26 de Agosto, 2019 Carlos Esperança
Fátima — terra de fé
Fátima está condenada a ser instrumento da extrema direita. O que parecia a imitação de Lourdes, através de um catecismo arcaico, com o clero reacionário a vociferar contra a República, passou a ser, durante a ditadura salazarista, um instrumento de luta contra o comunismo.
A implosão da URSS desviou o objetivo para a propaganda contra o ateísmo e manteve-se um santuário do clericalismo, sem perder a matriz original do reacionarismo.
O catolicismo tridentino encontrou naquele lugar o ponto de encontro entre o arcaísmo da fé de natureza popular e a trincheira contra a modernidade e emancipação dos povos.
As encenações pias têm o ponto alto nos dias 13, mas, nos intervalos, a extrema-direita marca presença em datas aleatórias, para conspirações contra a democracia.
O último encontro de líderes políticos e religiosos da extrema-direita, preparado pelo International Catholic Legislators Network, com Viktor Orbán e o chefe de gabinete de Donald Trump, Mick Mulvaney, foi uma conspiração contra a democracia e o desafio ao Papa.
Não foram rezar o terço, mas aproveitar o simbolismo do local e a tradição cúmplice do catolicismo jurássico com a extrema-direita quando já está esquecida a colaboração do catolicismo com os nacionalismos extremistas que levaram Hitler e Mussolini ao poder.
O Vaticano é, aliás, criação do último, e considerado então, pelo regedor do bairro de 44 hectares, como enviado da Providência. Bastou um século para o regresso à matriz original em que o nacionalismo católico e as aventuras contrarrevolucionárias germinam no terreno árido da Cova da Iria.