10 de Abril, 2019 Carlos Esperança
Espanha – a perda da fé
Fonte: Fundación Ferrer i Guàrdia a partir de INE y Barómetro del CIS. EL PAÍS
Fonte: Fundación Ferrer i Guàrdia a partir de INE y Barómetro del CIS. EL PAÍS
A Europa não pode virar-se para Meca nem pôr-se de joelhos
A suspensão das emissões da TV5 Monde, por terroristas informáticos, não é apenas um crime contra uma televisão, é um crime contra a liberdade de informação. Ontem, contra a TV5, há tempos, contra o Charlie Hebdo, com banho de sangue, os crimes sectários do fascismo islâmico incitam à repressão e convidam ao martírio que garante aos autores uma assoalhada no Paraíso, 72 virgens e rios de mel doce. No Quénia ou na Nigéria, no Iémen ou em França, onde quer que seja, a Al-Qaeda, Boko Haram ou Estado Islâmico, são heterónimos das metástases do mesmo cancro – O Corão.
O obscurantismo, a demência pia e o desespero de quem encontra na fé o lenitivo para o falhanço da sua civilização, vai criando o caldo de cultura para a repressão que pretende e para a tentativa de destruição do mundo livre. A Europa não pode cair na armadilha de crentes desvairados que seguem o manual terrorista de um beduíno analfabeto e amoral, como Ataturk definiu Maomé. Não pode replicar fora das normas do Estado de Direito, mas pode, e deve, submeter às normas desse mesmo Estado todos os cidadãos.
Admite-se que as madraças e mesquitas sejam interditas a quem recusa a liberdade e a democracia. Há o dever de reciprocidade dos países islâmicos, o dever de aceitarem, nos países onde são maioritários, os crentes das outras religiões e respetivos locais de culto, bem como os que não professam qualquer religião ou as desprezam.
Os facínoras difundiram ainda no Facebook cartões de identidade e dados de supostos familiares de militares que participam nas operações contra o Daesh, num texto com a mensagem: «Soldados da França, fiquem longe do Estado Islâmico! Vocês têm a oportunidade de salvarem as vossas famílias, aproveitem-na» e acrescentaram que «O Cibercalifado continua a sua ciberjihad contra os inimigos do Estado Islâmico».
Independentemente do que cada um de nós pensa da política externa francesa, europeia ou americana, o repúdio pela barbárie e pela chantagem, que se repetem com monótona regularidade, deve ser manifestado de forma a conter a demência prosélita do Islão. Não é islamofobia, é o medo real de quem se deixa envenenar pelos versículos do Corão, um plágio medíocre do cristianismo com laivos de judaísmo, que urge conter.
A democracia está primeiro.
Escola Prof. Doutor Ferrer Correia – Debate com o padre Nuno Santos
Referida a impossibilidade teórica de o ateísmo ser uma crença, tal como não jogar futebol não ser desporto, o debate foi um exemplo de moderação e respeito mútuo, com o padre Nuno a manifestar a sua crença e eu, que não distingo a água benta da outra, a dizer que a descrença não depende de um ato da vontade.
É fácil num ambiente circunscrito concordar em objetivos comuns, com um único ponto de discórdia, o clérigo, doutorando em Teologia, a afirmar que se trata de uma ciência e o ateu a negar tal qualidade por lhe faltar o método e o objeto.
Foram duas horas cordiais, sem azedume ou ofensas, com a minguada plateia a aceitar opiniões divergentes. Sobrou em urbanidade o que faltou em picardia. O padre aceitou o facto de as religiões serem, ou terem sido, detonadoras de violências, tal como o ateu se referiu a violências de regimes ateus por razões políticas.
Ambos concordámos que a laicidade é um fator de liberdade, a única possibilidade de garantir a liberdade religiosa ou, mesmo, antirreligiosa.
Cumprimos o dever cívico de manifestar as convicções sem pretender conversões, com a benevolente moderação da Prof. Dr.ª Cristina Vieira.
Lúcia nasceu em 1907, Mary Quant em 1934. Ambas tiveram visões. Uma viu espíritos; a outra, corpos. A primeira dedicou-se à oração e à clausura, a segunda à criatividade e ao trabalho. Lúcia queria as mulheres com o corpo escondido, Mary com ele exposto. A primeira exaltou a fé, a segunda a alegria. No Carmelo usa-se o cilício para castigar o corpo; fora, o corpo busca a felicidade e rejeita interditos.
Não se sabe quantas almas Lúcia afastou do Inferno, onde viajou em vida, mas sabe-se que milhões de mulheres foram felizes, na apoteose da beleza, atraídas pela feliz criação da estilista, a minissaia.
De um lado a flagelação do corpo, para salvar a alma; do outro, a glorificação da vida.
