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16 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

XX Jornada Mundial da Juventude

Multidão em festa oferece nova imagem da Igreja – diz a Agência Ecclesia

Bastam os 760 bispos, sendo 63 deles cardeais, e largas centenas de padres, arciprestes, vigários, monsenhores e cónegos, e o colorido das suas bizarras indumentárias, para que o fiasco seja evitado e sete mil jornalistas e muitos operadores de imagem justifiquem a deslocação.

O Papa B16 ameaçou varrer a Europa com um «vento de nova fé». Mas faltam hoje ao velho inquisidor os instrumentos de persuasão do Santo Ofício.

Para a organização do comício foram gastos 100 milhões de euros. Quinhentas mil garrafas de água por benzer serão distribuídas e a organização conta com 30 mil voluntários mobilizados para dar serventia ao evento.

Os bispos alemães contam arregimentar 350 mil jovens para verem ronronar de contentamento o pastor alemão que regressa às origens em visita de negócios místicos.

Só para as missas de abertura desta tarde os padres emborcaram 160 litros de vinho que, depois dos sinais cabalísticos da praxe, passa a sangue de Cristo e mantém o teor alcoólico.

Durante as festividades serão consumidas 2,8 milhões de hóstias consagradas cuja diferença das não consagradas só com muita fé se nota.

Fonte: Agência Ecclesia

16 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Ir a Colónia ver o Papa

As delegações regionais da ICAR reuniram esforços para levar à Alemanha meio milhão de jovens para se genuflectirem aos pés do velho inquisidor que geriu a sua própria promoção a Papa. Trata-se da chamada 20.ª Jornada Mundial da Juventude.

B16 é perigoso pela inteligência, habilidade e determinação, mas falta-lhe a mínima simpatia, o mais leve traço de humanidade e a mais elementar manifestação de bondade.

A ICAR, Empresa milenar, está habituada a lidar com Papas de todos os tipos, desde os perversos, que fizeram do Vaticano um antro de devassidão e escândalo, até aos Papas modernos, sofisticados e cultos, manhosos na arte da sedução e tenebrosos a corromper Governos e ONGs, especialistas a infiltrar o veneno religioso nos centros do poder.

A ICAR joga uma dupla cartada nesta maratona da fé organizada com profissionalismo e amplos recursos. Por um lado finge que o Papa é amado pela juventude, por outro que a Alemanha, onde as igrejas se encontram desertas, é fértil em proselitismo, apto a rojar-se aos pés do pastor alemão, que regressa a casa ricamente paramentado, com um vasto programa de propaganda e um amplo séquito, luzidio e colorido.

A próxima semana será muito importante para a ICAR e para a Europa laica. O lugar-tenente de Cristo fará um número de ilusionismo que dê visibilidade à ICAR ou permitirá que o desinteresse do seu país natal se manifeste?

No primeiro caso teremos um lamentável sucesso do marketing eclesiástico, com uma multidão de cardeais, bispos e monsenhores em exibição. No outro, teremos um fiasco que o ruído de meio milhão de jovens aliciados pelas sacristias não conseguirá disfarçar.

É também no espaço mediático que se trava a luta entre a laicidade e o charlatanismo religioso. A derrota religiosa é uma vitória do progresso, da civilização e da democracia.

16 de Agosto, 2005 jvasco

Somos todos irmãos

Deve fazer cerca de 7 anos que isto aconteceu. Era 29 de Julho e um amigo meu fazia anos.
Eu era ateu há muito pouco tempo, mas este meu amigo já o era há uns anitos, e a maioria dos amigos dele que estavam presentes, também. No entanto, uma amiga dele não só era católica como até fazia parte do coro da igreja. Depois do jantar, algures num bar agradável, falou-se de tudo: política, física, criação do universo e… religião. Por estar em minoria, e talvez por ser insegura, por mais que se falasse no ateísmo, a rapariga não discutiu nada: permaneceu sempre muito calada. Até que o aniversariante, ao ver os olhares dela de aprovação em relação a tudo o que era dito, e sabendo da realidade, lá lhe disse: «Mas tu não és católica?». Ao que ela respondeu:

-Sou católica, sim, mas eu também tenho muitas dúvidas. Por exemplo: Jesus diz que somos todos irmãos, mas depois condena o incesto. Como é que será possível depois as pessoas terem filhos?

