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15 de Novembro, 2005 Mariana de Oliveira

É hora

Teresa Fernández de la Vega, vice-presidente do governo espanhol, recordou à ICAR que as «contribuições generosas» feitas pelos governos anteriores não se manterão indefinidamente e que chegou a hora de a Igrejar cumprir com o compromisso celebrado há 26 anos: o de auto-financiar-se.

Actualmente, o Estado espanhol concede àquela instituição 35 milhões de euros extra, para além da liquidação de 0,52% do IRPF («Impuesto sobre la Renta de las personas físicas»). No que respeita a esta parte, a cifra ascendeu, em 2004, aos 105,6 milhões de euros, a somar às subvenções de 2.000 milhões de euros feitas a colégios católicos.

Acerca da manifestação do passado sábado, a vice-presidente disse que os motivos alegados pelos convocantes da marcha contra a Lei Orgânica da Educação não correspondem ao que diz a lei. «Ou há falta de informação, ou está a usar-se a educação como pretexto para desgastar o governo». «Não se entende que se diga que em Espanha existe o perigo de não haver ensino religioso nem liberdade religiosa. Não há nenhum país da Europa onde a Igreja Católica seja melhor tratada» (a não ser, provavelmente, Portugal).

Teresa Fernández de la Vega, relativamente à tentativa de um acordo entre a ICAR e o governo, reiterou que os interessados não deixaram de ser escutados na hora de elaborar a proposta de lei. Na verdade, ambas as entidades atingiram o consenso em 13 dos 15 pontos, mas os representantes da Conferência Episcopal Espanhola «não quiseram dá-lo a conhecer aos cidadãos, preferindo recorrer à reivindicação e à manifestação».

Segundo Juan Antonio Martínez Camino, secretário-geral do episcopado, não houve acordo em três pontos que a ICAR considera essenciais. Primeiro, quanto ao reconhecimento e tutela efectiva da liberdade de ensino religioso tanto para os pais como para os centros; segundo, não estava suficientemente clara a definição da Educação para a Cidadania; e, terceiro, qual é o estatuto da académico do ensino da religião.

O IUICV, mostrou o seu apoio ao governo e até se antecipou quanto a possíveis medidas a tomar pelo executivo em relação ao financiamento da ICAR. Na verdade, o grupo parlamentar desta coligação defendeu perante o Congresso que em 2006 se solicite à ICAR a devolução do dinheiro que recebe a mais pela antecipação da liquidação de 0,52% do IRPF. Pelos cálculos do IU-ICV, «a hierarquia da Igreja recebeu 240 milhões de euros de sobre-financiamento na última década».

Gaspar Llamazares, da Izquierda Unida, aproveitou para reiterar a inconstitucionalidade da Concordata e para afirmar que a Igreja actua como «um menino mimado: tem tudo e quer mais».

Ao contrário do que alguns comentadores deste Diário possam pensar, não tenho nada contra manifestações por parte da ICAR e dos seus apoiantes. O direito de manifestação é uma das maiores conquistas da Democracia. Mas reservo-me, com base no meu (e de todos) direito à liberdade de expressão, de declarar a minha opinião acerca dos fundamentos daquelas manifestações. Ora, tenho para mim que se torna notório que a marcha de sábado passado, com o alto patrocínio da Conferência Episcopal Espanhola e do PP, é mais do que uma inofensiva manif: é uma manifestação de força – embora não tanta como gostariam – com o objectivo de manter um conjunto de privilégios financeiros e educativos por parte de uma religião organizada num Estado de Direito Democrático que deve obediência aos princípios fundamentais da igualdade e da laicidade.

Para mais informações acerca da polémica da LOE espanhola, podem ver o tema do dia de hoje do jornal «El Periodico», o seu editorial e o artigo de opinião de Vicenç Navarro, professor catedrático de Políticas Públicas.

14 de Novembro, 2005 fburnay

Galileu e a Igreja (I)

Quando Galileu abjura das suas heresias não é a primeira vez que se apresenta à Inquisição. Na verdade, até à morte do papa Paulo V, Galileu tinha uma relativa segurança em relação à Igreja.

