Loading

Categoria: Não categorizado

24 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

A ciência, os milagres e a santidade

Pensava eu, em meu pensamento, que os milagres cientificamente comprovados no laboratório do Vaticano, no mínimo de dois, eram as provas académicas de acesso à santidade que, comparadas com o mundo profano, equivaleria o primeiro milagre ao mestrado e o segundo ao doutoramento.

Pensava ainda, em meu pensamento, que a canonização, sem numerus clausus, atribuiria um alvará para novos milagres, sendo os dois primeiros as provas de exame no apertado filtro da canonização que, com o defunto ausente, fariam da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, a Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra, com a dignidade de Prefeitura.

Compreende-se que os santos precisem de provas para poderem continuar no ramo dos milagres, sendo os primeiros obrados à experiência e os seguintes já com provimento definitivo. Isso justifica as alegadas exigências postas na comprovação científica dos prodígios pela Congregação oficial para não se repetir a exclusão do Livro dos Santos, como sucedeu a S. Guinefort que, apesar de mártir, foi exonerado quando se descobriu tratar-se de um cão e o templo, em sua honra, foi mandado arrasar pelo Papa de turno.

Um santo, depois do alvará de canonização, tem direito a biografia no Livro dos Santos, acompanhada da oração dedicada ao mesmo, de uma imagem clássica e do patronato e dia consagrado dento do culto católico. Não admira, pois, a exigência de três médicos que confirmem os milagres e a dificuldade acrescida dos defuntos em obrarem milagres de jeito, depois da evolução farmacológica e dos avanços médicos.

Exceto na oncologia, os milagres andam agora pelas varizes, furúnculos, queimaduras, moléstias da pele e, às vezes, pela fisiatria. Acontecem sempre na área da medicina e nunca na economia, física ou matemática, isto é, a santidade está confinada a medicinas alternativas.

Mas o que surpreende é a inércia dos santos reconhecidos e o frenesim dos candidatos. Lembro-me que Nuno Álvares Pereira, depois da brilhante cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo fervente de fritar peixe, e logo canonizado, nunca mais curou um simples furúnculo, hemorroides ou uma fratura do colo do fémur, o mesmo acontecendo com os milhares de canonizados dos três últimos pontificados.

A canonização, se a política da santidade se mantiver, deixa de ser o diploma para obrar milagres e passa a mero pergaminho da jubilação, assinada e com lacre do Vaticano.

23 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

ICAR – Da primeira à última confissão – Crónica

Quando a Ti Ricardina e a menina Aurora, sua sobrinha, me ensinavam o catecismo e o ódio aos judeus, comunistas, maçons, sacrílegos, apóstatas e outros malfeitores que não seguiam a única religião verdadeira, a delas, não imaginava que lhes guardaria a afeição que se dispensa a quem devemos a primeira vacina.

O meu nascimento na casinha térrea no Bairro Galego, de Escalhão, naquele dia 17 de dezembro de 1942, viria a ser premonitório do nascimento de um ateu, tal o número de candidatos a padrinhos de batismo do neófito. Eram o Tó Vieira, de Almeida, o meu tio Alfredo, o prof. Carlos, o único que tratei por padrinho, que viria a presentear-me com o ‘Cristo Nunca Existiu’, de Emilio Bossi, e à madrinha Irisalva, sua cunhada.

A fé e o medo do Inferno vieram durante o tempo da escola primária, e foi na catequese que o medo do Inferno e das almas do outro mundo veio ao meu encontro pela voz das doces catequistas. O Purgatório era outro dos medos e o Limbo motivo de desolação. O sofrimento de Cristo e a raiva a Pôncio Pilatos, metido acidentalmente no Credo, eram torturas para a criança sensível que fui.

Um dia assisti a um pôr do Sol com vermelhidão intensa antes de entrar na igreja e de pedir uma explicação à Ti Ricardina, que logo esclareceu que era um sinal de que os comunistas matariam os cristãos, tinha-o dito a Lúcia. Eu, que rezava pela conversão da Rússia, todas as noites, como a Lúcia pedira, saí da catequese a chorar, e foram outros garotos, indiferentes à Lúcia, aos comunistas e à catequista que me levaram a casa onde perguntei à mãe se o meu pai, que não ia à missa, teria culpa pelo perigo que corriam os cristãos. De como a minha mãe tentou tranquilizar-me, não me recordo. Sei que o meu pai, no domingo seguinte, esperou o padre à saída da missa e queixou-se da ignorância das catequistas e dos terrores que infundiam, alertando-o para os disparates com que lhe aterrorizavam o filho. Regressou espantado com a resposta do padre, que lhe confirmou ser verdade a advertência da Lúcia e a necessidade de rezar pela conversão da Rússia. E que perigoso era para um casal de funcionários públicos tirar o filho da catequese!

