25 de Junho, 2005 Palmira Silva
Linha dura islâmica no Irão
Segundo o ministério do interior, e com a contagem dos votos quase terminada, o ultra-conservador Mahmud Ahmadinezhad ganhou a eleição presidencial no Irão com 61% dos votos, largamente destacado de Akbar Hashemi Rafsanjani com 35%.
Votaram 22 milhões de eleitores, cerca de 47% do eleitorado, contra 63% na primeira volta, quando foi eliminado o «reformador» Mehdi Karroubi.
Aparentemente os habitantes das províncias pobres do Irão compareceram massivamente às urnas para votar no ex-militar, apoiado pela teocracia ultra-conservadora islâmica, que prometeu resistir à decadência do Ocidente, combater a corrupção e melhorar as condições de vida de milhões de iranianos.
Segundo os observadores internacionais ocorreram «falhas» nas eleições. Os apoiantes de Rafsanjani e os candidatos reformistas afirmaram que estas foram manipuladas, os últimos acusando os Guardas Revolucionários do Irão e a segurança Basij de orquestrarem um conluio de forma a dar a vitória ao ultra-conservador, que afirmou ao votar ontem «Hoje é o início de uma nova era política para a nação iraniana»
Um dia de facto triste para a liberdade, religiosa e não só, no Irão. E o fim da esperança de regresso para muitos iranianos exilados, perseguidos e torturados pelo regime do ayatollah Khomeini, que tomou o poder após a revolução iraniana que depôs o Xá Reza Pahlavi, em Fevereiro de 1979. Conheci muitos iranianos nestas condições nos Estados Unidos, na sua maioria membros da comunidade científica.
E um dia de reflexão para os que acreditam que apenas na laicidade estrita e inviolável reside uma sociedade com um futuro pacífico. Os fundamentalismos sortidos têm a sua génese em crises económico-político-sociais, um pouco como assistimos hoje em dia na Europa. Na realidade os fundamentalismos islâmicos são epifenómenos do descrédito sofrido pelo nacionalismo árabe durante a década de 1970, em que as sociedades muçulmanas assistiram, gradualmente, à substituição do pan-arabismo pelo pan-islamismo como ideologia política de massas. Assim, imediatamente após ter tomado o poder, Khomeini apelou à revolução islâmica. A Revolução iraniana afirmava dois dos pontos centrais dos adeptos do islamismo radical. O poder tinha de ser conquistado através da força das armas, neste caso através da revolução, e o Ocidente «decadente», com especial ênfase nos Estados Unidos, o grande Satã, é o inimigo principal do Islão.
O primeiro ponto não foi necessário hoje no Irão mas o segundo é uma constante. Todas as religiões precisam de um Satã a quem atribuir os males do mundo e para mobilizar os crentes no necessário exorcismo. Normalmente violento, porque o demo tem muitas manhas…