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23 de Julho, 2005 Palmira Silva

Operação Murambatsvina

O mui católico Robert Mugabe, presidente do Zimbabwe desde 1987, lançou a chamada operação Murambatsina, em acção desde 19 de Maio do corrente ano, poucas semanas depois da reeleição do ditador sanguinário, vista por muitos como uma operação punitiva dos citadinos que votaram massivamente nos seus opositores políticos. Em Shona, o dialecto natal de Mugabe, Murambatsvina significa ver-se livre do lixo e, de acordo com o comissário da polícia Augustine Chihuri, «Precisamos limpar o nosso país da massa informe de vermes apostada em destruir a nossa economia».

Num país onde se estima que apenas 20% da população tem emprego formal, Mugabe pretende acabar com a economia paralela destruindo mercados e habitações «clandestinas» em todas as zonas urbanas do país, e queimando culturas «clandestinas», a maior fonte de alimentação para muitos, num país onde a agricultura se encontra num estado desastroso e a população necessita ajuda externa para suprir as necessidades alimentares mais básicas e o governo usa essa ajuda exterior como forma de chantagem política.

Os milhares de demolições de casas de pessoas sem quaisquer alternativas de alojamento, para além de terem criado centenas de milhares de desalojados que o governo pretende «ruralizar», já provocaram duas vítimas mortais, dois bébés esmagados pelos bulldozers juntamente com as casas em que habitavam.

O desrespeito pelos mais elementares direitos humanos cometidos sob a égide do católico Mugabe, educado num colégio jesuíta, que compareceu ao funeral de João Paulo II não obstante as sanções impostas pela Comunidade Europeia, só recentemente começou a ser criticado por alguns dignitários eclesiásticos locais, com especial ênfase pelo arcebispo de Bulawayo, Pius Ncube. Até 2003 Mugabe era suportado entusiasticamente pelas Igrejas de confissão cristã, católica proeminente entre elas. Ano em que morreu o seu grande amigo e apoiante, o arcebispo Patrick Chakaipa, que oficiou em 1996 ao segundo casamento de Mugabe, com Grace Marufu, a sua secretária 40 anos mais nova com quem já tinha dois filhos à data, uma cerimónia possível devido a uma dispensa especial, já que Marufu era divorciada.

Aliás, antes da eleição tentou «reconquistar» o apoio cristão instituindo um «dia nacional de oração», no primeiro dos quais, cerca de um mês antes das eleições de Março último, foi abençoado por Stephen Mangwanya, um representante das Igrejas Pentecostais, e em que o bispo anglicano Kunonga o apelidou «verdadeiro cristão».

Infelizmente a História, mesmo a mais recente, está repleta de «verdadeiros cristãos» como Mugabe, que governaram despoticamente com o beneplácito do Vaticano ou das autoridades de outras denominações cristãs. Quiçá a alteração da posição da Igreja de Roma em relação a Mugabe se deva não só à idade avançada do ditador, que faz prever que o seu reinado de terror não se possa estender muito mais, como também à condenação unânime do seu regime por todo o mundo ocidental.

22 de Julho, 2005 Mariana de Oliveira

Santo DVD

Foi colocado à venda um DVD nos quais Josemaría Escrivá de Balaguer fala sobre vida cristã e santidade, agora que faz trinta anos sobre a sua morte.

O DVD, intitulado «Diálogos com um santo», contem três filmes: um encontro de Escrivá com centenas de pessoas em Barcelona, outro encontro no Peru e o documentário «Santidade e apostolado», no qual se descreve a espiritualidade do Opus Dei através da pregação no campus da Universidade de Navarra, a 7 de Outubro de 1967.

Josmaría Escrivá foi o fundador da Opus Dei, organização obscura da ICAR, e ferveroso adepto do Fascismo. Agora a Opus Dei dá-nos a oportunidade de, no conforto do nosso lar devidamente equipado tecnologicamente, sabermos mais sobre a vida e obra daquele santo. Claro que a perspectiva não será a mais imparcial, mas não se pode esperar outra coisa da Opus Dei. Espero é que o seu visionamento não tenha como efeitos secundários a vontade de auto-flagelação como forma de expiação de pecados.