Ficou o agnóstico descoroçoado e o filho a viver terrores noturnos com as labaredas do Inferno a entrarem nos sonhos, as caldeiras de azeite fervente a frigir almas e o Diabo a mergulhá-las com um enorme garfo de três dentes, durante os anos sacramentados com a eucaristia e a penitência até à confirmação que o Sr. Dom Domingos me impôs por se ter finado o antecessor, José Alves Matoso, que o Senhor chamara, depois de 38 anos de mitra, báculo e anelão, à frente da diocese.

Tinha, pois, dez anos quando fiz a comunhão solene, vestido de Cruzado, e fui crismado pelo Sr. D. Domingos, que me besuntou com os santos óleos para os quais o padre Faria não tinha alvará, o que levou o Sr. Bispo a deslocar-se ao Cume e a indagar quem queria ir para o seminário. Antecipei-me aos outros e disse-lhe logo que só o Zé Marcelino.

Nesse ano entrei no liceu da Guarda e nunca mais rezei o terço ou me lembrei do mês de Maria, em maio, quando todas as noites sofria o frio da igreja enquanto o Sr. António Bernardo orientava o terço, com cada mistério a arrastar um pai-nosso e dez ave-marias.

Até da missa, com posologia semanal, comecei a fazer o desmame. Nos três primeiros anos só fui à missa no 1.º de Dezembro, a desfilar fardado da Mocidade Portuguesa, e à missa pascal, com comunhão, antecipada para não coincidir com as férias, precedida da desobriga coletiva que o padre Cabral e o Dr. Ramalho estimulavam.

No 4.º ano, durante o confesso, perguntei ao padre se podia deixar de cometer pecados, dado que Deus sabia que os cometeria e teria culpa. Foi dramático ouvir dizer-me que tinha a mão de Satanás na garganta e que não podia dar-me a absolvição, embora eu não sentisse tal mão. Já resignado a erguer-me, sem os sinais cabalísticos que lavam à alma os pecados, olhei para trás e vi o Dr. Ramalho genufletido, a aguardar a sua confissão, e de cuja vingança pia tive maior medo do que do eventual castigo divino. Num ápice, disse ao confessor que Satanás tinha tirado a mão, e logo me mandou rezar o ato de contrição e deu a absolvição, com um ror de padre-nossos e ave-marias de penitência que a dúvida cartesiana mereceu e me exonerei de cumprir. Com as pernas a tremer, preenchi a ficha, para a estatística da paróquia da Sé, que ficava no padre e não era previsível que fosse enviada a Deus.

No dia seguinte não fui à missa nem à comunhão. Acabou aí a relação com a Igreja que tanto pavor me provocara. Só voltei à missa na consagração do curso de 1959/61 da Escola do Magistério da Guarda, tradição vigiada pelo diretor, quando os docentes do ensino primário eram obrigatoriamente católicos, mas dessa missa, da dissimulação a que fui constrangido e das respetivas circunstâncias hei de falar noutra crónica.

A visão do Dr. Ramalho não me reforçou a fé, mas levou-me a resistir ao proselitismo, a libertar das crenças e a reagir à repressão. Devo-lhe muito, a ele, às minhas catequistas e à multidão de sotainas que enxameavam a Guarda com um padre tonsurado dentro, de colar romano ao pescoço.

A vacina vitalícia da descrença foi aquela última confissão. Já leva 62 anos de eficácia.

Coimbra, novembro de 2019

22 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

A Vida Sexual dos Papas

  

                                                    O livro do jornalista peruano Eric Frattini,…..

                            «São mais de 300 páginas com centenas de histórias pouco santas sobre a vida sexual dos Papas da Igreja Católica. O livro do jornalista peruano Eric Frattini, recém-chegado às livrarias portuguesas e editado pela Bertrand, percorre, ao longo dos séculos, a intimidade secreta de papas e antipapas, mas não pretende causar “escândalo”. Apenas “promover uma reflexão sobre a necessária reforma da Igreja ao longo dos tempos”.

