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16 de Março, 2019 Carlos Esperança

Bento XVI, o ateísmo e o nazismo

Há seis anos Francisco iniciava o pontificado. Sei que um homem bom não prova a existência de Deus, mas pode melhorar a vida de muita gente, se a tiara cobre a cabeça certa. Aos olhos indiferentes de um ateu, este papa é um bom homem que parece sofrer com as injustiças humanas. Não me inspira devoção, mas merece-me respeito.

Tenho pelos Papas, por todos os papas, uma devoção inversa à que a Aura Miguel nutre por qualquer um e João César das Neves por todos, menos o atual. Mas uma coisa são estados de alma e outra os factos.

Sou incapaz de desejar a alguém o que a ICAR fez a judeus, bruxas, hereges e a todos os que contrariaram os seus interesses. Não vou remexer nos crimes que desde Paulo de Tarso e Constantino se fizeram em nome de um judeu imolado pela salvação do mundo e nem a si próprio se salvou. É hoje a referência de multinacionais da fé que vivem da sua alegada divindade como a homeopatia do valor terapêutico das mezinhas.

O que um ateu não pode olvidar é que o ex-inquisidor comparou o ateísmo ao nazismo, esquecendo que a sua Igreja já excomungou o ateísmo, o comunismo, a democracia, a liberdade e o livre-pensamento, o que nunca fez ao nazismo ou ao fascismo. O próprio Estado do Vaticano, a única teocracia europeia, foi obra de Benito Mussolini que, entre outras manifestações pias, impôs o ensino da religião católica nas escolas públicas.

Uma Igreja que apoiou Franco, Pinochet, Mussolini, Salazar, Videla, Somoza e o padre Tiso perde autoridade para condenar assassinos como Estaline, Mao, Pol Pot, Ceauşescu ou Kim Il-sung cuja esquizofrenia sanguinolenta os levou a cometer crimes em nome de uma crença política e não do ateísmo.

Bento XVI foi conivente na ocultação de crimes cometidos pelo clero, manteve o IOR como offshore do Vaticano, protegeu o Opus Dei, Legionários de Cristo, Comunhão e Libertação e a seita fascista de sequazes de monsenhor Lefebvre. Carecia de autoridade para difamar os ateus a quem a liberdade deve mais do que à sua Igreja.

Se não receasse a morte prematura, podia continuar ainda a canonizar admiradores de Franco, colaboradores da CIA e outros defuntos pouco recomendáveis. Podia continuar a exibir relíquias falsificadas e a vender os milagres engendrados numa repartição pia, mas não podia insultar os ateus e esperar que estes esquecessem a diatribe.

15 de Março, 2019 Carlos Esperança

Stephen Hawking – A voz da ciência

Aos 76 anos faleceu, há 1 ano, o mais notável físico contemporâneo, que uniu a cosmologia e a termodinâmica, e se tornou um divulgador extraordinário da ciência.

Sem poder falar foi a voz mais escutada, sem se mover, viajou intensamente e, fazendo ‘bom uso do seu tempo’, escreveu o famoso livro «Breve História do Tempo». Com «Aos Ombros de Gigantes, as Grandes Obras da Física e da Astronomia», «O Fim da Física», «A Natureza do Espaço e do Tempo», «O Universo numa Casca de Noz» e outros, desafiou a espada de Dâmocles que sobre ele pendia e ontem se soltou.

Tudo na vida deste cientista de rara intuição e excecional capacidade intelectual foi um verdadeiro paradoxo. Condenado pela doença, libertou-o a ciência, abandonado pelos músculos, mantiveram-no os neurónios, e não deixou que a debilidade física o reduzisse à inutilidade ou que a razão cedesse às crenças: «Não é necessário invocar Deus para acender o pavio e colocar o universo em movimento»; «Vida além da morte? “Isso é um conto de fadas para pessoas com medo do escuro”. Estudou e fez luz sobre os buracos negros, desafiador, controverso, algumas vezes incoerente, sempre lúcido e carregado de humor.

Amou e foi amado. Fez filhos, escreveu livros, desbravou a ciência, cumpriu-se.

Viveu 44 anos preso a uma cadeira de rodas e 32 a comunicar através de um sintetizador de fala, sem deixar de participar em conferências, investigar, percorrer os caminhos da vida e os da Física, a ensinar.

O universo foi o seu domicílio e as leis da Física a sua religião. Continua a habitar o seu lugar de sempre, fiel à religião que abraçou. Imortal.