22 de Julho, 2005 jvasco

Alerta! A seita do bule gigante foi atacada!


Autoridades da Malásia prenderam 58 seguidores de uma seita bizarra que cultuava um bule de chá gigante, dois dias depois de a sede do grupo ter sido incendiada.

Uma pessoa pode pensar que uma «seita do bule gigante» já é suficientemente anedótico, mas aquilo que não é para rir, e sim realmente triste, é a atitude de intolerância das autoridades islâmicas da Malásia.

Eles levaram o bule «a sério» e agiram de forma criminosa.

21 de Julho, 2005 jvasco

Religião: medo de ser livre

«Liberdade – A coragem de ser genuíno» é o nome de um livro onde se alega que as religiões actuais existem principalmente para corresponder ao medo do ser humano de ser livre.

O comentário feito ao livro neste artigo do jornal de notícias fez aumentar a minha curiosidade em lê-lo, se bem que o antepenúltimo parágrafo me faça reagir com algum cepticismo.

Trocar as religiões tradicionais por delírios pseudo-místicos (espero que não seja o caso) não traz grandes vantagens.

19 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Os talibãs de J. Cristo

À medida que o terror islâmico e a demência suicida dos fiéis de Maomé avançam, esperar-se-ia uma resposta laicista a conter as alucinações de trogloditas fanatizados por mullahs com versículos do Alcorão.

Cada vez que os talibãs se deleitam a decepar membros, lapidar mulheres e degolar infiéis, os países civilizados deviam remeter as manifestações religiosas para o espaço lúgubre dos templos e vigiar os ímpetos assassinos dos crentes exaltados e de quem os acirra.

Sempre que os dignitários instigam ao crime por motivos religiosos deviam cair sob a alçada do Tribunal Penal Internacional que os julgaria por crimes contra a humanidade.

Paradoxalmente, bandos de beatos de um deus concorrente (JC) vão assaltando os aparelhos de Estados dos países laicos, infiltrando a lepra religiosa, confiscando escolas e espalhando vírus pios por hospitais, lares e outros centros de assistência.

O cristianismo, quer na versão autoritária e agressiva – o catolicismo -, quer na histeria evangélica do presidente Bush e dos seus sequazes, amigos do peito e da eucaristia, infiltra as universidades transformando-as em sacristias do mais néscio proselitismo.

Nos EUA são cada vez mais as universidades onde jovens se organizam sob a orientação de clérigos para as transformarem em madraças para divulgação da filosofia e teologia cristãs mais conservadoras.

Católicos, evangélicos, baptistas, mormons e outros fanáticos cristãos, competem num ardor beato, a lembrar suicidas islâmicos, para corroerem o pluralismo, a laicidade e as amplas liberdades que os regimes democráticos asseguram.

Os evangélicos e os movimentos católicos são os mais desvairados neste proselitismo que se acentuou no dealbar do novo milénio.

A influência perniciosa do Papa JP2 e do seu avatar e sucessor B16 criou ou estimulou numerosos bandos católicos, agressivos e beatos, como Neocatecumenais, Comunhão e Libertação, Focolares, Carismáticos, Regnum Cristi e Opus Dei, todos ansiosos por converter as escolas em covis de uma educação «teocêntrica» e os alunos em soldados de Cristo, prontos para novas cruzadas e o regresso à intolerância medieval de que o jacobinismo, o espírito republicano e as aspirações laicistas haviam curado a Europa.

Ao fundamentalismo islâmico, visto com benevolência nas alfurjas do Vaticano e nos antros das Conferências Episcopais, respondem os coriféus do cristianismo com um fanatismo simétrico. Buscam o Paraíso combatendo a liberdade, o ateísmo, a laicidade e o agnosticismo.

