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7 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Santo Ofício


Imagem do piedoso divertimento católico conhecido por «auto de fé».

6 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Tolerância

Os argumentos dos fundamentalistas religiosos das duas maiores confissões do livro parecem passar nos últimos dias por comparações absurdas com o nazismo.

Depois dos dislates de Dobson referidos no post precedente foi a vez de Mohammad Naseem, o presidente da mesquita central de Birmingham que questionou o envolvimento de muçulmanos nos ataques de 7 de Julho e negou a existência da Al Qaeda. Hoje, em declarações ao programa Today da BBC Radio 4, Naseem comparou a intenção de Blair de deportar estrangeiros que preguem o ódio e encerrar locais de oração onde se louve o terrorismo à demonização dos judeus feita pelo regime nazi!

O deputado por Birmingham Khalid Mahmood já pediu a demissão de Naseem, pedido que o último repudiou dizendo ter os votos de 4000 muçulmanos em contrário.

Pessoalmente deploro os excessos securitários que o fanatismo islâmico está a despoletar. E considero que um dos objectivos dos terroristas já foi atingido: perturbar e alterar o nosso estilo de vida. Mas recordo mais uma vez o paradoxo da tolerância de Karl Popper, que já transcrevi parcialmente no post Delenda Carthago, com que concordo em absoluto:

«Tolerância ilimitada leva necessariamente ao desaparecimento da tolerância. Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes, e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância. Assim, devemos reinvidicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar os intolerantes. Devemos reinvidicar que qualquer movimento que prega a intolerância se colocou a si próprio fora da lei e devemos considerar criminoso o incitamento à intolerância e perseguição, do mesmo modo que consideramos criminoso o incitamento ao assassínio ou rapto ou ao reviver do comércio de escravos.»
The Open Society and Its Enemies (1945)

Só espero que a vigilância da intolerância religiosa não se restrinja à islâmica…

6 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Mais terrorismo cristão

No programa de rádio da organização «Focus on the Family» do passado dia 3 de Agosto, dedicado à discussão da blasfema investigação em células estaminais, James C. Dobson, fundador e presidente da maior organização teocrata americana e uma das mais radicais, comparou a investigação em células estaminais embrionárias com as experiências nazis conduzidas com pacientes vivos, durante e antes do Holocausto. Dobson sugeriu ainda que as experiências nazis também poderiam resultar em descobertas que «beneficiariam a humanidade» quando igualou os defensores da investigação a médicos nazis:

«Sabe, aquilo que significa tanto para mim neste assunto é que as pessoas falam no potencial para o bem que vem da destruição destes pequenos embriões e como poderemos resolver o problema da diabetes juvenil (…) Mas eu tenho de perguntar: Na Segunda Guerra Mundial os nazis fizeram experiências em seres humanos de formas terríveis nos campos de concentração, e eu imagino, se quiser dispender o tempo para ler sobre isso, que poderiam ter ocorrido experiências que beneficiariam a humanidade».

Como é óbvio, as reacções de indignação pública às observações de puro terrorismo psicológico do «piedoso» pastor, ouvidas por cerca de 220 milhões de pessoas no mundo inteiro, não se fizeram esperar. Nomeadamente exigindo um pedido de desculpas público pela enormidade de comparar investigação numa célula, obtida a partir da junção de duas células, com experiências que torturaram e mataram de forma ignóbil incontáveis pessoas! Mais concretamente um pedido de desculpa aos sobreviventes do Holocausto, suas famílias e todos os que sintam ofendidos pela ignóbil comparação. Pedido de desculpas que Dobson se recusou a pronunciar, uma vez que para a «Focus on the Family», como diz a respectiva analista de assuntos éticos, Carrie Gordon Earll:

«A analogia com as experiências Nazis é correcta e apropriada. Se algumas desculpas são devidas, são os advogados da destruição de seres humanos embrionários que as deviam fazer».

Quanto a Dobson, depois de disponível para comentar as inúmeras críticas, tentou menorizar as suas afirmações, dizendo que tinham sido «exageradas pelos ultra-liberais que não se importam com a vida humana». Mas reafirmou os supostos «exageros» quando, embora concedendo que os embriões, ao contrário das vítimas nazis não sentem dor ou sofrimento, concluiu que as macabras experiências nazis e a investigação em células estaminais são «moralmente equivalentes uma à outra»! E continuou atacando especialmente o Senador Bill Frist, o líder da bancada Republicana no Senado, que num volte face inesperado para os teocratas que se consideram atraiçoados, se declarou a favor de um reforço no financiamento federal para a investigação em células estaminais.