Conhecendo a peça, é possível saber que não se tratava de nenhuma ironia refinada. Depois de lhe explicarmos que o «somos todos irmãos» era uma alegoria, e que não era por aí que a fé cristã falhava, pudemos voltar alegremente à nossa conversa.

15 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Momento Zen da segunda-feira

João César das Neves (JCN) raramente desilude os leitores. À segunda-feira prega-nos a habitual homilia com as graças do seu Deus, e respectiva família, e execra os hereges que desprezam tão sagrada gente e os mitos que lhe estão associados.

A pérola da semana tem por título «Um tempo salvo por uma mulher», em cujo exórdio se lê: «O nosso tempo só admira e cultiva o paganismo porque não faz a menor ideia do que ele fosse, conhecendo apenas as modernas imagens parolas».

Diz-nos que «Santa Maria Madalena é uma das maiores santas da nossa história», sem indicar o catálogo dos milagres ou fazer uma resenha das virtudes. Nem sequer refere a actividade profissional da dita, antes de se dedicar em exclusivo a Jesus Cristo (JC).

Depois, como bom conhecedor da bíblia, refere imagens eróticas e fala da crueldade dos deuses pagãos como se falasse do deus abraâmico.

Vale a pena transcrever a frase onde descreve a religião: «É horrível viver a vida com a omnipresença de deuses, espíritos e demónios, que dominam todos os elementos e se tornam vingativos se não forem alimentados por libações». Basta substituir libações por orações, colocar deus no singular e temos o Deus da ICAR.

Sendo o cristianismo, sobretudo a versão terrorista da ICAR e a de alguns evangélicos, a expressão do pior que JCN atribui ao paganismo, é curioso que nos diga que JC nos libertou de tudo isso.

Diz ainda JCN que JC falou do Seu Pai [sic] (do de JC, o de JCN é posterior), «o único Deus, o Deus que é bom e próximo e ama sobretudo os pobres». Esta arrogância de o Deus de JCN ser melhor do que o Deus dos suicidas islâmicos ou o dos judeus com tranças à Dama das Camélias aceita-se, mas o facto de ser o único, é o beato a desejar o monopólio.

Para provar a consideração que a ICAR tem pela mulher, não se baseia no número de padres, bispos ou papas que a ICAR ordenou, mas no número de santas que fabricou.

Não refere as que a Inquisição queimou como bruxas, a obediência a que as condena ao homem, a conduta misógina e a impureza que a ICAR imputa à mulher, ao ponto de falsificar uma virgindade para a mãe de JC.

No delírio beato, JCN atribui ao cristianismo «os fundamentos dos direitos humanos, a igualdade entre todas as pessoas e a libertação da mulher» – um exercício de falsificação histórica e de manipulação da verdade, confundindo cristianismo e Revolução Francesa.

JCN diz que uma «versão revisionista da História esforça-se por representar as eras cristãs como séculos de obscurantismo e barbárie, extrapolando para o todo de alguns casos aberrantes».

Podia lembrar a época actual, a luta da ICAR contra o preservativo, a homofobia, o apoio aos ditadores, a perseguição a teólogos progressistas, a negação do direito ao divórcio, a tibieza em relação à pena de morte, a censura de livros e filmes, a luta contra a liberdade religiosa (impondo o ensino obrigatório da sua no ensino oficial), enfim, um nunca mais acabar de horrores que tem na seita Opus Dei o seu expoente máximo.

Algumas frases são de fino recorte intelectual: «O que interessa ao culto actual de Madalena é directamente a cópula. Nossa Senhora é mulher, esposa, mãe. Tem todos os elementos femininos, mas é virgem. Isso mostra como vivemos num tempo obcecado pelo aspecto sexual no seu sentido mais venéreo. Sem o coito uma mulher não é mulher».

Claro que uma mulher é mulher sem o coito, mas há dois mil anos era o único método de engravidar e, ainda hoje, é o mais popular para dar prazer e gerar filhos.

Vale a pena ler todas os desvarios místicos de JCN. Quem não se comoverá com a festa da Assunção de Nossa Senhora que hoje, 15 de Agosto, tem lugar?

«Proclamado por Pio XII em 1950, este é o quarto dogma mariano da história da Igreja, depois da Maternidade de Deus no concílio de Éfeso em 431, da Virgindade Perpétua em 649 e da Imaculada Conceição de 1854». Uma fonte de erudição e de humor.

