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23 de Abril, 2005 Ricardo Alves

25 de Abril em Lisboa com a ARL

A Associação República e Laicidade irá associar-se às celebrações do 25 de Abril em Lisboa, participando no desfile na Avenida da Liberdade.
O ponto de encontro é a estátua a Camilo Castelo Branco, no final da Avenida Duque de Loulé, quase na praça do Marquês de Pombal. Às 15 horas.
Todos os associados e simpatizante são convidados a participar.
23 de Abril, 2005 Palmira Silva

Ciência e religião

«Apenas acrescenta factos ao teu conhecimento (…)
Assim não estarás perdido ao deixar esse paraíso,
pois possuirás um paraíso muito maior dentro de ti,
uma felicidade muito maior
»
John Milton, Paraíso Perdido

Os seres humanos apresentam uma apetência inata por explicações, por respostas aos muitos «porquês» que a observação do mundo que os rodeia causam. Esta é certamente uma das razões que explica porque a religião se difundiu tão universalmente, já que a maioria das religiões oferece, ou oferecia, respostas concludentes para praticamente tudo: desde cosmologia, biologia, física, química até, claro, à indispensável «teoria» da criação. Neste sentido a religião poder-se-ia considerar como ciência, já que esse é também o objectivo da Ciência, explicar todos os fenómenos físicos numa associação tão completa quanto possível. Mas a metodologia de ambas não poderia ser mais diversa e a religião é, quanto muito, um paradigma da má ciência, já que não se baseia em conhecimento ou observações mas sim em «revelações» improváveis de entidades não fisicamente observáveis.

Assim no século XXI todo o conhecimento concreto e real pertence à ciência; e todo o dogma quanto ao que ultrapassa o conhecimento definido, pertence à teologia. A teologia pretende que os cientistas são incapazes de descrever a Natureza, pelo facto de descartarem causas sobrenaturais e de desígnio insondável nas suas explicações.

Nos últimos tempos temos assistido a uma guerra surda entre as autoridades religiosas (e totalitárias) e a ciência, achando as primeiras que os cientistas dever-se-iam coibir de opinar sobre assuntos que contrariam os muitos dogmas religiosos, para além de deverem restringir os objectos de investigação a assuntos com os quais estas autoridades concordassem. A investigação em células estaminais ou a reprodução assistida destacam-se neste aspecto, já que os religiosos de várias confissões pretendem que determinados conhecimentos são restritos a Deus e que a ciência não pode investigar nessas áreas nem manipular técnicas que são da competência divina.

Para a Igreja Católica em concreto a verdade só pode ser revelada através da palavra divina, incompreensível para o homem, e a ciência, completamente fora do controle da Igreja, é um inimigo a anatematizar:

«Uma aceleração sem precedentes do progresso científico (…) a parcialidade contraditória das respostas oferecidas pela ciência moderna geram desorientação existencial e cultural entre os jovens e não só entre os jovens. O pensamento frágil, que se difunde rapidamente proclamando os dogmas da dúvida, do cepticismo e do relativismo radicais, produz personalidades frágeis, homens e mulheres que desistem da procura da verdade. Aumenta a diferença entre ética e pesquisa científica, aumenta o risco que a ciência, em vez de ser aliada do homem, se transforme numa ameaça para toda a humanidade» foram as palavras dirigidas pelo Arcebispo Stanislaw Rylko, em 31 de Março de 2004, ao oitavo Forum Internacional dos Jovens sobre o tema «Os jovens e a universidade: testemunhar Cristo no ambiente universitário».

O finado Papa, já tinha avisado que «A revelação cristã é a verdadeira estrela de orientação para o homem, que avança por entre os condicionalismos da mentalidade imanentista e os reducionismos duma lógica tecnocrática» na sua encíclica Fides et Ratio. Realçando que a ciência sem fé, resultou no «positivismo» e no «cientificismo», no «humanismo ateu» e em todas as «pragas» dos tempos correntes que João Paulo II jamais deixou de invectivar contrapondo como exemplo os piedosos «cientistas» da Idade Média.

