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15 de Junho, 2005 Palmira Silva

O Exorcista

Aparentemente os exorcismos eufemisticamente descritos como envolvendo contacto físico com o possuído são mais universais do que pensaríamos. Esta semana foi presa uma californiana de Sacramento que optou por uma forma radical de exorcizar o «demónio» que possuía a sua filha de seis anos, decapitando-a e atirando o corpo ao rio. O ano passado outra criança de seis anos foi brutalmente assassinada pelos pais em Atlanta e coberta com páginas da Bíblia num exorcismo que estes alegam divinamente ordenado. Em 2004 o pastor Ray Hemphill foi condenado por abuso físico, que resultou em morte, de uma criança autista de 8 anos, considerada possuída, e sujeita a um «vigoroso» ritual de exorcismo.

Dir-se-ia que no século XXI as «possessões» pelo demónio seriam reconhecidas como o disparate que constituem, mas as pretensões das religiões cristãs sobre a existência «real» do Diabo e de possessões demoníacas são um efectivo obstáculo a que estas crendices supersticiosas, que podem ter efeitos muito nefastos, sejam definitivamente erradicadas!

Nomeadamente a Igreja Católica reafirmou a sua posição neste assunto quando reviu em 1999 o seu «manual de exorcismo», cuja versão anterior datava de 1614, da autoria de Paulo V. Neste novo manual pode-se ler que «A Sagrada Escritura ensina-nos que os espíritos malignos, inimigos de Deus e do homem, desenvolvem a sua acção de diversas maneiras; entre elas está a obsessão diabólica chamada também possessão diabólica.». E também não ajuda a desfazer estas crendices que o falecido papa tenha reconhecido ter «exorcizado» uma «possuída» pelo demo…

15 de Junho, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Pinochet O pio ditador a quem JP2 apontou, juntamente com a amantíssima esposa, como um casal cristão exemplar, além da tortura de crianças e numerosos assassinatos que instigou, tem uma fortuna não explicada que ascende a 17 milhões de dólares (13,8 milhões de euros), uma soma detectada em operações em várias contas bancárias no exterior.

Londres – Os responsáveis da Abadia de Westminster, em Londres, proibiram as filmagens da adaptação do romance «O Código da Vinci» ao cinema nas instalações, por considerarem que o livro de Dan Brown é contrário à doutrina cristã. Também a doutrina cristã é contrária à liberdade de expressão e nenhum país civilizado a proíbe.

Opus Dei – Segundo o sociólogo Alberto Moncada crescem os suicídios dentro da seita que Monsenhor Escrivá de Balaguer criou como veículo para a sua canonização e instrumento económico, financeiro e ideológico para o domínio do mundo pelos sectores mais impiedosos e reaccionários da ICAR.

Fátima – As receitas do Santuário subiram, em 2004, para 19 milhões de euros, mais 1,3 do que em 2003. A fé e os lucros da ICAR aumentam na razão directa da crise social e económica. No entanto os lucros baixaram por causa do investimento na construção do novo estabelecimento – a Igreja da Santíssima Trindade -, obra orçada em 45 milhões de euros.
Os negócios divinos estão a deslocar-se para o imobiliário que goza de privilégios fiscais. Os homens não têm o direito de tributar Deus nem de lhe exigir número fiscal.

14 de Junho, 2005 Carlos Esperança

O Opus Dei dá vontade de morrer

As casas do Opus Dei não são um modelo de liberdade e, muito menos, de felicidade. A poderosa seita que se apropria das consciências, da vontade e dos haveres das vítimas que alicia, é um alfobre de depressões onde os anti-depressivos substituem a eucaristia.

Ninguém de são juízo e recto entendimento espera da prelatura pessoal que JP2 legou ao Papa Ratzinger (B16) desprendimento dos bens materiais ou respeito pelas liberdades individuais.

O pio fundador Escrivá de Balaguer, franquista, fanático e autoritário, foi um vivo de virtude duvidosa e um morto de reconhecida santidade. Ciliciava-se amiúde, conhecedor como ninguém dos pecados que lhe cabia expiar. Hoje é um cadáver abençoado e uma mina de relíquias para a ICAR transaccionar.

O pior são os escândalos financeiros (casos Rumasa e Matesa) e as perturbações mentais que afligem os numerários enclausurados sob o constrangimento psicológico dos padres da prelatura, treinados a eliminar a vontade e a transferir os haveres dos candidatos ao Paraíso.

O suicídio de membros numerários acontece, apesar do pecado que compromete a alma e o prestígio da prelatura. A santidade dá lugar à depressão e a fé à tristeza da condição a que se submeteram. Mulheres universitárias fazem tarefas menores sob controlo de varões. A clausura anula a vontade e compromete o juízo.

