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22 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

A saga continua

Depois de assinada a lei que obriga os médicos da Florida a manterem o estado vegetativo de Terri Schiavo, um juiz federal decidiu contra a reinserção do tubo de alimentação.

De acordo com o magistrado, os pais de Terri Schiavo não foram capazes de provar «uma probabilidade de sucesso substancial» no julgamento sobre o mérito da causa. O magistrado escreveu ainda que «os interesses de liberdade e de vida» foram protegidos pelos tribunais do estado da Florida.

Como nas últimas horas da manhã foi apresentado um recurso da decisão, o caso ainda não está encerrado.

22 de Março, 2005 Ricardo Alves

Debate hoje à noite

22 de Março (hoje), 21:00 horas,no
CENTRO ESCOLAR REPUBLICANO ALMIRANTE REIS
(Travessa do Terreirinho, nº 77, na Mouraria, em Lisboa; metro Martim Moniz)
Debate sobre a
SITUAÇÃO da LAICIDADE em ESPANHA e PORTUGAL
com
JUAN BARÓN
LUIS MATEUS e RICARDO ALVES
A Espanha é, porventura, o país da Europa onde, nestes últimos tempos, a questão da Laicidade – em termos estritos de separação entre o Estado e a Igreja – tem vindo a ser mais trabalhada e onde, por esse motivo, têm vindo recentemente a ocorrer algumas transformações interessantes. A Espanha (talvez a par com Portugal) é também um dos países europeus onde uma reacção organizada da Igreja Católica Romana aos processos de modernização da sociedade se tem vindo mais fortemente a sentir. Até que ponto pode o processo espanhol ser, para nós, portugueses, militantes da causa da Laicidade, um bom exemplo?
22 de Março, 2005 Palmira Silva

Tragédia no Minnesota

Os legisladores americanos nos últimos tempos têm demonstrado uma inusitada preocupação com a religião, empenhando-se em fazer passar leis que imponham uma religiosa moral e bons costumes dos seus cidadãos, tais como a proibição de mostrar a roupa interior e a negação do direito a morrer com dignidade, para além de fomentarem financiamento público de actividades religiosas que o façam.

No entanto qualquer restrição à posse de armas é vista pelos mesmos legisladores como uma intrusão nos direitos dos indíviduos. Ontem numa escola secundária em Red Lake, Minnesota, um adolescente abriu fogo sobre os seus colegas, matando sete e ferindo vários, depois de ter morto dois dos seus avós!

Quando a religião ocupa a agenda política a saúde da «alma» é o tema dominante e o bem estar físico irrelevante!

21 de Março, 2005 Ricardo Alves

E depois eles é que são as vítimas

  • (1) Escola pública inglesa anuncia que não aceita ateus

A escola inglesa «Coopers’ Company and Coborn», em Upminster Essex, que é pública e portanto financiada pelos contribuintes, anunciou que não aceitará «humanistas ou ateus». O responsável pelas admissões na escola justifica-se afirmando que «esta é uma escola cristã e, a final de contas, os candidatos têm que estar preparados para apoiar o ethos da escola». Dado que os ateus e os humanistas não conhecem os dogmas essenciais do cristianismo (ao contrário dos judeus e muçulmanos), não são aceites.

Comentário: ao cuidado dos fanáticos da autonomia escolar e do financiamento estatal da escola confessional.

  • (2) Hirsi Ali não desiste de lutar

Ayaan Hirsi Ali, a deputada holandesa que se atreveu a colaborar num filme que focava a opressão islâmica sobre a mulher (filme esse que parece ter levado ao assassinato de Theo Van Gogh), teve autorização de um tribunal para continuar com as filmagens do seu novo filme, que no entanto foi criticado pelo tribunal por se arriscar a testar os limites da liberdade de expressão.

Hirsi Ali não desiste de fazer campanha contra a mutilação genital feminina e de tomar posição contra o fundamentalismo religioso. Vive presentemente sob escolta policial permanente, dormindo ou em bases militares ou em prisões de alta segurança. A esposa de um islamista detido pela polícia afirmou recentemente que Hirsi Ali será morta por mulheres muçulmanas, «nem que demore dez anos».

Comentário: Hirsi Ali arrisca-se, infelizmente, a sofrer o mesmo destino do que Salman Rushdie.

