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20 de Julho, 2019 Carlos Esperança

50.º aniversário da chegada do homem à Lua

Nesse dia estava em Malapísia, algures no Niassa, Norte de Moçambique, e recordo as manifestações de júbilo, na dolorosa guerra colonial, empolgados com o relato que entre ruídos nos chegava através de um rádio a pilhas. Foi uma gesta heroica da Humanidade e um salto enorme da ciência.
Em homenagem à ciência, por contraste, deixo uma crónica sobre o obscurantismo.

Vaticano – A indústria dos milagres (Crónica ímpia)

Na ânsia de fabricar milagres, JP2 e B16 convocaram centenas de defuntos, sepultados em zonas de confiança ideológica da ICAR, para curarem uma criança aqui, uma freira acolá, um médico noutro sítio, enfim, uma quantidade enorme de doentes estropiados por Deus. A boa vontade dos defuntos, em péssimo estado de conservação, aliviou alguns cristãos das moléstias enviadas pela divina providência, na sua infinita bondade.

O exercício da medicina tem sido o passatempo desses bem-aventurados, há muito desaparecidos, cristãos com pecados apagados pelo tempo e virtudes avivadas pelos Papas. No laboratório do Vaticano autenticam-se certificados de garantia para os milagres e criam-se novos beatos e santos que povoam a folha oficial do bairro de 44 hectares.

Antigamente era o próprio Cristo que se deslocava à Terra para ajudar a ganhar batalhas aos seus eleitos ou que aconselhava os cristãos sobre a forma de matarem os infiéis com mais eficácia. Depois de numerosos desaires, ou porque a idade e o reumático lhe limitaram as deslocações, Deus deixou ao Papa a tarefa de engendrar os milagres mais adequados à promoção da fé e estupefação dos crentes. Os dois últimos pontificados abandonaram o método artesanal de fazer um santo aqui outro acolá, de acordo com os interesses políticos do Vaticano e as oferendas dos países favorecidos, para ao fabrico industrial.

As curas de cancros foram, durante muito tempo, as preferidas da Cúria romana. Problemas de ossos, moléstias da pele, diabetes, paralisias e outras doenças fazem parte do cardápio da santidade. Mas, com tanta clientela para elevar aos altares, o Vaticano já chegou ao ponto de deixar para um imperador (Carlos I da Áustria) a cura de varizes a uma freira. Foi uma ofensa aos quatro filhos vivos que assistiram à beatificação. Se para um imperador o milagre se reduziu à cura de varizes, temia-se que quando JP2 fosse um sólido defunto, só dispusesse de um furúnculo para curar, numa catequista da Polónia, para chegar a santo, pois não podia repetir o número da cura do Parkinson na freira francesa. Vá lá, a Cúria foi zelosa e creditou-lhe a cura de um aneurisma cerebral a uma mulher costa-riquenha, Floribeth Mora, milagre mais difícil, digno de um profissional. E foi já com os dois milagres obrados e reconhecidos pelas autoridades competentes que o Papa Francisco o elevou a santo.

Os medicamentos estragaram os milagres de grande efeito, como a cura da lepra, por exemplo. Há milagres que o Vaticano não arrisca – hemorroidas, por causa do sítio, e a sífilis, a blenorragia, a SIDA e outras moléstias para castigar os pecadores.

Mas há enganos que há muito deixou de cometer, canonizar por engano um cão que julgava mártir, ou uma parelha de mulas que morreram de exaustão e que a ICAR pensou tratar-se de santas mulheres que sacrificaram a vida pelo divino mestre.

Os milagres são cada vez mais rascas, mas os dados biográficos dos que os obram são cada vez melhor escrutinados.

Só a ciência avança.

20 de Julho, 2019 Carlos Esperança

«Femmes contre l’islamisation» — O comprimento da saia_2

A fonte do cartaz sobre o comprimento das saias provém de um grupo próximo do Vlaams Belang, a extrema-direita flamenga. A campanha foi retirada depois de uma ação judicial.

