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9 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Salazar ou Cristo-Rei?

As pagelas que começaram a circular em Portugal no pós-guerra, guerra de que o Diabo terá sido responsável, atribuem à intervenção de Cristo a paz que imperou em Portugal, embora outras pagelas de igual proveniência a atribuam a Salazar.

Fosse de quem fosse o mérito, embora do primeiro se esperasse que tivesse evitado a guerra, o que admira são os títulos nobiliárquicos atribuídos pelo mais alto empregado de Deus, o cardeal Cerejeira, à família celeste.

Desde Cristo-Rei à Rainha dos Portugueses, esta a Senhora da Conceição, um de muitos heterónimos dados à mãe do primeiro, é de harmonia monárquica que se fala em plena ditadura, onde a Pide era mais expedita a manter a paz do que a família real celeste.

O comovedor pedido das criancinhas de Portugal, para que fosse erguido o monumento a Cristo-Rei, não surpreendeu quem as sabia pouco assíduas na escola, mas devotas da catequese. O que surpreende, ainda hoje, é o Cristo-Rei, vestido de Menino Jesus e com carácter reivindicativo, a afirmar categoricamente “Eu é que livrei Portugal da Guerra” e a exigir, de forma autoritária, pouco adequada à ternura que lhe está associada, “Quero o Monumento que Portugal me prometeu em troca”.

Esta linguagem parece mais própria do cardeal Cerejeira do que de crianças cuja oração, ‘indulgenciada com 100 dias’ pelo referido prelado, pedia à Senhora da Conceição, apelidada de Rainha dos Portugueses: “Fazei que Portugal erga depressa o Monumento a Cristo-Rei”, pressa que pode ter sido trágica para a estética, e reconfortante para a fé.

Ámen!

Birra do Menino Jesus
6 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

A coragem do Papa Francisco

Por

ONOFRE VARELA

No entendimento de um ateu, o Papa não faz falta alguma. Na lista das importâncias sociais, o Papa merece-me a designação de chefe de Estado, que é isso mesmo que ele é: chefe do Estado do Vaticano. Porém… o mundo não sou eu… o mundo somos todos nós!… A religião existe, e o chefe da Igreja Católica, maioritária entre nós, é o argentino Mário Bergóglio que adoptou o cognome de Francisco I para o desempenho do papel de Papa no Teatro do Vaticano (riquíssimo em cenários, adereços e guarda-roupa, com boa receita de bilheteira). 

A importância dos chefes das Igrejas tem peso no mundo, porque socialmente o construímos assim. Tempos houve em que os chefes políticos das nações eram também os chefes religiosos. Os homens fazem a História… e a História modela os homens. 

Se habitualmente os papas não passam de beatos autoritários, não merecendo qualquer respeito especial por parte de quem não é católico, com a escolha de Bergóglio para a cadeira de S. Pedro as coisas mudaram. Francisco I está no “top” porque teve a coragem de trocar a tradicional beatice papal pela Humanidade de cariz laico.

Um dos assuntos quentes da Igreja, de muito difícil tratamento, é a praga da pedofilia no seu seio, que inundou as páginas dos jornais e os noticiários de rádios e televisões. Velha como o tempo, a pedofilia praticada por sacerdotes sempre foi escamoteada. Os papas sabiam dela, mas encolhiam os ombros (se acaso também não a praticavam!…). Com Francisco I, mudou o paradigma.

Notícia de Dezembro de 2019 diz que Francisco I aboliu o segredo pontifício para os casos de abuso sexual por membros da Igreja, num decreto publicado pelo Vaticano no dia 17 de Dezembro. A nova lei, que entrou em vigor imediatamente, levanta o silêncio em relação às queixas, processos e decisões referentes a estes casos e promove o dever de a Igreja colaborar com a Justiça, fornecendo toda a documentação sobre processos e denúncias em curso às autoridades judiciais. O documento também agrava as regras relativas aos casos de abusos de menores, criminalizando “a aquisição, posse ou divulgação, com objectivo libidinoso, de imagens pornográficas de crianças menores de 18 anos, por um clérigo”.

