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26 de Março, 2005 Carlos Esperança

Timor – Um protectorado do Vaticano

Quem julga que o desatino místico é um exclusivo dos mullahs, arredado dos hábitos católicos, ou pensa que a violência religiosa é um impulso dos ayatollahs de que os bispos católicos se curaram, crê que só o islão cria talibans e esquece a abominável máquina do Vaticano onde medram parasitas da fé e inquisidores fanáticos.

O ar civilizado que os bispos e padres ostentam na Europa que se emancipou dos desvarios papais não aparece na América do Sul ou em países cujo nível de desenvolvimento consente a prepotência eclesiástica e o fundamentalismo da fé.

Em Timor Leste a decisão do Ministério da Educação de passar a disciplina de Religião de obrigatória a facultativa, com carácter experimental, em 32 escolas, sofreu duras críticas dos bispos católicos. Alberto Ricardo, de Dili, e de Basílio do Nascimento, de Baucau, acusaram o Governo de «falta de sensibilidade e preconceito» e exigem a Religião como cadeira obrigatória na escola.

Por sua vez, o núncio apostólico, Malcolm Raanjif, que se deslocou a Timor para presidir à cerimónia do Domingo de Ramos, afirmou que a decisão ia contra os interesses do povo timorense. Mas este déspota foi ainda mais longe ao encorajar os autóctones a «confrontarem os que tentam destruir a Igreja». Pretenderá uma guerra religiosa ou o assassinato dos governantes?

É a Rádio Vaticano, uma emissora ao serviço da última ditadura europeia, que afirma, sem vergonha, que o episcopado timorense exige o ensino obrigatório da religião na escola pública. Que diz a isto o clero português? A vocação totalitária devora os católicos, o ódio à liberdade alimenta-os, a gula desenfreada assalta-os na defesa de um monopólio que fere os mais elementares direitos humanos e ataca um Governo democraticamente eleito.

Bem sabemos que para os padres só Deus conta e eles andaram a estudar a vontade de Deus durante numerosos anos de seminário e de recalcamento sexual. São agentes comerciais do seu Deus e não abdicam do regime de monopólio. Alguém tem de os travar.

25 de Março, 2005 Carlos Esperança

Diário Ateísta – 100 mil visitas

Em 30 de Novembro de 2003 alguns ateus lançámo-nos na aventura de um diário, num espaço sem a censura de Deus e dos seus lacaios – a blogosfera. Estávamos longe de prever o futuro embora soubéssemos, como disse um poeta espanhol, que «o caminho se faz caminhando».

Menos de 16 meses volvidos foram muitos os que desprezaram as penas do Inferno para fruírem o nosso convívio enquanto alguns (poucos) vieram insultar-nos na convicção de ganhar indulgências fáceis e outros chegaram para nos estimular com o seu apoio e solidariedade. Ao todo são já cem mil as visitas que o Diário Ateísta vai hoje registar, quase sempre de visitantes emancipados do divino, sem temerem a Deus ou ao Diabo, sem acreditarem na Igreja ou nos seus padres.

Só Deus se abstém de visitar-nos, por não existir, enquanto alguns beatos se inquietam com a nossa persistência. As religiões continuam a sua acção deletéria na sociedade, multiplicam números de ilusionismo para convencer os incautos e aumentam a repressão para segurar a clientela; fazem guerras na disputa do mercado da fé, inventam milagres para convencer os simples e perpetuam o embrutecimento colectivo onde medra a superstição e o medo; combatem o progresso, sabotam os direitos humanos e lutam contra a democracia.

O Diário Ateísta está, e continuará, ao lado das causas que promovem o progresso, a liberdade e a emancipação da humanidade. Defendemos a democracia, batemo-nos pela aplicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, combatemos o racismo, a xenofobia, as teocracias, a homofobia, as ditaduras e o poder clerical. Combatemos no campo das ideias, só nesse, Deus por não existir e os seus padres por existirem, sem pôr em causa o direito de ter e o de não ter religião.

A vitória final, estamos certos, é a do ateísmo. É a vitória da ciência contra a fé, o triunfo do progresso contra o obscurantismo, o êxito da laicidade contra o poder clerical.

As Igrejas pensam que iluminam a humanidade com a luz mortiça das velas, o cheiro enjoativo do incenso e o torpor das orações. As religiões confundem a claridade do crepúsculo com o fulgor da aurora.

Viva o ateísmo.