Há casas do Opus Dei quase exclusivamente dedicadas a tratar perturbações que Deus envia aos imprevidentes que nele confiam. Um dia é uma mãe de família numerosa, muito ligada à «Obra» que se atira pela janela dum consultório de ginecologia. Outro dia é uma numerária da Andaluzia, professora de Filosofia, que se suicida com um tiro, em Pamplona. Um dirigente do Opus Dei, em Córdoba, professor de Física e grande desportista atira-se da janela da sua casa e o suicídio é atribuído a sonambulismo. O enforcamento é também uma forma de libertação.

O quarto piso da Clínica Universitária de Navarra (do Opus Dei) é dedicado ao tratamento específico de numerários e numerárias que sofrem de perturbações mentais.

É intrigante o ambiente que se vive na seita que passou a viver à rédea solta, sem controlo episcopal, depois de ter sido transformada em prelatura pessoal de JP2, estranha e singular situação de que goza a mais opaca e tenebrosa agência da ICAR.

Um dia, estas situações chegarão aos tribunais. Até lá o sofrimento e o desespero invadem o antro sob a bênção do Vaticano.

Fonte:Alberto Moncada (especial para ARGENPRESS.info)* (Fecha publicación:12/06/2005)

14 de Junho, 2005 Mariana de Oliveira

A tanga não é para todos

Na segunda-feira, foi apresentado, pelo Serviço de Administração do Santuário de Fátima, o resumo das contas: 11,6 milhões de euros é o montante dos lucros registados, sem contar com os investimentos realizados no exercício de 2004. Segundo consta, estes números significam um crescimento de 44 por cento nos últimos seis anos.

Só que, na verdade, descontando os investimentos, o lucro é apenas de 0,7 milhões de euros. E, enquanto a nova basílica de 45 milhões de euros estiver a ser construída, o saldo do Santuário continuará a ser reduzido, especialmente porque as obras estão a ser pagas com receitas correntes.

As receitas totais do exercício de 2004 ultrapassaram os 19 milhões de euros, sendo quase 9,2 milhões obtidos de ofertas dos peregrinos. Entre as receitas que mais contribuíram para o enriquecimento destacam-se as valorizações financeiras (3,5 milhões de euros) e o serviço de alojamento (2 milhões de euros). Há ainda uma rubrica designada somente por «outras receitas» que contribuiu com 3 milhões de euros. Quanto às despesas, o funcionamento dos vários serviços custou um total de 7,4 milhões de euros.

Considerando que as contas públicas estão pelas horas da morte, que os impostos vão aumentar para fazer face a um défice gigantesco e que estes senhores não pagam impostos, creio que temos motivos mais do que suficientes para lançar impropérios.

13 de Junho, 2005 Carlos Esperança

A Beira profunda

Três dias na Beira Alta devolveram-me aos lugares da infância, sítios onde Deus nunca morou e onde bandos de padres louvavam a glória, apregoavam a bondade e alardeavam os seus poderes.

A tristeza invade-me em cada regresso. Só os mortos permanecem nas povoações donde teimam em fugir os vivos. Os próprios campos, consumidos pelo fogo, parecem cenários dantescos, lúgubres e ainda mais negros ao pôr do sol.

Os padres que há meio século aterrorizavam os paroquianos com os rigores do Inferno foram desaparecendo. Fugiam à fome de famílias pobres, sofriam manhãs submersas em seminários a abarrotar e, muitos, acabavam a amedrontar paroquianos com a vingança divina e a apregoar as inanidades da sua Igreja.

Uns levou-os o tempo, outros trocaram a salvação da alma pelo aconchego da alcova, vários mudaram de ramo. Nem eles ficaram para celebrar a glória do Deus que era deles.

Hoje, vão às localidades, quase despovoadas, mulheres piedosas que levam a hóstia e rezam orações para que os velhos se confortem com os antigos rituais, agora exercidos no feminino que ainda julgam indigno do múnus.

O próprio diabo, que atazanava as almas das pessoas frágeis, emigrou. Foram-se as possessões e virou inútil o exorcismo.

Há mentiras piedosas que confortam. Deus era uma dessas aldrabices que regulava a vida e comandava a morte nas zonas rurais. Hoje, desertos os campos, despovoadas as aldeias, Deus reduziu-se à insignificância do mito enquanto a máquina do Vaticano, em desespero, se torna agressiva e inventa milagres.

13 de Junho, 2005 Cristiane Pacheco

Brasil 1 x Itália 0

Apesar da ICAR ainda ser uma pedra no sapato do Estado brasileiro, lendo hoje o noticiário fiquei com a impressão de que nem estamos tão mal cá neste país tropical. Enquanto os italianos deram ouvidos à campanha do Papa para o não comparecimento às urnas no referendo que valida da lei da fecundação assistida, o governo brasileiro decidiu financiar estudos com células estaminais embrionárias. O ministro da saúde brasileiro afirmou hoje ao anunciar a decisão: «Respeito as convicções religiosas e ideológicas, mas elas não podem atrasar o avanço da ciência». O Congresso Nacional brasileiro conseguiu aprovar em março deste ano a Lei de biossegurança que liberou as pesquisas com células estaminais, apesar da forte campanha e do lobby de católicos e evangélicos.

