Embora tenha recorrido mais ao fogo do que à água, prefira a incineração ao banho e se dedique ao charlatanismo mais do que à ciência, a ICAR está longe da boçalidade do Islão.
Os padres da ICAR, libertos da tonsura que os marcava como propriedade da Empresa, à semelhança do ferro que as ganadarias usam, os padres – dizia -, comportam-se hoje como pessoas normais enquanto não são solicitados a debitar os horrores eternos que o patrão reserva aos hereges, sacrílegos e apóstatas.
Aliás, a civilização atenuou-lhes o ímpeto purificador que, na ânsia de salvar almas, os levava a estorricar os corpos. E, assim, foi esmorecendo o desejo de converter ímpios à custa da tortura e a pia intenção de espalhar a boa nova eliminando relapsos.
A ICAR não é o bando de santos que fabrica com desvelo, a máquina de obrar milagres oleada com emolumentos das dioceses que submetem bem-aventurados à canonização, é uma empresa que vive do negócio da fé, da fábula de Cristo e do medo do Inferno.
Pior do que o clero católico são os judeus de trancinhas à Dama das Camélias, pastores evangélicos dos EUA e os mullahs. Pior que os bispos espanhóis são os talibãs do islão e só os dois últimos Papas pediam meças aos Ayatollahs.
Claro que a tara das religiões monoteístas está no coração dos mais pios, na cabeça dos prosélitos e na ação dos cruzados obsoletos que querem expandir a fé. É por isso que a ICAR conta na galeria dos bem-aventurados, alguns com milagres averbados e lugar reservado nos altares, sórdidas criaturas de escassa virtude e duvidosa santidade.
Stepinac e Pavelic, Escrivà e Franco, Videla e Pinochet, Salazar e Moussolini, Bernard Law e Hans Hermann Groer, Marcincus e Rouco Varela, Voityla e Rätzinger, são grãos da seara arroteada pela ICAR.
Stepinac esteve ligado ao campo de extermínio de Jasenovac, comandado pelo franciscano Miroslav Filipovic, o Frei Morte no lúgubre testemunho dos sobreviventes ortodoxos sérvios. JP2 canonizou o carrasco católico e desprezou os mártires sérvios vítimas do campo de horror de Jasenovac.
É esta gente, este bando de fanáticos e assassinos que a Igreja foi procurando branquear como se fossem beneméritos ou, pelo menos, cidadãos recomendáveis.
Por
ONOFRE VARELA
Leio no jornal espanhol El País do último Sábado (8 de Junho, pág. 27) que o Papa Francisco I se mostrou escandalizado com o marketing comercial do santuário de Lourdes (França), onde crescem as visitas, aumentam as receitas, e os peregrinos se transformaram em clientes turistas.
Os visitantes do santuário viajam desde paragens longínquas na tentativa de ali encontrarem algum milagre que lhes alivie as vidas sofridas e cure doenças. O marketing comercial de Lourdes sobrepõe-se à fé, no sentido que o Papa quer que se entenda a fé na sua “humanização da Igreja”. Por isso encarregou o arcebispo Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, de meter mãos à tarefa de melhorar o cuidado pastoral dos santuários, a qual se inicia em Lourdes… mas presumo que não se ficará por aí.
Lourdes é considerada a “jóia da coroa dos milagres” desde que a pastorinha Bernardette Soubirous disse ter visto a imagem de Maria, há precisamente 161 anos, na gruta de Massabielle. Desde então a receita recolhida em Lourdes atinge somas multimilionárias para engordar a Igreja Católica que vive, exactamente, da exploração da fé dos crentes!…
Fico sem perceber a verdadeira intenção do Papa!… Não é ele o chefe de uma empresa exploradora do sentimento de fé religiosa em Deus, em Jesus, em Maria… e numa panóplia de santinhas e santinhos que enfeitam as paredes dos templos como sendo deuses menores da medieval Igreja Católica? Não é a Igreja a grande inventora e exploradora de milagres e fazedora de santinhos?!…
Parece que Francisco I teve (só agora ?!…), consciência desta exploração desenfreada que não dignifica a empresa de fé que é o Vaticano… mas de onde recolhe farto alimento!…
Começando esta purga por Lourdes, será que vai chegar a Fátima? É que Fátima continua a ser o grande bastião da iniquidade… da exploração da fé e ignorância dos crentes vergonhosamente mantidos numa menoridade intelectual pelos párocos de todos os recantos desta república laica… que por acaso é presidida por um católico empedernido que rejubila com a imagem da santinha que os pastorinhos de Ourém elevaram ao altar e conduziram à construção de uma basílica (que já são duas), transformando o local numa outra Lourdes… que, pelos vistos, segundo Francisco I, é uma vergonhosa máquina de extorquir dinheiro a crentes intelectualmente indefesos!… Oh valha-nos Deus e o São Cricalho!…
(Texto de Onofre Varela a publicar no jornal Gazeta de Paços de Ferreira, edição de 13 de Junho de 2019)
– Mulher, queres aborrecer o Misericordioso Profeta ou que eu chame a terceira?
