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13 de Abril, 2020 Carlos Esperança

COVID- 19 – Perigosos primatas paramentados em todos os credos

Há em todas as religiões trogloditas que, perdido o medo do Inferno, procuram fazer da Terra a réplica sonhada pela sua demência mística.

O rabino Chaim Kanievsky, o líder mais venerado da comunidade judia ultraortodoxa, mandou desobedecer às autoridades de saúde e manter abertas as sinagogas e escolas rabínicas, garantindo que o Talmude e o Pentateuco seriam a sua proteção. O número de infetados e mortos disparou, e a polícia e o exército de Israel cercaram os seus bairros e encerraram os locais pios.

O bispo do Porto, sr. Manuel Linda, o único primata mitrado português que desafiou as autoridades de saúde, o Governo e o PR, deslocou-se a Ovar, concelho sob cerco sanitário, a benzer um hospital de campanha para doentes infetados, a convite do edil autóctone, quando a bênção de uma instituição do estado laico é um ataque à laicidade e o padre local podia benzer tão bem, com água benta e incenso igualmente certificados.

No Brasil a IURD, através de Bolsonaro, o crente mais conhecido e idiota, quis manter os templos abertos, só cancelou os milagres porque exigem quórum para acontecerem.
Há, além destes trogloditas do judaísmo e cristianismo, os aiatolas que não se resignam com a interdição da ida a Meca onde o apedrejamento do Diabo é o ponto alto das suas peregrinações, onde morrem crentes sem notícia da mais leve escoriação do apedrejado.

Não é a fé que se condena, é o espírito medieval destes desalmados do Divino, da fauna embrutecida pelo breviário e leitura de livros da Idade do Bronze, capazes de sacrificar a vida dos fiéis para vincarem o poder de que se julgam ungidos, e a insensibilidade que os jejuns e os cilícios aprofundam.

Raios os partam!

12 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Hoje é a Páscoa dos cristãos

Todos somos ateus

Não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que Deus exista, nem qualquer sinal de vida da parte dele. No entanto, o ónus da prova cabe a quem afirma a sua existência e, sobretudo, a quem vive disso.

Cada religião considera falsas todas as outras e o deus de cada uma delas, afirmação em que certamente todas têm razão. Os ateus só consideram falsa uma religião mais e mais um deus, o que, no fundo, faz de todos ateus. E não é no sentido grego, em que ateu era o que acreditava nos deuses de uma cidade diferente, é no sentido comum da negação de Deus [com maiúscula para o deus abraâmico] ou de qualquer outro.

Todos somos hoje ateus em relação a Zeus, Osíris ou ao Boi Ápis, como amanhã outros serão em relação a Vishnu, Shiva e Brahma ou ao Pai, Filho e Espírito Santo da trindade cristã. Os deuses de hoje serão os mitos do futuro. Outros serão criados, por necessidade psicológica, para servirem de explicação, por defeito, a todas as dúvidas, e de lenitivo a todos os medos.

A morte, a angústia que desperta, o fim biológico de todos os seres vivos, é o maior dos medos. Deus é o mito bebido no berço, a esperança de outra vida para além da morte, a boia dos náufragos que se habituaram a acreditar desde crianças e se conformaram com a pueril explicação da catequese e se intimidaram com a dúvida. Os constrangimentos sociais ou/e a repressão violenta ao livre-pensamento tem perpetuado mitos milenares.

A crença, em si, não é um perigo nem ameaça, perigoso é o proselitismo, essa demência de quem não se contenta em ter um deus para si e exige que os outros também o adotem e o adorem. A vontade evangelizadora transforma as religiões em detonadoras do ódio e a competição entre elas em rastilho da violência.

A fé, vivida por cada um, é inócua; transformada em veículo coletivo de conquista ou aglutinação de povos, torna-se um instrumento de violência. É por isso que os Estados devem ser neutros, em matéria religiosa, para poderem garantir a liberdade de todos.

11 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Laicidade e laicismo

O padre Anselmo Borges, catedrático jubilado de Filosofia da FLUC, no último artigo semanal, no DN, (sábado p.p.) afirma que existe diferença entre laicidade e laicismo, defendendo a laicidade e condenando o laicismo.

Recorre, aliás, ao Dicionário de Língua Espanhola da Real Academia Espanhola, na sua última edição, que consagra a diferença, como fonte de prova para insistir num artifício semântico que serve a defesa dos privilégios de que a Igreja católica goza em Portugal, perguntando-se ainda se não haverá “uma deriva para confundir laicidade e laicismo”.

Se há deriva, como se verifica no Dicionário supracitado, é para dissolver o conceito de laicidade, consagrado constitucionalmente e torpedeado, na prática, pelo poder central e local, insistindo em exibir clérigos católicos nas cerimónias oficiais.

Não há laicismo mau e laicidade boa porque o laicismo defende a exclusão da influência da religião no estado, na cultura e na educação e tende a emancipar as instituições estatais do carácter religioso, postura que respeita as crenças, descrenças e anti crenças, e a laicidade é apenas o modo concreto da tradução e aplicação prática do laicismo.

