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20 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

A religião, a carne de vaca e o Reitor da U. C.

Preservar o ambiente e tornar sustentável o Planeta é assunto demasiado sério, que não se compadece com ironias fáceis ou adiamentos em período de emergência, mas há um mínimo de bom senso aparentemente alheio ao Reitor da Universidade de Coimbra.

Todos sabemos que o modo de vida das sociedades atuais não é sustentável e que a sua perpetuação só abreviará o prazo de validade do Planeta para a vida humana. É urgente um novo paradigma que me leva a refletir sobre o aquecimento global e as tragédias que nos aguardam, mas há diferenças entre a ponderação exigida e o exibicionismo fácil.

Desconhecia a competência do Magnífico Reitor nas ementas das cantinas e a função de nutricionista-mor para proibir um alimento não proscrito pelas autoridades sanitárias.
A abolição inopinada da carne de vaca parece-me uma prepotência própria de um crente cujo proselitismo não aceita o contraditório. O atual reitor da UC, uma instituição laica, já surpreendeu na tomada de posse ‘antecedida de Missa Solene na Capela de S. Miguel, pelas 9 horas’, em 18 de fevereiro deste Ano da Graça.

Foi uma atitude pioneira de indignidade, de que pode não ter sido o responsável, mas a sua posse integrou uma missa para abrilhantar a cerimónia, missa cujo anúncio inédito mereceu a indignação de vários docentes. Foi a primeira vez que um reitor tomou posse com missa anunciada.

Se em 18 de maio foi o primeiro reitor a manifestar publicamente a preocupação com a salvação da alma, em 17 de setembro, sete meses depois, é pioneiro a salvar o Planeta. Espero que não pense que o pão ázimo, que alimenta a alma, transubstanciado em corpo e sangue, após os sinais cabalísticos, seja a fonte de proteínas para substituir a carne de vaca.

Para já, parece-me abuso de funções, à semelhança da Missa Solene, impor aos outros o direito individual que lhe assiste.

Como na missinha, volto agora a repudiar a prepotência do Magnífico Reitor, por não lhe reconhecer autoridade para a decisão que tomou.

19 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Deus & o Diabo, SARL

Há para aí quem acredite no Deus que ditou a um pastor de camelos, analfabeto e tribal, um livro tão detalhado, onde, da gastronomia ao sexo, da discriminação das mulheres à interdição do álcool, do número de orações diárias às relações sexuais, determinou tudo para se cumprir a sua vontade.

Há 5 anos, na Austrália, a polícia frustrou um plano para decapitar pessoas, ao acaso, apenas para infundir o terror de que o misericordioso Profeta gosta.

Esse Deus, tão rude e violento como o destinatário, afiançou-lhe que a sua tribo era a predileta, que as outras eram infiéis e deviam ser assassinadas pela seguinte ordem: primeiro judeus, depois, cristãos e, finalmente, todos os que não prestassem vassalagem ao profeta.

Antes desse esquizofrénico plagiador já o Deus do cristianismo tinha visitado a região, feito milagres, pregações e ressuscitado mortos para que todos fizessem o que queria o Deus mais velho, a quem chamava pai, enquanto um pobre carpinteiro era substituído na paternidade, por uma pomba, e um anjo fez de alcoviteiro.

Também este plagiara um tal Jeová, o primeiro a ditar um livro, como se Deus fosse dado à literatura, que jurou amor a doze tribos de Israel e fez uma escritura de doação de terras que ainda dizima fiéis dos diversos avatares do deus abraâmico.

Para as religiões monoteístas é difícil explicar com o mito bom, generoso, omnipotente, omnisciente e omnipresente, as guerras, as tragédias e crueldades que ensanguentam o mundo. E a obsessão demente para a degola dos desmiolados muçulmanos não ajuda.

Assim, os crentes começaram a desconfiar de Deus e passaram a acreditar no Diabo.

18 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Ateísmo, religiões e liberdade

O ateísmo, ao contrário das religiões, não cria pessoas boas ou más enquanto as últimas moldam o seu carácter e as levam a praticar atos da mais sublime bondade ou da mais degradante abjeção.

O Estado Islâmico assassina e tortura segundo a vontade de um ser imaginário, tal como outrora o fez o cristianismo nas Cruzadas, Evangelização e Inquisição e, ainda hoje, o faz o sionismo judaico.

Há crentes e ateus entre os maiores criminosos da História recente. Dos primeiros, sem necessidade de recorrer ao fascismo islâmico, destacam-se Mussolini, Franco, Pinochet, Videla, Somoza e o padre Tiso, sendo Hitler designado por crente ou ateu, conforme as conveniências. Nos ateus sobressaem Estaline, Enver Hoxha, Ceauşescu, Mao, Pol Pot e Kim Il-sung. Estão bem uns para os outros.

O ateísmo dos democratas tem na Declaração Universal dos Direitos Humanos o padrão para definir a bondade do ateísmo e da crença de cada um. São correligionários os que a respeitam e adversários os que a renegam ou não a subscrevem. O mundo não se divide entre crentes e ateus mas entre os que partilham os valores civilizacionais herdados do Renascimento, do Iluminismo e da Revolução Francesa e os que se lhes opõem.