Parte dos problemas de Galileu começam com Giordano Bruno. Se bem que este teve muitas oportunidades de abjurar o seu hermetismo (foi isso que o levou a aceitar o heliocentrismo – porque se ajustava à sua visão religiosa, de inspiração greco-egípcia, do mundo) não deixa de ser possível que se não fosse ele seria outro o culpado pela inclusão, em 1616, do herético De Revolutionibus Orbium Coelestium de Copérnico no Index Librorum Prohibitorum da Igreja Católica (do qual só foi retirado em 1835). Bruno é de facto, um mártir do livre-pensamento mas não um mártir da Ciência. Apesar desse hipoteticamente evitável dano feito à Ciência, é tendo presente o exemplo da execução de Giordano Bruno que Galileu toma cuidado com o modelo de Copérnico.


A ideia «louca e absurda e formalmente herética» de Nicolau Copérnico, «na melhor das hipóteses, errónea de verdade».

Galileu começa os seus estudos em casa mas mais tarde é enviado para um mosteiro, em Vallombrosa. Mas depois de contrair uma infecção ocular o pai levou-o para Florença para o tratar e, apesar de Galileu ter ficado registado como padre não consagrado, nunca mais lá voltou.

Desde a sua entrada na universidade de Pisa para estudar Medicina, que Galileu questiona o “conhecimento” aristotélico que lá é ensinado. Dadas as ligações que a sua família tem à corte, nomeadamente a da Toscânia que passava o Inverno em Pisa, o aluno entra em contacto com o matemático da corte toscana, cujas aulas frequenta. É então que Galileu abandona a Medicina para abraçar a Matemática, disciplina que lecciona na universidade a partir de 1589. Nestas aulas de matemática, o que se ensinava era uma forma primitiva de Física, na altura designada por Filosofia Natural (até mesmo ao tempo de Newton – basta ver o título da sua grande obra). E como não poderia deixar de ser, Galileu é obrigado a ensinar a visão aristotélica… No entanto, como o seu lugar na universidade é mal pago (60 coroas contra as 2000 pagas a um professor de Medicina), Galileu alberga e dá aulas privadas a alguns dos seus estudantes mais ricos, para conseguir sobreviver. Nessas aulas ele ensinava as suas ideias sobre o funcionamento do mundo. Mas Galileu estava ciente do perigo que era tomar esse partido e, juntamente com a falta de interesse que tinha em leccionar em Pisa e os seus problemas económicos, isso levou-o a procurou um lugar em Pádua – na altura uma cidade controlada por Veneza, um estado suficientemente forte para fazer frente a Roma.

Galileu consegue, graças à sua grande habilidade diplomática e aos conhecimentos anteriormente obtidos na corte toscana, a permissão do grão-duque da Toscânia para ocupar a cátedra de matemáticas da Universidade de Pádua. É aí que conhece dois membros do clero que irão influenciar o seu futuro – frei Paolo Sarpi, que viria a tornar-se seu grande amigo, e o cardeal Roberto Bellarmine, um dos homens mais poderosos do Vaticano e o principal responsável pela perseguição de Giordano Bruno por heresia.

14 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Momento Zen da segunda-feira

A única prova da existência do Paraíso reside no fanatismo com que se imolam os suicidas islâmicos e, em sentido figurado, o beato João César das Neves (JCN).

JCN é um suicida que arremete, inspirado por Pio IX , contra a modernidade. O Papa anti-semita, que já fez um milagre, odiava tudo o que fosse novo, particularmente a democracia, o livre pensamento, a liberdade e a perda do poder temporal dos Papas.

JCN é émulo do sinistro Papa. É dos poucos que acredita em milagres e nas aparições de Fátima, que engole os dois dogmas de Pio IX: o da Concepção Imaculada e o da virgindade de Maria. JCN não é um simples crente, é um hissope carregado de água benta.

Esta semana aspergiu-nos com excelentes pérolas.

Referindo-se a leis que aguardam aprovação, o bem-aventurado declara-as como «as maiores infâmias»:

– «experiências científicas com embriões» (art. 7.º);
– «maternidade de substituição» (art. 6.º e 27.º);
– «bancos de esperma (art.15.º) [JCN não sabe que existem há muito];
– «doação de ovócitos» (art. 24);
– «criação e congelação de embriões excedentários» (art. 21).

