Foi-me hoje confirmado o carácter extraordinário da falecida irmã Lúcia. A freira que a amortalhou, oriunda do Porto, quando lhe retirou a prótese dentária, verificando que à defunta só restavam os dois incisivos inferiores, rompeu o silêncio a que estava obrigada e disse em êxtase: «É mesmo bidente».
Lembrei-me logo do orgulho dos pais muçulmanos quando vêem um filho varão, a caminho da escola, com a mochila onde transportam o Corão. Cheios de orgulho e devoção, exclamam para o vizinho: « ali vai o meu rebento».
Via um comentário do Boss, do Renas e Veados, soubemos que a associação «Croyances et Libertés», no passado dia 25 de Fevereiro, levou a tribunal (leiam-se também as notícias de 10 e 11 de Março da Laic.info) os criadores de moda Marithé e François Girbaud e a agência de publicidade Air Paris, por «injúria visando um grupo de pessoas em razão da sua religião, nomeadamente o catolicismo».
A associação pretende o fim imediato da campanha publicitária tanto nos jornais como nos «outdoors». A publicidade consiste numa interpretação livre de «A Última Ceia», de Leonardo da Vinci, e que, de acordo com o advogado daquela organização, «coloca mulheres em posições lascivas e altamente sugestivas (…), comportamentos eróticos e blasfemos ao olhar do que constitui ou essencial para os cristãos, ainda para mais, estamos em plena Quaresma».
Entretanto, porque o julgamento foi adiado, a estratégia da «Croyances et Libertés» evoluiu, ou seja, em vez de invocar a blasfémia, põe em evidência «a indecência» da utilização «mercantil» de um «elemento fundamental para os católicos».
No dia 10 de Março, o tribunal decidiu a favor da associação alegando que «a escolha de instalar num local de passagem obrigatória do público este cartaz de grandes dimensões constitui um acto de intrusão agressiva e gratuita nas bases das crenças íntimas». A isto os juízes acrescentam: «a ligeireza da cena faz desaparecer todo o carácter trágico inerente ao evento inaugural da Paixão».
À interdição da publicidade acrescenta-se o pagamento de uma multa de 100 000 euros por cada dia de atraso na sua retirada, a sociedade GIP, de quem depende a marca F & M Girbaud, e a Decaux são igualmente condenados no pagamento de 10 000 euros à «Croyances et Libertés».
Esta condenação é apenas uma de uma série de acções com o objectivo de criminalizar a blasfémia. De facto, os estatutos da associação «Croyances et Libertés» propugnam a defesa dos católicos contra «atentados aos seus sentimentos religiosos ou convicções religiosas que possam sofrer por parte da rádio, da imprensa, do cinema, da imagem ou de qualquer outro suporte».
Por toda a Europa, onde despontaram os movimentos a favor da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, somos confrontados com um crescente número de iniciativas cujo objectivo é reintroduzir o crime de blasfémia nas legislações penais (vejam-se os artigos do Diário Ateísta «Censura Cristã», «Lei da blasfémia em debate no Reino Unido», «A outra face», «Blasfémia! Vejo-me grego para entender isto», «A lei da blasfémia – a saga continua», «Imaculada contracepção», «Blasfémia», «Não à chantagem religiosa» e «Submissão») . Nos actuais Estados de Direito Democráticos tal crime é inconcebível, uma limitação inadmissível do direito de exprimir livremente as opiniões e uma cedência obscena a grupos de pressão religiosa.
Depois de todas as pregações da Igreja Católica contra os chamados «pecados sociais» nos quais se incluem a fuga aos impostos e, no caso nacional, «os egoísmos individualistas; (…) a desarmonia do sistema fiscal» foi com grande espanto que li no Expresso de ontem que a delegação nacional da Igreja de Roma não só ainda não se decidiu a pagar os impostos acordados na nova Concordata como teve direito, por benesse do ex-ministro das Finanças Bagão Félix com amen de Santana Lopes, a mais 90 dias para regularização da situação, obviamente com perdão de juros compensatórios e coimas! Não sou grande perita em Finanças mas parece-me que tal medida, que viola a lei e todas as disposições sobre a matéria, reflecte a total desarmonia do sistema fiscal que tanto invectivou a Conferência Episcopal Portuguesa!
Ou, como diz a Pulga, bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz!
Um membro (ou ex-membro) da Living Church of God, abriu ontem fogo sobre os crentes da congregação, que se reuniam como habitualmente no Sheraton Hotel em Brookfield, Wisconsin, matando sete pessoas e ferindo várias. O homem suicidou-se após o massacre.
