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4 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Depois da Dolly, o Snuppy

Recorrendo ao mesmo método que produziu a ovelha Dolly um cientista sul coreano apresentou ontem o primeiro cão clonado, um galgo afegão que dá pelo nome de Snuppy.

O professor Woo-Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seoul, já tinha surpreendido o mundo quando anunciou, o ano passado, ter obtido linhas viáveis de células estaminais a partir dos primeiros embriões humanos clonados. Estas células estaminais representam um avanço muito promissor na clonagem terapêutica, tornando mais próximas as curas de, por exemplo, diabetes juvenil e deficiências imunológicas congénitas, para além de permitirem a regeneração de tecidos para condições como ferimentos na coluna dorsal.

Espera-se o habitual repúdio do Vaticano ao trabalho do professor Hwang, nomeadamente pela voz do vice presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Elio Sgreccia, muito vocal a condenar o anterior trabalho do cientista, que considerou uma «violação dos direitos humanos». Especialmente sabendo que Ratzinger considera pecaminosa qualquer manipulação genética, incluindo a clonagem terapêutica (quer usando células estaminais embrionárias quer adultas)…

4 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Fim do multiculturalismo?

Em Itália e ao abrigo de medidas anti-terrorismo, o governo de Berlusconi baniu o uso de burqas, chadors, balaclavas e afins. Recorrendo a legislação nunca revogada mas raramente aplicada, duplicou as penas previstas no artigo 85 do decreto real 773 de 1931, que proíbe o uso de qualquer tipo de máscaras em público, prevendo uma pena de prisão até dois anos e uma multa de 2000 euros para alguém apanhado com a face tapada em público.

Também em Inglaterra Zaki Badawi, director do Muslim College em Londres e presidente do Council of Mosques and Imams, apelou às mulheres muçulmanas britânicas para deixarem de cobrir a cabeça. Badawi afirmou que o código de vestuário islâmico pretende proteger as mulheres e, dada a conjuntura actual, é contraproducente o uso de hijabs ou burqas, que podem conduzir a ataques físicos ou verbais por parte de elementos «irresponsáveis» da sociedade britânica.

O apelo de Badawi surge numa altura em que o debate sobre a integração de emigrantes na sociedade britânica está ao rubro com a intervenção de David Davis, o ministro sombra do Interior, e o candidato mais forte na corrida para a liderança do Partido Conservador, que afirma que o multiculturalismo não está a funcionar em Inglaterra e que em vez de o encorajar dever-se-ia promover «os valores comuns da nacionalidade». Num artigo de opinião no Daily Telegraph, Davis afirma ainda que permitir a não integração de emigrantes tem como consequência o enraizamento dos «valores pervertidos dos bombistas suicidas».

Davis criticou ainda Mohammad Naseem, o presidente da mesquita central de Birmingham, que chamou mentiroso a Blair, afirmando que os detidos muçulmanos no âmbito do ataque em Londres (alguns da sua congregação) podem ser vítimas inocentes de uma conspiração contra o Islão. Naseem negou ainda a existência da Al Qaeda, afirmando que nenhum muçulmano (no mundo inteiro) ouviu falar de uma organização assim chamada.

O Independent revelou recentemente que crianças muçulmanas são o alvo de islâmicos radicais que aparentemente infiltraram a página web da Sociedade Islâmica em Inglaterra. Segundo o Independent, na secção destinada aos jovens muçulmanos, existia um artigo (depois retirado) que apelava aos jovens para «boicotarem aqueles que fazem abertamente guerra a Allah». O artigo, intitulado «Imam Hassan al-Banna on jihad», continuava afirmando que «Jihad é um poderoso e rejuvenescedor desejo para o poder e glória do Islão… que te faz chorar quando olhas para a fraqueza dos muçulmanos actuais e para as tragédias humilhantes que os esmagam à morte em todo o lado» e que «Jihad é ser um soldado por Allah. Quando a trombeta chama deves ser o primeiro a responder à chamada para engrossar as fileiras para a jihad.» No mesmo sítio web existiam outros artigos (retirados) anti integração que versavam sobre ateísmo e secularismo e sobre Israel, incluindo um intitulado «Israel simply has no right to exist».