Sobretudo esta da «virgindade perpétua» deu cabo de mim. Vejam, leitores, como pode a fé ensandecer um créu.

Não percam «Um tempo salvo por uma mulher», de JCN, no Diário de Notícias.

15 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Origem da vida

A Universidade de Harvard lançou um projecto multidisciplinar para investigar as origens da vida, «Origins of Life in the Universe Initiative».

O projecto, ainda na fase inicial, é uma resposta da comunidade científica americana aos assaltos imbecis dos criacionistas ao evolucionismo. Tornado mais urgente pelas declarações recentes de G. W. Bush apoiando o ensino do desenho inteligente (ID).

Porque, como afirmou David R. Liu, um professor de Química e Química Biológica em Harvard, «Nós começamos com um reconhecimento mútuo da complexidade profunda dos sistemas vivo» mas «o que espero é que seremos capazes de reduzir essa complexidade a uma muito simples série de eventos lógicos que puderam ter lugar sem qualquer intervenção divina».

14 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

O pudor divino

Ontem, durante as cerimónias adrede preparadas para as vítimas da fé e escravos da crendice popular, o bispo de Leiria/Fátima, Serafim Ferreira e Silva, agradeceu a presença em Fátima e a fé por todos manifestada, criticando os que se apresentaram no recinto do Santuário com os corpos mais descobertos do que o desejável.

«O Santuário não é uma praia nem uma esplanada» – disse o bispo, ameaçando com uma futura vigilância mais apertada, segundo o Diário de Notícias.

Sabendo-se da lubricidade de Deus, o melhor é evitar-lhe as tentações. A menos que se tema que o diabo entre pelos decotes ou penetre por algum sítio recôndito em busca das almas, com a missão facilitada pelo desleixo de peregrino/as sufocados pelo calor.

14 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Oportunismo religioso

Ontem, no cemitério militar de Sampetersburg, teve lugar uma cerimónia religiosa para assinalar o 5.º aniversário do afundamento do submarino nuclear Kursk, no mar de Barents, onde pereceram todos os 118 tripulantes que se encontravam a bordo.

Sempre que há uma tragédia a evocar, uma ferida a sangrar, uma fragilidade emocional a explorar, os clérigos aparecem como abutres, alimentando-se da putrefacção dos corpos.

14 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Feminilidade segundo os Evangelhos

Randy Stinson, o teólogo cristão que dirige o Conselho da feminilidade e masculinidade bíblicas, afirma que o Novo Testamento tem instruções explícitas acerca do papel da mulher na Igreja e, como tal, as acções recentes de duas confissões protestantes denotam uma pecaminosa falta de confiança na autoridade das Escrituras.

Para o devoto e misógino cristão é uma abominação que a Igreja Cristã (discípulos de Cristo) tenha eleito uma mulher, Sharon E. Watkins, para a dirigir. Assim como constitui um desvio intolerável à santa misoginia cristã que a Igreja de Inglaterra, que já ordena mulheres, tenha iniciado um «processo para remover obstáculos à ordenação de mulheres bispos». De facto 14 das 38 Igrejas Anglicanas a nível mundial já decidiram permitir a ordenação de bispos no feminino. Aliás, são mulheres metade dos aspirantes a clérigos da Igreja Anglicana.

Para o director da organização que pretende manter a «pureza» da misoginia cristã, estas blasfémias pecaminosas são claramente contra os preceitos bíblicos:

«O Novo Testamento é certamente claro que Paulo diz a Timóteo ‘Eu não permito que uma mulher ensine ou tenha autoridade sobre um homem’ e está a falar especificamente no contexto da Igreja e como a Igreja deve ser governada. Assim nós acreditamos que, de acordo com a Bíblia, alguns papeis de liderança e ensino são restritos aos homens».

Claro que as declarações do misógino teólogo estão em absoluto acordo com a discriminação contra as mulheres que a sua organização promove. Organização cujo objectivo é combater a degradação associada ao feminismo, na mesma linha de Ratzinger e da Igreja Católica com a sua «Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo», que deplora o feminismo. E concordam que o papel de dominância do homem sobre a mulher foi ordenado por Deus, mesmo antes da «queda», e que a dentadinha na maçã da mítica Eva apenas exponenciou o domínio da mulher pelo homem. Tentar alterar a «ordem divina» é pecaminoso…

Não admira pois que as confissões cristãs combatam tão afindamente o evolucionismo. Não só é impossível que os machos de qualquer espécie precedam as fêmeas (aliás, sabemos hoje que os embriões são, por defeito, femininos e só se dá a diferenciação num ponto avançado do desenvolvimento embriónico) e se Eva é, à luz do conhecimento científico, uma figura mítica e se reconhece que não houve qualquer «pecado» original, como manter a misoginia da Igreja? Ou pior, se não houve pecado original qual a necessidade da «incarnação» do mítico fundador do cristinanismo? Para expiar algo que a ciência nos confirma ser uma lenda? Ou uma dentadinha de uma amiba no (microscópico) fruto da «árvore do conhecimento»?