Desolado, escreve ainda, certamente de mãos postas, que «Portugal vai repetir os horríveis crimes e dramas pessoais e familiares que o abuso destas técnicas causa em tantos países».

Depois de se interrogar, certamente genuflectido e persignando-se continuamente, como é possível um Governo sensato cometer tais crimes, diz que a resposta é simples: «toda a gente sabe que ser contra a libertinagem sexual e a favor do casamento é conservador, retrógrado, obsoleto».

E termina de forma lapidar: «As gerações futuras (…) terão dificuldade em entender as posições actuais sobre a família», por causa da decadência social, «Tal como hoje não compreendemos que as barbaridades nazis e marxistas tenham parecidas modernas e progressivas aos nossos avós».

As atrocidades de Hitler ou Stalin, a que se refere o catecúmeno, tal como as cruzadas, a escravatura e a inquisição, terão algum dia parecido modernas e progressivas a alguém? Só mesmo as últimas e apenas à ICAR.

Bem-aventurados os pobres de espírito.

14 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Igreja católica – cúmplice do nazismo

Não sei o que leva os crentes inveterados que nos visitam a angustiarem-se com o apoio da ICAR ao nazismo ao arrepio do exemplo dos seus bispos e papas.

É curioso que nunca se tenham dado conta de que a Igreja católica, tão rápida a disparar excomunhões contra a ciência, nunca tenha excomungado o bem-amado Führer ou, para disfarçar, tivesse incluído «A minha luta» no Index Librorum Prohibitorum.

Para a ICAR o assassínio era o castigo justo dos judeus pelo mal que estes tinham feito ao seu Deus – Jesus Cristo. Não é por acaso que Pio IX os chamava «cães» e autorizava o rapto de crianças judias para baptizar. Era sinistro e chegou a beato pela mão de JP2.

Mas se a crueldade dos papas é óbvia, a estupidez é deveras surpreendente. Só o ódio vesgo de crápulas anti-semitas a pode justificar.

Vou traduzir alguns trechos do «Traité d?athéologie» de Michel Onfray, 2005 ? Ed. Grasset (pg. 221/22):

«Do nascimento do nacional-socialismo à cobertura dos criminosos de guerra do III Reich, depois da queda do regime, ao silêncio da Igreja desde sempre, e mesmo hoje – ver a impossibilidade de consultar os arquivos sobre este assunto no vaticano -, o património de S. Pedro, o herdeiro de Cristo, foi também o de Adolfo Hitler e dos seus nazis, fascistas franceses, colaboracionistas, vichystas, milicianos e outros criminosos de guerra.

Eis os factos: A ICAR aprova o rearmamento da Alemanha, indo contra o tratado de Versalhes (…); a ICAR assina uma concordata com Adolfo Hitler após a chegada do chanceler ao poder em 1933: a ICAR silencia o boicote aos comerciantes judeus, cala-se na proclamação das leis raciais de Nuremberga em 1935, guarda silêncio após a Noite de cristal em 1938; a ICAR fornece o seu ficheiro de arquivos genealógicos aos nazis que sabem a partir daí quem é cristão, portanto não judeu; a ICAR reivindica, no entanto, o «segredo pastoral» para não comunicar o nome dos judeus convertidos ao cristianismo ou casados com cônjuge cristão; a ICAR sustenta, defende, apoia o regime pró-nazi de Ante Palevic na Croácia; a ICAR dá a sua absolvição ao regime colaboracionista de Vichy a partir de 1940; a ICAR, ao corrente da empenhada política de exterminação desde 1942, não condena, nem em privado, nem em público, jamais ordena a algum padre ou bispo que condene o regime criminoso perante os fiéis.

