ONTEM FOI NOITE DE PRÓS E CONTRAS.
Ao nosso lado direito, falaram os entendidos celibatários.
Ao nosso lado esquerdo, falaram os desentendidos casados.
Como o tema era sobre a possibilidade ou não, da Igreja católica abrir mão da imposição do celibato aos seus profissionais de carreira, ouvimos os sábios dizerem coisas baralhando as coisas.
É certo que o Zé povinho engole qualquer isco bem aromatizado e vimos provas disso na plateia.
Não imagino o percentual das pessoas que do lado de cá não conhecem o significado da palavra “celibato”, não é nem mais nem menos que (o estado de uma pessoa que se mantém solteira sem a obrigação de manter a virgindade, podendo ter relações sexuais. No entanto, o termo é popularmente usado para descrever uma pessoa que escolhe abster-se de actividades sexuais). (Fonte Wikipédia).
Sendo assim e eu por mim penso, foi uma ideia genial para livrar os clérigos das garras das esposas e das heranças. Papas famosos souberam bem os problemas que as suas mulheres e seus filhos lhes causaram. Bom, isso seria outro tema.
Agora sou eu que penso (porque a constituição dá-me este direito) mas não afirmo: Estou em crer que os celibatários de ontem já deram ou ainda dão as suas valentes quecas e por que penso assim?! Porque eles sabem demais sobre como se devem comportar os seres humanos sobre as práticas sexuais, sobre os benefícios do casamento, sobre os valores de família, sobre como educar filhos e etc..
Se pensei errado à primeira poderei estar certo à segunda. Dou duas dicas sobre a opção celibatária: Falta de apetite sexual; Disfunção eréctil. (Está no dicionário).
Outro ponto foi a questão da homossexualidade e se esta, tal como alguém afirmou, continua esperando resultados vindos da ciência para ser homologada pela religião. Ciência dos laboratórios do Vaticano?
Do outro lado ouvi que Ratzinger tinha escrito antes de ser nomeado Papa que o celibato teria de ser discutido… e por aí adiante. Pergunto: Essa prosa é para ser lida no sentido literal ou para ler nas entrelinhas tal como dizem que deve ser lida a bíblia?! Hum, cheira-me a arroz esturrado.
Também do mesmo lado ouvi dizer que Deus enviou o seu filho feito homem à Terra para ver o comportamento do homem e lhe ensinar o bom caminho (mais ou menos isto). Afinal este Deus não é tão transcendental como sempre apregoaram! Ensinaram-me na catequese que ele estava em todo o lado e sempre vigilante. Continuo convicto que sempre me mentiram pois até me garantiram que Deus escolheu uma mulher casada e virgem para a fecundar. Ora bolas, com tanta mulher pedindo sofrendo por um filho, porque não recaiu a escolha numa destas infelizes?! Talvez porque no céu também existe casino e não passou de um jogo de roleta.
O meu conselho é: Vá directo ao proprietário e não ao intermediário. Se não o encontrar é porque o negócio é falso.
Que Deus existe, parece não restarem grandes dúvidas. Isto a julgar pelas quase quotidianas manifestações de demência religiosa, passe o pleonasmo. Claro que Deus não será o culpado de todas as manifestações demenciais, mas que ajuda bastante parece não restar a menor dúvida. Do mesmo modo que não duvido de que sem Deus haveria menos, muito menos, dementes.
Nos inefáveis Estados Unidos da América, uma mulher, como se não bastasse a aproximação da crise da meia-idade ainda deixou que Deus lhe invadisse o que lhe restava de inteligência. Vai daí, para agradar ao “senhor”, e num plágio foleiro da estória de Abraão, matou a própria filha, de dois anos de idade.
Presume-se que o anjo que ordenou a Abraão que suspendesse a execução de seu filho Isaque estivesse ausente em merecidas férias, ou se tenha distraído; o que é certo é que, contrariamente ao que aconteceu com Abraão, não apareceu ninguém a ordenar a Kimberly que suspendesse a execução. Isso mesmo, aliás, escreveu a devota senhora no seu computador.
Quanto à mãe, parece que tentou o suicídio mas, pelos vistos, Deus não quis.
Mas vale a pena ler o final da notícia: “Em uma nota que a igreja publicou na internet, Brown pediu orações à família de Elliana e disse que a menina “agora é o anjinho mais doce de uma grande nuvem” onde de lá conforta a todos aqui da Terra.