Nos estados laicos, sem risco de recidivas teocráticas, é inadmissível e paradoxal usar qualquer proibição para assegurar a liberdade individual. Vão longe os tempos em que as mulheres católicas eram obrigadas a usar véu, na igreja, porque o apóstolo Paulo de Tarso considerou o cabelo e a voz das mulheres coisas obscenas, convicção que teve outro efeito secundário – a castração de jovens para evitar mulheres nos coros sacros.
Surpreende que quem defende o direito ao uso do véu islâmico não reflita nos motivos da sua proibição por Mustafa Kemal, o Atatürk, fundador da Turquia moderna, e na oposição, aparentemente paradoxal, dos sectores laicos e progressistas.
Em primeiro lugar a exibição pública do adereço é um confronto aberto com a laicidade estimulado pelos sectores clericais cujo proselitismo tem na agenda, logo que Alá o queira, a imposição da sharia. Alá não se pronunciou mas o apelo das mesquitas fez-se ouvir e levou à emenda constitucional que permitirá às alunas o uso do véu islâmico dentro das universidades.
Não é preciso ser profeta para prever a pressão oriunda da função pública a exigir igual «regalia», sem ter em conta que o véu é um símbolo de opressão da mulher, visto com entusiasmo por homens conservadores e por uma sociedade cuja reislamização não tem parado.
O problema não reside na permissão, surge quando o direito se converter em imposição, os islamitas moderados se tornarem fundamentalistas e o véu for substituído pela burka.
(escrevi este texto em 10 de fevereiro de 2010)
A tara judaico-cristã, comum aos três monoteísmos, foi sendo atenuada pela civilização, mas permanece na matriz genética das religiões do livro e no espírito dos hierarcas que as divulgam, e delas vivem, bem como dos crentes que as seguem.
Paulo de Tarso, o autor da primeira cisão conseguida do judaísmo, preservou o horror à mulher, em perfeita consonância com a lei moisaica de que, aliás, só divergiu quando se convenceu de que o Messias anunciado era Jesus Cristo, um judeu que morreria sem se aperceber que originara uma nova seita, que o imperador Constantino, por necessidade de cimento para o Império Romano, havia de converter em religião, dando-lhe a liberdade de culto, em 313, o que seria fundamental para a futura conversão total do império. Teodósio, algumas décadas depois, em 380, tornaria obrigatório o cristianismo.
Todavia, o apogeu da demência misógina seria atingido com Maomé na cópia grosseira dos monoteísmos anteriores. E não vale a pena dizer que é a versão errada do islamismo que dá origem à violência. É isso que o Corão, manual terrorista elevado à categoria de livro sagrado, ensina. Foi assim que o «Profeta Maomé, o Misericordioso», alcunha do beduíno analfabeto e amoral, pensou.
O horror causado pela discriminação da mulher leva os crentes a desculpar as religiões o que, independentemente da crença ou descrença, não permite alhear-nos da influência no sofrimento secular imposto a metade da Humanidade, por discriminação sexual.
É verdade que o cristianismo se civilizou, graças à repressão política sobre o clero, e o judaísmo se reduz a menos de 20 milhões, a maior parte secularizados, o que não deixa de ter influência nefasta na violência sionista, mas existe a possibilidade de retrocesso.