A adjetivação da laicidade (positiva, reta, tolerante…) é um outro expediente, frequente, para capturar o laicismo, o conceito filosófico que a legitima.

Sem quebra do respeito e estima pessoal pelo Prof. Anselmo Borges, de quem sou leitor assíduo, abdicar do contraditório ao subterfúgio clerical que tem absolvido a assalto aos edifícios públicos pela iconografia católica, é renunciar à imposição da laicidade.

Abandonar a definição e a aplicação da laicidade aos membros do clero é como confiar aos ateus o ensino do catecismo e a administração dos sacramentos.

9 de Abril, 2020 Carlos Esperança

COVID-19 – Onde estava a polícia?

O bispo do Porto, sr. Manuel Linda, veículo litúrgico em rota de colisão com o Papa e a democracia, foi quem disse que só cancelava a missa comemorativa da eleição do Papa com “intervenção do Estado”. Dececionado pelo silêncio do Estado, pendurou o báculo, guardou a mitra e, à última hora, cancelou a missa, como o Papa e a CEP indicavam.

O autarca de Ovar, o Marta Soares da 2.ª divisão, incentivou o Carnaval no concelho e violou o sigilo sobre o cerco sanitário, avisando no FB, horas antes, o início da decisão, o que levou à fuga de vários munícipes com eventuais infetados a darem início a novas cadeias de transmissão.

O bispo e o autarca são uma parelha de solípedes à solta, a escoicearem o estado de emergência decretado pelo PR e a porem em risco a saúde pública.

9 de Abril, 2020 Carlos Esperança

A senhora Lúcia e a invenção de Fátima

De acordo com os interrogatórios feitos a Lúcia depois do «bailado do sol» de 13 de outubro de 1917, surgiu «Nossa Senhora vestida de branco» sobre a azinheira e, como de costume, depois de um relâmpago. Comunicou-lhe [Nossa Senhora] que deviam rezar o terço em sua homenagem e rogou-lhe que não a ofendessem mais, [quem?].

Entre o pedido de uma «capelinha» no local e informação sobre o regresso dos militares que combatiam na guerra, anunciou-lhes que a guerra acabava naquele dia, o que prova que era escassa a informação e de pouca confiança os informadores de ‘Nossa Senhora’.

Lúcia revelou ainda que, logo após o desaparecimento da visão, que a Igreja católica, ao longo dos anos, converteria em ‘aparição’, olhou para o Sol e viu «S. José vestido de branco», o ‘Menino Jesus vestido d’encarnado’ e ‘Nosso Senhor da cintura para cima’.

Os dados referidos, que constam da pág. 49 do livro «O Sol Bailou ao Meio-Dia», do historiador Luís Filipe Torgal, deixam-nos perplexos. Isto de o Menino Jesus vestir de determinada cor e ‘Nosso Senhor da cintura para cima’, para além de não se saber se alguma nuvem vestiu Nosso Senhor da cintura para baixo ou se, perante as crianças, se esqueceu de cobrir as partes pudendas, leva-nos a concluir que Nosso Senhor apareceu em criança, como Menino Jesus, e em adulto, como Nosso Senhor.

Recordei a guia italiana a quem um turista perguntou de quem era o esqueleto pequeno, dependurado junto de outro, grande, de um santo de vasto prestígio, orgulho da cidade e do museu pio visitado, respondendo logo que era do mesmo santo, em criança.

8 de Abril, 2020 Carlos Esperança

As divergências entre a Irmã Lúcia e a estilista Mary Quant

Lúcia nasceu em 1907, Mary Quant em 1934. Ambas tiveram visões. Uma viu espíritos; a outra, corpos. A primeira dedicou-se à oração e à clausura, a segunda à criatividade e ao trabalho. Lúcia queria as mulheres com o corpo escondido, Mary com ele exposto. A primeira exaltou a fé, a segunda a alegria. No Carmelo usa-se o cilício para castigar o corpo; fora, o corpo busca a felicidade e rejeita interditos.

Não se sabe quantas almas Lúcia afastou do Inferno, onde viajou em vida, mas sabe-se que milhões de mulheres foram felizes, na apoteose da beleza, atraídas pela feliz criação da estilista, a minissaia.

De um lado a flagelação do corpo, para salvar a alma; do outro, a glorificação da vida.

A Senhora de Fátima disse à Lúcia para aprender a ler, talvez para a preparar para o magistério pio de que é exemplo a carta a Marcelo Caetano, que abaixo menciono. A vidente das Carmelitas Descalças, em Coimbra, crítica da moda feminina, escreveu, em 24 de fevereiro de 1971, ao Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, implorando medidas legislativas sobre as vestes femininas:

«…não seja permitido vestir igual aos homens, nem vestidos transparentes, nem curtos acima do joelho, nem decotes a baixo mais de três centímetros da clavícula. A transgressão dessas leis deve ser punida com multas, tanto para as nacionais como para as estrangeiras».

