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30 de Junho, 2014 Ludwig Krippahl

Treta da semana (passada): ciência criacionista.

A “Enciclopédia de Ciência da Criação” define que: «Um cientista criacionista contemporâneo é uma pessoa que está formalmente treinada em uma disciplina científica, mas que aborda um campo de estudo e/ou de pesquisa a partir da crença de que o universo foi criado por Deus.»(1). Ironicamente, a tentativa de dar ao criacionismo a aparência de ser científico acaba apenas por expor a treta. Mais importante ainda, porque o criacionismo por cá é ainda uma anomalia minoritária, isto ilustra também a inconsistência fundamental entre qualquer religião e a ciência.

O objectivo da ciência é moldar as nossas crenças à realidade. Não é um processo infalível nem acabado mas tende a melhorar gradualmente o encaixe entre aquilo que julgamos ser e aquilo que realmente é. Para esse fim, não se pode, por exemplo, abordar a geologia a partir da crença de que a Terra é plana ou a astronomia a partir da crença de que a Lua é feita de queijo. Seja qual for a crença ou problema, não é científico comprometer-se à partida com uma crença, de forma firme e persistente, porque o que se quer com a ciência é explorar as possibilidades e procurar as crenças que melhor correspondam aos dados que se vão acumulando. Para isso exige-se uma atitude céptica no sentido de adoptar ou rejeitar crenças sempre conforme o peso das evidências e nunca por vontade pessoal. O que é exactamente o contrário da crença religiosa, carente de fé e apregoada como resultando do exercício da vontade livre do crente.

Esta diferença é evidente em vários trechos da enciclopédia criacionista. O artigo sobre “Cosmologia criacionista” explica que «A idade do universo estimada atualmente está muito além do que um cientista criacionista típico aceitaria. Em resposta, muitas cosmologias criacionistas de universo jovem têm sido propostas para discutir a questão da idade»(2). É consensual na cosmologia que o universo tem quase catorze mil milhões de anos. Este valor já foi revisto várias vezes, porque valores anteriores revelaram-se incompatíveis com a informação que se ia obtendo, mas a ciência progride precisamente por encontrar alternativas que se ajustam melhor aos dados. O “cientista” criacionista faz o contrário. Primeiro decide em que hipóteses acredita «a partir da crença de que o universo foi criado por Deus» e depois limita-se a escolher as evidências que forem mais favoráveis a essas crenças.

Noutro exemplo, «Criação biológica é basicamente o estudo dos sistemas biológicos, enquanto acontecem sob a suposição de que Deus criou vida na Terra. A disciplina é estabelecida sob a idéia de que Deus criou um número finito de discretos espécies criadas»(3). Quando se usa a ciência para estudar algo não se pode estabelecer disciplinas “sob ideias” pré-concebidas nem fixar qualquer suposição. Afinal, o objectivo é perceber o que se passa e não cultivar preconceitos. Por isso, o tal “criacionismo científico” não é ciência mas apenas uma de muitas aldrabices que abusam da ciência para fazer parecer que a sua doutrina tem fundamento.

Se bem que muitos crentes concordem com este juízo acerca do criacionismo, porque rejeitam a interpretação literal dos escritos religiosos, normalmente recusam-se a reconhecer que este conflito entre religião e ciência não depende dessa interpretação literal nem é evitável enquanto a religião professar a fé em alegações acerca da realidade. Quer leiam a Bíblia à letra quer a leiam como metáfora, a fé firme na «crença de que o universo foi criado por Deus» torna-os todos criacionistas e põe-nos todos em contradição com a ciência. Nem é só pelos indícios, cada vez mais fortes, de que o universo não foi criado com inteligência nem há ninguém encarregue disto tudo que se rale minimamente com o que nos acontece ou com o que fazemos. É, principalmente, porque a ciência exige que se trate todas as crenças como equivalentes à partida e se faça distinção entre elas apenas pelo que objectivamente revelam corresponder à realidade. Isto é incompatível com qualquer fé, dogmatismo ou crença pré-concebida da qual não se queira abdicar.

1- Enciclopédia de Ciência da Criação, Cientista criacionista
2- Enciclopédia de Ciência da Criação, Cosmologia criacionista
3- Enciclopédia de Ciência da Criação, Criação

Em simultâneo no Que Treta!

22 de Junho, 2014 José Moreira

Será um sinal?

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O novo rei de Espanha, Filipe VI prometeu, entre outras coisas, uma “monarquia moderna”. Embora isso me cheire a paradoxo, assim uma espécie de gigante pequenino ou preto claro, há sempre a esperança de que um rei jovem traga alguns sinais de modernidade quando se inicia uma nova etapa, assim uma espécie de “evolução na continuidade”, onde foi que já ouvi isto?

Afinal, parece que não se trata, apenas, de simples promessa de circunstância. O insuspeito “Jornal de Notícias” dá conta de que a cerimónia de proclamação não teve qualquer cerimónia religiosa o que, no entanto, não impediu os bispos de pedir aos espanhóis  que rezassem pelo novo rei, numa espécie de postura em bicos de pés sem que, no entanto, se vislumbre qualquer utilidade nas orações.

