos. Se Mateus ressuscitasse hoje, o comércio em Fátima matá-lo-ia de desgosto.

«Aquele dentre vós que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra» Jo. 8:7. O perdão. A tolerância. Não julgar os outros só porque os nossos valores são diferentes. Mais um importante exemplo, mais um princípio fundamental na nossa sociedade multi-cultural, que a Igreja Católica prefere ignorar. A homossexualidade, a contracepção, a crítica sã, entre outras, são sistematicamente condenadas pela Igreja Católica. Até o ateísmo, pois mesmo que já não nos queimem em vida (felizmente!) ainda nos condenam ao fogo eterno por rejeitarmos o seu deus.

Como ateu não me fio na alegada origem divina destes ensinamentos. Mas, como ateu, sei que não precisamos de deuses para ter boas ideias, e respeito estas ideias que tiveram os autores do Novo Testamento.

Por isso entristece-me que uma organização como a Igreja Católica, supostamente a guardiã destes valores, prefira focar os aspectos supersticiosos dum nascimento milagreiro, ou o acto eticamente questionável de crucificar um inocente para salvar pecadores, ou exigir aos crentes que afirmem repetidamente que acreditam “na Santa Igreja Católica”.

Aproveitando o espírito natalício Cristão, pedia um favor aos Católicos. Quando disserem o Credo, substituam a afirmação de crença na Igreja pela crença na igualdade, na fraternidade, e no respeito pelos valores e crenças dos outros. Não só ficará o vosso credo mais próximo da ideia original, mas ajudarão o Cristianismo, outrora na vanguarda destes valores, a recuperar um pouco do seu grande atraso em relação à nossa sociedade.

26 de Dezembro, 2004 Mariana de Oliveira

Homo-reprovação

A Conferência Episcopal Espanhola divulgou um documento, redigido aquando da «Jornada de Familia y Vida 2004» e das comemorações do dia da Sagrada Família, onde, uma vez mais, reprova o «comportamento homossexual» e pede aos católicos que se posicionem claramente contra o projecto de lei do governo que aprova os casamentos homossexuais.

Os sacerdotes espanhóis, desta forma, continuarão a sufragar a doutrina da hierarquia católica que diz, por exemplo, que «a inclinação homossexual, ainda que não seja em si mesma pecaminosa, deve ser considerada como objectivamente desordenada».

A nota episcopal afirma que a homossexualidade «é uma tendência, mais ou menos forte, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral. É o comportamento homossexual o que é de per si eticamente reprovável». Mas os bispos acalmam as hostes dizendo que «haverá de julgar com prudência a sua culpabilidade». Entretanto, há que notar que a ICAR entende que o pecado se faz por actos ou pensamentos portanto, a não ser que os homossexuais não pensem a sua sexualidade, não têm salvação possível.

Apesar da Conferência Episcopal considerar que estes indivíduos «têm os mesmos direitos que as demais pessoas», continua a entender que, no que diz respeito à equiparação da união homossexual ao casamento, «a duas pessoas do mesmo sexo não lhes assiste nenhum direito de contrair matrimónio entre elas». Portanto, descodificando, os únicos direitos que são comuns a todos são o direito à castidade e à abstinência.

Ora bem, se a Igreja não quer que os homossexuais se casem de acordo com os seus ritos, o problema é com aquela instituição e com os seus membros. O que a ICAR não deve fazer é impor as suas convicções e a sua moralidade a um Estado laico e à lei. Não é de estranhar, então, que se diga que «não se pode praticar o catolicismo e a homossexualidade ao mesmo tempo». Ah, e não nos podemos esquecer do que diz Levítico acerca dos sodomitas.