Neste contexto, a ciência, completamente incompatível com quaisquer revelações divinas, é extremamente perigosa para a fé já que pode dar respostas satisfatórias sobre os «mistérios» da vida e prova que estes conhecimentos não são exclusivos à omnisciência divina, o que quer que isso seja. E prova também que algumas das «verdades absolutas» que se contrapõem à «ditadura do relativismo» são apenas rematados disparates.

Por isso não é de estranhar que o início do pontificado deste novo Papa tenha sido pautado pela denúncia desta dita «ditadura do relativismo», ou seja, supremacia da razão e ciência em detrimento do totalitarismo da fé, pois, como afirma o jornalista e escritor espanhol Juan Arias «Ratzinger não pediria perdão à ciência pelas perseguições durante a Inquisição. Ele acha que é o mundo moderno que tem de pedir perdão à Igreja».

23 de Abril, 2005 Palmira Silva

Premonição ou Espírito Santo de orelha?

A nota pastoral debitada pelo cardeal Patriarca de Lisboa por alturas da Páscoa causou à época muita celeuma por o digno prelado ter entendido ser essa a altura apropriada para esclarecer um certo mau-estar relacionado com as circunstâncias em que decorreu o funeral do Dr. Nunes de Almeida.

Como terceira figura do Estado, o funeral do presidente do Tribunal Constitucional mereceu honras de Estado, que, no nosso País apenas laico no papel, decorreu na Basílica da Estrela. Como maçon, Nunes de Almeida tinha deixado expresso o seu desejo de ser velado segundo os ritos maçónicos, que decorreram numa capela adjacente à Basílica de Estrela.

Seis meses depois, o Cardeal Patriarca «apressou-se» a esclarecer que «Um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia não pode ser mação». Porque a Maçonaria faz parte do conjunto de correntes de pensamento que «se baseiam na razão como fonte da verdade» e que acreditam «no carácter absoluto da liberdade individual».

Depois da eleição na passada terça-feira de Joseph Ratzinger interrogo-me se o ilustre cardeal português, que muitos especulavam ser um provável sucessor, teria tido uma premonição sobre as orientações do seu futuro Papa sobre o tema.

De facto, a opinião do actual Papa sobre a Maçonaria está explicitamente indicada em vários documentos emanados da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, ex- Santo Ofício da Inquisição, a que presidia. Que sem margem para dúvidas indicam:

«Permanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçónicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.»

Certamente que a Opus Dei e os Legionários de Cristo secundam e aplaudem tal disposição doutrinária…

22 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Bento XVI – papa da Contra-Reforma

Consta que o conclave, donde saiu o novo Papa, só não elegeu o Prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex- Santo Ofício) à primeira votação, pelo mau aspecto que poderia provocar e para não deixar mal colocado o Divino Espírito Santo a quem se reconhece dificuldade e lentidão a iluminar cardeais.

O novo monarca absoluto e vitalício, regedor do bairro de 44 hectares, sede do catolicismo político, só desagradou a alguns católicos ingénuos convencidos de que a sua religião é compatível com a liberdade e a democracia, que se compadece com a modernidade e se preocupa com a explosão demográfica ou com o flagelo da SIDA que ameaça dizimar a África e provoca tragédias em todos os continentes.

Os católicos fundamentalistas, que sempre digeriram mal essa aventura liberal que deu pelo nome de Vaticano II, exultam com o jovem Papa. Os muçulmanos estão de acordo com ele. A sua religião (a de cada um deles) é a única que conduz à salvação, convicção igualmente perfilhada por judeus ortodoxos. Todos têm instruções do seu Deus para converter os outros à verdadeira fé, através dos meios necessários.

Em vez de Bento XVI podia aparecer um papa defensor da democracia, arauto da liberdade, adversário da pena de morte, inimigo da censura, entusiasta do pluralismo. Esse perigo foi esconjurado. Este papa é contra a «ditadura do relativismo», a favor da democracia da verdade única, pois sabe e apregoa que «não há salvação fora da ICAR».

Ainda antes de ser infalível, atributo que desde Pio IX detêm os papas romanos, já tinha identificado as grandes ameaças do catolicismo: «O marxismo, o liberalismo, a libertinagem, o colectivismo, o individualismo radical, o ateísmo e o vago misticismo religioso» e alertado para a necessidade de haver limites à «liberdade de opinião».