25 de Março, 2005 Carlos Esperança

Blasfémia – pecado ou crime?

O Supremo Tribunal de Justiça do País Basco absolveu Arnaldo Otegi, porta-voz da ilegalizada Batasuna, por ter chamado a Juan Carlos, rei de Espanha, «chefe dos torturadores.
O tribunal considerou tais declarações «reprováveis, ofensivas, impróprias, injustas, motivo de opróbrio e alheias à realidade», mas absolveu o autor com base no facto de a crítica a uma instituição constitucional não estar excluída do direito à liberdade de expressão.

Entretanto, na Grécia, o cartoonista alemão Gerhard Haderer foi condenado a uma pena suspensa de seis meses de prisão, por um tribunal grego, devido ao «carácter blasfemo» do seu livro de cartoons «A vida de Jesus». Segundo o «Público» de hoje (site indisponível) os desenho de Jesus como um bêbado amigo de Jimi Hendrix e a fazer surf nu após fumar cannabis causaram agitação na Grécia e o artista, que foi condenado à revelia, poderá ver a sua pena aumentada até dois anos se o seu apelo for rejeitado.

Haderer é o primeiro artista a ser apanhado pela lei de mandado de captura europeu, instituída em Junho de 2002 e esta questão levanta graves questões de liberdade artística na Comunidade Europeia – ainda segundo o «Público».

Em 20 anos, foi o primeiro livro a ser banido na Grécia. Dado que não consta que JC se tenha queixado ou sentido ofendido, espero ler em breve a «A Vida de Jesus» de Gerhard Haderer com quem o Diário Ateísta, desde já, se solidariza.

Apostila – Este assunto já deixou o João Vasco de boca aberta, como revelou no seu artigo «Blasfémia – vejo-me grego para entender isto». Volto ao assunto por entender que a blasfémia é um crime de ofensas pessoais e só o próprio (Deus, Jesus, Maomé ou outro espécime do mesmo bando) tem legitimidade para propor a acção nos tribunais.

24 de Março, 2005 Palmira Silva

Morreu Gregório XVII, o papa alternativo

Igreja de Gregório XVII

Clemente Dominguez, ou Gregório XVII, o líder de um culto católico que pretendia ter sido coroado Papa pela virgem Maria após a morte de Paulo VI em 1978, morreu anteontem na cidade onde se baseava o culto, El Palmar de Troya, na Andaluzia.

A carreira religiosa do papa alternativo teve início em mais um episódio tipo Fátima: quatro raparigas afirmaram que a Virgem lhes aparecera num arbusto quando apanhavam flores. Como habitual nestes fenómenos uma série de peregrinos inundou o local, entre eles Dominguez, que exibia o que pretendia serem stigmata, ou os estigmas da crucificação, e que rapidamente se tornou uma figura de culto.

Dominguez durante o seu «papado» canonizou Franco, pela sua defesa do catolicismo durante a Guerra civil espanhola, e Cristovão Colombo. Talvez por ter excomungado a família real espanhola Palmar não tenha conhecido a história de sucesso económico de Fátima. A ordem fundada por Dominguez, Carmelitas da Face Sagrada, tem um património estimado nuns modestos 90 milhões de euros.

24 de Março, 2005 Palmira Silva

Vulcões em águas turvas

Os IMAX de estados do cinturão da Bíblia (Bible Belt), nomeadamente nas duas Carolinas, no Texas e na Georgia, decidiram vetar o filme «Volcanoes of the Deep Sea» (vulcões do mar profundo), um filme concebido pelo biólogo marinho da Universidade de Rutgers, Rich Lutz, porque as suas referências à evolução poderiam ofender as convicções religiosas dos devotos sulistas.

Ou seja, parece que nalguns estados americanos falar em evolução é considerado blasfémia! Será que as autoridades destes estados vão recusar igualmente a venda dos antibióticos de última geração desenvolvidos graças a técnicas de evolução dirigida? Ou rejeitar vacinas para novas estirpes do vírus da gripe que pressupõem que este evoluiu?

24 de Março, 2005 André Esteves

Salman Rushdie e a religião

Num recente artigo no Toronto Star, Salman Rushdie, o autor dos «Versículos Satânicos», escreve um veemente editorial a pedir aos leitores que mantenham a religião longe da política e da vida pública.