                            O escritor admite, aliás, que alguns dos relatos possam ter sido inventados, nas diferentes épocas, por inimigos políticos dos sumos pontífices. Lendas ou verdades consumadas, no livro “Os Papas e o sexo” há de tudo. Desde Papas violadores e zoofílicos a Papas homossexuais e fetichistas, além de Santos Padres incestuosos, pedófilos ou sádicos, passando por Papas filhos de Papas e Papas filhos de padres.

                            Alguns morreram assassinados pelos maridos das amantes em pleno acto sexual. Outros foram depostos do cargo, julgados pelas suas bizarrias sexuais e banidos da história da Igreja. Outros morreram com sífilis, como o Papa Júlio II, eleito em 1503, que ficou na história por ter inventado o primeiro bordel gay de que há memória.

                            Bonifácio IX deixou 34 filhos, a que chamava, carinhosamente, de “adoráveis sobrinhos”. Martinho V encomendava contos eróticos, que gostava de ler no recolhimento do seu quarto.

                            Paulo II era homossexual e Listo IV, que cometeu incesto com os sobrinhos, bissexual. Inocêncio VIII reconheceu todos os filhos que fez e levou-os para a Santa Sé. Um deles tornou-se violador. João XI (931-936) cometeu incesto com a própria mãe, violava fiéis e organizava orgias com rapazes.

                            Sérgio III teve o infortúnio de se apaixonar por mãe e filha e não esteve com meias medidas: rendeu-se à prática da ménage à trois. Bento V só esteve no Governo da Igreja 29 dias, por ter desonrado uma rapariga de 14 anos durante a confissão. Depois de ser considerado culpado, fugiu e levou boa parte do tesouro papal consigo.

                            João XIII era servido por um batalhão de virgens, desonrou a concubina do pai e uma sobrinha e comia em pratos de ouro enquanto assistia a danças de bailarinas orientais. Os bailes acabaram quando foi assassinado pelo marido de uma amane em pleno acto sexual. Silvestre II fez um pacto com o diabo. Era ateu convicto e praticava magia. Acabou envenenado.

                            Dâmaso I, que a Igreja canonizou, promovia homens no ciclo eclesiástico, sendo a moeda de troca poder dormir com as respectivas mulheres. Já o Papa Anastácio, que tinha escravas, teve um filho com uma nobre romana, que se viria a tornar no Papa Inocêncio I (famoso pelo seu séquito de raparigas jovens). Pai e filho acabaram canonizados.

                            Leão I era convidado para as orgias do Imperador, mas sempre se defendeu, dizendo que ficava só a assistir. Mesmo assim, engravidou uma rapariga de 14 anos, que mandou encerrar num convento para o resto da vida. Bento VIII morreu com sífilis e Bento IX era zoófilo. Urbano II criou uma lei que permitia aos padres terem amantes, desde que pagassem um imposto.

                            Alexandre III fazia sexo com as fiéis a troco de perdões e deixou 62 filhos. Foi expulso, mas a Igreja teve de lhe conceder uma pensão vitalícia, para poder sustentar a criançada.

                            Gregório I gostava de punir as mulheres pecadoras, despindo-as e dando-lhes açoites. Bonifácio VI rezava missas privadas só para mulheres e João XI violou, durante quatro dias, uma mãe e duas filhas. Ao mesmo tempo

                            1. João Paulo II

                            Acusado de ter um filha secreta

                            Em 1995, o norte-americano Leon Hayblum escrevia um livro polémico, em que dizia ser pai da neta de João Paulo II. Durante a ocupação nazi da Polónia, Wojtyla terá casado, secretamente, com uma judia. Do enlace nasceu uma rapariga, que o próprio pai entregou, com seis semanas, a um convento local. No seu pontificado especulou-se muito sobre as namoradas que teve antes do sacerdócio. O Papa admitiu algumas, mas garantiu nunca ter tido sexo. No Vaticano, fazia-se acompanhar por uma filósofa norte-americana, Anna Teresa Tymieniecka, com quem escreveu a sua maior obra filósofica. Acabaram zangados, supostamente por ciúmes.

                            2. Paulo VI

                            Homossexual?