Dada esta informação aos leitores, recebida de uma pessoa amiga, cosmopolita e culta, radicada em França, por elementar obrigação ética, fica para motivo de reflexão o meu apoio ao referido cartaz.

O monopólio do combate ao fascismo islâmico não pode ser monopólio do fascismo de outra religião qualquer ou do ateísmo. A discriminação da mulher é sempre uma forma de fascismo que atinge o auge na demência no islamismo sunita wahabista, defensor do terrorismo e autor dos maiores atropelos aos direitos individuais e ao livre-pensamento.

Nunca me deixei afetar pela infame mentira de que Hitler era de esquerda (nacional socialista) e ateu, apoiado pela hierarquia católica e protestante, tal como Mussolini, que só não é acusado de ser ateu, porque o Vaticano o designou ‘enviado da Providência’ e lhe deveu a criação do Estado da Santa Sé e a obrigatoriedade do ensino da religião católica nas escolas. Também não é agora, pelo facto de ser a extrema-direita a fazer a denúncia do que ela própria também é capaz de fazer, que vou coibir-me do combate ao obscurantismo religioso e da defesa intransigente da laicidade do Estado.

Cumprida a obrigação de honestidade para com os leitores, continuarei a denunciar os bispos espanhóis franquistas, o clero sul-americano fascista, o budismo anti-islâmico da Birmânia e o hinduísmo nacionalista indiano e as Igrejas evangélicas, do mesmo modo que combateria o ateísmo de Estado de Enver Hoxha, na Albânia, único país onde o ateísmo de Estado vigorou.

Não podemos estar reféns do medo do apodo de racistas ou xenófobos quando devemos aos direitos da mulher, à democracia e ao livre-pensamento o combate ideológico que temos obrigação de travar.

Pela minha parte, continuarei a defender a liberdade religiosa, direito inalienável, com a veemência com que combato as crenças e desmascaro preconceitos com que a alegada vontade divina se opõe à felicidade e aos direitos humanos.

https://www.publico.pt/2013/10/15/mundo/noticia/louboutin-consegue-impedir-campanha-da-extremadireita-belga-1609075?fbclid=IwAR1tZG6lhQxkgp8mkTSBQBY4hG6EL1GpItMPCw0aFmQLKz1HXrxwxlXqqGM
18 de Julho, 2019 Carlos Esperança

O comprimento da saia

É possível que nas próximas duas décadas não seja bom ser mulher! …

Isso é assustador para as gerações futuras…

Dê uma boa olhadela neste cartaz belga, banido na França, que lhe pede para escolher entre a liberdade e o Islão.

O poster da Associação Flemish “mulheres contra a islamização”, afixado desde janeiro 2019 em Antuérpia, mostras as pernas de uma mulher nova que levanta sua saia.

As características indicam qual a altura da saia que é ou não aceitável pelo Islão.

Apostila – Porque é proibido, aproveito para lhe dar publicidade.

17 de Julho, 2019 Carlos Esperança

Recordando Jaime Gralheiro – escritor, jornalista, advogado e membro ativo da Associação Ateísta Portuguesa a cujos almoços nunca faltou enquanto viveu

PORQUE SOU ATEU?

Essa é uma boa pergunta para uma resposta complexa. É que ninguém se torna ateu de um momento para o outro, por obra e graça de um “milagre” do Mafarrico.


Só há dois caminhos para se chegar ao ateísmo: ou se é educado, desde criança, num clima de agnosticismo religioso ou da pura ausência da ideia de Deus (o que será muito difícil num mundo onde a larga maioria se diz crente), ou se atinge o ateísmo através de um longo processo de confronto e negação. Foi esse o meu caso.