19 de Julho, 2005 Mariana de Oliveira

Terrorismo na enfermidade

O Papa Ratzinger exortou os médicos a ensinarem aos doentes «o sentido transcendente da dor e da enfermidade». Nessa carta, B16 incita «os médicos católicos a exercerem sua profissão acompanhando os enfermos com uma atitude de caridade, ensinando-os a aceitar os próprios limites humanos e a enfermidade e animando-os a oferecer ao Senhor seus sofrimentos, unindo assim ao sacrifício redentor de Cristo».

Olhando para o nosso pequeno país à beira-mar plantado, o pedido de Ratzinger, antes de acontecer, já tinha visto acolhimento nos nossos hospitais: temos capelanias hospitalares, assistência espiritual e religiosa, objecções de consciência por parte de médicos que se recusam a praticar o aborto permitido ou cópias da Bíblia. Como se isto não bastasse, e para além da doença, corremos o sério risco de encontrarmos um médico que nos quer fazer ver o «sentido transcendente da dor e da enfermidade».

19 de Julho, 2005 jvasco

Simulador Divino

E se vocês fossem Deus?
Teriam feito o mundo tal como ele é?
Agora pensem um pouco sobre o que fariam nessa situação e explorem o fantástico Simulador Divino que, de uma maneira simples e divertida, coloca a nu as fraquezas da mitologia cristã.

E, já que estão com a mão na massa, divirtam-se também com este gerador de religiões.

18 de Julho, 2005 Mariana de Oliveira

Separação dinamarquesa

De acordo com um jornal religioso «Kristeligt Dagblad», 46 por cento dos deputados do parlamento dinamarquês afirmam o desejo de uma maior separação entre o Estado e a Igreja Luterana. Dentro desta percentagem, 29 por cento querem uma separação completa, sendo que os 17 por cento restantes pretendem apenas um distanciamento.

Apesar de tudo, o Ministro da Educação e do Culto, Bertel Haader, duvida que «exista uma separação entre Igreja e o Estado na próxima geração, mas se um relaxamento dos laços significar, por exemplo, que o registo civil tenha de ser efectuado pela Igreja do Estado» é para aí que se caminha.

Um dado curioso é que o único país escandinavo a consagrar a laicidade é a Suécia e fê-lo no ano 2000. Apesar de tudo, creio que nos podemos congratular por não vivermos num Estado marcadamente confessional, não que a ICAR não faça por tentar conduzir as políticas governamentais por forma a perseguir determinados valores morais e por tentar manter determinados privilégios. É contra esta influência mais ou menos velada e contra certos benefícios – nomeadamente fiscais – que devemos lutar.

18 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Concorrência desleal

Ontem o padre Vítor Feytor Pinto, no fim da missa do meio-dia, avisou os paroquianos para não darem esmolas ao pé da igreja.

Um mendigo estabelecido junto à porta e com horário de trabalho coincidente com a entrada e saída dos actos piedosos não gostou deste ataque à economia liberal.

Entrou na igreja, esbofeteou o conhecido pároco, tirou-lhe os óculos e esmagou-lhos com os pés.

Para além do acto reprovável do mendigo, que o Diário Ateísta lamenta, estamos em condições de informar os nossos pios leitores de que o padre Feytor Pinto pensa apresentar queixa judicial. Isto de dar a outra face e arriscar o próximo par de óculos é uma atitude cristã do passado.

Fonte: Correio da Manhã

17 de Julho, 2005 Palmira Silva

Creatio ex nihilo

«Desde há muito dizem que o Supremo Arquitecto tentou fazer escultura. (…) Assim este velho de barbas escolheu como material o barro, o que em si mesmo já mostra o tipo de mentalidade escultórica que possuía. As coisas começaram a correr para o torto; umas esculturas eram simplesmente más, outras começaram a estalar (…). Irascível e incapaz de autocrítica, Deus disse logo que a culpa não era dele. Em primeiro lugar acusou outro génio da época, um agrónomo especialista em pomares que, ao que parece, frequentava o jardim onde Ele punha as esculturas. Depois, acusou a má qualidade do barro e, finalmente, proibiu que se fizessem mais esculturas(…).» João Cutileiro, 1972.