Só o islamismo, no ocaso da fracassada civilização árabe, permanece virulento e não foi surpresa, para quem acompanha a sua deriva política, cunhada como fascismo islâmico, que o Estado Islâmico, à semelhança do que acontecera com os talibãs no Afeganistão, tenha ordenado às mulheres severas restrições à liberdade depois de, em junho de 2014, ter tomado Mossul. Foi assim que o uso do véu integral e a mutilação genital feminina [não sendo esta uma imposição de todo o Islão] foram exigidos, bem como a cobertura dos pés e mãos, sob pena de «castigos severos».
É difícil perceber que, sob o álibi do respeito pelas religiões, não se combatam no plano ideológico, à semelhança das doutrinas políticas consideradas perversas.
Deixo aqui a opinião de dois ‘santos doutores’ do cristianismo cuja censura me levaria à fogueira se não tivesse havido o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa.
“No que se refere à natureza do indivíduo, a mulher é defeituosa e malnascida, porque o poder ativo da semente masculina tende à produção de um perfeito parecido no sexo masculino, enquanto que a produção de uma mulher provém de uma falta do poder ativo.” (Tomás de Aquino, Summa Theologica)
“Nada rebaixa tanto a mente varonil de sua altura como acariciar mulheres e esses contactos corporais que pertencem ao estado do matrimónio.” (Santo Agostinho, “De Trinitate”)
Apostila – Alterei o texto na parte que atribuía erradamente o carácter obrigatório do cristianismo a Constantino o que só veio a acontecer com Teodósio.
Abraão levou o filho para o deserto…. amarrou-o a uma árvore e acendeu uma fogueira debaixo dos seus pés.
De repente, uma voz diz:
– Abraão, Abraão, que é isso????
– Senhor, Senhor eu estou sacrificando o meu filho, conforme a Vossa ordem!!!!
– Não, Abraão, eu só queria medir a tua fé!!
– Mas Senhor…!!!!
– Abraão, solta o menino!!!!!
Abraão soltou o filho. O menino saiu disparado…correu, correu, correu, e Abraão gritava:
– Filho volte, filho volte, o Senhor libertou-te!!!!
O menino parou, longe, e gritou:
– Libertou o caraças!!! Se eu não fosse ventríloquo, estava bem lixado!!!
Esperava-se, não do arcaico bispo de Lisboa, mas de alguns dos outros 20 titulares, dos 7 auxiliares ou dos 17 eméritos e dois eméritos-convidados, que defendessem a honra da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que o seu presidente achincalhou com a reincidência perturbadora ao serviço de partidos reacionários e fascistas.
Nem o vice-presidente da CEP, também ornamentado com barrete cardinalício, nem um emérito, onde consta o nome honrado de Manuel Vieira Pinto, nenhum teve a coragem de limpar a nódoa que o patriarca lançou sobre a Igreja de todos eles.
O Sr. Manuel Clemente, que o país julgou ter recebido o Prémio Pessoa pela sua grande intelectualidade e, afinal, deve a imagem ao prémio, com influência de António Barreto e de toda a direita portuense, podia pedir ao Vaticano a restituição do ouro a que deve o título de patriarca, que lhe afaga o ego.
De cada vez que é tratado por Sr. Patriarca, devia lembrar-se de quanto esse título para o bispo de Lisboa e o de Senhor Fidelíssimo para o rei custaram a Portugal, com ouro do Brasil enviado ao Vaticano, quando D. João V era apenas Fidelíssimo nas deslocações ao Convento de Odivelas, bordel da nobreza, onde a troca da madre Paula, amante de um nobre, custou duas freiras ao rei para ser a sua favorita.
O sr. Manuel Clemente é mais rápido a abanar a mitra, agitar o báculo, colocar o anelão na boca dos crentes e a mão na gamela do Orçamento, em defesa dos colégios privados, do que a penitenciar-se por se imiscuir nas eleições e condicionar o voto dos eleitores.
O respeito que exige para si e para a religião que representa perdeu-o há muito. Restam-lhe as genuflexões dos incondicionais, o desprezo dos próprios crentes e a humilhação dos resultados eleitorais dos partidos que apoiou.
O Sr. Manuel Clemente deve ter perdido as eleições em todas as paróquias da diocese e resta-lhe ciliciar-se no próximo retiro espiritual.
O silêncio dos bispos não é distração de inocentes, é cumplicidade de quem se habituou aos privilégios da Concordata e pressente a falta coragem dos partidos hostilizados para a denunciarem.
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