Como quase todas as crianças portuguesas nascidas na primeira metade do século XX no Portugal rural de então (o das “aparições” de Fátima) eu fui educado por meus pais dentro da máxima popular religiosa “graças a Deus muitas; graças com Deus poucas”.

De qualquer maneira nunca fui à catequese da Igreja. Na minha aldeia (de Macieira) não havia igreja nem escola. Por isso, meus pais, mediante a paga de um alqueire de milho e de pouco mais, entregaram o cultivo da minha ignorância religiosa ao cuidado de um homenzito (meio anão), conhecido pelo Pedro, que não sei onde se tinha especializado nas questões do “creio em deus padre todo-poderoso…”, nos atos de contrição e de atrição, na salvé-rainha e nos mandamentos (de Deus e da Igreja) e em todos os outros atos de fé, que o “padre-nosso” e “avé-maria” eram coisas corriqueiras que a gente ia aprendendo em casa com a reza do terço e as “ações de graças”.

Quando saí lá da serra e debaixo das saias de minha mãe, fui para dois colégios de padres. Aí o Deus do Pedro de Macieira foi-se interiorizando em mim, tornando-se caminho e guia que eu levava muito a sério com muitas medalhas penduradas do pescoço, muitas missas e comunhões, persignações antes de todas as refeições, da deita e da levanta, tudo misturado com muitas orações e rezas. Para cada ato da vida eu tinha uma oraçãozinha adrede.

Nesta situação de Deus como caminho e guia me mantive até aos meus 26 anos, altura em que iniciei a minha vida profissional, tomando então contacto com a vida dura dos camponeses e dos outros “servos da gleba”. Esse contacto, acompanhado com o “abre-olhos” dos meus dois patronos profissionais, que eram dois democratas agnósticos de férrea tempera, fez-me ver que o tal Deus que eu tinha arvorado como “caminho e guia” não passava do grande aliado do Salazarismo, oprimindo o Povo português. Mais: que as próprias aparições de Fátima se encaixavam na grande encenação político-religiosa do Regime (“Fátima Desmascarada”, como mais tarde vim a verificar).

Esta constatação fez-me olhar com mais cuidado para a História em geral e para a História da Igreja Católica, em particular, onde o retrato do tal Deus não aparecia nada favorecido. Ele tinha sido o mentor e responsável pelas Cruzadas, pela “santa” Inquisição, pela morte de Savonarola e pela perseguição de Galileu, para não falar em todas as guerras de muitos trinta anos…

Esse Deus cuja Igreja pregava o Amor era, historicamente, o Deus da violência, do terror e da morte. Era o Deus de Constantino que, desde o Concílio de Niceia (325), o pôs ao seu serviço. Serviço esse que manteve e reforçou com o Concílio de Trento (1546).

No fim da década de 50 e início da de 60 do século passado a Igreja Católica tornara-se para mim na grande aliada e defensora dos valores salazaristas, posição esta que ficou demonstrada com a expulsão do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que se atreveu a dizer não à omnisciência e omnipotência de Salazar (1958).
A convocação do Concílio Vaticano II pelo papa João XXIII, em 1962, com o objetivo de a Igreja fazer o seu aggiornamento democrático, foi para mim uma fonte de esperança. Comigo estavam todos os chamados “Católicos Progressistas”.

Nesta esperança passei a militar ativamente na Oposição Democrática, desde o início dos anos 60.