                            Assim que chegou ao Vaticano, Paulo VI mostrou-se muito conservador em relação às matérias ligadas à sexualidade. Em 1976, indignado com as declarações homofóbicas de Paulo VI, um historiador e diplomata francês, Roger Peyrefitte, contou ao mundo que, afinal, o Papa era homossexual e manteve uma relação com um actor conhecido. O escândalo foi tremendo: Paulo VI negou tudo e o Vaticano chegou a pedir orações ao fiéis do mundo inteiro pelas injúrias proferidas contra o Papa. Paulo VI morreu em 1978, aos 81 anos, depois de 15 pontificado, vítima de um edema pulmonar causado, em boa parte parte, pelos dois maços de cigarros que fumava por dia.

                            3. Inocêncio X

                            Amante da cunhada

                            Eleito no conclave de 1644, Inocêncio X manteve uma relação com Olímpia Maidalchini, viúva do seu irmão mais velho – facto que lhe rendeu o escárnio das cortes da Europa. Inocêncio X não era, aliás, grande defensor do celibato. Olímpia exercia grande influência na Santa Sé e chegou a assinar decretos papais. A dada altura, o Papa apaixonou-se por outra nobre, Cornélia, o que enfureceu Olímpia. Mesmo assim, foi a cunhada quem lhe valeu na hora da morte e quem assegurou o funcionamento do Vaticano quando Inocêncio estava moribundo. Quando morreu, em 1655, Olímpia levou tudo o que pôde da Santa Sé para o seu palácio em Roma, com medo de que o novo Papa não a deixasse ficar com nada.

                            4. Leão X

                            Morreu de sífilis

                            Foi de maca para a própria coroação, por causa dos seus excessos sexuais. Depois de Júlio II ter morrido de sífilis, em 1513 chega a Papa Leão X, que gostava de organizar bailes, onde os convidados eram somente cardeais e onde jovens de ambos os sexos apareciam com a cara coberta e o corpo despido. O Papa gostava de rapazes novos, às vezes vestia-se de mulher e adorava álcool. “Quando foi eleito tinha dificuldade em sentar-se no trono, devido às graves úlceras anais de que sofria, após longos anos de sodomia”, escreve Frattini. Estes e outros excessos levaram Lutero a afixar as suas 95 teses – que lhe garantiram a excomunhão em 1521. Leão X morreu com sífilis aos 46 anos.

                            5. Alexandre VI

                            O Insaciável

                            Gostava de orgias e obrigou um jovem de 15 anos a ter sexo com ele sete vezes no espaço de uma hora, até o rapaz morrer de cansaço. Teve vários filhos, que nomeou cardeais. Assim que chegou ao Papado, em 1431, trocou a amante por uma mais nova, Giulia. Ela tinha 15 anos, ele 58. Foi Alexandre VI quem criou a célebre “Competição das Rameiras”. No concurso, o Papa oferecia um prémio em moedas de ouro ao participante que conseguisse ter o maior número de relações sexuais com prostitutas numa só noite. Depois de morrer, o Vaticano ordenou que o nome de Alexandre VI fosse banido da história da Igreja e os seus aposentos no Vaticano foram selados até meados do século XIX.

                            6. João XXIII

                            Violou irmãs e 300 freiras

                            Não aparece na lista oficial de Papas e acabou preso em 1415. O antipapa conseguia dinheiro a recomendar virgens de famílias abastadas a conventos importantes. Mas violava-as antes de irem. Tinha um séquito de 200 mulheres, muitas delas freiras. Criou um imposto especial para as prostitutas de Bolonha. Tinha sexo com duas das suas irmãs. Defendia-se, dizendo que não as penetrava na vagina e que por isso não cometia nenhum pecado. Foi julgado, acusado de 70 crimes de pirataria, assassinato, violação, sodomia e incesto. Entre outros factos, o tribunal deu como provado que o Papa teve sexo com 300 freiras e violou três das suas irmãs. Foi deposto do cargo e preso. Voltou ao Vaticano, anos mais tarde, como cardeal.

                            7. Bento IX

                            Sodomizava animais

                            Chegou a Papa em 1032 com 11 anos. Bissexual, sodomizava animais e foi acusado de feitiçaria, satanismo e violações. Invocava espíritos malignos e sacrificava virgens. Tinha um harém e praticava sexo com a irmã de 15 anos. Gostava, aliás, de a ver na cama com outros homens. “Gostava de a observar quando praticava sexo com até nove companheiros, enquanto abençoava a união”, escreve Eric Frattini. Convidava nobres, soldados e vagabundos para orgias. Dante Alighieri considerou que o pontificado de Bento IX foi a época em que o papado atingiu o nível mais baixo de degradação. Bento IX cansou-se de tanta missa e renunciou ao cargo para casar com uma prima – que o abandonaria mais tarde.