13 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

13 de Agosto de 2005

A canícula aperta. O sol e as temperaturas altíssimas vão alimentando os fogos de um país que arde perante a indiferença da Virgem a que os padres ciclicamente o consagram.

Por todo o lado a vegetação dá lugar ao negro da floresta ardida, o fumo brota das raízes das árvores que foram e o futuro apresenta-se da cor dos solos que são.

Os judeus ortodoxos agarram-se à bíblia e à faixa de Gaza, os muçulmanos debitam o Corão e viram-se para Meca, os cristãos evangélicos dos EUA ameaçam o Irão e a teoria evolucionista.

Padres católicos aliciam jovens para exibirem na próxima semana, em Colónia, na XX Jornada Mundial da Juventude. Precisam de fingir que é católico o mundo e que os jovens adoram o Papa. É a primeira grande encenação com B16 e o primeiro banho de multidão ao velho inquisidor.

Em Fátima, pessoas aflitas debitam o terço, corpos cansados rastejam de joelhos à volta de uma capela e rostos tristes estendem a língua à hóstia consagrada, enquanto os padres exibem coloridas vestes, fazem sinais cabalísticos, agitam o turíbulo e borrifam os peregrinos brandindo vigorosamente o hissope.

Muitos são emigrantes. É a peregrinação dos que vêm de férias. Todos devem muito à Virgem. Os padres prometem a salvação eterna. Alguns desmaiam. É o calor.

Uma mulher agradece para a televisão um milagre. Teve um filho no Iraque e pediu à Senhora de Fátima que viesse vivo, foi um grande milagre. Não viverá tanto quanto o pagamento da dívida exigiria. É a vida.

Deus anda aí, na imaginação dos peregrinos, na angústia dos que sofrem, último refúgio do desespero no que resta do mundo rural que sabia rezar o terço.

Fátima, 13 de Agosto de 2005, um pico de vendas no negócio da fé. Um lugar de culto da trafulhice eclesiástica contra a República e o comunismo. Um negócio que perdura e um abuso da boa fé de gente crédula.

Fátima, cidade erguida à custa do ouro que vem e dos milagres que não chegam.

13 de Agosto, 2005 Palmira Silva

A campanha pela virgindade

Os dois países ocidentais líderes no desastroso campeonato da gravidez adolescente e doenças sexualmente transmissíveis nesta faixa etária, os Estados Unidos e o Reino Unido, são aqueles em que as campanhas dos conservadores têm maior força e a educação sexual e o acesso a meios de contracepção se encontram entre os mais fracos.

Os Estados Unidos, segundo mostram as estatísticas do Fundo Demográfico das Nações Unidas, são a única nação rica que se encontra no meio do bloco do Terceiro Mundo, com 53 nascimentos por 1000 adolescentes – um índice pior do que o da Índia, das Filipinas e do Ruanda [1]. O Reino Unido vem a seguir, em 20º. Os países que, segundo os conservadores, deveriam estar à cabeça da lista, encontram-se no fim da tabela. Alemanha e Noruega só têm 11 bebés por 1000 adolescentes, a Finlândia, 8; a Suécia e a Dinamarca, 7; e a Holanda, 5 [1].

A explicação da UNICEF é bastante inequívoca. A Suécia, por exemplo, mudou a sua política de forma radical em 1975: «Abandonaram-se as recomendações de abstinência e de praticar o sexo exclusivamente no casamento, a educação contraceptiva tornou-se explícita e criou-se uma rede nacional de clínicas para jovens, concretamente para fornecer de forma confidencial orientação aos jovens sobre métodos e tratamentos contraceptivos… Durante as duas décadas seguintes, o índice de nascimentos em adolescentes baixou em 80%». As doenças de transmissão sexual, em contraste com os crescentes índices do RU e EU, baixaram neste país cerca de 40% nos anos 90.