Assim Dobson negou-se categoricamente a pedir quaisquer desculpas à comunidade judaica pelas suas afirmações. E Carrie Gordon Earll justificou esta recusa do seu presidente afirmando que a comunidade judaica «deveria ser sensível» às «atrocidades» da investigação.

Para azar dos piedosos cristãos, a religião judaica é a única das religiões do livro completamente a favor deste tipo de investigação. Pelo menos os judeus americanos, já que longe de se oporem, a Union of Orthodox Jewish Congregations of America assegurou o reforço do seu apoio à investigação em células estaminais embrionárias. Aliás uma carta da organização endereçada ao Senado assevera isso mesmo.

5 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Blair e a guerra ao terrorismo

Antes de partir de férias, o primeiro ministro britânico Tony Blair anunciou hoje as novas medidas de combate ao terrorismo, a entrar em vigor após um mês de consultas sobre as formas de deportar e exluir do Reino Unido todos os que alimentam o ódio, advoguem a violência como forma de impor as respectivas crenças religiosas ou justifiquem essa violência. E avisou que «Não existam dúvidas que as regras do jogo estão a mudar».

As doze medidas a implementar incluem:

· Nova legislação anti terrorismo no Outono, que inclui a condenação de quem desculpar ou glorificar o terrorismo praticado em qualquer lugar, não apenas no Reino Unido;

· Recusa automática de asilo a alguém que tenha participado em actos de terrorismo ou que tenha algo a ver com terrorismo em qualquer ponto do globo;

· Adição das organizações islâmicas Hizb ut-Tahrir e al-Muhajiroun à lista dos grupos proíbidos

· A consulta sobre formas de ordenar o encerramento de um local de oração que seja usado como um centro para fomentar extremismo;

· Consulta com líderes muçulmanos para estabelecerem uma lista daqueles não adequados para pregar a religião que serão excluídos de Inglaterra.

5 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Contradições

Uma resposta a um procedimento legal do novo guardião da pureza da fé, que substituiu Ratzinger quando este foi elevado ao trono máximo do Vaticano, em 1994 o Arcebispo de Portland, William Levada, está a chocar os devotos católicos americanos.

Em 1994 Stephanie Collopy, que teve uma relação com o então seminarista hoje padre Arturo Uribe, interpôs um processo contra a arquidiocese pretendendo que esta pagasse uma pensão de alimentos para o fruto dessa relação. A arquidiocese contrapôs como razão para não ter de o fazer que Stephanie praticou «relações sexuais desprotegidas – quando (ela) deveria saber que tal poderia resultar em gravidez». Ou seja, a «culpa» da gravidez foi de Stephanie, que deveria ter usado um qualquer método anti contraceptivo, incluindo o tão famigerado preservativo, na sua relação com o futuro padre.

Na altura a história e resposta da arquidiocese mereceram pouca atenção dos media mas tal não aconteceu, certamente devido à nova posicão de Levada como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, quando no mês passado Stephanie voltou à barra do tribunal pretendendo mais apoio financeiro para o seu filho, que sofre de problemas crónicos de saúde. Um artigo na Times detalhou a resposta da arquidiocese, dirigida então pelo agora inquisidor mor Levada.

As reacções de choque por parte dos devotos católicos americanos não se fizeram esperar. Não apenas porque, na boa tradição católica, toda a culpa da gravidez foi assacada a Stephanie, a Eva que tentou o pobre seminarista, mas especialmente porque a argumentação da arquidiocese vai contra tudo o que é debitado pela santa Igreja de Roma, que condena vigorosamente qualquer forma de contracepção não «natural».

E de facto é chocante que uma Igreja que organiza queimas massivas de preservativos em países africanos massacrados pelo flagelo da SIDA, que nem sequer sanciona o uso de preservativos no caso de um casal em que um dos membros está infectado pelo HIV, tenha tentado escapar ao legítimo pagamento de uma pensão de alimentos a uma criança gerada por um dos seus membros com o pretexto de que a mãe deveria ter recorrido a um qualquer método para prevenir a gravidez.

É caso para dizer que as emanações doutrinárias de Roma só são para aplicar quando tal não mexe no bolso da Igreja e que acima de quaisquer considerações «morais» (tal como definidas pela santa Igreja) estão considerações monetárias.

Bem prega Frei Tomás…

5 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Heresia e ADN

Simon Southerton, o biólogo molecular e membro da Igreja de Jesus Cristo dos últimos dias, vulgo mormons, que escreveu o livro «Losing a Lost Tribe: Native Americans, DNA, and the Mormon Church» foi excomungado após um conselho disciplinar em Canberra, Austrália.