A Alemanha, o país que ficou associado à Reforma, tornou-se agora a pátria do profeta da Contra-Reforma, Joseph Ratzinger, sob o pseudónimo de Bento XVI. Desde Adriano VI (1522/23) que a defesa da fé católica não era confiada a um pastor alemão.

A Europa está de parabéns. A secularização conteve a agressividade papal, agora há razões para cultivar a teofobia que a emancipe definitivamente do poder clerical. E há uma razão acrescida para reforçar a laicidade do Estado, para que a lepra do islão político não corroa a liberdade cujas malhas foram tecidas pela Revolução Francesa.

22 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Pastor alemão mostra os dentes

O Papa Bento XVI, avatar de Torquemada sentado no trono pontifício, iniciou a ingerência nos assuntos internos de países soberanos e a luta contra decisões legítimas de países democráticos. É o início da luta contra a «ditadura do relativismo», uma pia boçalidade papal para designar o pluralismo democrático.

O defunto João Paulo II, num dos momentos de maior desvario e rancor, pediu aos advogados católicos para manifestarem objecção de consciência e não patrocinarem casos de divórcio. Foi o espírito reaccionário do velho déspota na sua apoteose.

Agora é o supremo inquisidor que confunde a Espanha dos reis católicos, Fernando e Isabel, com a Espanha laica e democrática que as circunstâncias da história devolveram à monarquia mas não tornaram refém do despotismo. Bento XVI acaba de incitar os espanhóis à insurreição civil, convidando ao funcionários públicos à desobediência às leis, instigando-os a negarem-se a celebrar casamentos entre homossexuais.

O casamento, anterior à religião católica, é o contrato entre duas pessoas para a administração de bens comuns e outros fins que a lei define, sem a interferência divina nem a chantagem dos seus padres. A intromissão de Bento XVI nos assuntos internos da Espanha democrática é a desforra da Igreja que considerou o ditador Franco um enviado da Providência, que silenciou milhares de assassinatos, que conviveu com os carrascos espanhóis durante décadas.

Há um apelo urgente e necessário a fazer aos funcionários públicos que processam os vencimentos dos professores de religião católica, à custa do erário público. Cancelem os pagamentos dos veículos litúrgicos que atropelam a Constituição e traem a democracia. A Espanha, onde dezenas de facínoras que apoiaram Franco foram canonizados por João Paulo II, não é um protectorado do Vaticano. É um país livre e democrático onde os dentes do pastor alemão Bento XVI não podem transmitir a raiva.

22 de Abril, 2005 jvasco

Brasil – batalhas pela Fé

O Brasil é o país com mais católicos no mundo inteiro. No entanto, é palco de uma enorme batalha de «marketing religioso» que a ICAR está a perder.

Em 1991, 83% dos brasileiros eram católicos. Em 2000, a percentagem era de 73.5%.
Pode parecer pouco, mas temos de ver a dimensão do mercado em jogo: se a ICAR tivesse conseguido manter a proporção de crentes desde 1991, teria hoje mais de 16 milhões de fiéis.
No entanto, a ICAR aumentou o número absoluto de crentes em 0.3%, enquanto os evangélicos aumentaram 8%.
A dinâmica actual está longe de favorecer a ICAR…
Vejam este artigo, que relata esta situação em maior pormenor.

Pessoalmente não acho a perda de influência da ICAR para os evangélicos nada desejável…
Será que o novo Papa vai alterar esta dinâmica? Será que as suas posições dogmáticas, radicais e medievais vão fazer com que a ICAR compita com os evangélicos pelo mesmo «mercado» (pessoas menos instruídas), estancando o crescimento das Igrejas evangélicas, mas perdendo fiéis para o ateísmo e para as não-crenças? Será que o panorama da crença no Brasil vai mudar bastante?
Ou será que o novo Papa vai acentuar esta dinâmica? Com as suas posições contra a música nas Igrejas, contra um envolvimento sério na luta contra a pobreza (e é nas zonas mais pobres que as Igrejas evangélicas mais crescem), ele vai «empurrar» cada vez mais crentes católicos para as Igrejas evangélicas?

