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1 de Junho, 2005 Cristiane Pacheco

Notícias d´álem-mar

De comentarista e grande admiradora deste Diário, passo agora a fazer parte de sua equipe. Como brasileira, pretendo contribuir trazendo informações, críticas e avaliações sobre o que se passa nessas bandas de cá do Atlântico, no maior país católico do mundo.

O Estado brasileiro é oficialmente laico desde a sua primeira Constituição republicana, promulgada em 1891. Passados mais de 100 anos, no entanto, ainda não conseguiu manter-se totalmente desinfectado da influência da ICAR. E enquanto ainda engatinhava nesta tarefa, eis que surgiram novas influências nefastas representadas pelas igrejas neopentecostais, cada vez mais atuantes e ameaçadoras.

De um lado do ringue, temos a ICAR perdendo cada vez mais o seu rebanho. De outro, o crescimento das igrejas evangélicas, que prometem prosperidade em troca do dízimo e – o que é pior! – do voto. A ICAR continua a se imiscuir nos assuntos do Estado através de suas constantes pressões contra decisões do Congresso Nacional ou do Poder Judiciário. A IURD e outras neopentecostais optaram por uma estratégia mais direta: fazer parte do Estado, lançando ou apoiando candidatos evangélicos para cargos executivos e legislativos municipais, estaduais e federais. A chamada «bancada evangélica» hoje representa uma das mais graves ameaças a laicidade do Estado brasileiro. Por fim, e em grande desvantagem, encontram-se aqueles que lutam por uma completa separação entre religião e Estado.

A imagem acima é um exemplo do que temos por aqui. Mas não é só na nossa moeda que o nome de um deus aparece: nossa última Constituição, de 1988, foi promulgada «sob a proteção de deus». Temos crucifixos em quase todas as repartições públicas, das escolas primárias ao Supremo Tribunal Federal. São feriados nacionais o Corpus Christi (Corpo de Deus), o Natal, a sexta-feira da paixão e o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país. No Rio, temos ainda os feriados de São Jorge e de São Sebastião. O ensino religioso confessional já é uma – amarga, estúpida, intragável! – realidade nas escolas públicas dos Estados do Rio de Janeiro e da Bahia.

Este é o Estado «laico» em que vivo. Não creio que o que aconteça por aqui seja de interesse apenas dos brasileiros. O avanço da intolerância, do obscurantismo e do poder das igrejas em qualquer canto do mundo merece sempre ser denunciado e combatido. Essa é uma luta de todos nós.

1 de Junho, 2005 André Esteves

Jesus Christ SuperCop??!!

E se Jesus fosse um polícia à americana?
Hilariante!!! E feito com um orçamento baixo… De meter inveja ao Jesus Christ Superstar.

31 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Bento XVI reduz a produção milagreira

Após uma inflação de beatos e santos que o defunto JP2 tinha o vício de proclamar, (1388 dos primeiros e 482 dos últimos), o novo monarca absoluto e vitalício, Bento XVI (B16), já deu sinais de abrandar o fabrico, apesar dos prejuízos em emolumentos para o Vaticano.

A actual Santidade vai mesmo prejudicar os candidatos nacionais, apesar de o director de fabrico, encarregado da Congregação para a Causa dos Santos (CCS) ser português – o cardeal Saraiva Martins.

Parece estar em perigo a canonização de Nuno Álvares Pereira cuja santidade é certa, mas a magreza do milagre que obrou – a cura do olho esquerdo de uma mulher de Ourém, queimado a fritar peixe com óleo – não é milagre à altura de quem se fartou de matar castelhanos.

Até o milagre que o ingénuo JP2 julgou ser para ele – o 3.º segredo de Fátima que Wojtyla acreditou estar relacionado com profecias divinas – é considerado por B16 uma mera «revelação privada», que em linguagem profana e popular deve ser entendido como uma vidência de alguém que não regula bem da cabeça.

Segundo o «Público» de ontem (site indisponível), pg. 22, «após as duas beatificações do passado dia 14, está já a trabalhar uma comissão que irá estabelecer critérios mais rigorosos sobre o modo de proceder daqui para a frente».