Especialistas nas coisas que ao Vaticano dizem respeito, afirmam haver um lobby gay dentro da Igreja Católica que não gosta deste Papa por contrariar os seus prazeres. Junta-se a este grupo uma outra facção que faz a extrema-direita política do Vaticano e que rotula o Papa Francisco I de “comunista”. Se estes pudessem, destituíam-no já (ou matavam-no como, dizem as más línguas, fizeram a João Paulo I em 1978!), para acabarem com tal personagem desarranjador de arranjinhos!

A política internacional também está aliada ao movimento clerical clandestino contra Francisco I, incluindo Donald Trump nos conspiradores que querem ver no Vaticano uma personalidade mais de acordo com as políticas de Direita desrespeitadoras dos pobres e oprimidos que Mário Bergóglio pretende ver dignificados. 

Tudo em nome de Deus!

(Texto de Onofre Varela a sair na Gazeta de Paços de Ferreira, na edição de 6 de Fevereiro de 2020)


5 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Ziguezagueando sobre o Islão e a liberdade

Se perseguirmos os que divergem de nós abdicamos do respeito que exigimos. Temos o dever de proteger os islamitas da xenofobia que grassa na Europa onde a direita política começa a ter como única alternativa a extrema-direita, caucasiana, cristã e nacionalista.

A defesa dos crentes, de quaisquer crentes, não exige cumplicidade com as crenças que os intoxicam. Não faz parte da cultura humanista, que nos moldou, dar a face incólume à bofetada igual à que nos desfeiteou a outra.

Quando trocamos princípios por benefícios acabamos por perder uns e outros. Por mais que me esforce para entender uma religião que não se limita a impor normas aos crentes e quer impô-las aos outros, não o consigo.

A tradição, frequentemente invocada, remete-nos para usos erradicados pela civilização. Continuo a respeitar os crentes mas a ser intransigente para com todos os totalitarismos, seja qual for a sua natureza.

A libertação da mulher, o fim do esclavagismo, a abolição da tortura, a democracia, em suma, o respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos não se pode submeter à vontade de Deus interpretada pelos funcionários de quaisquer religiões.

As teocracias que florescem no Islão não permitem a liberdade de culto de outra religião e exigem que as mesquitas sejam erigidas na Europa pluriétnica. Impõem o respeito que negam aos outros. Não há respeito mútuo sem reciprocidade.

A mais boçal caricatura de uma sociedade civilizada é o Estado Islâmico e a perversão mais ousada do proselitismo encontra eco na organização Daesh, a nova Al-qaeda cuja derrota ameaça espalhá-la em células terroristas à escala planetária.

Quando a religião se transforma num caso de polícia, na ameaça global, no proselitismo boçal, o combate na defesa da civilização é uma exigência dos que recusam submeter-se ao despotismo de um monoteísmo implacável e criminoso.

3 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

A pagela n.º 71_2, capa e pág. 4 do desdobrável

Como disse no texto anterior, aqui fica a foto da capa e a da contracapa onde um bando de primatas espanhóis paramentados, com mitra, báculo e anelão, muitos com barrete cardinalício, teve direito à divulgação do decálogo de boas práticas da moral cristã, de 1957, sem se distraírem do entusiástico apoio ao fascismo e ao genocida Franco.

Aí ficam, em vernáculo, sábios princípios, divinos na forma e diabólicos na substância, dados à estampa pelo episcopado luso. Não darei a um bispo, português ou espanhol, o epíteto com que Camilo brindou Frei Gaspar da Encarnação, «uma santa besta», por ser o adjetivo injusto.   

