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Categoria: Não categorizado

8 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

O Matrimónio

O Matrimónio é o sacramento que une «o homem e a mulher indissoluvelmente» e lhes dá a graça de conviverem santamente e de educarem cristãmente os filhos. Se os esposos contraírem o matrimónio sem estarem na graça de Deus cometem sacrilégio. Segundo os exegetas mais apreciados pela Cúria romana, o acto sexual só é legítimo para fazer filhos.

Em Coimbra, um professor de direito, na noite de núpcias, admoestou a legítima esposa cristãmente: «Minha Senhora, deixe-se de trejeitos mundanos e de manifestações lúbricas. Se está aqui com outros fins que não sejam os da prossecução da espécie, eu desmonto e desmonto já». Santa alma para quem os prazeres da carne não passavam de tentação do demo.

8 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

A Ordem

A Ordem é mais do que um sacramento, é um emprego. Transforma um seminarista em padre. Converte um adulto, habituado ao pecado solitário e às fantasias do seminário, num confessor. É um sacramento que dá o poder de exercer os ministérios sagrados que se referem à Eucaristia e à salvação das almas, e imprime o carácter de ministro de Deus. A Ordem é uma espécie de diploma médico que, em vez de permitir tratar as doenças do corpo, se destina a curar as moléstias da alma. Uma das especialidades do diplomado é a prática do exorcismo.

8 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

A Extrema-unção

O Óleo santo é um sacramento inventado para alívio espiritual e também corporal dos cristãos gravemente enfermos. Quanto ao alívio espiritual não apresenta diferenças em relação ao placebo. Quanto ao alívio corporal, a terapêutica da dor tem registado progressos que lançaram total descrédito sobre este sacramento.

8 de Fevereiro, 2005 Ricardo Alves

Talibãs aflitos sem necessidade

Os talibãs portugueses decidiram divulgar a sua orientação de voto através de um manifesto ideológico que no seu primeiro parágrafo aproveita a porta aberta por um comunicado da Conferência Episcopal (que exortara, em termos ambíguos, à «participação responsável» dos católicos) para de seguida transcrever um longo excerto da famosa «Nota Doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política», da autoria do talibã-mor Ratzinger (o líder da instituição anteriormente conhecida como «Santo Ofício», vulgo Inquisição). As ideias deste manifesto foram difundidas nos últimos dias numa homilia de um padre de Lisboa (transmitida pela Antena 1) e num artigo do porta-voz do talibanismo à portuguesa (já referido pela Palmira).

Não é, evidentemente, inaudito que a ICAR tome posição em eleições, mas é extravagante que o seu sector ultra-conservador esteja tão preocupado com «[as] leis civis em matéria de aborto e da eutanásia, (…) o dever de respeitar e proteger os direitos do embrião humano, (…) a tutela e promoção da família, fundada no matrimónio monogâmico entre pessoas de sexo diferente (…) perante as leis modernas em matéria de divórcio, (…) a liberdade de educação, (…) a tutela social dos menores, (…) a liberdade religiosa». Efectivamente, toda esta aflição parece despropositada. Se é verdade que o regresso da «esquerda» ao poder não tem as garantias clericais de 1995, quando o PS era liderado por António Guterres (no mínimo, próximo do Opus Dei), em boa verdade a existência de uma «ala católica» na bancada do PS está garantida, quer através do Movimento Humanismo e Democracia, quer através de numerosos independentes católicos como Luís Braga da Cruz (Porto) ou Matilde Sousa Franco (Coimbra). Não há, portanto, matéria para alarme nos sectores talibãs. A maioria de «esquerda» na próxima Assembleia da República (se existir…) será volatilizável quando questões como o aborto ou os casamentos de homossexuais forem votadas (se forem votadas!).

Católicos, tende calma!

Adenda: não é impossível que o objectivo dos assinantes do manifesto (vale a pena ler a lista… e talvez assinar a petição) não seja tentar provocar um «sobressalto conservador» semelhante ao que poderá ter ocorrido nos EUA aquando da eleição presidencial. Os próximos dias serão interessantes.