Até parece que não eram exigentes os critérios anteriores. É como se alguém duvidasse dos atestados médicos que confirmaram os milagres anteriores, como se os portugueses duvidassem dos atestados dos professores de Bragança que foram colocados longe de casa ou da epidemia, que os médicos atestaram, que atingiu os alunos de Guimarães em véspera da segunda chamada de exames.

Esta sociedade moderna tem pouca fé e B16 parece estar contaminado.

31 de Maio, 2005 Ricardo Alves

Terrorismo verbal e revisionismo histórico

Qualquer pessoa sensata que perca algum tempo acompanhando os debates, em blogues e caixas de comentários, sobre o Diário Ateísta e os seus artigos, não deixará de se espantar quer com o ódio que por aí grassa aos autores deste blogue, quer com a má-fé que revelam as acusações que lhes são dirigidas.

Seria fastidioso documentar essas acusações. Desde sermos marxistas-leninistas encapotados até termos falta de rigor histórico, passando por insinuações de falta de conhecimentos científicos, de tudo se tem visto. O mais lamentável, mas que demonstra a má-fé de que falo, é que raramente se lêem tentativas de refutação honestas e ponderadas dos nossos argumentos. O que não demonstra necessariamente que temos razão em cada ponto, mas sobretudo que o estado do debate blogo-esférico é lastimável.

Quem nos lê sem preconceitos sabe que partilhamos uma visão materialista do universo, mas que defendemos também as liberdades individuais contra todos os totalitarismos e o espírito crítico contra todas as abordagens dogmáticas.

Se alguém acede ao Diário Ateísta procurando um discurso fanático e verbalmente terrorista, enganou-se no endereço de http. Teria mais sorte na Voz de Fátima, onde esta semana um senhor padre chamado Luciano Guerra imagina uma Europa com «em todos os países e classes sociais, abortos aos milhões, e casamentos de homossexuais aos milhares», em que «os contentores de resíduos hospitalares vão transbordar de crianças mortas» e «corpos esquartejados de bebés vão aparecer em lixeiras de toda a espécie», e mesmo ser «transformados em cremes de amaciar a pele das próprias mães». Este padre fantasia ainda que o «Parlamento de Estrasburgo amanhã poderá vir a impôr a toda a Europa» o casamento de homossexuais, o que mostra que Luciano Guerra não leu o Tratado constitucional (que no seu artigo II-69º define o casamento como uma competência dos Estados membros).

As hipérboles de Luciano Guerra, como as daqueles que falam do «catolicismo perseguido», da «inquisição laica» e da «intolerância ateia», não são mero terrorismo verbal. São também uma forma subtil de revisionismo histórico. Na realidade pretendem, simultaneamente, banalizar os horrores passados (e reais) da responsabilidade da instituição católica, e equivaler-lhes os «horrores» futuros (e fantasiados) que aqueles que a denunciam pretenderiam perpetrar.

Recordemos, a bem da memória histórica, o pogrom de Lisboa em 1506, que foi instigado por padres e em que terão perecido cerca de duas mil pessoas.

«E, por já nas ruas não acharem Cristãos-novos, foram assaltar as casas onde viviam e arrastavam-nos para as ruas, com os filhos, mulheres e filhas, e lançavam-nos de mistura, vivos e mortos, nas fogueiras, sem piedade. E era tamanha a crueldade que até executavam os meninos e (as próprias) crianças de berço, fendendo-os em pedaços ou esborrachando-os de arremesso contra as paredes

Entre as atrocidades reais cometidas em 1506, por católicos, e as atrocidades fantasiadas por Luciano Guerra, quase 500 anos depois, existem semelhanças perturbantes, que eu suspeito que são intencionais. Note-se que era a inquisição que esquartejava as suas vítimas.

O revisionismo histórico, e a deturpação das palavras que o acompanha, devem ser confrontados com a realidade histórica. Em boa verdade, as piores ditaduras portuguesas tiveram sempre o apoio da ICAR, e os piores horrores que se verificaram em terras portuguesas foram perpetrados pela Inquisição. Jamais existiu uma «inquisição laica» e a tolerância religiosa foi imposta à ICAR a partir de fora. A insistência icaresca em ficcionar-se como uma instituição «perseguida» é parte da cultura católica do martírio, mas é também uma forma de revisionismo.

Convém, portanto, ter memória histórica e rigor nas palavras.