As forças aliadas libertam a Europa e descobrem Auschwitz. Que faz o Vaticano? Continua a apoiar o regime derrotado: a ICAR, na pessoa do cardeal Bertram, ordena uma missa de Requiem à memória de Adolfo Hitler; a ICAR fica em silêncio e não manifesta reprovação pela descoberta de pilhas de ossos, câmaras de gás e campos de exterminação; A ICAR, pelo contrário, organiza para os nazis sem Führer o que nunca tinha feito por qualquer judeu ou vítima do nacional-socialismo: organiza a fuga dos criminosos de guerra para fora da Europa; a ICAR utiliza o Vaticano, dispensa papéis com vistos, activa uma rede de mosteiros europeus como esconderijos para assegurar a segurança dos dignitários do Reich desmoronado; a ICAR nomeia para a sua hierarquia pessoas que ocuparam funções importantes no regime hitleriano; a ICAR jamais lamentará – enquanto oficialmente não reconhecerá nada disso».

Isto são factos que merecem penitência e algum pudor na defesa da ICAR.

13 de Novembro, 2005 Mariana de Oliveira

Manif pelos privilégios

Ontem, dezenas de milhares de pessoas, transportadas por autocarros e, pelo menos, dois aviões, reuniram-se no centro de Madrid para se manifestarem contra a nova proposta de Lei Orgânica da Educação.

Esta manifestação, patrocinada por várias organizações religiosas e conservadoras, incluindo o PP e a Conferência Episcopal Espanhola – curiosamente, quase as mesmas que convocaram a marcha contra o matrimónio homossexual -, pretendia a defesa do ensino religioso, que supostamente é negligenciado na nova lei orgânica. Claro que as coisas não são bem assim: a nova LOE continua a assegurar o ensino da religião a todos os que a queiram estudar. E o que querem os promotores desta manifestação? Que a religião continue a figurar nos currículos de todos os alunos, mesmo aqueles que não estejam interessados.

Por forma a mobilizar tantos defensores dos privilégios da ICAR espanhola, a rádio da Conferência Episcopal – a Cope – recorreu, de acordo com o ministro da Indústria, José Montilla, a «mentiras absolutas». «Na Cope existem personagens que utilizam um bem que é de todos, o espaço radiofónico, para insultar, para propagar a mentira e o ódio e para atacar todos aqueles que não se ajoelham à sua vontade».

Para o ministro espanhol, são os bispos María Rouco Varela e Antonio Cañizares que terão de «explicar a todos os católicos e a todos os cidadãos porque é que a Cope mente, porque é que insulta, porque é que incita ao ódio e porque é que manipula. E sobretudo porque é que o faz com tanta impunidade e atacando todo o mundo. Até o próprio chefe de Estado foi insultado com impunidade e a Conferência Episcopal amparou estes ataques. Os responsáveis da Igreja terão de dar explicações, estes senhores, Rouco e Cañizares, que permitem que um meio de comunicação ultrapasse as linhas do respeito, da informação contrastada, caindo na difamação, na manipulação e na mentira».

O ministro da educação reiterou que a manifestação assentava num «cúmulo de falsidades» e acusou o PP de preferir a mobilização à negociação e de actuar de acordo com interesses «partidaristas».

Quanto à existência de manipulação por parte da hierarquia da ICAR – surpresa! -, o vice-presidente da Federação Estatal de Professores do Ensino da Religião, Luis Guridi, veio a público dizer que os responsáveis eclesiásticos pressionaram os professores durante quinze dias para irem à manifestação contra a LOE. Guridi assegurou que os constrangimentos materializaram-se em chamadas pessoais aos professores de religião para que participassem na organização da marcha, bem como para responderam à convocatória. Nas últimas duas semanas, as delegações diocesanas também elaboraram dípticos para distribuírem pelos colégios que constavam do seguinte: «Se pensa em assistir à manifestação de Madrid contacte o professor de religião do seu centro».

Guridi também disse que, nos últimos dias, as dioceses convocaram os docentes para assistirem a reuniões onde se sublinhava «a importância de acudir» à convocatória. Guridi, que não esteve presente na manifestação, qualificou como «farsa» o conjunto de argumentos apresentados pelos convocantes. Para o vice-presidente, estas pressões são «inadmissíveis no séc. XXI». «Somos profissionais do ensino e não nos dedicamos ao proselitismo. Não somos activistas religiosos». Acerca de possíveis represálias contra aqueles que não foram a Madrid, Luis Guridi está convencido que elas não deixarão de existir. «Sempre as tivemos», disse.

É nestas alturas, quando alguém ataca os seus privilégios, que a ICAR revela a sua natureza mais negra e esquece-se que já não é ela que decide os destinos da sociedade de acordo com a sua única e exclusiva vontade.