7 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Lisboa – O padre Loreno, pároco da Igreja de S. João de Brito, apelou durante uma homilia, para que os católicos não votem em forças políticas que admitam a legalização da interrupção voluntária da gravidez, o divórcio ou o casamento de homossexuais.

Os partidos políticos devem requisitar a Igreja para fazerem comícios e garantir o pluralismo.

IRAQUE – Os líderes xiitas querem o islão na Constituição do Iraque. O Papa queria o cristianismo na Constituição Europeia. São massa da mesma farinha a cujo terrorismo intelectual só a laicidade pode fazer frente.

Bósnia-Herzegovina – O islão radicalizado ganha terreno entre os muçulmanos. O mesmo fenómeno demente se passa nos EUA com o fundamentalismo metodista que inspira os neo-conservadores e com o catolicismo romano que contamina as sociedades seculares da velha Europa.

Indonésia – Está em debate um novo código penal que considera crime o adultério, as uniões de facto e… os beijos em público. Se o novo código vier a ser aprovado já se sabe que o islão ganha mais uma batalha rumo ao obscurantismo.

7 de Fevereiro, 2005 Palmira Silva

Momento Zen de Segunda

Segunda-feira é um dia em que, com um frémito de antecipação, saboreio o meu momento zen semanal com a coluna de opinião de João César das Neves. Por vezes o referido autor desilude-me e em vez de um momento zen tenho de contentar-me com uma pausa Kit Kat já que a sua opinação de segunda (feira, claro) não é contaminada com as mais absurdas elucubrações de cariz religioso.

Mas hoje, sob o tema «A clivagem escondida das eleições», o professor não me desiludiu. Os momentos altos do texto do fazedor de opinião do Diário de Notícias são «As recentes eleições americanas mostraram bem o que outros países também confirmam as ‘guerras culturais’ são a grande batalha do nosso tempo. O que separa hoje as pessoas não é já o regime político, sistema económico ou estrutura social. A verdadeira luta doutrinal trava-se na definição da família e do direito à vida. A contestação de valores seculares situa-se agora nos elementos mais nucleares da humanidade.» que nos indica que o professor considera que a refutação dos valores seculares são a ‘guerra’ do século no sentido de regressarmos ao passado em que os dogmas da Igreja de Roma faziam a letra da lei. Ou seja, a luta do século, para este ilustre spin doctor, cujo beato de eleição parece ser o pio Pio IX que condenava veementemente os erros da modernidade, como a liberdade de opinião e expressão, é a abolição da laicidade do Estado, o regresso aos tempos em que a Igreja ditava os destinos das nações e, quiçá, o regresso aos gloriosos tempos da Inquisição em que eram silenciados os que não comungavam dos ditames da Igreja de Roma.

Somos ainda mimoseados com pérolas de raciocínio, pejadas de falácias como é habitual e caracteriza o estilo único de JCN, neste caso em que a conclusão iguala o comunismo e a defesa de temas «fracturantes» como o aborto, a eutanásia, o divórcio e a homossexualidade: «A liberdade de abortar e a diversificação do casamento parece hoje tão moderna como há umas décadas pareceu a sociedade sem classes. Aliás, os que hoje atacam a família e a vida são exactamente os mesmos que há uns anos defendiam a ditadura do proletariado.»



Adenda
: João César da Neves foi pronunciado e vai responder em julgamento por difamação. No despacho da juíza do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa, segundo o comunicado da Opus Gay que interpôs a acção, pode ler-se que a opinação do professor da Universidade Católica no Diário de Notícias, «ultrapassa largamente os meros artigos de opinião» e «O arguido equivale os actos homossexuais ao crime de pedofilia, refere que os recentes casos de pedofilia são todos, mesmo todos, homossexuais, equipara os homossexuais com drogados e considera-os doentes». Certamente que as vozes do costume vão carpir esta «perseguição» dos católicos, erguer-se em acusações de novas Inquisições, em suma, proferir os dislates de vitimização a que já nos habituaram!

7 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

Fátima – altar da fé, em regressão

A religião é um embuste grosseiro que alimenta poderosas máquinas clericais, obscuros interesses privados e redes de cumplicidades que atravessam o globo.

