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14 de Abril, 2005 Ricardo Alves

Laicidade, liberalismo e não só

No Blasfémias, João Miranda interpela o Diário Ateísta sobre várias questões.

  1. Convém esclarecer desde já que respondo a título meramente pessoal. Os redactores do Diário Ateísta não partilham necessariamente todas as posições uns dos outros, nomeadamente (mas não só) quanto à lei francesa que proíbe os símbolos religiosos ostensivos na escola pública.
  2. Parece-me óbvio que a propriedade privada de todos os meios de comunicação social só garantiria a liberdade de expressão dos proprietários respectivos. A Rádio Renascença, por exemplo, jamais dará tempo de antena a uma associação de ateus. Penso portanto que a pluralidade de meios de comunicação social, estatais e não estatais, defende melhor a livre circulação de todas as ideias, embora, evidentemente, reconheça as dificuldades de evitar a instrumentalização da comunicação social estatal pelo poder político do momento (ou pela histeria religiosa do momento, conforme temos visto nos últimos dias). As obrigações estatutárias dos media públicos, apesar de tudo, podem limitar os danos num mundo que nunca será perfeito.
  3. É evidente que «o Estado nada tem com o que cada um pensa acerca da religião» e que «o Estado não pode ofender a liberdade de cada qual, violentando-o a pensar desta ou daquela maneira em matéria religiosa», na frase lapidar de Afonso Costa. Justamente por isso, a escola do Estado não pode impôr a presença de crucifixos aos alunos, ou constrangê-los a participarem em rituais religiosos. Se é evidente que a escolaridade limita algumas liberdades individuais, desde logo ao ser obrigatória, exactamente por o ser deve assumir-se tão neutra quanto possível em tudo o que releva do livre arbítrio individual, como é o caso da crença.
  4. João Miranda engana-se gravemente quando compara as crenças religiosas aos conhecimentos de História ou de Física. A identidade do Presidente da República no dia 24 de Abril de 1974, ou a corroboração da Relatividade Geral pela precessão do periélio de Mercúrio, ou ainda o funcionamento dos órgãos internos de um qualquer mamífero, não são crenças. São factos. A escola pública deve ensinar esses conhecimentos comprováveis e universais, e não propagar crenças religiosas que são, essas sim, arbitrárias e individuais. (E que por isso podem ser erradas para uns e não para outros.)
  5. O liberalismo defendido pelo João Miranda não será inevitavelmente adversário da laicidade. Apenas o será no limite em que defenda o desmantelamento total do Estado e a privatização integral do espaço público. Eu acredito que apenas o Estado pode garantir alguma neutralidade do espaço público. E é evidente que essa neutralidade não deve apenas precaver-se contra a religião, mas também contra as ideologias e os partidos.
14 de Abril, 2005 Palmira Silva

O clube de fãs

«Putting the smackdown on heresy since 1981»

O «papável» escolhido pela cúria romana para celebrar a missa realizada no funeral de João Paulo II, o honorável prelado à frente da ex-Inquisição, a Congregação da Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, vai à frente nas intenções de voto do colégio eleitor. Aliás, já em Janeiro a revista Time indicava Ratzinger como o candidato com mais hipóteses. Descobri recentemente a página do seu clube de fãs, devotos e tolerantes católicos que certamente apreciam a forma vigorosa como ele tem defendido a pureza da fé e da doutrina católica e anatemizado «hereges» e ateus.

A concretizarem-se estas previsões o arqui-conservador Ratzinger será certamente um digno sucessor do finado Papa!

13 de Abril, 2005 Carlos Esperança

JP2 deve ser canonizado

A urgência da canonização do Papa Wojtyla é um desejo irreprimível dos numerosos órfãos que deixou. De facto, ele bem merece. Canonizou gente muito pior.

13 de Abril, 2005 Carlos Esperança

A eleição do Papa

«Deus já escolheu» [o futuro Papa].
(Afirmação do Sr. José Policarpo em carta à diocese de Lisboa)

Não se percebe a necessidade da deslocação a Roma de tantos cardeais. Bastava um telegrama do Céu, com a assinatura de Deus, a comunicar a decisão.