30 de Maio, 2005 André Esteves

Vocações, cerveja e uma garrafa de rum!!

Pela BBC, chega-nos a notícia de que o cardeal Cormac Murphy-O’Connor preocupado com a crise das vocações na Inglaterra, irá propor em carta apostólica, a colocação de publicidade às vocações nos panos que cobrem as mesas dos pubs.

Sua Apostólica Excelência demonstra assim uma enorme perspicácia na dinâmica das vocações. Quem é que quer vestir o capelo e agitar o hissope quando encontra uma maior satisfação espiritual numa borcada de ambrósia escura e enlevada, como uma Guiness?!

No entanto na minha perspectiva, os perigos são maiores que os benefícios nesta cruzada espiritual. Os leais frequentadores de pubs e crentes nas virtudes medicinais da fermentada cevada celta poderão se encontrar a si próprios, depois de uma noite bem regada, a ressacar num qualquer seminário, pois terão sentido o chamamento divino entre o vigésimo copo de cerveja e a ida á casa de banho. Resumindo: uma ressaca dos diabos!!

Um facto curioso são as semelhanças entre esta proposta de «Marketing» e as estratégias de recrutamento que os antigos bucaneiros ingleses, irlandeses e americanos usavam. Um recrutador com um estômago do caraças embebedava uma sala inteira enquanto embelezava as maravilhas de um emprego em alto-mar a bordo do navio do empregador. Quando os convivas já tinham alcançado o coma alcóolico, levavam-se os então «recrutados» para bordo…

Mas longe de mim comparar os seminários a barcos de piratas, o que me preocupa é se os abençoados com a vocação não perderão o seu quinhão de rum! É que era a única maneira de manter os marinheiros a bordo desses navios e parece-me que o mesmo se arrisca a acontecer nos seminários…

29 de Maio, 2005 fburnay

George Orwell II

3 = 1

Sendo reputadíssimas escolas de como acreditar em algo e no seu oposto ao mesmo tempo, as religiões merecem certamente um diploma em Doublethink.

Seguindo o exemplo da ICAR, não vou mencionar as inúmeras contradições bíblicas já que o comum católico não lê a Bíblia. Em vez disso talvez seja mais interessante pegar naquilo que a maioria dos crentes assimila na sua formação religiosa.

A ICAR apresenta-nos uma divindade única e tríplice. Esse deus é o criador de tudo. Mas Jesus, filho de Deus, não foi criado, foi gerado. Jesus, igual em tudo aos homens excepto no pecado, nasceu de uma virgem, é capaz de realizar milagres, subiu aos céus e, aparentemente, ainda não morreu. Jesus é certamente daqueles homens mais iguais do que os outros.

Na doutrina catecista da ICAR encontram-se vários exemplos de doublethink: «Não matarás», reza o mandamento. Nada de aborto, nada de eutanásia, presume-se. Mas a pena de morte, estranhamente, já faz sentido. Tal como a guerra pode ser justa.
Também a superstição é condenada no catolicismo. A prática de magia, a idolatria, adivinhações e afins são crendices pecaminosas. Ao mesmo tempo o clero transforma água da companhia em água benta, vinho em sangue, pão em carne, limpa os pecados das almas dos seguidores e prega em templos pejados de ídolos – as divindades multiplicam-se segundo a latitude – advertindo a multidão para o tempo que há de vir.

Isto para não falar da misoginia do clero que diz respeitar muito o género feminino, apontando como prova Maria, Mãe de Jesus, auto-proclamada Escrava do Senhor. Homossexualidade é uma atitude sexual contra-natura por não preceder «de uma complementaridade afectiva e sexual verdadeira». Com o celibato não se passa a mesma coisa.

Acreditar que o mundo não tem criador é impossível para o crente. Acreditar que esse criador nunca foi criado nem espanto causa.
A vida depois da morte é garantida no catolicismo mas a crença em vidas passadas é descabida e supersticiosa.
Chamar um crente à razão é vê-lo, se for esperto o suficiente, declarar que Deus está para além da lógica humana. Crimestop, diria Orwell…

29 de Maio, 2005 Carlos Esperança

O ateísmo e o «Público»

Depois do massacre mediático a que a lenta agonia de um papa e a rápida eleição de outro deram origem, seis páginas sobre ateísmo, da Revista XIS (integrante do «Público» de 28 de Maio, com chamada de 1.ª página) pareceu-me uma auspiciosa compensação para ressarcir os incréus das duras provações a que foram condenados.