                            8. Clemente VI

                            Comprou bordeL

                            Em 1342, com Clemente VI chega também à Igreja Joana de Nápoles, a sua amante favorita. O Papa comprou um “bordel respeitável” só para os membros da cúria – um negócio, segundo os documentos da época, feito “por bem de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Tornou-se proxeneta das prostitutas de Avinhão (a quem cobrava um imposto especial) e teve a ideia de conceder, duas vezes por semana, audiências exclusivamente a mulheres. Recebia as amantes numa sala a poucos metros dos espaços em que os verdugos da Inquisição faziam o seu trabalho. No seu funeral, em Avinhão, foi distribuído um panfleto em que o diabo em pessoa agradecia ao Papa Clemente VI porque, com o seu mau exemplo, “povoara o inferno de almas”.

                            9. Xisto III

                            Violou freira e foi canonizado

                            Obcecado por mulheres mais novas, foi acusado de violar uma freira numa visita a um convento próximo de Roma. Enquanto orava na capela, o Papa, eleito em 432, pediu assistência a duas noviças. Violou uma, mas a segunda escapou e denunciou-o. Em tribunal, Xisto III defendeu-se, recordando a história bíblica da mulher que foi apanhada em adultério. Perante isso, os altos membros eclesiásticos reunidos para condenar o Papa-violador não se atreveram a “atirar a primeira pedra” e o assunto foi encerrado. Xisto III foi, aliás, canonizado depois de morrer. Seguiu-se-lhe Leão I, que também gostava de mulheres mais novas e que mandou encarcerar uma rapariga de 14 anos num convento, depois de a engravidar.

                           10. João XII

                            Morto pelo marido da amante

                            Nos conventos rezava-se para que morresse. João XII era bissexual e obrigava jovens a ter sexo à frente de toda a gente. Gozava ao ver cães e burros atacar jovens prostitutas. Organizou um bordel e cometeu incesto com a meia-irmã de 14 anos. Raptava peregrinas no caminho para lugares sagrados e ordenou um bispo num estábulo. Quando um cardeal o recriminou, mandou-o castrar. Um grupo de prelados italianos, alemães e franceses julgaram-no por sodomia com a própria mãe e por ter um pacto com o diabo para ser seu representante na Terra. Foi considerado culpado de incesto e adultério e deposto do cargo, em 964. Foi assassinado – esfaqueado e à martelada – em pleno acto sexual pelo marido de uma das suas várias amantes.»

P. S. – Li o livro há vários anos e recebi agora esta súmula que deixo aos leitores com votos de bom fim de semana.

20 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

A GUERRA. ISRAEL E A PALESTINA.

Os horrores sofridos pelos judeus ao longo dos séculos, o cheiro a gás dos campos de concentração nazi e a orgia genocida do antissemitismo levaram a ONU a conceder uma pátria a um povo martirizado pela persistência em manter a identidade.

A má consciência mundial, três anos após a libertação de Auschwitz, esteve na origem da decisão.


Os fantasmas religiosos nunca deixaram de estar presentes e atiçar ódios a um país que foi outorgado aos judeus e de que os palestinianos nunca abdicaram.

Sete décadas depois deviam chegar para erradicar o imperialismo sionista e para persuadir os palestinianos a aceitarem a existência de Israel. Este país, apesar das críticas que suscita, não obstante o fundamentalismo beato e agressivo dos judeus das trancinhas, é um estado próspero e rege-se por normas democráticas.

Os palestinianos islamizados até ao absurdo, pobres e abandonados, tornaram-se a carne para canhão das ambiciosas teocracias que emergem como potências regionais e o álibi para alterar o mapa geopolítico.

Os judeus acreditam que são o povo escolhido por Deus, os palestinianos têm a certeza de que Deus os ajudará a destruir Israel e os cristãos evangélicos dos EUA anseiam pelo regresso dos judeus à Palestina para anteciparem o regresso de Cristo à Terra.

Entre a demência mística, os interesses estratégicos, a maldição do petróleo e os negócios internacionais, o barril de pólvora está cada vez mais próximo do rastilho que ameaça explodir o Médio Oriente e alastrar a outras regiões do globo.