A Senhora de Fátima disse à Lúcia para aprender a ler, talvez para a preparar para o magistério pio de que é exemplo a carta a Marcelo Caetano, que abaixo menciono. A vidente das Carmelitas Descalças, em Coimbra, crítica da moda feminina, escreveu, em 24 de fevereiro de 1971, ao Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, implorando medidas legislativas sobre as vestes femininas:
«…não seja permitido vestir igual aos homens, nem vestidos transparentes, nem curtos acima do joelho, nem decotes a baixo mais de três centímetros da clavícula. A transgressão dessas leis deve ser punida com multas, tanto para as nacionais como para as estrangeiras».
(In Arquivos Marcelo Caetano, citados em Os Espanhóis e Portugal de J.F. Antunes Ed. Oficina do Livro)
Até aprendeu o que era a clavícula, guiada pela Virgem nos caminhos da estética! Foi pena a estilista não ter sido solicitada para desenhar os hábitos das carmelitas. Quem sabe se não teria dado um contributo para atrair vocações, superior ao das orações.
De acordo com os interrogatórios feitos a Lúcia depois do «bailado do sol» de 13 de outubro de 1917, surgiu «Nossa Senhora vestida de branco» sobre a azinheira e, como de costume, depois de um relâmpago. Comunicou-lhe [Nossa Senhora] que deviam rezar o terço em sua homenagem e rogou-lhe que não a ofendessem mais, [quem?].
Entre o pedido de uma «capelinha» no local e informação sobre o regresso dos militares que combatiam na guerra, anunciou-lhes que a guerra acabava naquele dia, o que prova que era escassa a informação e de pouca confiança os informadores de ‘Nossa Senhora’.
Lúcia revelou ainda que, logo após o desaparecimento da visão, que a Igreja católica, ao longo dos anos, converteria em ‘aparição’, olhou para o sol e viu «S. José vestido de branco», o ‘Menino Jesus vestido d’encarnado’ e ‘Nosso Senhor da cintura para cima’.
Os dados referidos, que constam da pág. 49 do livro «O Sol Bailou ao Meio-Dia», do historiador Luís Filipe Torgal, deixam-nos perplexos. Isto de o Menino Jesus vestir de determinada cor e ‘Nosso Senhor da cintura para cima’, para além de não se saber se alguma nuvem vestiu Nosso Senhor da cintura para baixo ou se, perante as crianças, se esqueceu de cobrir as partes pudendas, leva-nos a concluir que Nosso Senhor apareceu em criança, como Menino Jesus, e em adulto, como Nosso Senhor.
Recordei a guia italiana a quem um turista perguntou de quem era o esqueleto pequeno, dependurado junto de outro, grande, de um santo de vasto prestígio, orgulho da cidade e do museu pio visitado, respondendo logo que era do mesmo santo, em criança.
Polónia – Um auto de fé atual
A Polónia, cujo Senado aprovou em 2018 a lei que pune com até três anos de prisão qualquer menção à responsabilidade direta de polacos no Holocausto – entre elas, a utilização da expressão “campos de concentração polacos” –, referida aos campos de extermínio criados pelos nazis, é o mesmo país que colaborou com entusiasmo na denúncia, captura, detenção e assassinato de judeus.
A Polónia convive mal com a democracia e com a memória. O massacre de Jedwabne não foi obra da Gestapo ou das tropas hitlerianas como, durante anos foi assinalado por uma placa. Foram os próprios polacos que, com zelo nazi, no dia 10 de julho de 1941, encerraram e queimaram num estábulo cerca de 1600 judeus, homens, mulheres e crianças, com quem conviviam em relativa harmonia. Não foi por acaso que a Igreja Católica polaca, em 27 de maio de 2001, se sentiu na obrigação de pedir “perdão a Deus pelos pecados e pelo mal causado pelos católicos durante a II Guerra Mundial”.
A Igreja católica polaca é profundamente reacionária e antissemita. Não pode ser ilibada das responsabilidades que lhe cabem na eleição dos políticos que a governam e das posições xenófobas da sua população. O próprio Papa João Paulo II era filho desse caldo de cultura, que não conseguiu ultrapassar.
Estamos em 2019, mas a Polónia de João Paulo II e dos irmãos gémeos Lech e Jaroslaw Kaczynski, este ainda vivo, mantém-se obscurantista e retrógrada, com atropelos aos direitos humanos e, em particular, à emancipação da mulher.
No último domingo, dia 31 de março deste Ano da Graça, um grupo de padres católicos realizou uma cerimónia onde queimaram livros que, segundo eles, promovem a feitiçaria. Até um livro da saga Harry Potter, escrito por J.K. Rowling, foi queimado.
A cerimónia convenientemente fotografada pela concorrência, um grupo evangélico, que a divulgou e ridicularizou, chegou ao jornal The Guardian.
Segundo o o prestigiado jornal, a cerimónia teve lugar na cidade de Koszalin, onde três padres foram fotografados a carregar um cesto de livros de dentro de uma igreja para um largo de pedras, do lado de fora, que serviu para fazer a fogueira. Enquanto os livros ardiam, foram feitas orações pelos padres, e um pequeno grupo de pessoas ficou a ver.