Foi, pois, com entusiasmo que me atirei à leitura. Em vez do almejado prémio, saiu-me uma penitência pior do que ir a pé a Fátima. Em vez de uma entrevista a ateus que dessem uma visão da vida sem borrifos de hissope nem odores de incenso, apareceram dois crentes a falar do ateísmo.

A jornalista Inês Menezes começou por ouvir Michel Renaud, «professor catedrático, membro do Instituto de Bioética da Universidade católica Portuguesa e um dos mais ilustres e eloquentes pensadores da actualidade». [sic]

Arredado dos caminhos da santidade, não estranhei a lacuna cultural, ignorando o autor famoso, mas conhecendo os enciclopedistas franceses e numerosos existencialistas e marxistas ateus, aceitável a quem prefere uma biblioteca a uma sacristia. Acrescentei um pio pensador aos conhecimentos e à penitência.

Após tão rude prova, julguei que o outro entrevistado fosse um ateu respeitado, alguém indiferente a que as pessoas da Santíssima Trindade fossem três ou trezentas, que não distinguisse a água benta da outra e que estivesse desinteressado da salvação da alma.

Nada disso. Saiu-me de novo um crente de alto gabarito, Vasco Pinto Magalhães, «jesuíta, licenciado em Filosofia e Teologia e co-fundador do Centro de estudos de Bioética. Actualmente é responsável pela formação inicial dos jesuítas e autor de vários livros sobre a fé».

Agora, espero que no próximo número da «Revista XIS» apareça, para compensar o «dossier ateísmo», um dossiê sobre a fé e que convidem dois ateus para esclarecerem o que leva pessoas inteligentes a acreditar que a sua religião é a única verdadeira e que há mais vida para além da morte.

Na minha opinião, não há a mais leve suspeita da existência de Deus nem ele faz algo para o provar. Contrariamente ao que afirma Inês Menezes, não «andamos todos à procura de outros deuses, capazes de responderem aos nossos anseios», quando não temos um deus por conta.

Eu, pelo menos, não ando. Pergunte a outros ateus.

Nota: Este texto foi enviado ao «Publico», com cópia para a jornalista Inês Menezes.

28 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Oriana Fallaci

Um juiz italiano pretende julgar Oriana Fallaci, conhecida jornalista que vive actualmente em Nona York, por difamação do Islão, para gáudio dos islamistas, em geral, e dos mullahs, em particular.

O juiz acusa o seu livro «A força da razão», de 2004, de incitamento ao ódio religioso pois a autora escreveu que o islão «semeia o ódio no lugar do amor e escravidão no lugar da liberdade».

O juiz António Grasso, de Bérgamo, considera que algumas palavras da jornalista são «sem dúvida ofensivas para o islão e para os que praticam essa fé».

O Juiz tem toda a razão. Eu li o livro e verifiquei que Oriana Fallaci ofendeu o islão. Conta a forma demente como a mulher é tratada nos países islâmicos, fala do ódio que o Corão prega, reproduz os abjectos ensinamentos e corrobora tudo o que sabemos sobre o desrespeito do islão pelas mais elementares liberdades e pelos direitos mais sagrados da democracia.

Porventura o islão não ofende a razão e a liberdade? Acaso os clérigos muçulmanos estão disponíveis para abdicarem da pena de morte em relação à apostasia, à blasfémia e ao adultério? Reconhece o islão o direito à liberdade e à democracia? Não é, por acaso, o Corão o instrumento do ódio aos infiéis, da repressão das mulheres e da alienação dos crentes?

A simples tentativa de julgar quem denuncia a iniquidade de uma forma vigorosa é uma ofensa à liberdade, uma perversão da democracia, um atentado contra a civilização.

O multiculturalismo, desejável e louvável, tem de terminar onde começam os direitos consagrados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. Proceder de forma diferente é regressar à barbárie, abrir o caminho à substituição da democracia pela loucura teocrática, substituir o sistema representativo, que resulta de eleições livres, pelas determinações dos livros sagrados. É, em suma, substituir os defeitos dos homens pela loucura de Deus.

Fonte da notícia: Público de 27-05-2005