  • (3) Ministro britânico explica que o Tratado Constitucional europeu é bom para as igrejas

Falando para um fórum religioso britânico, Denis MacShane disse que embora a omissão do cristianismo no preâmbulo fosse lamentável, a verdade é que o Tratado Constitucional europeu estabelece um relacionamento entre a UE e as igrejas que «não existe em nenhum outro Tratado». Referia-se, como é evidente, ao artigo I-52, e desafiou ainda os religiosos a encontrarem outro Tratado internacional que desse uma tal «centralidade às crenças e práticas religiosas». O ministro britânico incitou as igrejas a aproveitarem esta «porta aberta».

Comentário: só não concordo com o lamento e com o incitamento. O resto está certo.

21 de Março, 2005 Carlos Esperança

A violência da ICAR na Argentina

A Argentina é um país frequentemente vítima de uma dupla tirania – dos militares e da Igreja católica. Agora, que generais recolheram as garras, assanharam-se as da ICAR. O bispo das Forças Armadas, António Baseotto, um pio almocreve da fé, explodiu em ódio beato contra o ministro da Saúde por este defender a despenalização do aborto e o uso do preservativo, como assinalou a Palmira no artigo «Bispo católico despedido».

Para o asinino prelado são intoleráveis tão medonhas heresias e defendeu que o ministro da Saúde, Ginès Gonzalez Garcia, merecia «ser atirado ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço». Esta era, aliás, uma prática corrente na ditadura militar, em que se atiravam ao mar, a partir dos aviões navais, os presos políticos , perante o silêncio cúmplice da ICAR cuja simpatia pelos generais fascistas era mútua e recíproca.

A democracia rompeu esse equilíbrio perfeito entre o altar e o poder, entre os bispos e a ditadura, entre a fé a disciplina. Os militares impunham a ordem e os bons costumes e o clero combatia o demo e a democracia. Antigamente a Igreja católica purificava pelo fogo da inquisição, hoje opta pela água do mar onde pretende afogar os ministros que se conformam com o aborto e defendem o preservativo.

O presidente da República argentina pediu à Santa Sé para substituir, na chefia do clero das Forças Armadas, um bispo que evocou os tristemente célebres «voos da morte» que levaram o luto, a revolta e a indignação ao povo argentino e que, de algum modo, o bispo queria perpetuar indicando como vítima o ministro da Saúde.

Quando se esperava que das alfurjas do Vaticano viesse uma advertência ao bispo, um anti-semita violento que já levou a comunidade judaica a pedir também a sua remoção, assistiu-se ao seguinte:

– O porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro Valls, declarou que se tratava de uma violação da liberdade religiosa impedir o bispo de exercer o seu múnus;
– Os bispos argentinos, reunidos no sábado passado, qualificaram a decisão do Presidente da República, de pedir a substituição da santa cavalgadura, de «apressada e unilateral»
– O porta-voz do Episcopado, Jorge Oesterheld, declarou à comunicação social que a remoção do bispo Baseotto era «um passo para a discriminação e um atropelo à liberdade religiosa».

A demência não é um apanágio do islão, está inscrita no código genético das religiões reveladas e dos sicários de Deus.

21 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

As aparências

Vinda do Renas e Veados, chega a notícia que um bispo católico, em San Diego, recusou um funeral a um católico, por este ser dono de dois bares gays.

De acordo com um representante da diocese, o negócio do falecido era «inconsistente com os ensinamentos católicos» e «as pessoas ficariam escandalizadas se a igreja concedesse um funeral a alguém que se dedicasse a estas actividades».

O mais curioso é que o bispo que recusou a cerimónia fúnebre acordou numa indemnização de 100 000 dólares a um ex-seminarista que alegava ter sido coagido a ter relações sexuais não só com este senhor, mas também com outros clérigos influentes.

20 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

Islão no feminino

Amina Wadud, professora de Estudos Islâmicos na Universidade de Commonwealth de Virgínia e autora do livro «Qur”an and Woman: Rereading the Sacred Text from a Woman”s Perspective», foi a primeira mulher presidir a uma oração islâmica onde estiveram presentes ambos os sexos.