Southerton tinha sido acusado pelas autoridades eclesiásticas de adultério e foi oficialmente excomungado sob o pretexto de ter mantido «uma relação inapropriada com uma mulher», quando se encontrava separado da esposa. Mas suponho que não é difícil acreditar que a verdadeira razão é a heresia subjacente ao supracitado livro, em que desmonta as pretensões genealógicas do «Livro de Mormon» e as apresenta como os disparates que de facto são, completamente em desacordo com os dados científicos disponíveis.

4 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Carta de um leitor

Vejam lá o que me aconteceu!
Sou ateu, e casei pelo registo civil com uma mulher católica, em 1969, com a condição de que NÃO haveria casamento pela igreja.

Assim foi.

No entanto, sucedeu o impensável:

Estando actualmente em processo de divórcio, vim apenas agora a saber que, em 1986, a minha mulher descobriu que era «possível celebrar um casamento católico mesmo sem a presença (nem procuração, nem autorização expressa) de um dos cônjuges» desde que o outro alegasse certas premissas!

Depois de ter falado com o padre da paróquia, ela escreveu uma carta endereçada ao Patriarcado em que declarava, p. ex., que era uma fervorosa católica, que as nossas 2 filhas eram baptizadas e eu nessas ocasiões tinha ido à igreja, mas que eu era contra princípios da igreja e por isso não quis casar-me; mas que cerca de dez anos antes eu tinha prometido à mãe dela que me casaria pela igreja (o que nao me lembro nada o de ter feito).

O padre da paróquia escreveu também, na mesma data, uma carta ao Patriarcado a declarar que a conhecia de frequentar a igreja e não via inconveniente em ser atendido o seu pedido.

Os registos do Patriarcado não têm qualquer referência ao facto de eu ter sido consultado ou ter dado acordo ao sucedido.

Assim, conseguiu que o Patriarcado (!) nos considerasse casados catolicamente - como se pode confirmar pelo documento anexo, de que pedi certidão recentemente.
Por solicitação minha, no mês passado foi-me permitido ler todos estes documentos no Patriarcado, incluindo o despacho do Cardeal Patriarca a dar acordo.

Como soube que a vossa página do "Ateísmo" se interessa por tudo quanto são habilidades da ICAR, muito agradecia a divulgação possível deste meu caso no mínimo kafkiano.

Domingos Quintino

4 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Fim do multiculturalismo: últimas notícias

A estação Al Jazeera passou hoje um vídeo do lugar-tenente da Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, em que este avisa os britânicos de que a destruição continuará iminente em Londres devido às políticas anti-Islão de Tony Blair:

«As políticas de Blair trouxeram-vos destruição ao centro de Londres e continuarão a trazer-vos mais destruição» continuando com referência aos Estados Unidos e aos ataques do 11 de Setembro «O que viram em Nova Iorque, Washington e Afeganistão são apenas as perdas iniciais e se vocês continuarem as mesmas políticas hostis verão aquilo que os fará esquecer esses horrores» finalizando com um aviso «A nossa mensagem para vós é clara, forte e final: não haverá salvação enquanto não se retirarem da nossa terra, acabarem de roubar o nosso petróleo e recursos e acabarem com o apoio a dirigentes (árabes) infiéis»

Entretanto dois dirigentes islâmicos radicais com nacionalidade inglesa, Abu Uzair (The Sect) e Abu Izzadeen (Al Ghurabaa), incendiaram ainda mais a opinião pública com as suas afirmações numa entrevista no programa Newsnight da BBC2, no qual disseram que a lealdade dos muçulmanos nascidos em Inglaterra deve ser para com o Islão e não para com o seu país natal. Afirmando ainda que não existe mais uma aliança de segurança com Inglaterra por parte dos muçulmanos nascidos em Inglaterra. Os «louváveis suicidas(sic)» e os «mártires» que cometeram os ataques de 7 de Julho, não se consideram mais sujeitos a esta aliança e foi erguida a bandeira da jihad em Inglaterra.

Ambos os grupos foram formados por seguidores do Ayatollah de Tottenham, Omar Bakri Mohammed, o tal que afirma que «a vida de um descrente não tem qualquer valor»!

Sobre o tema multiculturalismo e religião recomendo este excelente artigo no Guardian de hoje! Que relembra os 400 anos de outro acto terrorista, quando os terroristas eram católicos, e as suas consequências…