Sob a capa untuosa de um clero que finge defender a paz e promover a harmonia, jogam-se poderosos interesses e definem-se estratégias globais de conquista do poder.

Há quem pense que as religiões são um mal necessário, que são como as armas nucleares cujo equilíbrio do terror impede uma guerra global. Mas enquanto os Estados não têm disparado as armas nucleares contra os seus cidadãos, as religiões espalham o obscurantismo, o medo e as ameaças entre os crentes e incitam o ódio, a guerra e a violência contra os infiéis.

À medida que a instrução e a ciência avançam, as religiões definham mas agravam a sua virulência e, no desespero, a agressividade e o ódio que devotam à liberdade, à democracia e ao livre-pensamento.

Nos últimos dias temos assistido à mais violenta e sinistra ofensiva da ICAR contra o Governo de Espanha e à tentativa desesperada de virar o povo contra os seus órgãos legítimos. Até o referendo à Constituição europeia, cuja abstenção fomentou, lhe serve para promover o divórcio entre as camadas mais embrutecidas da população e o Governo legítimo.

À azia que o clero transporta depois de ter abençoado o casamento de uma plebeia divorciada com o príncipe herdeiro, com pompa e circunstância, junta agora a brotoeja que lhe provoca o casamento de homossexuais, a liberdade religiosa e o uso do preservativo. A Cúria romana reagiu como se a grande nação ibérica fosse ainda um protectorado sob o domínio de um rei absoluto dominado pelo confessor católico.

Em Portugal, um comportamento discreto e dissimulado foi a regra até à assinatura desse aborto e abuso clerical que é a Concordata. A partir de agora a chantagem vai aumentar. À medida que a clientela se afasta, o acréscimo de poder e as exigências de visibilidade vão aumentar. A luta contra a maçonaria é um primeiro ensaio de uma guerra mais vasta contra os sectores laicos, agnósticos e ateus.

Sirvam de consolo os revezes eclesiásticos na conquista de novos clientes. Fátima, o supermercado da fé católica, a maior superfície de oração em Portugal, não deixou de perder peregrinos desde 2000, data da última visita do Papa JP2, derradeiro esforço de marketing para manter e aumentar a clientela. Em 2004 teve menos meio milhão de peregrinos apesar de aumentarem os grupos organizados pelas agências turísticas. O mercado da fé, no que diz respeito aos peregrinos, retraiu-se em cerca de 10%, no último ano. Mesmo as actividades de lazer místico (terço, adoração, procissão das velas, laudes, vésperas) sofreram uma razoável retracção. As próprias maratonas de joelhos (populares exercícios sado-masoquistas) vão perdendo praticantes.

Não há só más notícias.

6 de Fevereiro, 2005 jvasco

Gato Fedorento

Descobri, agora mesmo, na Wikipedia, uma entrada relativa ao Gato Fedorento.

Gato Fedorento é o nome de um programa humorístico da Sic Radical, mas também o nome de um blogue feito pelos mesmos autores.

Saiu este natal o DVD da série Fonseca, a primeira das duas séries que passaram na televisão. Vi o DVD todo e chorei a rir. Aconselho-o a toda a gente!

No sítio da Sic Radical é possível ver alguns sketches desta excelente série.

Mas, a que propósito é que eu dou estes conselhos neste blogue sobre ateísmo? A minha desculpa é a seguinte: em muitos dos episódios faz-se um humor descomplexado e perpicaz acerca das igrejas, religiões ou da ideia comum que as pessoas têm acerca de Deus. Desde o sketch da santinha lá da terra cujos milagres são as «bufas», até ao sketch em que um rapaz que está a jogar à bola com Deus é repreendido pelo pai porque «não se brinca com Deus», existem uma série de sketches excelentes e sem tabus.

E já agora, bem a propósito, aconselho também a quem tiver tempo, a leitura desta discussão no Barnabé sobre o tabu da sátira religiosa. É importante que, em Portugal, e em qualquer país civilizado, em nome de uma distorção do conceito de tolerância, não se chegue a este ponto.

6 de Fevereiro, 2005 jvasco

ICAR vs Maçonaria

O cardeal-patriarca de Lisboa fez um duro ataque à Maçonaria, numa Nota Pastoral ontem divulgada.