13 de Março, 2019 Carlos Esperança

Francisco – o Papa que a propaganda esperava

O 6.º aniversário do pontificado do papa Francisco é o pretexto para acelerar a máquina de propaganda que, há um ano, ganhou novo fôlego, quando Bento XVI preferiu manter a cabeça e abdicar da tiara, do anel e do alvará pontifícios.

Hoje, seis anos depois de lhe ter sido conferido o diploma para criação de cardeais, beatos e santos, recorda-se que os autóctones o quiseram em em Fátima no 1.º centenário das aparições que, em 1917, ajudaram a combater a República e, mais tarde, o comunismo, como se não houvesse portugueses indiferentes à agenda católica e às celebrações litúrgicas.

Francisco era o Papa de que a Igreja de Roma precisava para o transformar numa estrela pop, à semelhança do que havia feito com João Paulo II. Adoram-no, porque se chama Francisco, como o venerariam se tivesse escolhido o nome de Roberto; exultam quando diz a palavra ‘homossexual’, como sucederia de dissesse ‘valha-me deus’, em calão, à semelhança do soldador a quem cai um pingo de solda num olho; arfam beatos, quando fala, como palpitariam se ficasse calado.

Cria cardeais e não interrompeu a indústria da santidade. Defuntos antigos continuam a fazer milagres prodigiosos e a ser elevados aos altares. Pecadores endemoninhados são curados por imposição das mãos papais. Os exorcismos continuam a ser uma terapêutica pia, para os males da alma, como o chá de cidreira para as moléstias do corpo, em meios rurais, onde minguam drogas mais elaboradas.

O obscurantismo e a superstição permanecem, embalados em sorrisos, divulgados pela máquina de propaganda, enquanto os crentes veem, nas vestes talares, o sinal divino dos negócios pios.

Pouco há a esperar de um mundo misógino onde os celibatários são guardiões da moral e juízes dos valores sociais. A igualdade de género terá de esperar neste estranho mundo onde são femininas as vestes, masculinos os atores e coloridas as vaidades.

Este Papa apenas tem mais alguma preocupação social e muitos mais escândalos para gerir.

12 de Março, 2019 Carlos Esperança

Religiões

Por pior que seja o cristianismo há sempre uma religião pior.

Até a dúvida metódica cheira a madraça.

11 de Março, 2019 Carlos Esperança

Quinze anos volvidos sobre o massacre islâmico de Madrid

A galáxia terrorista denominada al-Qaeda, não é uma mera associação criminosa de gosto mórbido pela morte, é a nebulosa de fanáticos que creem no Paraíso e nas virgens que os aguardam no estado miserável em que chegam.

Não têm uma ideologia, uma lógica ou um objetivo claro, pretendem apenas agradar a um Deus de virtude duvidosa e ao profeta que é cadáver desde o ano 632, da era vulgar.

A demência ganhou ímpeto em 11 de setembro de 2001, nos ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque e ao Pentágono, em 11 de março de 2004, na estação ferroviária de Atocha, em Madrid, nas explosões em estâncias de veraneio, nas embaixadas dos EUA, no Metro de Londres, em 7 de julho de 2005, e posteriormente por todo o mundo.

Dos EUA à Europa; em África, desde a zona do Sahel ao litoral mediterrânico; na Ásia, das ex-repúblicas soviéticas ao Iraque, da Rússia à Índia, por todo o lado, a fanatização no madraçal islâmico leva o sangue e o sofrimento a toda a parte.

Não vale a pena iludirmo-nos com a bondade do Islão quando os clérigos pregam o ódio e apelam ao martírio. Os países democráticos não se libertam da culpa das cruzadas e da evangelização e tratam o terrorismo religioso com a brandura que não merece.

Um templo onde se prega o ódio é um campo de treino terrorista. Um clérigo que apela à violência é um criminoso à solta.

Os japoneses viam Deus no Imperador, imolavam-se em seu nome, mas, perdidas as fontes de financiamento e desarticuladas as redes de propaganda, desistiram do suicídio, da imolação e dos aviões e torpedos que dirigiam contra alvos inimigos.

É tempo de conter a ameaça que paira sobre a civilização e a democracia, sem abdicar do Estado de direito e das liberdades e garantias que são a matriz da nossa cultura.