Ou seja, Filipe VI absteve-se de benzeduras o que, queiramos ou não, é de bom augúrio, relativamente ao  caminho que parece querer seguir quanto à questão de galhos e macacos.  Mas será que os macacos alguma vez saberão quais são os respectivos galhos?

21 de Junho, 2014 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) – o 1.º Encontro

Assunto:Jornal de Coimbra 31/12/03

 quarta-feira, 31 de Dezembro de 2003
“Vale mais um primeiro almoço do que a última ceia”

“Vale mais um primeiro almoço do que a última ceia”, foi esta a frase que serviu de mote ao primeiro encontro nacional de ateus, realizado no passado sábado (dia 27), no Hotel D. Luís, em Coimbra. Uma reunião, fruto de debates entre membros da lista de discussão da página da internet dedicada ao ateísmo, na qual estiveram presentes a Associação Ateísta Portuguesa e a Associação República e Laicidade. Cerca de duas dezenas de ateus estiveram juntos para discutir, entre outros assuntos, os privilégios que são dados aos católicos. Para Onofre Varela, da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), “Deus é um factor e um conceito social, que só habita dentro das mentes dos crentes, pois fora destas cabeças não existe Deus nenhum”. A AAP existe há cinco anos, tem cerca de 40 membros e “está agora numa altura de crescimento e elaboração de estatutos”, referiu Onofre Varela, continuando: “As sociedades têm sido construídas pelas religiões, mas deviam ser antes de mais sociedades humanas. A igreja propagandeia valores, como por exemplo a fraternidade, mas não os pratica. Os ateus praticam, mas não propagandeiam”.

Por sua vez, a Associação República e Laicidade (ARL) existe desde Fevereiro do presente ano e tem, à semelhança da AAP, cerca de 40 membros. Segundo Ricardo Alves, da ARL, “o importante é não haver discriminações nem privilégios e queremos acima de tudo a separação de poderes”, sublinhando a importância da existência de uma sociedade onde cada um tenha a liberdade de escolher.

Em opinião expressa ao JC, Carlos Esperança, da comissão organizadora, defendeu que “os católicos são católicos de fachada, ao passo que os ateus têm tendência de ser cada vez mais praticantes. O culto sobrevive mais por uma questão de interesses”. Porque “a religião não é um mal necessário nem deus uma desgraça inevitável” e mais importante que “os mandamentos da lei de Deus, é a Declaração dos Direitos do Homem. Mais honrosa que a virgindade de Maria é a dignidade da mulher. Mais justos que Deus são os homens na sua progressiva marcha para a eliminação de qualquer forma de discriminação. O ateísmo não manda queimar livros, nem pessoas, não proíbe, nem condena, mas não renuncia ao combate pela liberdade”, realçou.

Este primeiro encontro, cuja data foi escolhida ao acaso, pois “nada temos a ver com dois mil anos de um nascimento qualquer, é apenas um ponto de partida para uma longa caminhada contra o obscurantismo. Outros se seguirão”, garantiu Carlos Esperança.

Carla Martins

20 de Junho, 2014 Luís Grave Rodrigues

Teologia

16 de Junho, 2014 Luís Grave Rodrigues

Wanted!

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16 de Junho, 2014 Luís Grave Rodrigues

O “Argumento Ontológico”

O “Argumento Ontológico” é, de facto, um curioso jogo de palavras capaz de nos entreter por quase meio minuto.
Contudo, e paradoxalmente, tem sido um dos argumentos mais utilizados tanto por teístas como por deístas para “demonstrar” a existência de Deus.
Ou seja, como se para os crentes a existência de Deus dependesse da capacidade lúdica de… um jogo de palavras.

Eis o “Argumento Ontológico”, formulado por Santo Anselmo de Cantuária em 1078:
1 – É possível conceber (mesmo para um ateu) um ser sobre o qual nada de melhor possa ser concebido, ou seja, um ser maior que o qual não se pode conceber outro ser;
2 – Um ser que não exista no mundo real é, exatamente por esse motivo, menos que perfeito;
Logo,
3 – Deus existe!

E eis a refutação do “Argumento Ontológico”:
1 – A criação do mundo é a realização mais maravilhosa que se pode imaginar;
2 – O mérito de uma realização é o produto:
a) Da sua qualidade intrínseca;
b) Da capacidade do seu criador.
3 – Quanto maior é a incapacidade (ou desvantagem) do criador mais impressionante e fantástica é a sua realização;
4 – A desvantagem mais formidável para um criador seria a sua própria inexistência;
5 – Portanto, se supusermos que o Universo é o produto de um criador existente, podemos conceber um ser ainda maior – precisamente o ser que criou todas as coisas sendo inexistente;
6 – Um Deus existente, portanto, não seria um ser maior que o qual não se pode conceber outro ser, porque um criador ainda mais formidável e incrível seria um Deus que não existe;
Logo,
7 – Deus não existe!!!