Dizendo assim, até parece que, ao menos para a pastora, valeu a pena a menina ter sido assassinada, para que se tornasse um anjinho.” Fim de citação.
Quando acontece algo de maravilhoso e sem explicação lógica e/ou científica, o mais natural é os crentes berrarem por “milagre!”. Os ateus contrapõem que milagres não existem, e que tudo há-de ter uma explicação, o problema é encontrá-la. Ora, já aqui foi dito, não por mim, evidentemente, que a obra de Deus não é, não pode ser, verificável cientificamente, já que a própria existência de Deus não é verificável.
Hoje, finalmente, rendi-me à evidência: os milagres divinos não são, não podem ser explicáveis. Aliás, e no caso concreto, o próprio miraculado não logrou explicar o milagre; e a própria justiça rendeu-se à evidência, mandando arquivar o processo que, ignominiosamente, foi levantado.
E ainda bem que houve arquivamento. Ninguém tem o direito de sondar os desígnios divinos. Infelizmente, porém, e ao que parece, o Ministério Público, certamente constituído por ateus, vai recorrer.
De qualquer modo, já sabemos quem vai herdar não só os milhões, mas também os imóveis…
As bênçãos de Deus são infinitas. Tal como um ficheiro pode ser copiado sem gastar o original, também uns podem ser abençoados sem que se desabençoem terceiros. Nesta economia da abundância seria de esperar que não houvesse problemas em partilhar bênçãos e ficheiros. Mas há. Porque há direitos exclusivos de distribuição. Por violar o contrato de exclusividade que Deus terá celebrado com a Igreja Católica há dois mil anos, Martha Heizer foi excomungada pelo Jorge Bergoglio, o gestor de direitos e representante exclusivo do Criador do Universo.
Segundo relata o João Silveira, «O caso Heizer eclodiu em 2011, quando a professora de religião em Innsbruck (Áustria), decidiu desafiar o Vaticano sobre a questão da ordenação de mulheres, anunciando a sua intenção de celebrar a Eucaristia em sua casa, em Absam, uma pequena cidade perto de Innsbruck.»(1) A usurpação dos direitos de distribuição de bênçãos e comunhões «é considerada pela a Igreja como “delicta graviora”, tal como a pedofilia e os crimes contra a Penitência.» É de notar, no entanto, que aqui o João Silveira exagerou um pouco. Obviamente, o crime de uma mulher celebrar missa não está ao nível do crime de um padre violar crianças. São delitos graves, mas não são a mesma coisa. É por isso que nenhum padre foi ainda excomungado por abusar sexualmente de menores.
Heizer é «co-fundadora e presidente da “Wir sind Kirche” (Nós Somos Igreja)», um grupo de católicos que defende «o sacerdócio feminino, além de uma maior democracia, a abolição do celibato dos sacerdotes e a adequação da moralidade sexual aos costumes modernos» Estas ideias são tão estranhas – democracia, igualdade e uma atitude moral com menos de cem anos – que o grupo só conseguiu reunir quinhentas mil assinaturas na Áustria e um milhão e oitocentas mil na Alemanha. Claramente, Bergoglio devia seguir os conselhos de Lilian Ferreira da Silva, que comenta assim no post: «É importante que sejam excomungados todos os que assim procedem e todos os que se sentem atraídos por tais tendências.» (2) Eu diria que era bom excomungarem não só essa gente mas também todos os católicos que usam contraceptivos, todos os que não vão regularmente à missa e todos que não considerem dever obediência total ao Papa. Não só expurgavam os hereges como ficávamos com uma ideia mais correcta da verdadeira importância que o catolicismo tem na Europa. Infelizmente, a Igreja é muito parca na excomunhão. Nem a mim excomungam, que só sou oficialmente católico por me terem baptizado mal nasci. Mas também, verdade seja dita, eu só nego a existência de Deus, ridicularizo o Espírito Santo e critico a Igreja post sim, post não. Nunca cheguei ao delito extremo de ser mulher e celebrar missa.