Procurando dar uma base teórica à minha praxis política eu lia tudo, desde Emmanuel Mounier, às encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris, os documentos conciliares, as intervenções de D. Hélder da Câmara e dos bispos de Medelim, do padre e guerrilheiro colombiano Camilo Torres e de Che Guevara. Lia tudo, desde as revistas O Tempo e o Modo, Seara Nova e Vértice até aos Cuadernos para el Dialogo e ao Novell Observateur, desde o teólogo Bernard Haring aos teólogos protestantes, para não falar nos padres portugueses Felicidade Alves e Mário da Lixa. Tudo devorava de uma literatura mais ou menos clandestina que me chegava à socapa da PIDE: ele eram os escritos políticos da Oposição Democrática, a que se juntavam os textos clandestinos dos socialistas e marxistas europeus, complementados pelas leituras de Jorge Amado (Os Capitães da Areia, Jubiabá, Capitão da Esperança e Os Subterrâneos da Liberdade); ele eram os escritores russos do fim do século XIX e princípio do século XX; ele era Antero de Quental das Conferência do Casino; ele era Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol e Álvaro Cunhal; ele era José Cardoso Pires, Luís Stau Monteiro, Bernardo Santareno e Luís Francisco Rebelo (dos quais me tornei depois amigo e camarada) ….

Ao mesmo tempo tomava contacto com Fátima Desmascarada de João Ilharco, a Fabricação de Fátima de Prosper Alfaric, para além da Cova dos Leões de Tomás da Fonseca; lia, ainda, A Origem do Cristianismo de Iakov Lenstaman, A Fábula de Cristo de Guy Fau, Cristo Nunca Existiu de Emilio Bossi e O Deus que a Igreja nos Vende de António Calvinho. Estas leituras continuaram com outros autores até ao presente.

Quando Abril (de 74) já vinha perto (em 1969) abandonei um “Curso de Cristandade”, deixando, a partir de então, de ter qualquer contacto com a igreja oficial.
Embora me continuasse a declarar como “católico progressista”, a verdade é que, com a Revolução de Abril, eu tomei consciência de que, efetivamente, dentro de mim se tinha operado um grande salto qualitativo, e que, pela mão de Cristo, eu tinha chegado ao Marxismo!

A partir de então, Deus passou a ser uma invenção humana com vista a dar resposta às perguntas a que não se sabia responder; Cristo, a tal 2ªa pessoa da santíssima trindade, a ter existido historicamente, era (só) mais um herói que, à semelhança de Espártaco (que viveu mais ou menos no seu tempo histórico) morreu em luta pela libertação do seu Povo.

De resto, antes dele, já o filósofo grego Sócrates havia sido condenado à morte pela cicuta, por se atrever a ensinar os jovens atenienses a pensar…
Resumindo: a partir de certa altura (e não sei quando, pois essa “altura” foi um longo e doloroso processo histórico) dei-me conta de que, afinal, eu deixara de ser um idealista (como todos os bons católicos) e passara a ser um empedernido e convicto materialista dialético.

Nesta posição filosófica a existência de Deus deixou de fazer qualquer sentido pois se tornara numa inutilidade racional. Para mim, Deus deixou de ser preciso, pois, sem ele, eu atingira uma explicação racional, lógica e coerente do Munda e da Vida, explicação essa que me satisfazia de uma ponta à outra.

Quando atingi este “nirvana” senti-me bem e feliz como nunca até aí me havia sentido. Em boa verdade, Deus fora sempre para mim uma fonte constante de angústias, de remorsos e medos; de ameaças, de covardias e de fugas (até nas relações sexuais entre mim e minha mulher, Deus, totalitariamente, se metia!…).
Perante esse tal Deus, eu e os outros Homens só tínhamos uma maneira de estar: de joelhos; sem ele, inesperadamente, eu fiquei de pé, no centro do Universo, heroicamente, inteiro na grandeza da minha Humanidade.

A partir daí abriram-se os caminhos de uma nova moral, de uma nova ética e de uma nova estética. Mais que os mandamentos de Deus há os Direitos Universais do homem; mais do que a caridade e o amor ao próximo, há o sentimento da fraternidade e da solidariedade humana.

Depois, até a Arte dá um salto e passa a ser a realidade recreada pelos homens e mulheres, na esteira dos grandes sonhos e das grandes aspirações da Humanidade.
Sem Deus tudo fica no seu lugar, sem licença de ninguém.