O obscurantismo religioso não é monopólio de uma religião, é apanágio de todas.
https://www.theguardian.com/world/2019/apr/01/harry-potter-among-books-burned-by-priests-in-poland
Sou contra todas as crenças sem deixar de respeitar os crentes. Abomino a violência e as verdades absolutas, compreendendo quem acredita porque se habituou desde criança.
Dos três monoteísmos aprecio o judaísmo por não querer converter ninguém. Querem o Paraíso só para eles e, nisso, têm uma enorme superioridade sobre os outros dois. Pena é que também queiram a faixa de Gaza e não abdiquem do sionismo, essa demência que o mito bíblico estimula. Nesse ponto é o mais detestável.
As três religiões do livro, abraâmicas, foram criadas pelos homens na Idade do Bronze. Não admira que o Deus comum tenha todos os defeitos dos homens de então: vingança, crueldade, misoginia, violência, homofobia, com o carácter tribal e patriarcal hebraico.
Há judeus que são árabes conversos e islamitas que não passam de judeus islamizados. As etnias provêm mais das circunstâncias políticas e administrativas do que do ADN e nada é tão facilmente absorvido nem tão visceralmente como uma crença.
O cristianismo foi uma cisão do judaísmo em cujo ódio se expandiu até passar a religião pelo imperador Constantino, que usou a seita para alicerçar o Império. O antissemitismo foi o cimento interno da nova religião.
Só faltava a cópia grosseira desta última, ditada entre Medina e Meca pelo anjo Gabriel, durante 20 anos – Maomé era analfabeto – para surgir o mais primário e implacável dos monoteísmos. Esta ideologia rudimentar, que o terror e a vocação belicista alimentam, é a mais difícil de reformar.
A monarquia laica sucumbiu à denominada Revolução Iraniana, em 11 de fevereiro de 1979, no auge da luta pelo poder entre clérigos xiitas liderados pelo aiatola Khomeini, e o xá Mohammad Reza Pahlavi, com os primeiros a serem apoiados por amplos sectores sociais, liberais, estudantes, intelectuais de esquerda e o próprio Partido Comunista, e o ditador laico pelos EUA e a inevitável CIA.
Foi o início da grande tragédia civilizacional, que começou no coração da antiga Pérsia, onde, no dia de hoje, há 40 anos, foi proclamada a República Islâmica, para o tenebroso imã, Ruhollah Khomeini, ‘inspirado por Deus’, se tornar o líder de uma teocracia que havia de exportar para outros países muçulmanos.
As mulheres tinham, desde 1963, direito a votar e ser eleitas para o Parlamento. Até no Senado havia duas, designadas pelo próprio xá, o que o “guia supremo da Revolução” considerou como prostituição, direito que, a bem da moral, logo suprimiu.
Em outubro de 1978, por pressão do xá, Khomeini fora obrigado a deixar o Iraque e foi ruminar os versículos do Corão para a cidade de Neauphle-le-Chatêau, nos arredores de Paris, de onde prosseguiu a luta contra o regime do xá. Há de tê-lo perturbado a beleza de jovens francesas, corpos cuja harmonia a moda fazia realçar, a ascensão social das mulheres e a liberalização dos costumes que o clérigo, medieval e misógino, execrava.
Voltaria em 1 de fevereiro de 1979, recebido em êxtase, no aeroporto, por uma multidão de cerca de cinco milhões de pessoas, para impor a transformação do xiismo que, até aí, exigia ao Estado aceitar uma orientação religiosa, impondo como alternativa um Estado clerical e a sharia. Às mulheres proibiu os cabelos soltos e nadar ou tomar banhos de sol junto de homens. Proibiu os filmes ocidentais, a transmissão de música não militar ou religiosa e as bebidas alcoólicas, enquanto um feroz programa curricular educacional foi levado à prática para islamizar todos os sectores iranianos, das Universidades às Forças Armadas, das famílias à sociedade.
Não cabe num artigo do Faceboock referir as posições geoestratégicas internacionais, a cobiça do petróleo e o posicionamento do Ocidente e da URSS, em momentos diversos, para tornar possível o êxito da demencial ditadura teocrática que se perpetuou.
Quando Alá foi servido de o chamar, para possuir as 72 virgens e rios de mel doce que o esperavam, dez milhões de iranianos, intoxicados pelo Corão e alienados pelas orações e jejuns, cantaram e autoflagelaram-se, em manifestações de dor e desespero. Morreram 8, e 500 ficaram feridos.
Depois da tragédia iraniana, que fez regredir o Islão xiita, ocorreu a invasão do Iraque, em 2003, perpetrada por 4 cruzados belicistas, com o petróleo a correr-lhes nas veias e dólares na cabeça, para o Médio Oriente e o Mundo se tornarem ainda mais instáveis.
Quando se julgava que já nada podia ser pior, Trump rasga o acordo nuclear com o Irão, protege o cruel príncipe-herdeiro saudita e reconhece a posse dos Montes Golã a Israel. Embora sem consequências, pode agora o Irão reconhecer ao México a posse do Texas!
Não foi o mundo que ensandeceu, foram os malucos perigosos que o confiscaram.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.