Já na Itália, a lei aprovada em 2004 e agora validada pelo referendo é uma das mais restritivas e conservadoras da Europa: proíbe a doação de sêmen e óvulos a terceiros, a pesquisa com células estaminais, limita a três o número de embriões a serem fecundados pelo método assistido, proíbe exames clínicos que detectam doenças graves no embrião antes deste ser implantado no útero e, por fim, tornam os direitos do embrião iguais ao de uma pessoa nascida. Como menos de 50% dos italianos compareceram às urnas o referendo fica invalidado e a lei de 2004 automaticamente mantida.

Lamentável que os italianos tenham, ao que parece, aderido à campanha do boicote ao referendo promovida pela ICAR, pois além desta lei ser um atraso evidente para a ciência, tal campanha é um atentado contra um dos mais legítimos instrumentos do processo democrático.

13 de Junho, 2005 Palmira Silva

Sem palavras



Eugénio de Andrade
19 de Janeiro de 1923 – 13 de Junho de 2005

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

12 de Junho, 2005 Mariana de Oliveira

Ser beato ou não ser

De acordo com uma fonte da Santa Sé, foi constituída uma comissão no Vaticano «para reexaminar o dossiê do padre Dehon».

O padre Léon Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, que conta com mais de 3000 adeptos por todo o mundo, devia ter sido beatificado no passado dia 24 de Abril, mas a morte de João Paulo II obrigou ao cancelamento da cerimónia.

Agora, a comissão deverá analisar as acusações de anti-semitismo que surgiram algumas semanas antes da beatificação. Por exemplo, numa conferência, em 1897, o padre declarou: «os judeus são um perigo para a religião, para a propriedade e a liberdade, para a pátria (..). Eles são cosmopolitas e não podem nunca ser sinceramente patriotas». No seu catecismo social (1898), afirma que os «povos cristãos» são «invadidos e dominados» pela «influência judia».

As afirmações anti-semitas completam-se com uma análise da franco-maçonaria, que até teve direito a um livro: «Le Plan des Francs-maçons en Italie et en France», cuja intenção é a denúncia de uma pretensa conspiração daquela organização que, de acordo com Dehon, era uma «daquelas sociedades secretas ao serviço de Satã que têm como objectivo, mais ou menos velado, a destruição da Igreja fundada pelo nosso divino redentor».

Esta polémica junta-se agora com a questão da beatificação de Pio XII, que se manteve ensurdecedoramente calado aquando da exterminação dos judeus pelos nazis.

12 de Junho, 2005 Mariana de Oliveira

Curso de Verão

Entre 13 e 21 de Julho vai realizar-se, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, um curso de Verão intitulado «Religion and International Law: Past and Present».

Os temas principais são os seguintes:
– «As if God existed» – Religion and International Law in History
– The Global Resurgence of Religion Facts Statistics and Analysis
– Religion and Literature in International Law Standard Texts
– The Religious Foundations of the Idea of Human Rights
– The Global Religious Resurgence and International Law
– Religious Freedom in the European Court of Human Rights
– International Law, Global Ethic And the Universability of Human Rights
– God, Global Public Health and International Law
– Secularism, Conscience, Religious Symbols and the Public Sphere
– Jewish Influence on International Law and Human Rights
– Judaic Sources of Democracy
– The Functions of Religious Freedom In a Religiously Divided World
– The French Ideal of «Laicité» and International Human Rights Law
– Religion, Neutrality and European Integration
– Religious Activism, NGO?s and International Popular Mobilization

A língua de trabalho será o inglês e as inscrições terminam no dia 1 de Julho.

12 de Junho, 2005 Mariana de Oliveira

Perdidos e achados

O secretário pessoal do ex-Papa João Paulo II, o bispo Stanislaw Dziwisz, afirmou que, ao contrário das instruções que recebera, não queimou os documentos pessoais de Karol Wojtyla.

No testamento, JP2 pediu expressamente: «Que os meus apontamentos pessoais sejam queimados». Mas Dziwisz considerou os papéis um grande tesouro que deveria ser «guardado e preservado para a posteridade». Afinal, o que interessa o cumprimento de uma vontade póstuma?

O agora arcebispo de Cracóvia assegurou que as notas pessoais do defunto pontífice serão divulgadas ao público de forma gradual, acrescentando que tais documentos poderão ajudar no processo de santificação aberto por Ratzinger, também conhecido por Bento XVI.

Portanto, aguardaremos impacientes o desvelar de tais textos que, de certeza, conterão precisosos ensinamentos que mostrarão que João Paulo II era um Papa sábio, tolerante, ecuménico e que gostava muito dos jovens.