Eu compreendo que haja pessoas para quem a dimensão divina da vida é essencial. Para um ateu essa dimensão não existe, mas todos os ateus, porque defensores da Liberdade, aceitam que os crentes tenham e vivam essa outra dimensão; só exigimos que eles não nos imponham essa dimensão como historicamente sempre quiseram fazer (e fizeram).
De resto, tenho muita dificuldade em discutir com um crente o meu ateísmo, pois mal eu começo a explicar-me, logo ele me trava com o argumento de que isso é o que eu penso, porque, para além de mim, Deus continua lá.
Assim nunca iremos a lado nenhum.

O que o separa de Saramago nesta faceta?
2- Pelo que li de José Saramago (O Evangelho segundo Jesus Cristo e Caim), suponho que a posição religiosa de José saramago é muito idêntica à minha.
Sobre este assunto só conversámos uma vez, em Viseu, aquando do lançamento do seu “Evangelho”. Disse-lhe que esperava que ele tivesse ido mais longe, questionado a própria existência histórica de Jesus Cristo que pode muito bem ser a humanização de um mito criado pelos “cristãos”.

Respondeu-me que não; que lhe parecia complicado uma religião como a cristã ter por base só um mito inventado e não uma qualquer experiência histórica que, depois, foi mitificada.

E sobre esse ponto, hoje em dia, a literatura é imensa. Cito apenas A Dinastia de Jesus de James D. Tabor onde a história do homem Jesus Cristo e de sua família (mãe, pai e irmãos) é contada com muitos pormenores e fundamentos documentais.

E pronto.

Nota: O que fica dito no ponto 1 é uma espécie de resumo daquilo que escrevi no meu OS DOIS PRECS NO DISTRITO DE VISEU, págs. 34/35, 75 e segs.

Jaime Gralheiro

16 de Julho, 2019 Carlos Esperança

A deriva reacionária das Igrejas e a extrema direita

Não se pode dissociar o regresso ao fascismo do comportamento das Igrejas, embora se possa discutir, na multiplicidade das causas, se a influência maior é a das Igrejas sobre a deriva política ou vice-versa.

Na Europa, há factos inquietantes que raramente merecem uma reflexão serena, como o regresso do antissemitismo, tantas vezes a pretexto do sionismo, igualmente condenável. É cada vez mais frequente, aparecem notícias sobre a vandalização de cemitérios judaicos ou ataques a sinagogas, logo atribuídas aos suspeitos do costume, os muçulmanos, que odeiam judeus e cristãos.

Qualquer pessoa minimamente informada sabe que o antissemitismo está impresso no ADN do cristianismo, o que se compreende por ter sido a primeira cisão com êxito do judaísmo. A origem comum dos monoteísmos é o Antigo Testamento, um testemunho de inegável valor histórico e literário sobre a vida e o pensamento das tribos patriarcais da Idade do Bronze. O racismo, a xenofobia e a misoginia são a herança que transmite às Religiões do Livro.

O cristianismo poderia ter enjeitado, a partir do Novo, o Antigo Testamento, e nunca o fez. Por isso, do esclavagismo à Inquisição, todas as malfeitorias encontraram aí a sua justificação. O Novo Testamento introduz um humanismo a que é alheio o Antigo, mas acrescenta-lhe duas taras, o proselitismo e o antissemitismo, este último típico de todos os trânsfugas.

Os quatro Evangelhos (Marcos, Lucas, Mateus e João) e os Atos dos Apóstolos têm, na contabilidade de Daniel Jonah Goldhagen (in A Igreja católica e o Holocausto) cerca de 450 versículos explicitamente antissemitas, «mais de dois por cada página da edição oficial católica da Bíblia».