13 de Abril, 2005 jvasco

Um Deus cruel

«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram»
Mateus 7:13

O Deus da mitologia cristã é conhecido pelos crentes por ser um Deus perfeito, de amor e de bondade. Também é conhecido por ser um Deus omnisciente, omnipresente e omnipotente. Creio que tudo isto está em evidente contradição com as escrituras sobre as quais essa mitologia é baseada.

Basta considerarmos o seguinte: o Inferno é, de acordo com essas escrituras, um lugar de sofrimento terrível e eterno. De acordo com essas escrituras, é o destino da maioria da humanidade. Assim sendo, o Deus da mitologia cristã decidiu, quando criou o mundo, fazer a maioria da humanidade por si criada sofrer um castigo terrível e eterno.

Qualquer cristão argumentará que não é bem assim: «não é Deus que condena as pessoas ao Inferno, Ele apenas lhes dá a Liberdade para escolherem, ele quer que elas escolham o céu!». Mas a verdade é que esse Deus já sabe a escolha que a maioria daqueles que criou vai fazer. Já sabe que qualquer um deles se vai eternamente arrepender da sua escolha, e que qualquer um deles preferia nunca ter existido, a ter sido criado tendo o sofrimento eterno como destino. Ainda assim Deus decidiu criá-los a todos. Quanta maldade, quanta crueldade é que tal acção representaria? Uma infinita maldade. Uma infinita crueldade. Ideal para a megalomania da mitologia cristã, que insiste em chamar a tal Deus, «um Deus de amor».

Imaginemos a seguinte imagem: um indivíduo teve, ao longo da sua vida, 13 filhos. A cada um destes, quando tinham 2 anos, deu-lhes a seguinte escolha: «Que é que preferes, estes espinafres, ou este bolo? Podes escolher o que quiseres, mas peço-te que não escolhas o bolo, pois será muito mau para ti, e eu ficarei triste». Estando o bolo envenenado, e sendo da natureza das crianças de dois anos preferirem doces a espinafres, ligando pouco a certas recomendações, 12 dos 13 filhos morreram. O filho que não morreu foi muito amado e recebeu todo o carinho e amor do pai.

Acharemos nós que este pai é amoroso e carinhoso? Considerá-lo-emos um bom pai?

Ele queria que todos os filhos escolhessem os espinafres, mas tinha de lhes dar a «Liberdade» para escolherem. Que maior prova de amor? Ele sofreu por todos os filhos que morreram, chorando amargamente. Ele acarinhou e protegeu o filho que fez a escolha certa durante toda a sua vida.

Não!
Este pai é horrível! Doentio!
De uma falta de amor indescritível!

Mas infinitamente pior é o Deus da mitologia cristã. Pois o pai do exemplo, mata os seus filhos, algo infinitamente menos cruel do que presenteá-los com o sofrimento eterno.

E o pai do exemplo, pode supor que muitos filhos vão escolher o bolo, mas o Deus da mitologia Cristã sabe que a maioria daqueles que criou escolherão o caminho do Inferno, e ainda assim tendo (pela sua omnipotência) o poder de criar apenas aqueles que vão escolher a salvação, preferiu criar todos.

Ainda bem que um Deus assim não existe.

13 de Abril, 2005 jvasco

Sintomático…

A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) gosta de impôr as suas regras a todos: crentes e não-crentes.

Veja-se, por exemplo, esta notícia muito curiosa: em Timor, o governo quer tornar facultativo o ensino da religião. A ICAR reage acusando o governo de «atentar ‘contra a convicção e referências fundamentais dos timorenses’, ao mesmo tempo que ‘minimiza a Sagrada Escritura’» .

Não parece familiar? Por cá, quem pretende que as escolas públicas não tenham crucifixos pendurados nas paredes, é considerado por alguns um «fanático ateu» que quer impôr a laicidade aos outros. Do outro lado do planeta, um governo que quer tornar facultativo o ensino do cristianismo é acusado de «atentar contra a Igreja». Só muda o cenário, o teatro é o mesmo.

12 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Ele não está aqui

Deus não está aqui mas vai andar por aí, pelas caixas de comentários, a escrever pias inanidades, a mostrar a face intolerante, o ódio fanático e rudimentares conhecimentos de português, com pseudónimos ou sob anonimato.

