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15 de Outubro, 2018 Carlos Esperança

Liberdade Religiosa e Denúncia de Crimes

Por

Onofre Varela

Leio que a Igreja Católica Australiana não denunciará abusos sexuais revelados em confissão (El País, 9/9/2018). Após reunião da Conferência Episcopal local, a Igreja fez saber que os sacerdotes não podem revelar abusos sexuais de que tenham tido conhecimento através da confissão, nem podem ser forçados a fazê-lo, porque violar essa norma “vai contra a fé e a liberdade religiosa”. Esta directiva religiosa desobedece à comissão governamental que desde 2012 investiga casos de abusos a menores em instituições religiosas, e que propõe sanções penais contra quem não denuncie este tipo de crimes.

A frase “contra a fé e a liberdade religiosa”, que será uma norma a não violar pela Igreja, obriga-me a algumas considerações. A fé é um sentimento lícito de qualquer pessoa e não deve ser proibida, até porque não é possível proibir sentimentos. A liberdade religiosa está acoplada à fé e ao livre exercício de culto, o que, numa sociedade democrática, não se proíbe. Quanto ao calar um crime de que se tenha conhecimento… já tenho dúvidas. Onde fica o direito do violado a ver o violador entregue à Justiça? E a ser indemnizado pelo crime de que foi vítima?

Entre nós, quando em regime ditatorial, os “crimes contra o Estado” protagonizados por opositores eram encobertos pelos democratas que até os praticavam sempre que podiam como modo de contrariar as vontades do ditador. Nesse tempo, na Igreja Católica havia sacerdotes que protegiam os revoltosos contra a ditadura de Salazar, e só os “bufos” delactavam os activistas políticos que se insurgiam contra o ditador e o queriam derrubar. Em regime de Democracia tudo muda para melhor.

A lei do silêncio decretada pela Igreja Australiana chega depois do Papa ter solicitado (e bem, no meu entender) aos responsáveis eclesiásticos que denunciem os possíveis casos de pederastia, após se reconhecer abusos a mais de mil meninos na diocese da Pensilvânia (EUA) perpetrados por 300 sacerdotes durante sete décadas! Os bispos australianos consideraram que “o segredo da confissão é precisamente uma salvaguarda para os meninos e as pessoas vulneráveis” e que “o segredo da confissão é um elemento não negociável da nossa vida religiosa e encarna uma compreensão do crente e de Deus”. Esta dialéctica dos bispos deixa-me espantado e cada vez mais em desacordo com os responsáveis da Igreja que demonstram querer ser ela, hoje, a mesma ditadura medieval.

O governo australiano responsabiliza a Igreja Católica e os organismos por ela tutelados, pelos numerosos casos de pederastia, qualificando-os de “tragédia nacional”, e revela que 4.500 pessoas se queixaram à Igreja australiana por presumíveis abusos a menores cometidos por 1.880 membros da Igreja. Entretanto a Igreja compromete-se com o futuro, dizendo “Nunca mais”. Será?!… Como pode a Igreja comprometer-se, honestamente, com o futuro, naquilo que nunca conseguiu evitar no passado?

(Artigo de Onofre Varela in jornal Gazeta de Paços de Ferreira, na edição do dia 18 de Outubro de 2018. O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

1 de Outubro, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta

Por

Onofre Varela

IGREJA E SEXO CRIMINOSO (e Fim)

A grande Era das Trevas ditada pela Igreja Católica durante 350 anos, do fim do papado de Hormisdas (ano 523) até ao fim do papado de Adriano II (ano 872), contabilizou quatro séculos em que a prepotência da Igreja explorou e aterrorizou os povos da Europa, enquanto no seu seio reinava a malfeitoria, a devassa, a pornografia e o crime de sangue. A maioria dos papas desse período cometeu todo o tipo de crimes, e na lista dos 56 papas que reinaram nesse espaço de tempo, 23 foram considerados santos. 

Alguns deles têm histórias tenebrosas de prepotência, intriga, tortura, luxúria, pederastia, violações e abusos sexuais de toda a espécie, inclusive com animais. Houve papas que sodomizavam criados, sacerdotes e fiéis que depois mandavam torturar e matar. Outros papas foram assassinados pelas vítimas, pelos clérigos que os queriam destronar para lhes sucederem, e pelos maridos das suas amantes. 

Os males promovidos por papas não terminaram no ano 872… continuaram muito para além dele! O escritor italiano Eric Fratini, no livro Os Papas e o Sexo – Ficheiros Secretos do Vaticano (Bertrand, 2010), e a escritora inglesa Brenda Ralph Lewis, no livro A História Negra dos Papas – Perversões, Assassínios e Corrupção no Vaticano(Leya/Oficina do Livro, 2012), fazem um retrato tenebroso da Igreja através dos tempos. 

E houve uma época em que o papado foi, literalmente, governado pelas amantes dos papas, que foram quatro mulheres poderosas: Teodora A Maior, esposa do também poderoso cônsul e senador romano Teofilacto I; a filha de ambos Teodora A Jovem; mais Marozia, filha de Teodora A Maior e do papa João X; e ainda Sérgia, filha da mesma mãe e do papa Sérgio III. Todas foram amantes de papas num total de 12, desde o ano 904 até 963 quando morreu o papa João XII, neto de Marozia. Uma dúzia de papas submetidos à fome de poder de quatro mulheres que seduziam pela palavra, pela beleza e pelo bom desempenho na cama. De entre todas elas foi Marozia quem, com os sábios conselhos da sua mãe que era mestra pornógrafa, se tornou, com o passar dos anos, a grande governanta e senhora de Roma e da cátedra de S. Pedro. Teodora foi descrita como uma rameira desavergonhada, e as filhas conseguiram fama idêntica. Os papas sucediam-se, e aquelas mulheres ficavam como concubinas. O verdadeiro poder da Igreja estava na mão destas quatro prostitutas clericais. 

O bispo e cronista do século X, Liutprand de Cremona, opunha-se à passividade dos papas e escreveu sobre eles: “Caçavam com cavalos com arreios de ouro, organizavam banquetes opulentos com dançarinas no fim das caçadas e retiravam-se com as suas prostitutas para leitos com lençóis de seda e cobertas bordadas a ouro. Todos os bispos romanos eram casados e as suas mulheres faziam vestidos de seda das vestes sagradas”. 

Por tudo isto, quem defende incondicionalmente a “santidade dos clérigos”, convém não esquecer a História, nem a condição animal dos homens que, efectivamente, são os papas, os cardeais, os bispos, os padres, os laicos… eu… e você, leitor. 

(Onofre Varela in Gazeta de Paços de Ferreira, edição de 4 de Outubro de 2018)