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14 de Dezembro, 2018 Luís Grave Rodrigues

A natividade de Hórus

A natividade de Hórus. 

Esta imagem está gravada no Templo de Luxor (c. 1600 a.C.). 

Mostra cenas da natividade de Hórus:

  • A anunciação prol deus Thoht à virgem Isis de que será mãe;
  • A imaculada concepção de Hórus no seio de Isis, feita milagrosamente por Kneph, o deus espírito santo, em forma de falcão;
  • O nascimento de Hórus numa gruta, deitado numa manjedoura, três dias após o Solstício de Inverno (25 de dezembro), vendo-se a sua sagrada família: Isis a mãe virgem, Osiris o deus pai,  e ainda uma vaca e um burro;
  • O mesmo Hórus, o deus Sol, a ser adorado por pastores e por três reis magos que lhe trazem presentes e chegaram 12 dias depois do nascimento (6 de janeiro), guiados por uma estrela a Oriente. 
13 de Dezembro, 2018 Luís Grave Rodrigues

Exorcismo

10 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e as aparições sigilosas

Quando a Senhora do Rosário, heterónimo com que a Senhora de Fátima se apresentou na Cova da Iria, à Lúcia, ainda criança (a Lúcia, naturalmente), era imprevisível que se tornassem tão chegadas.

O pedido para que o Papa consagrasse o Mundo ao seu Imaculado Coração (da Virgem, claro) foi uma prova de simpatia para com uma criança do concelho de Ourém porque o poderia fazer diretamente ao representante do filho, no Vaticano.

Desse encontro e dos que se seguiram nasceu uma amizade para a vida da que viria a ser a Irmã Lúcia. Começou por promover o terço, exercício que aliviava os cavadores das posições viciosas da enxada e permitia às mulheres aliviar a coluna das lides do campo e da casa. Passou a ter uma interlocutora privilegiada no Paraíso, donde recebia ordens e sabia novas. Soube do valor do terço para a conversão da Rússia, dos humores de Cristo agravados pelos pecados dos homens e ausências à santa missa, e do epílogo da guerra.

Tal como os documentos do Pentágono e da CIA, desclassificados depois de 25 anos, também os escritos da Irmã Lúcia guardados numa gaveta fechada à chave no Carmelo de Coimbra, gaveta para a qual tinha uma autorização especial, foram agora publicados na extensa biografia da Irmã Maria Lúcia de Jesus.

Ficou assim a saber-se que, à sorrelfa, sem que a madre superiora suspeitasse, a vidente «recebeu, várias vezes, na clausura do convento em Coimbra, a presença de Nossa Senhora». São textos inéditos, num livro de 495 páginas, que Lúcia nunca compartilhou com as outras carmelitas, ora autoras da publicação.

Já não eram visões, como no princípio, eram aparições, como refere o livro, e não é uma questão de semiótica, uma alteração da significância das palavras, é uma transformação dialética de visões para aparições que, “além doutras, ocorreram a 22 de agosto de 1949, a 31 de dezembro de 1979 e em outubro de 1984”, segundo o DN de 8 de dezembro, da era vulgar de 2013, página 29.

A amizade era tal que, sobre a aparição de 1979, escreveu a Irmã Lúcia: “Assim orava com a fronte inclinada, na cela às escuras, com a janela cerrada, quando sinto uma mão suave pousar-me no ombro esquerdo”, para depois adicionar a mensagem que escutara: “Deus ouviu a tua oração e envia-Me [sic] para te dizer que é preciso intensificar a oração e o trabalho pela união da Igreja, dos bispos com o Santo Padre e dos sacerdotes com os bispos (…).

Estas descobertas valiosas, estes tesouros ocultos, só puderam ser desvendados após a morte da vidente, que se esqueceu de respirar em 13 de fevereiro de 2005.

Espero que estas informações agucem o apetite para a leitura pia de “Um caminho sob o Olhar de Maria: Biografia da Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado» (ed. Carmelo, 2013; 20 euros) – prefácio de D. Virgílio Antunes, atual bispo da diocese de Coimbra, onde se pode ler: “Acreditamos que as aparições de Nossa Senhora que a Irmã Lúcia teve no Carmelo de Coimbra, ao longo dos 57 anos que aí viveu, se tenham dado na sua cela, lugar de recolhimento, intimidade e oração da carmelita. Mas tudo se passou sempre com muita discrição e ninguém adivinhava quando andaria por aí Nossa senhora», um prefácio que é uma pérola e mais uma razão para comprar e ler o livro.

Observações:

1 – A discrição de “Nossa Senhora” teria de ser muita, para não derrubar uma cadeira, atirar com um castiçal ou esbarrar num crucifixo, o que levaria o pânico ao Carmelo;

2 – O recado de Deus para intensificar as orações, o trabalho, etc. ganham consistência pela semelhança com as orientações da troika, noutro campo, ao Governo português;

3 – O facto de Deus ter ouvido as orações da Lúcia foi motivo para uma aparição que o confirmou, o que pode levantar dúvidas sobre a audição das orações dos crentes que não privam com a Senhora de Fátima, mas um crente não pode ter dúvidas, tem certezas.