Por sua vez, o islamismo, um plágio grosseiro do judaísmo e do cristianismo, consegue ter o pior dos dois anteriores monoteísmos, a que não é alheia a violência das tribos nómadas onde se criou um ‘profeta’ analfabeto e amoral que decorou durante vinte anos o que o arcanjo Gabriel lhe ditou, entre Medina e Meca, com a paciência do alcoviteiro que tinha alertado a mãe de Jesus para a sua gravidez, de que as mulheres só costumam aperceber-se, avisadas por anjos.

Ainda hoje me surpreendo com a bondade e generosidade dos crentes com livros que tão maus ensinamentos contêm. A generosidade humana é um bálsamo para a perversidade divina.

15 de Julho, 2019 Carlos Esperança

Madre Teresa de Calcutá e a indústria dos milagres

Deixo a biografia de Madre Teresa para os ódios de estimação e os devotos do costume. Refiro apenas a ajuda que prestou a João Paulo II na defesa da teologia do látex quando em África morriam centenas de milhares de vítimas da Sida e um cardeal afirmava que o preservativo era perigoso.

João Paulo II (JP2), amigo do peito e da hóstia de Pinochet a quem denodadamente quis defender, sem êxito, da prisão em Londres, foi mais político do que santo. Madre Teresa escapou à santidade em vida por não ser canónica antes da defunção. Recém defunta, obrou o primeiro milagre.

JP2 atribuiu a cura de uma indiana, com um tumor gástrico, à intervenção sobrenatural de Madre Teresa, um ano após a sua morte, e logo assinou um decreto confirmando a veracidade do milagre, com vista à beatificação da freira. A jovem indiana Monica Besra explicou em 1998 que foi curada de um tumor de tamanho grande no estômago mediante orações à Madre, apesar de os médicos que a trataram terem assegurado que ela não tinha cancro, mas um quisto. O Vaticano aceitou a cura como milagre em 2002.

Foi um risco encomendar o milagre em país pouco devoto ao Deus de Madre Teresa!

O papa Francisco, com o mesmo alvará para criar santos, foi mais prudente, por vergonha ou receio de que o segundo milagre fosse de novo posto em causa, mas os negócios da fé não se compadecem com pausas na máquina da santidade.

Assim, o milagre de que a bem-aventurada precisava, para ser elevada de beata a santa, foi adjudicado há 4 anos no Brasil, com menor hipótese de escândalo, também na especialidade de oncologia. Foi obrado em Santos e ‘investigado’ pelo Vaticano para canonizar Madre Teresa de Calcutá. Um homem internado em estado terminal, num dos hospitais da cidade, obteve a cura, inexplicavelmente alcançada, segundo a Cúria Diocesana de Santos.

Não espanta a vocação dos defuntos para o exercício ilegal da medicina, o que admira é o faro do Vaticano para identificar o/a autor/a.

Como é hábito, quando é aprovado o currículo para a canonização, os santos, depois de o serem, nunca mais obram novos milagres. E a falta que hoje fazem!

14 de Julho, 2019 Carlos Esperança

O Instituto para as Obras Religiosas (IOR), a máfia, os negócios e a santidade

O Banco do Vaticano, conhecido pelo pseudónimo de IOR, foi criado pelo ora santo Pio XII, com o pretexto de guardar esmolas das caixas e de outros recipientes pios onde os donativos, de quem queria lavar a alma, chegavam em quantias avantajadas.

Foi o papa Paulo VI, decidido a escapar ao cerco fiscal do Governo italiano, que exigiu “o pagamento de todos os lucros retroativos sobre investimentos, o que ultrapassava mil milhões de euros atuais”, que começou a expatriar grandes quantias de dinheiro do IOR.

Foi auxiliado pelo devoto banqueiro siciliano Michele Sindona, que controlava o envio de capitais da máfia, e pelo arcebispo Marcinkus, banqueiro de Deus. Sindona, dirigente do banco suíço Finbank e da Banca Privata Italiana, e Marcinkus controlaram “a mais maciça das exportações de capitais jamais ocorrida aos subterrâneos do Swiss Bank, em parceria com a Santa Sé”. Alargada a rede, Sindona e Marcinkus associaram ao tráfico outro banqueiro, Roberto Calvi, do Banco Ambrosiano.