Há ateus nazis, xenófobos, racistas e misóginos à semelhança do pior que nos legaram os monoteísmos. Não deixa de ser ateia essa gente desumana tal como não deixaram de ser cristãos os nazis e os fascistas e os que se lhe opuseram na Resistência.

Há boas razões para se combaterem as religiões, sem as confundir com os crentes, a sua falsidade e a sua nocividade, mas usar nesse combate as mesmas armas dos combatentes do Estado Islâmico, por exemplo, é repudiar a civilização de que nos reclamamos.

17 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Crime sexual na Igreja, outra vez.

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Escrevi na Gazeta (edição de 15 de Novembro de 2018) que o jornal espanhol El País criou um canal para recolher testemunhos de crimes sexuais cometidos no interior da Igreja ou colégios religiosos, para memória futura mas também com a esperança de haver tempo para julgar em tribunal alguns dos casos narrados. Um desses casos foi noticiado na edição do mesmo jornal no último dia 7 de Setembro. Aí se dá conta dos actos de um clérigo “predador sexual”, praticados há 30 anos. Trata-se do monge Andreu Soler (já falecido, pelo que viveu incólume durante toda a sua vida). Segundo o jornal, foi “um predador sexual e um pederasta que abusou de um número indeterminado de menores no Mosteiro de Monserrat, com total impunidade, durante quase três décadas”.

Durante 40 anos o monge dirigiu o agrupamento católico El Nois de Servei, naquele mosteiro tradicionalmente considerado como o centro espiritual da Catalunha. A investigação dos actos do monge Soler, que o próprio mosteiro promoveu, concluiu terem sido diversos os actos sexuais criminosos, muitos dos quais ainda permaneciam na sombra, e cujo autor não foi, apenas, o frade Soler. Refere ainda um outro clérigo, identificado pelas iniciaias V. M. T. que “foi o responsável pelo grupo de meninos cantores mais antigo da Europa, e cometeu abusos sexuais em 1968”. A comissão investigadora diz que, na época, “se informou, com transparência, as famílias [das crianças cantoras] e o monge foi retirado de imediato, deixando o mosteiro em 1980 para contrair matrimónio”. O documento refere as atitudes diferenciadas dos dois pederastas nele tratados. Enquanto que V. M. T. foi capaz de “mudar de conduta”, Andreu Soler “fez do abuso um modo de vida, um padrão de conduta sem arrependimento nem propósito de mudança ou admissão de culpa”.

A comissão de investigação, que desde a sua criação em Janeiro deste ano recebeu 12 denúncias por correio electrónico e entrevistou oito vítimas, dedica parte do seu estudo a analisar o papel dos responsáveis da abadia, e conclui que “durante os abusos aos meninos cantores, cometidos por Soler pelo menos entre 1972 e 1999, se omitiu qualquer tipo de actuação”. A primeira denúncia contra Soler data de 1998, mas quem a recolheu e analisou diz ter encontrado “contradições nos relatos” pelo que, ao que parece, não a considerou. No entanto há testemunhas que garantem ter havido, mesmo antes dessa denúncia, “rumores suficientes dentro das paredes do mosteiro para justificarem uma acção” contra o monge Andreu Soler e retirá-lo do convívio das crianças cantoras.

O monge, falecido em 2008 “utilizou a violência contra algumas das suas vítimas que jamais apagarão da memória as consequências emocionais e psicológicas”. A comissão propõe que o mosteiro de Montserrat celebre um acto público do reconhecimento dos factos, e peça perdão às vítimas e à comunidade.

(Texto de Onofre Varela, a sair no jornal Gazeta de Paços de Ferreira do dia 19 de Setembro de 2019)

15 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Não havia dever de reciprocidade?

O primeiro-ministro esloveno, o social-democrata Alenka Bratušek, lançou há seis anos a primeira pedra da primeira mesquita do país, em Liubliana, na presença de um ministro do Catar, país onde abandonar o islamismo é considerado apostasia e quem se converta ao cristianismo enfrenta perseguição severa.

Que a construção de uma mesquita é «uma vitória simbólica sobre todas as formas de intolerância religiosa» – como declarou o PM anfitrião –, é uma evidência irrefutável.

Mas seria legítimo erigir mesquitas em países democráticos se no Catar a plena liberdade religiosa, passados 6 anos, só existe para o totalitarismo islâmico?

Quando o Papa católico puder batizar um cristão na catedral do Bagdad, o grande rabino de Jerusalém orar na sinagoga de Cabul, o Patriarca da Igreja Ortodoxa Grega pregar em Rabat, o arcebispo de Cantuária oficiar no Bahrein, o bispo da IURD comprar um terreno no Azerbaijão, para expandir o negócio, e uma associação de ateus, céticos, agnósticos e racionalistas for legal no Iémen ou na Arábia Saudita, então poderão nascer mesquitas e madraças nos países onde o pluralismo religioso, político e filosófico são apanágio das democracias.

