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7 de Outubro, 2014 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” (2/5)

Crónica Ateísta de

Onofre Varela 

O que é a Verdade?

Espero que os leitores não vejam no título genérico desta rubrica uma provocação à sua fé, nem entendam que uso uma frase religiosa fora do contexto bíblico. As considerações de um ateu estão inseridas no contexto da Bíblia, porque um ateu é um crítico do conceito de Deus.

Logo, assuntos como a Bíblia, os Evangelhos, outros textos religiosos, históricos, científicos e filosóficos, mais os discursos de papas, bispos e sacerdotes, são o material das suas reflexões.

Escolhi a frase evangélica “Em Verdade vos digo”, referida por Marcos e Lucas, com a intenção de dizer o mesmo que Jesus Cristo (JC) pretendeu dizer quando a proferiu (a crer nos evangelistas). Era intenção de JC sublinhar a Boa Nova que apregoava, na contradição de textos e conceitos que os judeus aceitavam por verdade, ou de outros
que não relevavam como deviam. “Em Verdade vos digo” foi o modo encontrado por JC (ou que os evangelistas colocaram na sua boca) para reafirmar frases sábias inseridas no Levítico, como, por exemplo, “Ama o próximo como a ti mesmo”, que JC via sempre tão esquecida nas atitudes dos sacerdotes que se pretendiam modelos de comportamento. Do mesmo modo eu pretendo chamar a atenção dos religiosos de mente fechada a outras interpretações, para o facto de haver quem pense de outro modo com a mesma legitimidade que reivindicam para si. Note-se que a Verdade de algo é a sua essência, e esta raramente é consensual.

“A verdade é só uma”, diz o Povo, mas cada um tem a sua!… e nas religiões as verdades multiplicam-se. Os quatro evangelistas têm, cada um, a sua verdade para JC! É neste contexto de a Verdade não ser una, que os ateus defendem a sua, desde os tempos da Antiga Grécia.

O Ateísmo é uma filosofia que nega a existência real e concreta de uma divindade por não haver prova da sua existência, e não especula sobre a sobrenaturalidade. O ateu entende que Deus é um conceito, vive muito bem sem ele e assume-se responsável pelos seus actos, dá valor à sua vida e à dos outros, cultiva a Razão, a amizade e a entreajuda, e confia no método científico para construir modelos da realidade, rejeitando a fantasia da vida para além da morte.

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

3 de Outubro, 2014 Luís Grave Rodrigues

Teologia

1 de Outubro, 2014 Ludwig Krippahl

Treta da semana (passada): a careca é uma cor de cabelo.

A crítica de Rui Ramos ao ateísmo de Stephen Hawking segue a fórmula do costume. Primeiro, se Hawking «acredita que Deus não existe» então, tal como o crente em Deus, tem «fé, embora diversa – a fé na inexistência de Deus.» Depois, que chegou à sua conclusão da mesma forma que o crente: «A questão é determinar de que modo, entre a fé em Deus e a fé na inexistência de Deus, Hawking passa de uma margem para a outra. A sua ponte não é o cepticismo, mas a ciência, ou melhor, uma variante muito especial da experiência científica, que funciona de facto como o equivalente laico da fé religiosa.» Finalmente, que a atitude de Hawking para com a ciência é igual à de qualquer crente. «Hawking sente pela ciência a devoção que qualquer beato dispensa ao seu todo-poderoso ídolo»(1).

Esta forma de criticar o ateísmo sempre me pareceu estranha pela admissão implícita de que a crença em Deus é estapafúrdia. Não é que discorde. Concordo inteiramente que é um disparate formar crenças acerca da realidade por meio da fé e da devoção beata. Mas é estranho julgarem que a falta de fundamento epistémico da crença religiosa é um bom argumento contra o ateísmo. No entanto, mais interessante é perceber porque é que as alegações de Ramos são falsas.

A fé não é o mesmo que a crença. Acreditar é simplesmente aceitar uma proposição como verdadeira enquanto que a fé é um compromisso pessoal de fidelidade e perseverança para com certas ideias (2). É perfeitamente possível acreditar sem fé. Eu acredito que Deus não existe da mesma forma como acredito que a Terra se formou há 4.5 mil milhões de anos, sem sentir qualquer dever de fidelidade para com estas proposições. E é também possível ter fé sem ter crença se a fidelidade a uma ideia não bastar para que se consiga acreditar. A confusão de Ramos entre fé e crença atropela a diferença entre a devoção do crente aos princípios da sua religião e a forma descomprometida como todos regularmente adoptamos e descartamos crenças conforme julgamos conveniente.

O contexto destas crenças também é diferente. A ciência procura a melhor explicação para os dados de que se dispõe. É verdade que isto só resulta se houver dados suficientes e, por isso, a ciência só começou a ter sucesso nos últimos séculos; sem saber nada sobre decaimento radioactivo, a erosão ou a formação do sistema solar não havia razões para acreditar que a Terra tinha 4.5 mil milhões de anos em vez de só dez mil. Mas, com o que sabemos agora, a melhor explicação fica tão entalada na estrutura interligada de observações e outras explicações que, a menos de uma pequena margem de erro, só o valor de 4.5 mil milhões de anos pode ser aceite.