A Living Church of God, evangélica, que celebra o sábado e não o domingo como o dia consagrado a Deus, é uma Igreja apocalíptica que acredita que nos estamos a aproximar do Armagedão e da segunda vinda de Jesus. Não se sabe os motivos do tresloucado assassino mas quiçá estejam relacionados com as crenças do grupo.
O New York Press presenteia-nos, esta semana, com as «52 situações mais engraçadas acerca da morte do Papa». Por exemplo:
«48. Todo o mundo espera até ao útltimo momento por uma súbita melhoria do estado de saúde do Papa. Longas filas de raparigas, nas Filipinas, ajoelham-se e rezam. Por toda a parte, católicos, com as orelhas comprimidas contra os rádios, especados. O Papa solta um último gemido, cospe, morre.(…)
45. O Papa deixa a Terra quando o «Hitch» está no topo das vendas de bilheteiras em todo o mundo.(…)
35. O médico sente a pulsação no pescoço do Papa e cai-lhe uma orelha.(…)
23. Os médicos, ao examinarem o corpo, não só descobrem que o Papa era uma mulher mas também Hitler.(…)»
Tem a sua graça portanto, dêem uma vista de olhos.
Há 1 ano, a esquizofrenia da fé transformou três estações ferroviárias de Madrid num imenso espaço de terror e crueldade. 192 mortos e cerca de 1400 feridos foram vítimas da demência religiosa ao serviço de um carrasco de nome Maomé.
Há 1 ano, a Espanha foi vítima de uma matança com motivações religiosas. O sangue de trabalhadores, estudantes e outros passageiros de comboios matutinos jorrou em abundância. O terrorismo imolou pacíficos cidadãos em nome de uma fé anacrónica testemunhada por facínoras de uma civilização falhada.
Enquanto mesquitas, igrejas e sinagogas forem locais de pregação do ódio, não são apenas sítios onde se alienam crentes piedosos, são campos terroristas onde se recrutam e incentivam soldados de Deus para assassinar infiéis.
Nenhum Deus merece o sacrifício de um único ser humano e ninguém pode justificar o banditismo em nome da fé.
O crime que dilacerou Madrid e emocionou o mundo civilizado, teve a marca da Al-Qaeda, espécie de Opus Alá cujo proselitismo pretende sujeitar a humanidade a cinco orações diárias e à insânia do Corão.
Não é uma guerra de civilizações que está em causa, é a luta permanente entre a fé e a razão, o ódio da religião à democracia, o antagonismo entre Deus e a liberdade.
No dia 11 de Março de 2004 a religião islâmica escreveu em Madrid mais uma página de horror com o sangue de inocentes. Foi mais um episódio cruel da religião contra a democracia, uma tentativa desesperada de retardar a marcha da humanidade para sociedades mais justas, fraternas e progressistas.
A violência faz parte do código genético das religiões. Do Islão e das outras.
Hoje é o dia da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica e, este ano, é celebrado em todas as escolas desde o 1º ciclo do ensino básico ao secundário.
Numa mensagem enviada aos professores da disciplina, Augusto Cabral, director do Secretariado Nacional da Educação Cristã, referiu que os subsídios distribuídos por aquela organização – ligada à Comissão Episcopal da Educação Cristã, da Conferência Episcopal Portuguesa – aos professores de Educação Moral e Religiosa Católica «são simplesmente uma oportunidade de reflexão e de acção para ir ao encontro das várias dimensões do ser humano e para proporcionar estratégias pedagógicas comuns». Dimensões e estratégias comuns apenas aos católicos que, numa clara subversão de um ensino laico, privilegia uma religião em detrimento de outras ou de nenhuma. É de notar que esse subsídio oferecido pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã vem a adicionar-se aos fundos dispendidos pelo Estado Português, provenientes dos nossos impostos, para financiar aquela disciplina religiosa.
Na referida mensagem, Augusto Cabral, afirma que a Educação Moral e Religiosa Católica quer «orientar na reflexão sobre o sentido da vida, promovendo o discernimento para uma lúcida compreensão dos acontecimentos, contribuindo para uma assimilação dos valores e para a aquisição de referências que permitam definir um Rumo para a existência pessoal». Muito bem, os católicos estão no seu direito de quererem «orientar na reflexão sobre o sentido da vida» dos seus fiéis graças à liberdade de culto e de consciência, mas esse direito não deve ser exercido num espaço de ensino público que é destinado a todos os alunos e que se quer neutral.
A existência de uma tal disciplina nos currículos dos alunos é, só por si, algo que arrepia a laicidade do ensino público, mas a comemoração da sua existência tem um pendor proselitista e arrogante inadmissível.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.