Que vitória sobre a intolerância seria ver um pagode em honra de Buda, em Omã, ou um templo hindu, dedicado a Vixnu, na Somália!

Até lá, encaro com apreensão a complacência com o multiculturalismo, sobretudo com o Islão, que promove a guerra aos infiéis, lapida mulheres adúlteras, decapita apóstatas e recusa respeitar a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

14 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Caçadores de insetos

Há quem se distraia com borboletas e quem queira capturar o Espírito Santo.

12 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Capelães e capelanias

A Constituição da República Portuguesa não determina que o Estado seja obrigado a prestar assistência religiosa aos portugueses nem diz que a mesma é tendencialmente gratuita, com ou sem taxa moderadora.

A sustentação do culto é um dever dos crentes, através do dízimo, da côngrua ou de qualquer outra forma de pagamento, por prestação de serviços, e nunca comparticipada a 100% por serviços do Estado, seja nas Forças Armadas, nos hospitais ou nas prisões.

Ao Estado incumbe o dever de assegurar a liberdade de culto a todos os crentes, em igualdade de circunstâncias e, ao mesmo tempo, defender o direito dos cidadãos a terem a religião que quiserem, enquanto entenderem, sem risco de mudança, de apostasia ou, mesmo, de serem hostis.

A promíscua ligação da ditadura salazarista à Igreja católica, através da Concordata, dava ao Governo o direito de recusar os bispos que a Igreja propusesse para as dioceses, mas legou ao país uma série de capelães pagos pelo erário. A democracia prescindiu do veto à nomeação de bispos mas a Igreja não prescindiu das capelanias e alargou-as às forças policiais.


Rui Valério, bispo das Forças Armadas e de Segurança é o comandante-chefe dos católicos fardados e o único general que é nomeado pelo chefe do Estado do Vaticano e não pelas autoridades portuguesas, uma perda de soberania absolutamente inaceitável.

O número de capelães aproxima-se de 200. Num estado laico estão todos a mais.

11 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

A Europa, a laicidade e os imigrantes

A Europa, sob pena de renegar os valores, cultura e civilização que a definem, não pode deixar de socorrer e tentar integrar as multidões que fogem de países falhados, Estados terroristas e regiões que o tribalismo e a demência dominam.

A Europa, tantas vezes responsável por agressões devastadoras, cujas consequências ora a confrontam, não pode renunciar ao dever de solidariedade para com os acossados, não por expiação de culpas mas por imperativo ético.

Nunca a metáfora da bicicleta, caindo quando para, foi tão certeira como aplicada à UE, que não soube ou não quis federar as nações que a compõem com o aprofundamento da política comum, nas suas vertentes económica, social, fiscal, militar e diplomática, para quem, como eu, acredita num projeto europeu.

Mal dos europeus se o medo os paralisa e preferem abandonar os náufragos a assumir o risco de salvar um terrorista, mas, pior ainda, se descuram o perigo que a exigência ética comporta, se não souberem distinguir os crentes, que precisam de ajuda, das religiões que exigem combate.

A Europa civilizada morre se renunciar à solidariedade que deve e suicida-se se não se defender da perversão totalitária de culturas exógenas que vivem hoje o medievalismo cristão e o pendor teocrático do seu próprio passado que o Iluminismo erradicou.

A civilização europeia será laica ou perece. Não pode ceder a poderes antidemocráticos, permitir a confiscação de espaços públicos por quaisquer religiões que incitem ao crime, em nome de Deus ou do Diabo.

O Islão, na sua deriva sectária, é puro fascismo a exigir contenção. Enquanto não aceitar a igualdade de género, o livre-pensamento e as liberdades individuais não pode ser tratado como as religiões cujo clero se submeteu ao respeito pelas regras democráticas e à aceitação do Estado laico.

A laicidade, paradigma da cultura europeia, é a vacina que salva o pluralismo religioso, preserva a sua civilização e evita a xenofobia que alimenta a direita antidemocrática que pulula nas águas turvas do medo e da demagogia.

Não se exige mais a quem chega do que a quem já estava, a submissão às leis do Estado laico e democrático.

8 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

A superstição e a ICAR

«DIA DA VIRGEM MARIA –Concebida sem pecado original, nasceu neste dia em Nazaré, Galileia. Aos três anos foi oferecida ao serviço do templo, por seus pais, Joaquim e Ana, onde recebeu a dignidade de mãe de Deus, aos catorze anos de idade, por disposição divina, teve como esposo o castíssimo S. José, e pouco 

depois, o anjo S. Gabriel anunciou–lhe que conceberia, por obra e graça do Espírito Santo, tendo ido a Belém com S. José para se alistar seguindo a ordem do imperador Augusto, pariu num presépio o seu unigénito filho, Jesus, verdadeiro representante de Deus, viveu sempre com o seu Filho, acompanhando–o na jornada do Egito, nas pregações, na paixão e na morte, depois da ascensão do Senhor viveu ainda quinze anos na igreja, ausentou–se deste mundo num trânsito suavíssimo e três dias depois a sua alma voltou ao corpo, e com ele em triunfo, uniu–se ao bem. »

Ah! Ah! Ah! Que bela gargalhada!