Na causa da referência à Maçonaria está uma polémica devida ao que se passou durante os rituais fúnebres do ex-presidente do Tribunal Constitucional, Luís Nunes de Almeida. O Carlos Esperança já tinha, na altura, abordado essa questão.

Entre as críticas feitas pelo cardeal à Maçonaria, está o facto de pertencer a um conjunto de correntes de pensamento que «se baseiam na razão como fonte da verdade», ou que acreditam «no carácter absoluto da liberdade individual».

O artigo da Palmira, mesmo abaixo, desenvolve melhor esta questão.

6 de Fevereiro, 2005 Palmira Silva

Reabertura das hostilidades

Desde a Constituição Apostólica «In eminenti» do Papa Clemente XII, de 28 de Abril de 1738, que a Igreja tem proibido aos fiéis a adesão à Maçonaria ou associações maçónicas. Após o Concílio Vaticano II a excomunhão automática de quem o fizesse ficou de certa forma no limbo mas uma nota pastoral, de um cardeal português bem colocado na hierarquia eclesiástica, não deixa dúvidas sobre o endurecimento das posições da Igreja de Roma.

Assim, o cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, um dos candidatos para o trono papal, reafirmou ontem a regressão imparável da Igreja de Roma na recuperação de um passado integrista e fundamentalista, que muitos católicos teimam em não ver. O alvo foi a Maçonaria que «sempre afirmou, e continua a afirmar, a prioridade absoluta da razão natural como fundamento da verdade, da moralidade e da própria crença em Deus. A Maçonaria não é um ateísmo, pois admite um ‘deus da razão’. Exclui qualquer revelação sobrenatural, fonte de verdades superiores ao homem, porque têm a sua fonte em Deus, não aceitando a objectividade da verdade que a revelação nos comunica, caindo na relatividade da verdade a que cada razão individual pode chegar, fundamentando aí o seu conceito de tolerância.».

Para José Policarpo «Um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia não pode ser mação».

Segundo o prelado, este ênfase na razão, inimiga da fé, e na recusa de verdades reveladas (obviamente interpretadas pela Igreja de Roma) coloca um carácter absoluto na liberdade individual. A liberdade individual é uma abominação desde sempre combatida pela Igreja de Roma que nunca a aceitou, e que culpa dos males do mundo.

Nesta época de revisionismo histórico convem não esquecer que, por exemplo, a Igreja foi sempre a favor da escratura tal como Paulo dizia na sua carta aos Corintos, «Que cada um permaneça no estado em que foi chamado. Tu que foste chamado sendo escravo, não te preocupes (…) mesmo quando possas recobrar a tua liberdade, ao contrário, aproveita teu estado de servidão, porque aquele que foi chamado sendo escravo é um alforriado do Senhor».

E, como diz o ilustre prelado na sua Nota Pastoral, «Entre as organizações que protagonizaram esta visão imanente e laicista da história, avulta a importância da Maçonaria que, a partir de meados do século XVII, fez sentir a sua influência em todas as grandes correntes de pensamento e nas principais alterações sócio-políticas» ou seja, foi a maçonaria a promotora da luta contra os governos por direito divino, sancionados por Roma, que introduziu o lema «Liberdade, Igualdade, Fraternidade» e consequentemente lutou pela abolição do esclavagismo em Portugal. Esclavagismo muito defendido pela Igreja. Por exemplo, as posições de defesa do esclavagismo pelo bispo de Pernambuco, Joaquim José da Cunha Azeredo Coutinho, foram consideradas ofensivas dos sentimentos do público pela Academia Real das Ciências, outra instituição que elegia a razão em detrimento da fé, que não permitiu a impressão da sua «Análise sobre a justiça do comércio do resgate dos escravos da costa da África». O livro, traduzido em francês, foi publicado em Londres, em 1798.

Nesta época conturbada de regressão a fundamentalismos religiosos sortidos, a Igreja de Roma, pela pena do Cardeal Patriarca de Lisboa, reabre assim as hostilidades com a sua velha inimiga, a Maçonaria. O que não preconiza nada de bom para o futuro!