Não obstante a limpeza efectuada no site depois da notícia no Independent, ainda podem ser encontrados artigos como «Islamic Movement’s call to the Muslims», que afirma ser um dever dos muçulmanos viverem em «jihad contínua» para globalmente «estabelecer o Islão como forma dominante de vida- social, cultural, económica e política.» Outro artigo apelando claramente à jihad permanece na página intitulado «Becoming Committed Servants of Allah». Com artigos como estes não há de facto multiculturalismo que resista…

3 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Êxodo cristão

Começou, um tanto modestamente, um êxodo cristão que pretende transformar a Carolina do Sul num «oásis» cristão inspirado «divinamente». Os promotores do Êxodo cristão pretendem, pela força dos números, um governo que permita que os Dez Mandamentos sejam exibidos orgulhosamente em locais públicos, abominações como o aborto, a homossexualidade, a contracepção e outros pecados bíblicos sejam adequadamente punidos, seja proíbido o ensino de heresias como o evolucionismo, o Big Bang e afins,o direito pleno à posse e transporte de armas não seja restrito, enfim um paraíso bíblico na Terra.

E a secessão está devidamente prevista se o «ímpio» governo federal tentar impedir tão cristão objectivo. Aliás, a missão do movimento é terminar com a despótica autoridade do governo federal e seguir os Dez Mandamentos, e não a Constituição, como guia supremo do governo estadual que pretendem constituir. Na fase um do seu plano de acção para acabar com a abjecta separação da Igreja-Estado na Carolina do Sul pretende-se eleger 12 membros para o governo estadual em 2008. Se em 2016 não tiver sido possível o tipo de governo que pretendem então a secessão é a alternativa.

Depois de conseguidos estes louváveis objectivos segue-se a disseminação global deste tipo de governo «bíblico», como afirmou o líder do grupo, Cory Burnell, «Temos de olhar para a grande missão endossada por Jesus Cristo: Vai como um discípulo às nações. Nós queremos ir (e impor governos bíblicos) para o resto do mundo»

2 de Agosto, 2005 Palmira Silva

O IDiota mor

George W. Bush declarou ontem numa entrevista a repórteres de 5 jornais texanos que considera que o desenho inteligente (ID) deveria ser ensinado em alternativa à teoria da evolução nos curricula escolares.

Considerando que o juíz nomeado para o Supremo Tribunal é o teocrata católico John Roberts, e que os «indignados» republicanos, que exibem a sua religiosidade e Deus como um trunfo político, contestam a possibilidade de perguntas de cariz religioso serem endereçadas a Roberts para a sua confirmação, não é de excluir que com maioria de teocratas no Supremo a posição criacionista do presidente americano seja transcrita em lei!

Algumas polémicas em relação a Roberts, não só em relação à sua oposição da separação igreja-estado, mas especialmente ao facto de este ter pertencido à Sociedade Federalista, um grupo de pressão dos teocratas ou «religious right», não obstante ter «esquecido» tal facto, prometem uma confirmação conturbada!

A ameaça IDiota no Novo Continente já não é em rigor uma ameaça: é uma realidade!

1 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

O terrorismo continua

Estima-se que no Paquistão mais de vinte mil madrassas recebem jovens camponeses pobres para se iniciarem na aprendizagem do Corão, enquanto muçulmanos ocidentais viajam para aí em busca de uma pós-graduação em terrorismo, tal como outros afluem à Europa e aos EUA à procura de conhecimentos superiores nos domínios da ciência, da tecnologia, gestão ou economia.