13 de Novembro, 2005 Palmira Silva

Bento XVI entra nas guerras da evolução

Numa altura em que as guerras da evolução continuam acesas nos Estados Unidos, com uma votação no Conselho de Educação do Kansas de 6-4 a favor da introdução do ensino das IDiotias nos curricula de ciências e a não reeleição dos 8 conselheiros (republicanos) educacionais de Dover, Pensilvânia, que pretendiam tornar mandatório o ensino IDiota nas escolas do distrito, o papa Bento XVI vem ajudar a causa criacionista afirmando que o Universo e o homem foram criados por um «projecto inteligente» e criticando os «ateus» cientistas que os veêm como resultado de uma evolução casuística.

Citando um «santinho» do século IV, Basílio o Grande, Bento XVI afirmou que algumas pessoas «enganadas pelo ateísmo que têm dentro de si, imaginam um Universo livre de propósito e ordem, como se estivesse à mercê do acaso» continuou com a interrogação «Quantas dessas pessoas existem hoje em dia?» e concluiu que «Essas pessoas, enganadas pelo ateísmo, acreditam e tentam demonstrar que é científico pensar que tudo é livre de propósito e ordem».

Todos nós já sabíamos que Bento XVI considera os cristãos como pessoas simples (de espírito?) que devem ser resguardadas das influências maléficas dos intelectuais (certamente ateus perigosos…) e que se preparava para uma ofensiva às ciências biológicas, nomeadamente tentando restringir a investigação em células estaminais (embrionárias e adultas), mas estas declarações do Papa são extremamente preocupantes. Indicam que, na conjuntura actual, o Vaticano se sente com força política para iniciar uma guerra contra a ciência e os ateus cientistas que, se não for travada imediatamente, terá como desfecho um retrocesso civilizacional que nos fará regredir ao obscurantismo medieval tão aclamado pela «santa» Igreja. Ou seja, a ciência, completamente incompatível com quaisquer revelações divinas, é extremamente perigosa para a fé já que pode dar respostas «materialistas» sobre os «mistérios» da vida. A ciência, os «ateus» cientistas e os seus produtos como sejam o execrado «humanismo ateu», são, como há vários meses previ, o inimigo em que assestam as baterias do Vaticano, já que ameaçam a sua hegemonia integrista.

De facto, considerando que nem o velho Continente se mostrou imune a esta ameaça IDiota e já testemunhámos tentativas (frustradas) de introduzir religião sob a forma IDiota nas disciplinas de ciências, estas declarações de Bento XVI fazem prever que as guerras da evolução em breve serão ateadas na Europa. Cabe a todos nós, ateístas, crentes em outras religiões e cristãos que não seguem acritica e cegamente as barbaridades ditadas do trono do Vaticano, lutar para que o fim desta história não seja o retorno da história, isto é, da militância católica em guerras «santas» contra a ciência e, por conseguinte, contra o progresso ético da humanidade.

Para a sobrevivência da humanidade urge que a tolerância seja um facto e não a ficção que hoje é! E a tolerância, contrariamente ao que muitos dos nossos mui católicos (e intolerantes) comentadores advogam é simplesmente a «atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adoptada por si mesmo». Ou seja, é o respeito pelas pessoas e não pelas ideias! Ou seja ainda, na real acepção do termo todas as religiões são intrinsecamente intolerantes, porque não admitem nem ideias nem formas de agir diferentes das que preconizam e, via Direito, tentam impôr a todos, crentes e não crentes, comportamentos que sigam os seus dogmas anacrónicos e via a sua influência política tentam sufocar tudo, incluindo a ciência, que contrarie as suas absurdas «verdades absolutas» !

Quasi de propósito, no próximo dia 16 decorrerá no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico um debate moderado pelo professor Jorge Dias de Deus sobre Ciência e Religião em que estarei na mesa conjuntamente com o padre Resina, professor jubilado do Departamento de Física do IST, e o João Vasco Gama. Certamente que este será um dos temas que levantarei para discussão…

13 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Última hora. Informação não confirmada

Atento às prevenções recomendadas para minimizar o risco da pandemia da gripe das aves, o Papa considera a hipótese de cancelar a Missa do Galo deste ano.