(In Arquivos Marcelo Caetano, citados em Os Espanhóis e Portugal de J.F. Antunes Ed. Oficina do Livro)

Até aprendeu o que era a clavícula, guiada pela Virgem nos caminhos da estética! Foi pena a estilista não ter sido solicitada para desenhar os hábitos das carmelitas. Quem sabe se não teria dado um contributo para atrair vocações, superior ao das orações.

7 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Crimes em nome de Deus

As religiões, ao longo da História, destruíram impérios, devastaram povos e desenharam fronteiras. A fé arruinou nações, impediu a liberdade e esmagou a felicidade dos povos. Deus foi pretexto para destruir inimigos e cometer crimes hediondos, com o álibi de lhe satisfazer a vontade.

Deus está, de facto, para azar dos homens, em toda a parte. O deus mais verdadeiro é o que tiver mais devotos, armas e fanatismo a seu favor. Sempre que deus está em alta, a liberdade estiola; quando os homens adoram o seu deus, odeiam os alheios. Os crentes rogam-lhe favores com o mesmo fervor com que acalentam o ódio ao deus dos outros.

É por isso que a democracia fenece onde a religião floresce, a liberdade mingua onde a fé prolifera e o progresso estiola onde a piedade medra.

Não há democracia onde a religião domina o aparelho de Estado. Os direitos humanos não são respeitados onde o poder temporal e o religioso se confundem. Foi na base da separação de poderes e, sobretudo, na separação da Igreja e do Estado, que os modernos Estados de direito se construíram. Foi a laicidade que permitiu o pluralismo ideológico, refreando a vocação totalitária das religiões.

Quando parecia que o Estado laico se tornara paradigma das nações civilizadas, quando o multiculturalismo se convertera em modelo de convivência cívica e os preconceitos étnicos e culturais pareciam vencidos pela instrução, inteligência e sensibilidade dos povos civilizados, os demónios totalitários acordaram ao som das orações, fortalecidos com jejuns, pregações e penitências, trocando o cosmopolitismo pelo comunitarismo.

A Holanda, a doce Holanda, era um exemplo de convivência cívica entre etnias diversas e diferentes culturas, um oásis de tolerância entre distintas opções políticas e religiosas. Em 2003 entrou em choque, quando Pim Fortuyn, um político da direita populista foi assassinado. Depois, o homicídio do cineasta Theo Van Gogh, após a denúncia que fez da forma como o Islão trata as mulheres, e dos requintes de crueldade com que o tratou esse fanático, entrou em declínio a tolerância holandesa. Até hoje.

Incendeiam-se os templos e a opinião pública, e o racismo e a xenofobia crescem. A extrema-direita, que vive da intolerância, explora frustrações, instila o medo, manipula paixões e acicata ódios. A hostilidade aos estrangeiros desenvolveu-se. A fé das pessoas cultas e civilizadas nas sociedades multiculturais vacila. O fascismo islâmico rejubila com a intolerância de que é alvo. As religiões precisam de mártires. Os deuses querem sacrifícios. Os templos tornam-se quartéis que incitam soldados à guerra santa, e entram em desvario prosélito. A religião tem de ser contida, os Direitos Humanos defendidos, a igualdade entre os sexos exigida. A democracia precisa de ser defendida. Urge conter a fé que corrompe, intimida e mata.

Os três últimos lustros acordaram o mundo árabe, no ocaso da sua civilização falhada, para uma vingança cega que a demente invasão do Iraque, em 2003, e a obstinação do expansionismo sionista estimulam.

Desde então, não param de surgir devotos inebriados pelo martírio, em busca de virgens e rios de mel, na vertigem sangrenta que procura extinguir os infiéis do seu deus para garantirem a verdade e as delícias de uma vida para além da que tão cedo prescindem.

E não existe antídoto adequado na civilização que herdámos e nos cabe defender!

5 de Abril, 2020 Carlos Esperança

A ingenuidade do padre Pedro Coutinho e um vírus de carne e osso

Há estórias sem história, um padre inocente que se deixa infetar por um vírus de carne e osso, um fascista que pediu a demissão do partido de que é deputado, sem usar a palavra irrevogável, e tendo para o adjetivo o dicionário de Paulo Portas.

O padre Pedro Coutinho é amigo do assessor do Chega e presidente do Partido Pró-Vida (PPV). Quando este lhe telefonou a perguntar as carências e recebeu, depois, a dádiva, não sabia que posaria para fotografias a segurar leite e fraldas para incontinência com o líder do partido nazi.

Não imaginei que fossem de coisas políticas. Fiquei chateado” – disse o ingénuo padre ao saber-se que a versão masculina e laica da Dr.ª Isabel Jonet lhe apareceu com luzidia comitiva em campanha política.

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/padre-de-oeiras-diz-se-enganado-pelo-chega-de-andre-ventura
3 de Abril, 2020 Carlos Esperança

COVID- 19