Preso na prisão de alta segurança de Voghera, Sindona prometeu fazer revelações, mas morreu na sua cela, ao ingerir distraidamente café com cianeto de potássio. O inquérito sobre a morte concluiu que se tratara de suicídio. Deus não dorme.

Roberto Calvi suicidou-se, enfiando o pescoço no laço de uma corda dependurada numa ponte de Londres, suicídio que, após exumação, 16 anos depois, se demonstrou ter sido por estrangulamento em um terreno baldio, perto da ponte onde foi encontrado, e depois pendurado para simular o suicídio.

Na fraude do Banco Ambrosiano participou também Licio Gelli, que combateu ao lado de Franco, enviado por Mussolini, e foi informador da Gestapo na 2ª Guerra Mundial. Este amigo de Hermann Goering, tornou-se conhecido pelo envolvimento nas mortes de Aldo Moro, “Mino” Pecorelli, Roberto Calvi, João Paulo I e outros, além de numerosos comunistas. Acabou em prisão domiciliária, decerto dedicado à oração e à penitência.

Não se sabe se Deus existe e se perdoa, mas a máfia não desculpa, por maior que seja a devoção ou a generosidade pia dos padrinhos. Não surpreendeu, pois, que o arcebispo Marcinkus, reclamado para ser julgado em Roma, fosse protegido por João Paulo II, que negou a extradição pedida, evitando ao dileto a prisão e a si próprio alguma indiscrição que lhe dificultasse a canonização.

Há alguns meses, Francisco, o primeiro papa a ir ao coração da máfia calabresa, ousou enfrentá-la: “Aqueles que durante a vida escolheram a via do mal, como os mafiosos, estão excomungados”. A atitude inédita do papa, inverteu a política do IOR, sob pressão internacional, e perdeu provavelmente os melhores clientes.

A suspeita de que a Igreja católica beneficiou do ouro que os assassinos em série croatas roubaram às vítimas judias e sérvias possa ter ido para o Vaticano mantem-se graças à recusa em permitir o acesso aos seus arquivos, ao contrário do que fez o Governo Suíço, em relação aos seus bancos. A determinação do atual papa, em subtrair ao crime o IOR, pode esclarecer a suspeição referida, que se mantém sobre o offshore do Vaticano.

12 de Julho, 2019 Carlos Esperança

O perigo dos Irmãos Muçulmanos

O Islão não é um problema religioso, é uma questão política e, em última instância, um caso de polícia.

No pântano da fé, cujo primarismo dos 5 pilares atrai cada vez mais seguidores, há uma força – os Irmãos Muçulmanos – que se vem impondo politicamente em vários países, do Egito, onde são a causa do caos e também vítimas, até à Turquia, que a Europa e os EUA tratam com estranha benevolência.

A Europa pagou com imenso sangue a demência da fé e a origem divina do poder. Só a partir da sangrenta Guerra dos 30 Anos conseguiu libertar-se da crença imposta à força. E só a na década de 60 do século passado o Concílio Vaticano II acabou por reconhecer a liberdade religiosa pela Igreja católica, liberdade que Bento XVI nunca digeriu.

Enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não se sobrepuser à vontade de qualquer Deus, não há liberdade e felicidade a que algum homem, e sobretudo mulher, possa aspirar.

Reitero que o Islão é um caso político e como tal deve ser tratado. Não é impedindo os crentes de rezarem cinco orações diárias, de se virarem para Meca ou de viajarem com o tapete, que se resolve o problema. É reprimindo os pregadores do ódio nas madraças e mesquitas e, sobretudo, entravando a imposição, a quem não queira, de fazer jejum ou de prescindir do presunto e da cerveja.

O argumento da tradição é a monstruosidade que justifica as piores afrontas.