De pouco valem posições equilibradas de quem se opõe simultaneamente à destruição de Israel e ao expansionismo sionista.

Sem paz entre os judeus e os palestinianos não há futuro para nenhum deles e sobram ameaças para o resto do mundo.

19 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

Um texto atual de há 9 anos

Asia Bibi e o crime medieval da blasfémia

Por Carlos Esperança – novembro 19, 2010

Nos países onde vigoram as teocracias a vida é um detalhe banal perante os zeladores da vontade do deus autóctone. A tara não é exclusiva do islamismo onde a deriva fascista se acentua com a miséria e atraso a que a religião conduz os respectivos povos.

A violência xenófoba das teocracias do Médio Oriente recorda-nos a forma como foram tratados os mouros, em Portugal, nos reinados de D. Afonso Henriques a D. Afonso III, e os judeus até à sua quase extinção.
Cristãos, judeus, livres-pensadores e todos os que não acreditem em Alá e no seu único Profeta, não façam jejum no Ramadão, não rezem cinco orações diárias, não contribuam com as esmolas e, se puderem, não forem a Meca, terão sempre  a vida em perigo, para além de terem de comer, beber e vestir-se de acordo com as indicações que o arcanjo Gabriel ditou, em árabe, ao condutor de camelos, entre Medina e Meca.

Não esqueçamos que a liberdade religiosa só foi aceite pela Igreja católica no início da década de sessenta do século passado, no Concílio Vaticano II, liberdade que o actual pontífice suporta com visível azedume e que começou, de facto, com a Paz de Vestfália, que pôs termo à Guerra dos Trinta Anos, em 1648.
Em Portugal, a blasfémia ainda hoje é punível, por lei, apesar de ninguém admitir que um conceito medieval, que permanece no Código Penal, se sobreponha à liberdade de expressão.

Tal não acontece no Paquistão onde Asia Bibi (na foto), foi impedida de tirar água de um poço por ser infiel, designação que os cristãos mais trogloditas também usam para os crentes das outras religiões.

Sendo Asia Bibi católica, condição que afirmou, logo foi vítima de agressões até acabar por ser condenada à morte por enforcamento, pena que a descrença em Maomé justifica em países onde a lei do deus deles se sobrepõe à liberdade religiosa que só a laicidade dos países civilizados defende.

A eventual execução da católica Asia Bibi não é apenas mais uma morte por sectarismo religioso, é a negação da liberdade, a manutenção da barbárie e a prova da incapacidade mundial para defender os direitos, liberdades e garantias que a Declaração Universal dos Direitos do Homem consagra.

A eventual execução de Asia Bibi é um crime que envergonha o mundo e pesará sobre todos nós.

18 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

República e laicidade

Enquanto os judeus ortodoxos se agarram à bíblia e à faixa de Gaza, os muçulmanos debitam o Corão e se viram para Meca e os cristãos evangélicos dos EUA ameaçam o Irão e a teoria evolucionista, os conflitos religiosos e o terrorismo regressam à Europa.

A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz da Vestfália e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado.

A libertação social e cultural do controle das instituições e símbolos religiosos foi um processo lento e traumático que se afirmou no séc. XIX e conferiu à modernidade ocidental a sua identidade.

A secularização libertou a sociedade do clericalismo e fez emergir direitos, liberdades e garantias individuais que são apanágio da democracia. A autonomia do Estado garantiu a liberdade religiosa, a tolerância e a paz civil.

Não há religiões eternas nem sociedades seculares perpétuas. As três religiões do livro, ou abraâmicas, facilmente se radicalizam. O proselitismo nasce na cabeça do clero e medra no coração dos crentes.

Os devotos creem na origem divina dos livros sagrados e na verdade literal das páginas vertidas da tradição oral com a crueza das épocas em que foram impressas.

Os fanáticos recusam a separação da Igreja e do Estado, impõem dogmas à sociedade e perseguem os hereges. Odeiam os crentes das outras religiões, os menos fervorosos da sua e os sectores laicos da sociedade.

Em 1979, a vitória do ayatollah Khomeni, no Irão, deu início a um movimento radical de reislamização que contagiou Estados árabes, largas camadas sociais do Médio Oriente e sectores árabes e não árabes de países democráticos.

No judaísmo, numa atitude simétrica, os movimentos ultraortodoxos ganharam vigor, influência e armas, empenhando-se numa luta que tanto visa os palestinianos como os sectores laicos do hebraísmo.