Longe da memória dos crentes e ocidentais estão os escolhos dos confrontos religiosos europeus, o que não acontece com Rushdie. Testemunhou os conflitos que se seguiram à separação do Paquistão da India e lembra os tumultos nos anos recentes na India, em Meerut, Assam e mais recentemente em Gujarat. Todos eles envolveram religião politizada e saldaram-se em centenas e milhares de mortos…

Vale a pena ler. Afinal o homem conhece na pele aquilo de que fala.

23 de Março, 2005 Carlos Esperança

Sobre o Diário Ateísta

O Diário Ateísta (DA) não é um pasquim virtual de uma paróquia onde os óbitos são participados na secção «À sombra da Cruz» e os dislates visam a salvação da alma e o torpor da inteligência. Sabem-no os que nos visitam com frequência, benzem-se os que tropeçam nos nossos textos por erro de navegação. Não é o proselitismo que nos anima mas o combate ao obscurantismo, a denúncia da indústria milagreira, o desprezo pelos santos e o pasmo com os sinais cabalísticos e a água benta que mixordeiros impingem com pureza duvidosa e virtudes por comprovar.

Acontece que o DA refere com mais frequência a ICAR do que outras religiões. Trata-se, apenas, de uma questão de proximidade. É a mais perniciosa em Portugal. Não é o seu Deus que é mais falso do que o das outras religiões, não é a sua fé que é mais irracional, não é o seu livro sagrado que é mais pueril do que os outros livros sagrados. As religiões são todas falsas, como qualquer uma confirma a respeito das outras, e o clero é sempre perigoso porque Deus é uma tragédia, seja qual for o mensageiro, qualquer que seja a mensagem.

Deus é uma criação humana, com os piores defeitos, e os milagres uma mistificação. As religiões não se transformam, de projectos políticos que são, em associações beneméritas, mas os parasitas de Deus promovem este como a fonte do bem e usam-no para os piores fins. Mas, nem por isso, o ateísmo deixa de bater-se pela liberdade religiosa.

Qualquer pessoa deve ter o direito de professar a religião que desejar, sair e entrar quando quiser, crer ou não crer, difundir ou combater qualquer uma ou todas. As religiões são uma fonte de atraso, superstição e ignorância; são um atentado à convivência pacífica entre as pessoas, as nações e as diversas etnias, mas devem respeitar-se os crentes.

A arma dos ateus é a palavra. Deixamos a lapidação, as fogueiras, as decapitações e várias formas de tortura para as religiões cujo proselitismo não dispensa estes instrumentos suplementares de argumentação. E, com a mesma determinação e empenho com que combatemos as religiões, defendemos o direito à sua prática. Apenas exigimos a subordinação e o respeito ao ordenamento jurídico das sociedades laicas e democráticas.

23 de Março, 2005 Ricardo Alves

Aviso aos católicos

O vosso Papa já morreu. A figura que aparece ao longe a acenar é um robot que está programado para se desligar na sexta-feira dita «santa».
23 de Março, 2005 Ricardo Alves

Ai que vem aí outra vez a divisão!

O referendo ao aborto parece já ser inevitável. Efectivamente, basta que entre os 120 deputados do PS haja menos de 27 católicos militantes dispostos a votarem contra (ou a absterem-se), para que o referendo seja aprovado. Perante esta possibilidade, a campanha da ICAR já começou.
No jornal «A Capital» de hoje, essa voz do catolicismo (supostamente) «progressista» que é Januário Torgal Ferreira declara-se contra qualquer referendo sobre este assunto, enquanto José Policarpo adverte na Agência Ecclesia que «a sociedade ficará mais dividida», uma ideia que o obceca tanto que conjuga o verbo «dividir» três vezes.
Em boa verdade, a sociedade já está dividida, e só um cego não vê que existe uma questão religiosa na sociedade portuguesa. Uma questão pouco pública, ignorada por políticos obcecados com consensos corporativos, mas que divide ao meio o país secularizado e o país clerical.
Evidentemente, esta divisão não se reflecte exactamente na questão do aborto, mas é impossível não suspeitar que estamos novamente perante a questão religiosa quando até o «prudente» Policarpo se contradiz, no espaço de poucas frases, afirmando que «é um erro (…) apresentar o não ao aborto como uma questão religiosa» para logo de seguida argumentar que «[a] vida humana (…) é um mistério sagrado do princípio até ao fim». Só não vê quem não quer: sete anos depois do referendo de 1998, a fractura continua aí.