Aconteça o que acontecer, vale a pena estar atento a tudo o que vai acontecer no Brasil nos próximos tempos.

21 de Abril, 2005 fburnay

Assombração na TVI

Um espírito de mau gosto, populismo e superstição, que não a Manuela Moura Guedes, assombrou esta noite o estúdio da TVI. Manifestou-se com uma notícia interessantíssima, isenta e detalhada sobre um lar assombrado em Beja. Os seus ocupantes revelaram em directo os móveis tombados pelo poltergeist e o repórter esmerou-se a revelar às famílias portuguesas todos os compartimentos da habitação por onde passou a alegada entidade ectoplásmica.

Mais um caso de, pelo menos, violência doméstica – virar uma sala de pantanas requer algum mau génio ou algum histrionismo. E mais um caso de violência intelectual, em que os media não perdem tempo a encher a caixinha que mudou o mundo com porcaria de primeira apanha.

21 de Abril, 2005 jvasco

Religião e Obscurantismo II

Lembram-se quando eu listei citações e factos que indiciavam a existência de uma relação entre religião e obscurantismo? Vejam lá se a seguinte citação não poderia lá estar:

«O cristão é uma pessoa simples (…) e os bispos devem proteger estas pessoas sinceras dos intelectuais»
Cardeal Joseph Ratzinger

Descobri esta citação no barnabé, num artigo que aconselho vivamente.

Não convém esquecer que foi Ratzinger quem afirmou que os católicos não poderiam ler o «Código Da Vinci».

Enfim… parece que vem a propósito este artigo que Júlio Machado Vaz escreveu no seu blogue. É que parece que impediram, sem qualquer explicação, a emissão de um programa da sua autoria.

21 de Abril, 2005 jvasco

Não temos nada melhor para fazer?

A crítica à ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) é ainda um tabu. Não importa quão legítima ela seja, não importa quão cordato seja o tom, não importa que o façamos num espaço onde nenhum católico é obrigado a «tropeçar» em textos que não quer ler. Não importa nada disso, há vários católicos que ficam revoltados com a existência de críticas à ICAR.

Muitas vezes a revolta é tão independente da crítica em questão, que pouco importam os argumentos. É nessa circustância que surgem várias ladaínhas recorrentes. Uma delas é esta:

«Vocês não têm mais nada que fazer? Porque é que estão sempre a criticar a ICAR Porque é que isso é tão importante para vocês? Porque é que vocês vivem para criticar a ICAR?»

Deixem prestar-vos alguns esclarecimentos. Neste Diário são publicados cerca de 20 textos por semana. Somos 10 autores, e eu, curiosamente, escrevo cerca de um décimo dos textos. Isso dá uma média de cerca de dois textos por semana. A fiar-me no meu perfil, escrevo uma média de 241 palavras por artigo. Isso dá um esforço semanal de menos de 500 palavras escritas, menos de uma página de texto.

Deixem-me dar-vos uma novidade: eu não preciso de dedicar todo o meu tempo livre para escrever uma página de texto semanal. Eu não preciso de «viver para críticar a ICAR» para ter motivação para escrever essa página. É lamentável que pareça, aos olhos de alguém, tão escandalosamente trabalhosa a produção semanal de uma página de texto. Não abona nada de positivo a respeito dessa pessoa.

É óbvio que este blogue não existe só para criticar a ICAR. Muitos nos nossos artigos falam das religiões em abstracto, e de outras religiões (o Islamismo, o Induísmo, o Paganismo) e Igrejas (IURD, testemunhas de Jeová, Evangélicos) em concreto. Estranhamente esses artigos não parecem «incomodar» os nossos leitores crentes, não parecem suscitar neles estas dúvidas acerca da forma como dispendemos o nosso tempo livre, e acerca dos nossos objectivos de vida.

E se eu realmente dispendesse muito tempo a criticar algo que me parecesse errado? Qual era o problema? Era por isso que as minhas críticas seriam menos legítimas?

São interrogações que não passam pela cabeça daqueles que não suportam críticas a uma Igreja, não importando o quão legítimas elas sejam.