Não podemos vacilar na luta contra o financiamento e o proselitismo que grassa entre fanáticos de várias religiões. Não são famintos em desespero, são médicos, pilotos e académicos em busca do passaporte para o Paraíso, através de crimes contra os infiéis.

Hoje, 11 de março de 2019, quinze anos passados sobre o massacre de Atocha, as vítimas e o povo espanhol merecem a solidariedade empenhada e a denúncia de todas as formas de terrorismo, sobretudo quando agravado pela demência de uma crença anacrónica.

É preciso conter a mancha de óleo sectário que alastra contra a democracia e o livre-pensamento, seja qual for a crença, quaisquer que sejam os trogloditas que a perfilhem.

10 de Março, 2019 Carlos Esperança

A ICAR* e os escândalos sexuais

Os Tribunais chegaram finalmente aos mais altos dignitários da ICAR. A presença do cardeal Barbarin, arcebispo de Lyon, no banco dos réus de um país católico é, por si só, sinal da perda da imunidade que a tradição conferia, mas a sua pena de prisão, embora suspensa, por não denunciar os casos de pedofilia que conhecia, é o fim da impunidade de qualquer bispo francês. No banco dos réus teve a companhia do arcebispo de Auch, do bispo de Nevers, e de um pároco, além de leigos com relevantes funções diocesanas, que foram absolvidos.

Curiosamente, para além de se fazer justiça e da pedagogia do veredicto, o que é motivo de júbilo, fica alguma preocupação. A ausência das vocações sacerdotais e a debandada dos fiéis da ICAR não engrossa as fileiras dos livres-pensadores, aumenta a conversão a um monoteísmo mais implacável ou a seitas que nascem da avidez do saque ao dízimo e da síndrome de privação de quem precisa de um ser imaginário e da crença de uma vida para além da morte, para se sentir confortado.

Por pior que seja o clero católico, não voltará a ser tão violento e jurássico como o mais benigno mullah ou aiatola, tão ganancioso e embusteiro como qualquer bispo da IURD ou das numerosas Igrejas que surgem. E é para aí que desertam numerosos católicos.

A pedofilia, além da náusea do crime, é especialmente chocante nos clérigos católicos, obcecados a execrar a sexualidade, e é um direito que o Corão consagra, praticado por homens contra meninas de nove anos, vendidas pelos pais a maridos que as violam e, a seguir, se podem divorciar.

A repressão sexual e a predisposição mórbida são causas da sexualidade desregulada do clero, com especial violência contra as mulheres. A moral da Idade do Bronze e a patologia individual atingem uma dimensão intolerável. É improvável que seja a ICAR, apesar do celibato idiota, obrigatório no seu clero, a atingir maior patologia.

Admira a sanha com que se ridiculariza uma Igreja, quando tem um Papa que procura a erradicação da pedofilia, e se faz silêncio sobre os Papas dominados pelo lóbi gay, que criaram bispos e cardeais do referido lóbi.

O afastamento do atual Papa da plutocracia mundial virou-se contra a ICAR, e quando, sob pressão de sucessivos escândalos, os crentes questionam a virtude do clero, acabam a pôr em dúvida o martírio do seu Deus.

No vazio deixado pela Igreja católica não se vislumbram melhores alternativas**.

  • ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana.

** O autor é solidamente ateu.

9 de Março, 2019 Carlos Esperança

UMA INSTITUIÇÃO UNIVERSAL CONFRONTADA COM OS SEUS SEGREDOS…

Por

J-m Nobre-Correia – Professor da Universidade Livre de Bruxelas

O desmoronamento do poder moral, cultural e social da Igreja Católica avança a passos largos…

Dois cardeais atacam publicamente o papa.

Frédéric Martel publica, “simultaneamente em oito línguas e vinte países”, um livro extremamente documentado, mas demasiado diluído (“No Armário do Vaticano”, Sextante Editora, 646 páginas), sobre a homossexualidade reinante nas altas esferas da Igreja Católica e do Vaticano em particular.

A televisão cultural franco-alemã Arte difundiu anteontem um extraordinário documentário (“Religieuses abusées, l’autre scandale de l’Église”) sobre as agressões sexuais cometida por padres sobre freiras e mesmo sobre a prostituição praticada em conventos, na Europa como em África, por exemplo.

O cardeal de Lião [Lyon] é agora condenado em França pelo tribunal civil por ter encoberto abusos de crianças por um padre.

