13 de Novembro, 2019 Carlos Esperança
A História e outras histórias
Há a História escrita por historiadores e a história contada pelos redatores dos manuais escolares. A primeira é uma ciência e baseia-se em documentos, a segunda é o veículo de propaganda de quem detém o poder. Raramente coincidem.
Nos 4 anos da instrução primária aprendi na catequese a odiar judeus, hereges, maçons, apóstatas e comunistas. Na escola juntei aos ódios de estimação, e sem necessidade de rezar contra os destinatários, os moiros e os castelhanos. Aos 10 anos, fiz a comunhão solene, vestido de cruzado, e acabei fustigado com quatro sacramentos.
Na Bouza, ali em frente de Escarigo, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, vi um manual escolar espanhol que desprezava a batalha de Aljubarrota e glorificava, entre outras, a do Toro. Era da minha prima Pilar, da mesma idade, a quem denunciei os erros do livro por onde estudava. Levei-lhe o meu livro da 4.ª classe e disse-me que os livros portugueses só diziam mentiras.
Nessa altura, como ela era espanhola, e eu ignorava que a província de Salamanca era castelhana, continuámos amigos, embora convictos das mentiras que se escreviam nos livros do país do lado de lá da fronteira de cada um de nós.
Mais tarde compreendi que há um só povo e que é injusta a repartição da riqueza, dentro de cada país e entre todos os países do mundo. Depois, vi os interesses que separam os homens e as nações, desculpas inventadas para explorar os outros, sobretudo mulheres, e a quem aproveitam as carências de milhares de milhões de pessoas pobres e famintas, a reproduzirem-se desenfreadamente, alheias ao esgotamento dos recursos do Planeta.
Nada é mais estimulante e aglutinador do que um inimigo comum e o ódio que une os bons contra os maus, sendo os primeiros os que estão do lado de dentro da fronteira que limita cada um dos lados, seja onde for, qualquer que seja o pretexto, onde quer que se invente o lado.
É necessária imensa fé para tanto ódio!