Para a organização Muslimwakeup.com – e para o mundo – este é um evento histórico que deve ser celebrado uma vez que «as mulheres muçulmanas vão reclamar o seu direito a ser iguais em termos espirituais e líderes».

Como não podia deixar de ser, as críticas não se fizeram esperar. Talib Abdur-Rashid, imã da mesquita da Irmandade Muçulmana em Harlem, afirmou que «O islão é uma religião de fé e de crença, mas também de lei» e que «não existe nenhum precedente legal», questinonando «o que é que as pessoas da Muslimwakeup perceberam que milhares de milhões de muçulmanos ao longo do tempo não tenham percebido?». Ora, a lei não é imutável e, quando está contra a ideia de Justiça e de Direito, deve ser mudada. Para além disso, os precedentes abrem-se e este é um que deve ser aberto.

Esta é uma iniciativa que todos devemos aplaudir, muçulmanos ou não. A mulher, tanto a muçulmana como a cristã, foi relegada demasiado tempo para segundo plano. É altura de, finalmente, elas se afirmarem como titulares plenos direitos não só dentro da sua própria religião, como também na sociedade.

20 de Março, 2005 Palmira Silva

Direito a morrer: desenvolvimentos

Aparentemente os apelos do Vaticano para a revogação da ordem judicial que permitia a interrupção da manutenção assistida de Terry Schiavo foram ouvidos. Os microfones da Rádio Vaticano têm estado muito activos com o caso: o bispo Elio Sgreccia, presidente da Academia para a Vida, afirmou , na semana passada, que o «caso ultrapassa a situação individual devido ao seu carácter exemplar e à importância que os media lhe atribuíram». Já o Cardeal Martino, que preside ao Conselho Pontifício para Justiça e Paz, relembrou as palavras recentes do Papa sobre o caso «confirmando que a qualidade de vida não pode ser aferida por sucesso económico, beleza e prazer físico (já agora nem por consciência de si próprio) mas consiste na dignidade suprema da criatura feita à imagem e semelhança de Deus» e que «ninguém pode ser árbitro da vida excepto o próprio Deus».

De facto, os fazedores de leis republicanos trabalharam arduamente no sábado para produzir uma lei federal que obrigue os médicos a prolongar a vida de Terry Shiavo, a americana que sofreu um acidente cerebral muito grave e irreversível há 15 anos, que a deixou num estado vegetativo permanente.

A lei, que deve ser aprovada a curto trecho, foi produzida 24 horas após os médicos, por ordem judicial de um tribunal da Flórida, terem removida o tubo que alimentava Terry e que a manteve viva nos últimos 15 anos, já que sem suporte externo Terry teria falecido logo após o acidente que privou o seu cérebro de oxigénio.

O presidente Bush, o grande defensor da vida que todos conhecemos, interrompeu as suas férias no Texas para assinar a dita lei, que é discutida hoje numa sessão especial do Congresso americano, convocada especialmente para o efeito.

O senador Bill Frist, líder da bancada republicana e representante do Tennessee, afirmou que «O congresso dos Estados Unidos tem trabalhado ininterruptamente nos últimos três dias para manter a dignidade humana e afirmar a cultura da vida».

É pena que a invasão do Iraque não tenha merecido uma quantidade análoga de trabalho extra para manter a dignidade humana dos iraquianos e afirmar o seu direito à vida! Ou que os filhos dos crentes das muitas Igrejas cristãs que consideram blasfemos os hospitais e tratamentos médicos, considerando que o único tratamento possível é a oração, continuem a morrer de doenças facilmente curáveis ou para as quais existem vacinas há décadas. Mas, claro, obrigar alguém a tratamento médico que rejeita por questões de fé é completamente diferente de retirar esse tratamento por razões ateístas como respeitar o direito a morrer em dignidade!

É pena ainda que o tempo dos congressistas não seja dispendido a declarar inconstitucional a lei do estado do Ohio que reza na secção 2151.03(e):

«Uma criança que, em vez de tratamento médico ou cirúrgico para uma ferida, doença, incapacidade, ou doença física ou mental, está sujeita a tratamento espiritual através de oração, de acordo com os preceitos de uma religião bem reconhecida, não é uma criança negligenciada…»

acrescentando na secção 2151.421, que «nenhum relatório é necessário no que concerne a uma criança nessa situação.»