Deus não está aqui mas tem umas santas alimárias sempre prontas a repetir o que diz o Papa, câmaras de eco de uma burla monumental com dois milénios de existência, prontas a jurar que Deus curou o olho esquerdo de D. Guilhermina, cego com óleo fervente a fritar peixe, por intercessão de Nuno Álvares Pereira.

Deus não está aqui mas não falta quem garanta tê-lo visto curar o tumor cerebral de um judeu que chupou uma hóstia das mãos de JP2, um caso raro de milagre para clientes de outro Deus, na pessoa de um blasfemo que se atirou ao corpo e sangue de JC sem a purificação do baptismo e uma confissão bem feita.

Deus não está aqui mas vão andar por aí o Opus Dei, a Comunhão e Libertação e um exército colossal de cardeais, bispos, padres e beatos que dispõem de somas gigantescas de dinheiro, poder e influência; que não hesitam em recorrer a armas iníquas para promover a mercadoria que nunca viram mas cuja existência juram; que lutam com a convicção de um cientista e o fanatismo de um crente.

Deus não está aqui mas vai andar por aí a máquina colossal de propaganda que aceitou pacificamente a criação de 448 santos e 1338 beatos entre bem-aventurados de conduta duvidosa, comportamentos pusilânimes e acções reprováveis e que nem duvidou dos milagres que cadáveres em avançado estado de decomposição fizeram para maior glória de Deus e proveito da Santa Madre Igreja.

Deus não está aqui mas vai andar por aí a ICAR e os seus vassalos açulados contra o laicismo, a liberdade e o ateísmo.

12 de Abril, 2005 pfontela

Bastiões da fé

Há regiões do ocidente onde historicamente a religião sempre exerceu grande influência, e na maior parte dos casos (se não todos) essa influência traduziu-se pela infiltração das esferas do poder político e pela criação e manutenção duma ortodoxia violentamente repressiva. Um desses casos é a Irlanda, um país que recentemente viveu um verdadeiro milagre económico, sendo sempre o exemplo citado para outros seguirem. Veio a público um estudo em que ficou claro que esta evolução económica foi acompanhada de uma evolução social.

A percentagem de Irlandeses que diziam ter confiança nas igrejas (sendo que na Irlanda igrejas é quase sinónimo de ICAR) baixou entre o período de 1990 a 2000 de 72% para 52%. E a percentagem daqueles que acreditam que a religião possui respostas para os problemas morais também baixou, de 42% para 30%. As posições de oposição a outros temas seguiram pelo mesmo caminho: aborto (de 53% para 51%), drogas leves (de 88% para 72%), homossexualidade (de 52% para 37%) e divórcio (de 31% para 26%).

Não se pense que a Irlanda em 10 anos passou a ser um paraíso liberal, trata-se ainda de um dos países onde a ICAR tem mais peso e onde a tradição ainda pesa sobre os costumes, mas fica claro que a situação está a mudar a um ritmo acelerado. Se a Irlanda mudou (e ainda está a mudar) então ainda existe esperança para outras fortalezas do clericalismo e do fanatismo.

12 de Abril, 2005 jvasco

Vote no Hugo [repetição]

Não resisto.

Tenho bastantes ideias para escrever artigos, até mesmo de mais para o pouco tempo que tenho disponível para o fazer. No entanto, gosto muito de um texto que já cá tinha colocado, mas numa altura em que o nosso Diário tinha muito menos visitas e visibilidade.

É por isso que quero voltar a partilhar este texto de Jim Huber, adaptado por Tim Gorski.

VOTE NO HUGO

Hoje de manhã alguém bateu à minha porta. Era um casal bem vestido e arrumado. O homem falou primeiro, e disse