Arábia Saudita, Paquistão e Egipto são países cujos ditadores de serviço são vassalos do «Eixo do Bem» em latitudes onde a pobreza, o atraso e a fé fomentam o fanatismo e o ódio que rapidamente os podem converter ao «Eixo do Mal», no caso do Paquistão com um arsenal atómico ao alcance do primeiro mullah que disputar eleições livres.

O Iraque transformou-se numa imensa base de treino terrorista. É mais um país onde os ayatollahs açulam multidões de desesperados contra os «infiéis». Em breve terá um ditador afecto ao «Eixo do Bem» que se juntará a Pervez Musharraf, Hosni Mubarak e um qualquer biltre da família Al Saud, antes de ser assassinado.

As armas e os dólares com que Carter e Reagan alimentaram Bin Laden para combater o regime pro-soviético de Kabul viraram-se contra a civilização. Estão hoje nas mãos de fanáticos que odeiam a democracia e o laicismo.

A postura misógina, a decapitação, o anti-feminismo, a lapidação, o corte de mãos, a flagelação e outros horrores estão enraizados na tradição feudal e anti-democrática do Islão, com assinalável simpatia e evidente regozijo.

A ocupação do Iraque e a sempre adiada resolução do problema da Palestina servem de pretexto para acirrar ódios e criar bandos de dementes disponíveis para o suicídio, que lhes garante o Paraíso, rios de mel doce e uma reserva substancial de virgens.

Não é combatendo os crentes que se debela o terrorismo. A separação do Estado e das Igrejas, a vigilância dos clérigos exaltados e a punição dos que incitam ao crime, são essenciais na defesa das democracias. Os crimes religiosos não podem ter atenuantes. Um versículo do Corão ou uma determinação do Génesis não suspendem o Código Penal nem para clérigos que incitam ao crime nem para fanáticos que o cometem.

Não há uma guerra de civilizações. Há uma luta do obscurantismo contra a liberdade, um ódio feroz à civilização. O regresso à Idade Média, com que sonham clérigos de várias religiões, tem de ser contido.

Hoje é o islão, responsável pelo falhanço da civilização árabe, que estrebucha com violência, temendo o seu estertor. Amanhã é outra religião que regride, desesperada com a globalização que tende a hegemonizar uma única ou a criar uma sociedade que despreze a fé.

A firme vigilância é uma condição de sobrevivência da democracia.

31 de Julho, 2005 Mariana de Oliveira

Leitão sem laicidade

A cidade da Mealhada – conhecida pelo leitão assado, pelo pão e pelas Caves Messiashomenageou o ex-administrador apostólico da diocese de Díli, o bispo Carlos Ximenes Belo, sob o pretexto dos 25 anos da sua ordenação sacerdotal.

Esta iniciativa é promovida pela Câmara Municipal e inclui, para além de uma exposição biográfica (patente na biblioteca do município), uma missa celebrada hoje no convento de Santa Cruz no Buçaco.

Parece que o senhor Carlos Cabral, Presidente da Câmara Municipal da Mealhada, não está familiarizado com um dos princípios fundamentais da República: o princípio da separação da Igreja do Estado. Ora, ao homenagear Ximenes Belo na sua qualidade de sacerdote da ICAR – e não como prémio Nobel ou resistente da ocupação indonésia – está a violar de forma inadmissível a laicidade do Estado.

Frequentemente, somos confrontados com iniciativas, mais ou menos patrocinadas por órgãos do Estado, que dão uma facadinha nas costas dos princípios essenciais do Estado de Direito Democrático: em primeiro lugar, temos a Concordata e a Lei da Liberdade Religiosa; depois, uns dias de luto nacional pela morte da senhora Lúcia e de João Paulo II e as capelanias hospitalares; finalmente, temos eventos publicitários inocentes como a Bíblia Manuscrita, que levou a cópia daquele livro a escolas públicas e prisões e hospitais. Tanta coisa chateia e faz com que a nossa democracia comece a cheirar a sacristia.