2 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

A pagela n.º 71_1

Em 22 de junho de 1956 os bispos portugueses, reunidos em Fátima, 39 anos depois do maior embuste encenado em Portugal contra a República, já a acomodarem os segredos contra o comunismo, e ainda longe, após a implosão da URSS, de os afinarem contra o ateísmo, publicaram a pagela n.º 71.

Aquela cáfila paramentada, com recalcamentos sexuais e uma misoginia fertilizada nas ‘manhãs submersas’ de que falava Vergílio Ferreira, depois de despachado o breviário, reuniram-se para refletir e mandar divulgar pelos padres das paróquias a sã doutrina da Igreja católica e os bons costumes que a moral de empedernidos celibatários exigia.

Tal como haviam feito os homólogos espanhóis, os bispos publicaram códigos morais, sobretudo para mulheres, no que respeitava à cobertura do corpo, essa fonte de pecado que Eva deixara em herança, a todas as mulheres, depois de comer a maçã.

Em 1953 já este escriba fora fustigado com 4 sacramentos e estava a menos de um ano de dispensar os serviços pios desse exército de funcionários de Deus que exigiam à mulher o pudor que, sob a mitra, tais cabeças geraram três anos depois.

A pagela n.º 71, de 22-08-57, que me foi oferecida, é a relíquia pia que sinto obrigação de divulgar.

Já imaginaram a leitura, em todas as igrejas, por um exército de tonsurados, a exibirem os paramentos, enquanto ameaçavam as mulheres com as penas do Inferno cuja pintura das cores e imaginação dos horrores lhes cabia?

O cardeal Cerejeira, defensor da guerra colonial que designou por «defesa da civilização cristã e ocidental», há de ter presidido ao conclave que o recalcamento da líbido levou a tão pudicos e cristãos ensinamentos.

O bando de devassos, que só pensava em sexo, foi o sustentáculo da ditadura que moldou a Igreja para perpetuar o regime e o sofrimento inútil da mulher.

Maldita misoginia clerical!

A imagem, tal como as ideias dos bispos, sai-me sempre ao contrário

Apostila – Pg. 2 e 3. Amanhã publico a capa e a pg. 4, com as recomendações dos bispos espanhóis.

2 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Milagre

Há milagres mais inverosímeis
30 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

B16 não tem sorte

O Papa emérito nunca foi um homem de sorte. Teve de resignar ao lugar mais apetecível e não foi a primeira vez que foi vítima das aves de rapina.

B16 condenado ao insucesso
29 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

Estacionamento proibido

A polícia romana era implacável com os estacionamentos não permitidos como a gravura documenta.

27 de Janeiro, 2020 Carlos Esperança

A fé, a tirania e a violência

Quando o solípede Abraão quis sacrificar o filho para fazer a vontade ao seu deus criou um axioma que perdura: os tiranos têm sempre quem lhes obedeça.

Que outra forma há para explicar as casmurrices papais que encontram sempre legiões de câmaras de eco que as propagandeiam urbi et orbi?

Que justifica a existência de carrascos para darem cumprimento à sharia ? Quem criou os frades que rezavam alegremente enquanto as bruxas e os hereges eram grelhados nas santas fogueiras da Inquisição ?

Faltam, acaso, médicos que atestem a veracidade das burlas dos milagres obrados por um sistema de cunhas que envolve uma virgem, um defunto e a associação de intrujões?

As religiões são as multinacionais que mais tempo se mantêm no mercado sem renovar o stock dos produtos e os métodos da cautela premiada. Prometem o paraíso sem terem uma escritura válida nem o número de registo na conservatória do registo predial celeste e ameaçam com o Inferno, sem o localizarem no mapa imaginário da fé.

O clero é uma classe de vendedores de ilusões que obedece cegamente a uma hierarquia pouco recomendável. Do budismo ao cristianismo, do judaísmo ao islamismo, da bruxaria à quiromancia, a superstição e o medo são os motivos que levam os clientes a alimentar as mentiras pias e o fausto dos patrões da fé.