João: Olá! Eu sou João, e esta é a Maria.
Maria: Olá! Gostaríamos de convidá-lo a votar no Hugo connosco.
Eu: Como assim? O que é isso? Quem é Hugo, e porque é que vocês querem que eu vote nele? Nem é dia de eleição hoje.
João: Se votar no Hugo, ele dar-lhe-á um milhão de dólares, e se não, ele espanca-o.
Eu: Mas o que é isso? Extorsão da máfia?
João: Hugo é um multibilionário filantropo. Hugo construiu esta cidade. A cidade é dele. Ele pode fazer o que ele quiser, e ele quer dar-lhe um milhão de dólares, mas isso só é possível se você votar nele.
Eu: Mas isso não faz o menor sentido. Se o Hugo construiu a cidade, é dono dela e pode fazer o que quiser, então por que precisa ser eleito? E por que ele…
Maria: Quem é você para questionar o presente do Hugo? Você não quer o milhão de dólares? Não vale a pena por votar nele uma vez só?
Eu: Bom, talvez, se mesmo a sério, mas…
João: Então venha connosco votar no Hugo.
Eu: Vocês já votaram no Hugo?
Maria: Ah, claro, e…
Eu: E vocês já receberam o milhão de dólares?
João: Bom, na verdade não. Você só recebe o dinheiro depois de sair da cidade.
Eu: Então porque é que vocês não saem?
Maria: Você só sai quando o Hugo deixar, ou você não leva o dinheiro, e ele espanca-o.
Eu: Vocês conhecem alguém que tenha votado no Hugo, saído da cidade e ganho o dinheiro?
João: Minha mãe votou no Hugo por anos. Ela saiu da cidade ano passado, e tenho certeza de que ela ganhou o dinheiro.
Eu: Você não falou com ela depois disso?
João: Claro que não, o Hugo não deixa.
Eu: Então porque é que acha que ele vai dar-lhe o dinheiro se nunca falou com alguém que tivesse conseguido o dinheiro?
Maria: Bom, ele dá-lhe um pouco antes de você ir embora. Pode ser um aumento de salário, pode ser um pequeno prémio de lotaria, pode ser que você ache uma nota de cinquenta na rua.
Eu: E o que tem isso a ver com o Hugo?
João: O Hugo tem uns «contactos».
Eu: Sinto muito, mas isso parece-me muito estranho…
João: Mas é um milhão de dólares, você vai arriscar? E lembre-se, se você não votar no Hugo, ele espanca-o.
Eu: Talvez se eu pudesse ver o Hugo, falar com ele, ajustar os pormenores directamente com ele…
Maria: Ninguém vê o Hugo, ninguém fala com o Hugo.
Eu: Então como é que vocês votam nele?
João: Às vezes nós fechamos os olhos e votamos, pensando no Hugo. Às vezes votamos no Carlos, e ele conta ao Hugo.
Eu: Quem é o Carlos?
Maria: Um amigo nosso. Foi ele que nos ensinou a votar no Hugo. A gente só precisou de o levar a jantar algumas vezes.
Eu: E vocês simplesmente acreditaram no que ele disse, quando ele contou que existia um Hugo, e que o Hugo queria que vocês votassem nele, e que o Hugo daria uma recompensa?
João: Claro que não! Carlos trouxe uma carta que o Hugo lhe mandou anos atrás, explicando tudo. Tenho uma cópia aqui, veja você mesmo.

João entregou-me uma fotocópia de uma carta com o cabeçalho «Do punho de Carlos». Havia onze pontos ali:

1. Vote no Hugo e ele dar-lhe-á um milhão de dólares quando você sair da cidade.
2. Beba álcool com moderação.
3. Espanque quem não for como você.
4. Coma bem.
5. O próprio Hugo ditou esta lista.
6. A lua é feita de queijo verde.
7. Tudo que o Hugo diz está certo.
8. Lave as mãos depois de ir à casa de banho.
9. Não beba.
10. Só coma salsicha no pão, e sem condimentos.
11. Vote no Hugo, ou ele espanca-o.