«As análises da experiência holandesa», continua a UNICEF, «chegaram à conclusão de que a razão subjacente ao sucesso foi a combinação de uma sociedade relativamente tolerante com atitudes mais abertas para o sexo e a educação sexual, que inclui os métodos contraceptivos». Pedidos de contraceptivos lá «não se associam à vergonha ou à culpa» e «os meios de informação estão predispostos a levar a cabo mensagens explícitas» sobre os contraceptivos dirigidos aos jovens. Aquilo a que os conservadores designam por «esgoto» conduz aos índices mais baixos de abortos e de natalidade em adolescentes da Terra».

Os EU e o RU, ao contrário, «são sociedades menos inclusivas» em que «oficialmente, pode encontrar-se orientação e serviços sobre contraceptivos, mas numa atmosfera ‘fechada’ embaraçosa e secreta». O Reino Unido tem uma taxa mais alta de gravidezes em adolescentes, não porque haja mais sexo ou mais abortos aqui, mas pelos «índices mais baixos de uso de contraceptivos».

A catástrofe que aflige muitas adolescentes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, por outras palavras, não se deve aos professores liberais, a pais liberados, à Fundação Marie Stopes International [Organização Internacional para a prevenção de gravidezes não desejadas e para o controle da natalidade], ou ao Guardian, mas a George Bush, a Ann Widdecombe e ao Daily Mail. Às suas campanhas contra a educação sexual desde cedo, à sua oposição ao acesso aos contraceptivos e às suas campanhas contra a inclusão social (a igualdade de rendimentos, o estado de bem-estar) que oferece às mulheres jovens melhores perspectivas do que ficar grávidas.

As campanhas a favor da abstinência como as de «A coisa do Anel de Prata» podem atrasar o início da actividade sexual, mas quando as suas vítimas são atraídas ao poço negro (quase todas, eventualmente o são) é provável que só cerca de um terço usem contraceptivos (segundo o estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Columbia), porque não estão «preparadas para uma experiência a que tinham prometido renunciar» [2].

Um artigo publicado no British Medical Journal revela que o resultado é que esses programas de abstinência «se associam a um aumento do número de gravidez entre os casais dos jovens que os seguiram» [3]. Sim, leu-o correctamente: a educação na abstinência aumenta os índices de gravidez em adolescentes.

Se tudo isto fosse conhecido amplamente, os conservadores e os evangélicos nunca se atreveriam a fazer as afirmações que fazem, por isso têm que se assegurar de que não o saibamos. Em Janeiro, o Sunday Telegraph afirmava que os europeus «olhavam com inveja» os índices de gravidez adolescente nos EU [4]. Apoiava esta insólita afirmação ocultando, de forma deliberada, as cifras, apresentando as do índice de gravidezes adolescentes por 1000 nos EU, enquanto no Reino Unido o fazia com o total de nascimentos, de maneira que os leitores não pudessem estabelecer a comparação.

Nota: post recolhido neste excelente artigo do Guardian, de George Monbiot, que pela sua relevância traduzi parcialmente!

[1] UNICEF, Julho 2001. Quadro de índices de natalidade de adolescentes em países ricos. Innocenti Report Card n.º 3. UNICEF, Centro de Investigação Innocenti, Florença.

[2] PS Bearman y H Brucner, 2001. Promising the future: Virginity pledges and the transition to first intercourse [Promessas do futuro: o compromisso com a virgindade e a transição para a primeira relação sexual]. American Journal of Sociology, 106 (4), 859-912.

[3] Alba DiCenso et al., 15 de Junho de 2002. Interventions to Reduce Unintended Pregnancies Among Adolescents: Systematic Review of Randomised Controlled Trials. Actuacções para reduzir as gravidezes não desejadas em adolescentes: Revisão sistemática das Provas Aleatórias de Controle: British Medical Journal, 324:1426.

[4] Olga Craig, 11 Janeiro de 2004. No Sex Please… They’re American, And Their Teenage Pregnancy Rates Are at a 10-Year Low. In Stark Contrast, The UK’s Record Is the Worst in Western Europe [Sexo não, por favor… São americanos e os seus índices de gravidez em adolescentes baixaram em 10 anos. Em brutal contraste, o índice no Reino Unido é o pior da Europa ocidental]. Sunday Telegraph.