Todas as religiões têm os seus mitos da criação, expressões de arquétipos comuns a toda a humanidade, já que uma das funções da religião é a de explicar o mundo e a existência humana, necessitando, por isso, mitos da criação, tanto do mundo como do homem. Assim, o mundo é frequentemente criado por um deus ou deuses a partir do caos, de uma matéria primordial, pensamento ou palavra divina – como na Bíblia e no Popol Vuh – e, nalgumas, uma emanação divina, como calor ou transpiração. Para a criação do homem, que se segue normalmente à criação do mundo, estes mitos envolvem, como seria de esperar, a intervenção «divina», seja ela a partir de um ovo, descendência de um casal divino, de barro, etc.. Todos esses mitos, porém, possuem características comuns: (1) o ser supremo é omnisciente e todo-poderoso; (2) o acto de criação é consciente, deliberado, planejado e livre e (3) a criação original é um paraíso destruído por um qualquer pecado humano.

Explicadas as origens é necessário elaborar sobre o futuro, com especial ênfase naquele que é o nosso destino último: a morte. Surgem então paraísos sortidos onde aqueles que em vida seguiram os meios de salvação debitados pelas autoridades religiosas respectivas vivem em eterna felicidade na Valhala adequada à sua cultura. Os incréus e os que não obedecem escrupulosamente aos ditames dessas autoridades são agraciados com infernos de concepção variada mas que são invariavelmente castigos «divinos» horríficos. Muitas religiões apresentam ainda versões apocalípticas para completar o ciclo.

Desde os primórdios da humanidade que os mitos criacionistas se constituiram como verdade absoluta, interpretada literalmente dos textos sagrados das diversas religiões. As vozes discordantes ou críticas foram por norma radical e violentamente silenciadas uma vez que as autoridades religiosas e políticas se confundiam no exercício do poder e o respeito pelo indivíduo não faz parte do código «genético» de alguma religião. No mundo ocidental a hegemonia das autoridades religiosas começou a ser questionada há pouco mais de dois séculos, na sequência dos movimentos humanistas renascentistas e culminou na laicidade e declaração dos direitos do homem, que inclui o direito à liberdade de pensamento. Mas quer a laicidade quer os direitos mais elementares são alvo contínuo de ataques dessas autoridades religiosas, nomeadamente da Igreja Católica, vulgo ICAR. A conjuntura actual é pasto fértil para que o Vaticano tente recuperar o integrismo perdido e, de facto, a eleição recente de Ratzinger para dirigente supremo e incontestável da ICAR é apenas mais um dos muitos sinais que o indicam.

Neste contexto, a ciência, completamente incompatível com quaisquer manifestações divinas, é o primeiro «inimigo» dos prosélitos da fé. Como o comprovam todas as movimentações em relação a investigação em terrenos perigosos para a ICAR (e outras religiões do livro, as naturais aliadas da primeira nas Nações Unidas nas tentativas de proibição da investigação sacrílega) como sejam a investigação em células estaminais, a clonagem, reprodução e morte assistidas. Assim, era apenas expectável que a teoria da evolução fosse repudiada pelo Vaticano. O dogmatismo anti-científico e obscurantista é necessário à sobrevivência do cristianismo e a reposição dos mitos da criação a pedra basilar da recuperação do integrismo católico.

Perante a ameaça civilizacional que tal regressão implicaria e dado que as tentativas de ensino do criacionismo, na sua vertente IDiota, o criacionismo advogado numa primeira fase pelo ilustre prelado Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, não se restringem aos Estados Unidos e já houve delírios criacionistas na Europa, urge combater os dinossauros de Deus na sua missão totalitária. Como o temos feito no Diário Ateísta, informando os nossos leitores das manobras eclesiásticas nesse sentido, nomeadamente os repetidos assaltos à laicidade dos Estados, e dissecando os absurdos criacionistas que os exegetas do Vaticano querem impor como verdades absolutas e incontestáveis!