O termo «fundamentalismo» teve origem no protestantismo evangélico norte-americano do início do séc. XX. Exprimiu o proselitismo, recusa da distinção entre o sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso à modernidade, saído da exegese bíblica mais reacionária. Esse radicalismo não parou de expandir-se e já contamina o aparelho de Estado dos EUA.

O catolicismo, desacreditado pela cumplicidade com regimes obsoletos (monarquias absolutas, fascismo, ditaduras várias), debilitou-se na Europa e facilitou a secularização. O autoritarismo e a ortodoxia regressaram com João Paulo II (JP2), que desprezou o concílio Vaticano II e recuperou o Vaticano I e o de Trento.

João Paulo II transformou a Igreja católica num instrumento de luta contra a modernidade, o espírito liberal e a tolerância das modernas democracias. Tem sido particularmente feroz na América latina e autoritária e agressiva nos Estados onde o poder do Vaticano ainda conta, através de movimentos sectários de que Bento XVI foi herdeiro e protetor, se é que não esteve na sua génese.

A recente chegada ao poder de líderes políticos que explicitam publicamente a sua fé, em países com fortes tradições democráticas (EUA e Reino Unido), foi um estímulo para os clérigos e um perigo para a laicidade do Estado. Por outro lado, constituem um exemplo perverso para as populações saídas de velhas ditaduras (Portugal, Espanha, Polónia, Grécia, Croácia), facilmente disponíveis para outras sujeições.

A ingerência da religião no Estado deve ser vista, tal como a intromissão militar, a influência tribal ou as oligarquias, uma forma de despotismo que urge erradicar.

A competição religiosa voltou à Europa. As sotainas regressam. Os pregadores do ódio sobem aos púlpitos. A guerra religiosa é uma questão de tempo a que os Estados laicos têm de negar a oportunidade. Só o aprofundamento da laicidade nos pode salvar.

A laicidade defende a liberdade religiosa e a paz – Carlos Esperança – agosto, 19, 2005 (Ortografia atualizada)

17 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

A Religião Verdadeira e a verdade das religiões

O governo alemão proibiu, no ano passado, o grupo islamista Die Wahre Religion (“A Religião Verdadeira”), por pregar o ódio religioso e manter contactos com crentes que saíram para a Síria e Paquistão a fim de participarem na jihad.

Não há uma só religião que não se considere a única verdadeira, tal como o seu Deus, e falsas todas as outras e o deus de cada uma delas. Essa situação faz de todos os crentes ateus. Estes só consideram falsa mais uma religião e um deus mais. No fundo, somos todos ateus em relação aos deuses da mitologia, e os vindouros estudarão na mitologia os atuais.

O problema não está na falsidade das religiões, mas na sua nocividade, sempre que os crentes, convictos da vontade de um ser imaginário, são capazes das maiores crueldades para lhe agradarem. E nem a mentira mais tosca ou a mais primária superstição os inibe de as usarem como armas.

Em Itália, um padre católico, que deixou o papa Francisco com os cabelos eriçados, não se coibiu de atribuir os terramotos que têm fustigado a Itália, a castigo de Deus. Só não explicou se o alvará de padre lhe permite interpretar a vontade do deus dele e ir além da transformação da água vulgar em benta e de realizar o complexo processo alquímico da transubstanciação. Na sua demente superstição, ou maldade, deixou Deus mal colocado.

No estado em que o Islão se encontra, perante o fracasso da civilização que aniquilou as energias criativas, os facínoras de Deus usam a crença para todas as tropelias. Querem o Paraíso para todos os outros nem que, para isso, tenham de os matar. A bomba pode ser um método obsoleto, mas é eficaz na redução de infiéis.

Quando as religiões ultrapassam a pacífica transmissão das crenças e a prática litúrgica, deixam de ser um veículo para o Paraíso e tornam-se um perigo para a paz. Deixam de ser fé e passam a fezes que, por razões sanitárias, devem ser erradicadas.

16 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

Voltou o terrorismo católico.

Há quem se lembre do terror do Inferno que o clero tridentino salazarista e as beatas que ministravam a catequese infundiam às crianças, obrigadas a frequentar as igrejas e a fé por constrangimento social e medo da polícia e dos padres.