31 de Julho, 2005 Palmira Silva

França expulsa 12 clérigos islâmicos

Nicolas Sarkozy, o ministro do Interior francês, anunciou a expulsão, a concretizar até finais de Agosto, de 12 clérigos islâmicos cujo discurso exortava ao ódio e violência anti-Ocidente . E Sarkozy avisou que não mais serão tolerados imans e seus seguidores que alimentem sentimentos anti-Ocidente entre os impressionáveis mais jovens e que «Temos que agir contra os pregadores radicais».

Rena Ameuroud, de origem argelina, cujo irmão Abderraham se encontra preso pela sua participação num treino jihadista, foi o primeiro depositário da sentença de deportação, justificada pelos apelos à «guerra santa» que debitava do seu púlpito numa mesquita em Paris.

31 de Julho, 2005 Mariana de Oliveira

Jogatana

Para aqueles que não se conseguem livrar do computador nos tempos de Verão, o Diário Ateísta recomenda três pequenos jogos: um para ateus, outro para cristãos e um último para budistas.

Não se esqueçam das teclas «q», «a» e «z», que correspondem, respectivamente, a contemplação, pequena epifania e momento da verdade.

30 de Julho, 2005 Palmira Silva

Terrorismo cristão

Na passada segunda-feira um dos homens que já foi um dos mais procurados criminosos norte americanos, o terrorista cristão Eric Rudolph foi condenado a prisão perpétua pelo atentado bombista a uma clínica de interrupção voluntária da gravidez (IVG) em Birmingham, Alabama, que matou uma pessoa e feriu gravemente outra.

Outras sentenças
esperam-se em breve já que Eric Rudolph se declarou culpado de uma série de outros atentados bombistas, incluindo o que ensombrou os Jogos Olímpicos de Atlanta em que morreu uma mulher, e atentados a outra clínica de IVG e a um clube de homossexuais em Atlanta. Numa das cartas em que reclama a autoria destes dois últimos, em nome do Exército de Deus, um ramo da Identidade Cristã, pode ler-se: «Declaramos e faremos guerra total ao ímpio regime comunista de Nova Iorque e aos seus lacaios legislativos burocratas de Washington. São vocês que são responsáveis e presidem ao assassínio de crianças e promulgam as políticas de ímpia perversão que está a destruir o nosso povo».

Reiterando o que já tinha escrito, Rudolph afirmou na segunda feira que os atentados bombistas que cometeu eram motivados pelo seu ódio ao aborto e ao governo federal que permite que eles continuem. Nomeadamente defendeu que o atentado à clínica por que foi condenado foi perfeitamente justificável uma vez que «O que eles faziam era participar no assassínio de 50 crianças por semana. O aborto é assassínio e eu acredito que a força mortífera é necessária para o parar».

Claro que a imprensa americana, tão lesta e prolífica a descrever o terrorismo islâmico, tem uma certa dificuldade em reconhecer as acções de Rudolph como terrorismo cristão.

Tal como Clayton Lee Wagner, outro auto proclamado justiceiro contra o aborto, que não foi considerado um terrorista cristão mesmo depois de justificar os seus ataques «preventivos» com Antrax (falso) a clínicas de IVG, por ter sido chamado por Deus para ser seu guerreiro: «Deus chamou-me para fazer guerra aos seus inimigos… e não interessa a Deus se és uma enfermeira, recepcionista, contabilista ou funcionário da limpeza. Se trabalhas para um assassino que faz abortos vou matar-te.»

Assim como não reconhece como terrorismo cristão os muitos atentados, com Antrax ou bombas, e as ameaças dirigidas a trabalhadores da Planned Parenthood.

Nem consideram ser um incitamento ao ódio as palavras de vários «respeitáveis» e «venerandos» pastores como Randall Terry, o fundador dos grupo «Operation Rescue» e «Sociedade para a Verdade e Justiça» que que afirmou “Vocês pessoas do aborto é melhor fugirem, porque nós encontrá-los-emos e executá-los-emos».