23 de Novembro, 2018 Carlos Esperança

A ciência, os milagres e a santidade

Pensava eu, em meu pensamento, que os milagres cientificamente comprovados no laboratório do Vaticano, no mínimo de dois, eram as provas académicas de acesso à santidade que, comparadas com o mundo profano, equivaleria o primeiro milagre ao mestrado e o segundo ao doutoramento.

Pensava ainda, em meu pensamento, que a canonização, sem numerus clausus, atribuiria um alvará para novos milagres, sendo os dois primeiros as provas de exame no apertado filtro da canonização que, com o defunto ausente, fariam da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, a Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra, com a dignidade de Prefeitura.

Compreende-se que os santos precisem de provas para poderem continuar no ramo dos milagres, sendo os primeiros obrados à experiência e os seguintes já com provimento definitivo. Isso justifica as alegadas exigências postas na comprovação científica dos prodígios pela Congregação oficial para não se repetir a exclusão do Livro dos Santos, como sucedeu a S. Guinefort que, apesar de mártir, foi exonerado quando se descobriu tratar-se de um cão e o templo, em sua honra, foi mandado arrasar pelo Papa de turno.

Um santo, depois do alvará de canonização, tem direito a biografia no Livro dos Santos, acompanhada da oração dedicada ao mesmo, de uma imagem clássica e do patronato e dia consagrado dento do culto católico. Não admira, pois, a exigência de três médicos que confirmem os milagres e a dificuldade acrescida dos defuntos em obrarem milagres de jeito, depois da evolução farmacológica e dos avanços médicos.

Exceto na oncologia, os milagres andam agora pelas varizes, furúnculos, queimaduras, moléstias da pele e, às vezes, pela fisiatria. Acontecem sempre na área da medicina e nunca na economia, física ou matemática, isto é, a santidade está confinada a medicinas alternativas.

Mas o que surpreende é a inércia dos santos reconhecidos e o frenesim dos candidatos. Lembro-me que Nuno Álvares Pereira, depois da brilhante cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo fervente de fritar peixe, e logo canonizado, nunca mais curou um simples furúnculo, hemorroides ou uma fratura do colo do fémur, o mesmo acontecendo com os milhares de canonizados dos três últimos pontificados.

A canonização, se a política da santidade se mantiver, deixa de ser o diploma para obrar milagres é passa a mero pergaminho com a jubilação assinada e com lacre do Vaticano.

17 de Novembro, 2018 Carlos Esperança

E Deus criou o Mundo…

Quando Deus era um anacoreta sombrio, farto de Paraíso e da solidão, matutou em seu pensamento apanhar o barro que, em dias de chuva, se colava às botas e lhe borrava a oficina.

Recolheu a argila, amassou-a e começou a dar-lhe forma. Percorreu-a com as mãos e moldou o boneco que a água do lago lhe refletia, nas raras vezes que tomava banho.

De vez em quando regressava ao lago para recordar a face. O corpo ia-o esculpindo a olhar para o seu, embevecido como todos os narcisos. Quando acabou, tal como fazia com outras peças, pressionou o indicador sobre a estátua e fez o umbigo.

Extasiado na contemplação, continuou a aperfeiçoar o corpo, deteve-se num empenho devoto no baixo ventre e, de tanto insistir, a estátua ganhou vida.

Estava feito o homem à imagem e semelhança do oleiro.

Como ocorre com artistas em início de carreira, Deus não sabia que tinha feito a obra da sua vida embora o pressentisse pela afinidade que lhe encontrava.

Foi então que resolveu retirar algum barro e, com o que lhe sobrara, fazer outro corpo, ainda mais belo, onde refletiu a geografia do Paraíso com vales acolhedores e montes suaves. Tinha criado a mulher e, sem o saber, dado início ao Mundo.

Então o velho cenobita, arrependido, desatou aos berros, praguejou, ameaçou e proibiu. Como tinha a paranóia das metáforas disse-lhes que não se aproximassem da árvore do conhecimento, isto é, um do outro, uma ordem que a natureza rebelde das criaturas não poderia acatar.

E, assim, de mau humor, enquanto expulsava Adão e Eva para a Terra, ficou a ruminar castigos, a congeminar torturas e medos para aterrorizar a humanidade. Demorou quatro mil anos – Deus é lento a refletir -, e mandou-lhes três religiões.

Moisés, Jesus e Maomé são os enviados de Deus que assustam a humanidade e o ganha-pão de parasitas que dividem o tempo a dar Graças, a ameaçar pecadores e a vender bilhetes para o Paraíso.