E recordemos que o Seminário Menor do Fundão foi fechado por práticas homossexuais do seu vice-reitor com seminaristas…

Como sobreviverá a Igreja Católica a uma crise sem igual na sua história ?…

É certo que ela resistiu a tanto e tanto escândalos durante tantos e tantos séculos (pluralidade de papas, nomeação de cardeais não-clérigos, orgias dos Borgia no Vaticano, a Inquisição e as suas condenações à tortura e a fogueira,…), graças ao segredo, à sua aliança com os poderes dominantes e a uma autoridade dificilmente contestada.

Mas, nos tempos que vivemos, o segredo passou a ser uma prática difícil perante a proliferações dos média e a laicização cada vez mais evidente das nossas sociedades…

8 de Março, 2019 Carlos Esperança

Dia Internacional da Mulher

Nutro pelos dias do calendário, que a sociedade de consumo reverencia, saudável horror e o desprezo mais visceral.

No dia da mulher vacilo e soçobro. Evoco mãe e irmãs e esmoreço; lembro a companheira e amiga e descoroçoo. Lembro as mulheres, vítimas de todas as épocas, e enterneço-me.

Recordo a oração matinal dos judeus que convida os homens a bendizer Deus por tê-lo feito judeu e não escravo…nem mulher. Recordo a Tora que decidiu a inelegibilidade [da mulher] para funções administrativas e judiciárias e a incapacidade de administrar os próprios bens.

Lembro a submissão que o islão impõe, a burka que lhe cobre o corpo e oprime a alma, a lapidação, as vergastadas e a excisão. Os machos são superiores às fêmeas, «porque Deus prefere os homens às mulheres (IV, 34)».

A cultura judaico-cristã é misógina, submete e explora a mulher. Destina-lhe a cozinha e a procriação, a obediência e a servidão. É a herança que Abraão lhe deixou.

Quando a mulher irrompeu com a força contida por séculos de opressão, avançou nas artes, na ciência e na cultura, com o furor do vulcão que estoirou os preconceitos.

Antes do 25 de Abril, em Portugal, a mulher carecia de autorização do marido para transpor a fronteira, não tinha acesso à carreira diplomática ou à magistratura, nem à administração de bens próprios.

Não há países livres sem igualdade entre os sexos.

A libertação da mulher é uma tarefa por concluir, contra o peso da tradição, a violência dos homens, o abuso das Igrejas e os preconceitos da sociedade.

Hoje, dia internacional da mulher, é dia para homens e mulheres afirmarem que somos iguais e proceder em coerência Todos os dias. Em qualquer lugar. Sempre.

7 de Março, 2019 Carlos Esperança

A ICAR*, a liturgia e os bispos

Os bispos queixam-se da falta de vocações e dedicam-se à defesa dos colégios particulares e à reflexão sobre a abstinência sexual dos casais.

Um bispo que abdique do Palácio Episcopal, dispa a mitra e a capa de asperges, pendure o báculo, aliene o anelão com ametista, dispense os fâmulos, reverências e beija-mãos, venda a custódia e ponha no prego a cruz de diamantes, pode tornar-se um cidadão.

Se o clero desistir do processo alquímico que transforma a água normal em benta, o pão ázimo em corpo e sangue de Jesus e as orações em moeda de pagamento de assoalhadas no Paraíso, pode recuperar a honestidade que o charlatanismo comprometeu.

Se renunciar às novenas, missas e procissões, ao lausperene e ao te deum, pode reservar as energias para o bem público.

Se a confissão, a terrível arma que viola a intimidade dos casais, a honra dos crentes e a confiança da sociedade, for abolida, deixando ao deus que dizem omnisciente a devassa dos pecados e o sigilo, o mundo fica mais tranquilo.

As religiões são especialistas em idolatrar o passado e mitificá-lo. Fazem piedosas falsificações, inventam documentos e fazem relíquias para embevecer os carentes do divino em busca de uma assoalhada no Paraíso.

O incenso e os sinais cabalísticos prejudicam a reflexão e o livre-pensamento.

ICAR* – Igreja Católica Apostólica Romana

5 de Março, 2019 Carlos Esperança

Perplexidade

1 – O cardeal George Pell, n.º 3 do Vaticano, acusado de pedofilia defendeu-se, tendo o advogado alegado que foi “simples penetração”, com duração de “menos de seis minutos”. (Expresso, Revista E, pág. E|10. Não sei o que provoca maior náusea, se o crime ou a defesa.