O que assusta é o ressurgimento da violência pia num país com uma Constituição laica e uma democracia estabilizada, onde os atropelos à liberdade religiosa são frequentes e as ameaças à sanidade mental têm a cumplicidade dos diretores das escolas, dos hospitais e de outros organismos do Estado.

O país está de novo a transformar-se em sacristia.

16 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

A alma, essa desconhecida – Reflexões de um ateu

A alma é um furúnculo etéreo que infeta o corpo dos crentes. É um vírus que sobrevive à morte do hospedeiro e migra para a morada perpétua que os clérigos lhe destinam.

A alma é um bem mobiliário sujeito a imposto canónico e que, à semelhança das ações de empresas, hoje também desmaterializadas, exige taxa de ‘gestão da carteira celestial’.

No mercado mobiliário as ações são transmissíveis e negociáveis. Representam avos do capital social das empresas. A sua clonagem é criminosa e leva o autor à prisão, exceto quando o Vaticano está envolvido e nega a sua extradição, como sucedeu ao arcebispo Marcinkus, que JP2 protegeu, após a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano.

Quanto à alma, há suspeitas de haver um número ilimitado em armazém, o que exaspera os clérigos, intermediários do negócio, com o planeamento familiar. Não se sabe bem se a alma vai no sémen, está no óvulo ou surge depois da cópula, um ato indecente para tão precioso e imaculado bem.

Os almófilos andam de joelhos e põem-se de rastos sem saber se a alma se esconde nas mitocôndrias, nas membranas celulares, no retículo endoplasmático ou no núcleo e nos cromossomas, sem nunca admitirem que seja o produto de reações enzimáticas.

Ignoram se já tem algum valor no ovo, no embrião em fase de mórula ou no blastocito. Juram que aparece no princípio, sem saberem bem quando e onde está o alfa, ou quando surge Deus a espreitar pelo buraco da fechadura e a lançar aos fluidos a alma que escapa ao entusiasmo de quem ama.

Após o aparecimento dos rudimentos da crista neural, só às 12 semanas o processo de gestação dá origem ao feto e falta provar que a alma, embora medíocre, se encontra nos anencéfalos, ou seja de qualidade a que resulta de violação ou incesto.

A alma é um produto da religião destilado por sacerdotes no alambique da fé, através de um processo alquímico.

15 de Novembro, 2019 Carlos Esperança

E Deus criou o Mundo…

Quando Deus era um anacoreta sombrio, farto de Paraíso e da solidão, matutou em seu pensamento apanhar o barro que, em dias de chuva, se colava às botas e lhe borrava a oficina.

Recolheu a argila, amassou-a e começou a dar-lhe forma. Percorreu-a com as mãos e moldou o boneco que a água do lago lhe refletia, nas raras vezes que tomava banho.

De vez em quando regressava ao lago para recordar a face. O corpo ia-o esculpindo a olhar para o seu, embevecido como todos os narcisos. Quando acabou, tal como fazia com outras peças, pressionou o indicador sobre a estátua e fez o umbigo.

Extasiado na contemplação, continuou a aperfeiçoar o corpo, deteve-se num empenho devoto no baixo ventre e, de tanto insistir, a estátua ganhou vida.

Estava feito o homem à imagem e semelhança do oleiro.

Como ocorre com artistas em início de carreira, Deus não sabia que tinha feito a obra da sua vida embora o pressentisse pela afinidade que lhe encontrava.

Foi então que resolveu retirar algum barro e, com o que lhe sobrara, fazer outro corpo, ainda mais belo, onde refletiu a geografia do Paraíso com vales acolhedores e montes suaves. Tinha criado a mulher e, sem o saber, dado início ao Mundo.

Então o velho cenobita, arrependido, desatou aos berros, praguejou, ameaçou e proibiu. Como tinha a paranoia das metáforas disse-lhes que não se aproximassem da árvore do conhecimento, isto é, um do outro, uma ordem que a natureza rebelde das criaturas não poderia acatar.

E, assim, de mau humor, enquanto expulsava Adão e Eva para a Terra, ficou a ruminar castigos, a congeminar torturas e medos para aterrorizar a humanidade. Demorou quatro mil anos – Deus é lento a refletir -, e mandou-lhes três religiões.

Moisés, Jesus e Maomé são os enviados de Deus que assustam a humanidade e o ganha-pão de parasitas que dividem o tempo a dar Graças, a ameaçar pecadores e a vender bilhetes para o Paraíso.