O João Pedro BM explica assim a gravidade do crime desta senhora, e o porquê da Igreja Católica não poder ordenar mulheres: «Cristo nao ordenou mulheres, também nao o fará a Igreja que Cristo fundou.» É uma hipótese interessante mas tem algumas falhas. Por exemplo, Cristo também não ordenou sul-americanos nem pessoas que não fossem judeus de nascença. Talvez, à cautela, fosse melhor excomungar também o Jorge Bergoglio e quaisquer outros sacerdotes que não tenham nascido judeus na palestina ocupada pelo império romano. Afinal, foi só entre esses que Jesus escolheu os seus apóstolos.
Também achei interessante, e reveladora, a solução que vários católicos propuseram para as reivindicações do grupo “Nós somos Igreja”. A Teresa Chaves, por exemplo, escreveu que «Se “Nos somos Igreja” tem uma visão diferente da doutrina católica, criem uma nova religião e deixem os cristãos em paz!» Esta proposta demonstra um enorme progresso na mentalidade católica. Antigamente, a atitude seria a de que os hereges mereceriam a morte por estar em jogo almas imortais e a vontade divina. Agora já admitem, ainda que implicitamente, que as religiões são meras invenções humanas e que quem não estiver satisfeito com uma que invente outra.
É curioso descobrir uma analogia tão forte entre dois assuntos que me têm interessado tanto e que, até agora, me pareciam completamente diferentes. Mas, no fundo, a legitimidade da doutrina católica tem tanto que ver com a vontade de Deus como o copyright do Rato Mickey tem que ver com incentivar o Walt Disney a desenhar mais bonecos. O que se passa aqui é simplesmente o esforço por parte de um grupo influente em controlar a distribuição de bens que são trivialmente duplicáveis e transmissíveis. Seja ficheiros, seja missas, o problema nesta economia não é a escassez mas apenas a ganância dos intermediários.
1- Senza Pagare, Papa Francisco excomungou a fundadora do “Nós Somos Igreja”
2- Nos comentários ao post: Papa Francisco excomungou a fundadora do “Nós Somos Igreja”
Também no Que Treta!
Poderíamos ter mais animais na face da Terra não fosse o Noé tê-las queimado evitando que se reproduzissem para garantirem as espécies.
A ICAR marcou indelevelmente a sociedade portuguesa cujo atraso é, em boa parte, obra sua. Já Antero de Quental definiu de forma notável as «Causas de decadência dos povos peninsulares», decadência se acentua de novo na faixa mais ocidental.
JP2 ao pedir a Cristo «que não abandone o Homem» estava convencido de que a cunha subserviente era útil ou comportou-se com hipocrisia para se dar ares de uma influência que não tinha, para impressionar os fregueses espalhados pelo mundo? No pedido, JP2 resolveu informar JC de que a humanidade precisava dele. No seu peculiar jargão disse «Recordai-vos de nós, Filho eterno de Deus. A humanidade inteira, marcada por tantas provas e dificuldades, necessita de Ti».
Ou Jesus Cristo não sabia disso, e precisava de que o Papa o lembrasse, ou sabia, e não o levava a sério. Para os ateus é ponto assente que um defunto não vê, não ouve, não sente e, sobretudo, não aceita cunhas.
Mas o mais surpreendente foi o pedido à entidade patronal para as igrejas do Oriente e Ocidente e os seus líderes, «para que a luz que receberam, a comuniquem com liberdade e com valor a todas as criaturas». Este ato, da autoria de um concorrente do mercado das almas, só podia ser encarado como atitude de profundo cinismo e de fingimento de uma bondade que dois mil anos de proselitismo desmentem.
Os apelos à paz e os pedidos pelos doentes, crianças da rua e outros desgraçados bem sabia JP2 e o seu séquito que eram inúteis e não se resolviam com orações ou apelos públicos a JC, durante a missa, apesar dos meios técnicos usados, incluindo telefones de última geração que, pela primeira vez, transmitiam a Missa do Galo.
JP2 devia lembrar-se de que, segundo a sua superstição, Deus faria melhor em evitar as desgraças do que esperar que o Papa lhe pedisse para as tornar menos obscenas. Evitava o espetáculo deprimente de enganar os simples com promessas que não podia cumprir, pedidos a quem não ouvia e a criação de expectativas vãs a quem já tinha do sofrimento um razoável quinhão.
O resto eram as habituais lamúrias pela proteção da vida, desde a conceção, a obsessão doentia de quem ignorava a explosão demográfica que ameaça o Planeta e sabia que quanto maior fosse a miséria mais a devoção se acentuaria.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.