Eu: Parece que isso foi escrito no bloco do Carlos.
Maria: Hugo não tinha papel.
Eu: Tenho um palpite que se fôssemos conferir, descobriríamos que essa letra é do Carlos.
João: Claro que é, o Hugo ditou.
Eu: Pensei que vocês tinham dito que ninguém vê o Hugo.
Maria: Agora não, mas tempos atrás ele falava com algumas pessoas.
Eu: Pensei que vocês tinham dito que ele era um filantropo. Como é que um filantropo bate nas pessoas só porque elas são diferentes?
Maria: É o desejo de Hugo, e o Hugo está sempre certo.
Eu: Como sabe?
Maria: O item 7 diz: «Tudo que o Hugo diz está certo». Para mim isso é suficiente.
Eu: Talvez o seu amigo Carlos tenha inventado isso tudo.
João: De jeito nenhum! O item 5 diz: «O próprio Hugo ditou esta carta». Além disso, o item 2 diz «beba álcool com moderação», o item 4 diz «coma bem», e o item 8 diz «lave as mãos depois de ir à casa de banho». Toda a gente sabe que isso está certo, então o resto deve ser verdade também.
Eu: Mas o item 9 diz «não beba», o que não bate com o item 2. E o item 6 diz que «a Lua é feita de queijo verde», o que está simplesmente errado.
João: Não há contradição entre 9 e 2, 9 só esclarece 2. E quanto ao 6, você nunca esteve na Lua, então não pode ter certeza.
Eu: A ciência já estabeleceu muito bem que a Lua é feita de rochas…
Maria: Mas eles não sabem se as rochas vieram da Terra ou do espaço, então poderiam muito bem ser queijo verde.
Eu: Não sou um perito, mas acho que a ideia é que dois ou mais corpos de bastante massa podem ter colidido durante a formação do sistema solar para criar o sistema Terra-Lua. Mas não saber exactamente como a Lua foi formada não tem nada a ver com ela ser feita de queijo.
João: Ah! Você acabou de admitir que os cientistas não podem ter certeza, mas nós sabemos que o Hugo está sempre certo!
Eu: Sabemos?
Maria: Claro, o item 5 diz isso.
Eu: Você está a dizer que o Hugo está sempre certo porque a lista diz, e a lista está certa porque o Hugo ditou, e sabemos que o Hugo ditou porque a lista diz. Isso é lógica circular, é a mesma coisa que dizer que «o Hugo está certo porque ele diz que está certo».
João: AGORA você entende! É tão bom ver alguém entender a forma de pensar do Hugo!
Eu: Mas… ah, deixem estar… E que história é essa com as salsichas?
João (enquanto Maria enrubesce): É um esclarecimento do item 4. Salsicha, só no pão, sem condimentos. É a maneira do Hugo. Qualquer coisa diferente disso é errado.
Eu: Mas então pode comer hamburguer sem pão? E bratwürst?
João: Espere aí, espere aí! Não vamos deixar as coisas mais complicadas do que elas são. É melhor deixar esses pormenores para os peritos profissionais no Hugo e suas regras.
Eu: E se não tiver pão?
João: Sem pão, nada de salsicha. Salsicha sem pão é errado.
Eu: Sem molho? Sem mostarda?
João (Gritando, enquanto Maria parece chocada): Não precisa falar assim! Condimentos de todos os tipos são errados!
Eu: Então uma pilha enorme de repolho azedo com umas salsichas picadas em cima, nem pensar?
Maria (enfiando os dedos nas orelhas): Eu não estou escutando!! La la la, la la, la la la.
João: Mas que nojento! Só um pervertido comeria isso…
Eu: Mas é bom! Eu como sempre!!
João (amparando Maria, que desmaia): Se eu soubesse que você era um desses, não teria desperdiçado meu tempo. Quando o Hugo o espancar, eu vou estar lá, contando meu dinheiro e rindo. Eu vou votar nele por você, seu comedor-de-salsicha-cortada-com-repolho!

E assim João arrastou Maria para o carro, e foram embora.

O original faz parte da página da igreja do pensamento livre, que gentilmente o cederam.

12 de Abril, 2005 fburnay

Física e Catolicismo?

Dei de caras com posters no IST que exibiam uma fotografia de Einstein com a seguinte frase: «A Realidade é um dado. Mas dado por quem?». Se se tratasse de um tema para um encontro de agnósticos, eu compreendia perfeitamente a indagação mascarada de citação. No entanto é curioso constatar que se trata de publicidade ao Happening 2005 do movimento Comunhão e Libertação que, entre outros locais, tem lugar no campus da Alameda esta semana. Frase algo idiota, diga-se, pretende certamente atingir as mentes quase-agnósticas e pouco críticas de alguns estudantes do instituto. Pressupôr-se-á então que a resposta seja «o Deus cristão, relatado na Bíblia, que todos devemos adorar conforme as indicações da Igreja Católica Apostólica Romana à qual pertence o membro que fundou o movimento Comunhão e Libertação»? É uma resposta forçada. Mas forçada por quem? Pela ICAR, naturalmente…