13 de Novembro, 2005 Palmira Silva

Mais dislates de Pat Robertson

Pat Robertson volta a merecer, pelas piores razões, grandes parangonas nos jornais norte-americanos. De facto, depois de ter sugerido o assassinato do presidente eleito da Venezuela, de ter atribuído a homossexuais e ateístas a culpa pelos atentados de 11 de Setembro, de ter afirmado que os terroristas que perpetraram o 11 de Setembro são apenas «alguns terroristas barbudos que voam contra edíficios» e que os juízes federais que não partilham os seus pontos de vista são uma ameaça maior para a América que os terroristas, Nazis durante a segunda Guerra Mundial ou a Guerra Civil no século XIX, de afirmar que uma proposta de atribuir direitos iguais às mulheres as encoraja a «matar os seus filhos, praticar feitiçaria, destruir o capitalismo e tornarem-se lésbicas», Pat Robertson debitou mais uma das pérolas de raciocínio que caracterizam tão piedoso cristão.

Desta vez as diatribes de Robertson dirigiram-se contra os eleitores da Pensilvânia que «votaram Deus para fora da sua cidade» votando contra os conselheiros escolares que pretendiam introduzir o criacionismo cristão, disfarçado de IDiotia, nas escolas de Dover. O piedoso pastor ameaçou os ateus eleitores com a vingança divina e desafiou-os a recorrerem a Darwin quando a «justa» retribuição divina se abater sobre Dover na forma de uma qualquer catástrofe natural.

Esta ameaça de «castigo divino» sobre cidades em que os seus habitantes não seguem os ditames preconizados pelo cristianismo é recorrente em Robertson, que já em 1988 avisara os cidadãos de Orlando, Flórida, do risco iminente de furacões, terramotos e ataques terroristas que a sua decisão de permitir que organizações homossexuais içassem bandeiras multicolores em apoio da diversidade sexual certamente mereceria do «Deus» do cristianismo…

13 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Laicidade desafiada

A insurreição que eclodiu recentemente nos bairros periféricos de Paris, incendiou a França e contagiou a Europa é um fenómeno assustador. A conjuntura económica, a segregação que o comunitarismo agrava, o desemprego e o desalento são o húmus que alimenta a rebeldia.

É neste caldo de cultura que explode a violência e o ímpeto destruidor que surpreendeu os franceses e assustou a Europa.

As causas vão permanecer pois não há resposta fácil e, muito menos, célere. Enquanto as soluções tardam, os pescadores de águas turvas vão aproveitar-se do sobressalto e explorar o medo, o racismo e a xenofobia.

Curiosamente ninguém parece dar-se conta de que nos bairros suburbanos numerosos imãs pregam o ódio aos infiéis, acicatam as jovens a desafiar, com o véu, a escola laica e procuram ganhar influência para substituir a escola pública por madraças.

Um pouco por todo o lado é o ódio à laicidade que desabrocha. Parece que o islão e o catolicismo se concertaram na desforra de que o clero francês parecia ter abdicado.
Por coincidência os tremendos desacatos acontecem a um mês do centenário da lei da separação da Igreja e do Estado que se comemora no próximo dia 10 de Dezembro.

Diz-se que a paz social se obtém com o apoio do clero, cúmplice da onda de violência que acicata nas pregações, teledirige das mesquitas e apoia a debitar o Corão.

Para já a resposta tem de ser policial e nunca, absolutamente nunca, se deve transigir na defesa do Estado de Direito e no carácter laico que preserva o pluralismo e contém os ímpetos prosélitos de uma civilização decadente que procura na fé o lenitivo para o seu estertor.

Não foi o modelo francês de integração que fracassou, foi a tibieza na sua defesa, a insuficiência do seu aprofundamento e a hesitação na sua aplicação.

Desistir do carácter intransigentemente laico do Estado é comprar a paz a curto prazo e fomentar a guerra no futuro. Confiar aos clérigos a defesa da tranquilidade pública é dar aos transgressores os meios para subverter a lei e comprometer a liberdade. Mudar de paradigma é estimular o desafio às instituições e enfraquecer a democracia.