A crença de que um deus inteligente e bondoso criou a Terra por milagre não sofre destas restrições. Em geral, os preceitos de cada religião são arbitrários e podiam ser qualquer coisa. Se criou tudo por milagre, tanto podia ter criado o universo há treze mil milhões de anos como podia ter criado tudo há dez mil anos em sete dias ou em sete minutos na sexta-feira passada. Milagre por milagre, também podia ter criado os fósseis, os vestígios de erosão e até as memórias que cada um de nós tem. Sem qualquer suporte empírico, só a fé leva o crente a decidir que a sua crença é mais acertada do que as dos outros.

O processo também é muito diferente. A ciência não é um «equivalente laico da fé religiosa». A ciência progride explorando e testando alternativas. É este processo de rejeitar o que se revela incorrecto que vai apertando o cerco às explicações admissíveis, deixando cada vez menos elementos arbitrários. Nas religiões, o primeiro passo consiste em afirmar algo como Verdade. E pronto. O resto é teólogos a inventar desculpas para as inconsistências e arbitrariedade da escolha inicial (3). É verdade, como menciona Ramos, que houve «séculos de meditação e de debate» acerca de Deus e outros deuses. Mas o debate e a meditação são inúteis se não se está disposto a descartar as hipóteses erradas.

Hoje é evidente que os deuses são mera ficção porque qualquer coisa que se tente explicar invocando um deus explica-se melhor rejeitando esse deus como fantasia, desde a formação das galáxias e a origem das espécies à existência do mal e a diversidade das religiões. Também não é a «pobreza da […] concepção de Deus» que faz diferença porque, por muito “rica” que seja, é uma concepção arbitrária, infundada e inútil para explicar seja para o que for. A ciência eliminou os deuses de todas as explicações para o universo que nos rodeia. Sobraram apenas as alegações que os crentes mantêm por fé. Mas, antes de nos metermos pela metafísica da existência dos deuses na premissa de que estas alegações correspondem à realidade, devemos primeiro determinar se é preciso deuses para explicar a fé dos crentes. Também aqui a ciência responde pela negativa. Há evidências claras de que é muito fácil aos seres humanos agarrarem-se a superstições e que a intensidade desse apego não é indicador fiável da verdade das crenças.

Não é preciso idolatrar a ciência para perceber que a fé não serve para compreender a realidade. É precisamente isso que Ramos argumenta contra Hawking, errando apenas por presumir que a posição de Hawking deriva da fé. Mas não é preciso fé para concluir que os deuses são tão fictícios quanto os unicórnios, os fantasmas e os dragões. Basta fazer o puzzle com as peças que encaixam.

1- Rui Ramos, O deus de Stephen Hawking
2- Catholic Encyclopedia, Faith.
3- A propósito disto, recomendo esta palestra de David Deutsch na TED: A new way to explain explanation

Em simultâneo no Que Treta!

30 de Setembro, 2014 Luís Grave Rodrigues

30 de setembro: dia mundial da blasfémia!


«O entendimento popular da blasfémia resulta provavelmente do mandamento bíblico «não tomarás o nome do senhor teu Deus em vão», muito embora nos últimos anos tal conceito se tenha estendido na consciência do público de forma a incluir imagens retratando o profeta islâmico Maomé.

Há seis anos atrás, no dia 30 de Setembro de 2005, o jornal dinamarquês “Jyllands-Posten” publicou uma série de cartoons retratando Maomé. O que se seguiu foi uma batalha de culturas entre o valor ocidental da liberdade de expressão e as rigorosas leis do Islão contra a blasfémia.

A religião exerce uma incomensurável pressão sobre a liberdade de expressão, graças à sua universal condenação da blasfémia.

A palavra “blasfémia” deriva de duas palavras gregas, significando βλάπτω “euu mal”, e φήμη que significa “reputação”, e tem vindo a ser tomada como «falar contra Deus», ou como a difamação da religião e de doutrinas religiosas.

Entre as mais fervorosas e mais fundamentalistas seitas religiosas a blasfémia pode variar entre beber uma cerveja até à própria negação da existência de Deus (coisas que eu já fiz no dia de hoje).

Eis o que Bíblia tem a dizer sobre blasfemos:

No Levítico 24:16: “Aquele que blasfemar contra o nome do Senhor será condenado à morte; toda a congregação deverá apedrejar o blasfemo. Tanto os estrangeiros como os cidadãos, quando blasfemarem o Nome, deverão ser condenados à morte”.

É manifesto que as três grandes religiões ocidentais têm uma opinião extremamente negativa da blasfémia, uma vez que a consideram uma ofensa capital.

As leis contra a blasfémia só servem para promover o medo entre a população e a obediência às autoridades religiosas.

Na Europa renascentista a cosmologia oficial da Igreja Católica defendia a visão aristotélica de um cosmos totalmente controlado por Deus, e que sustentava que todos os objectos celestes giravam ao redor da Terra.

Quando Galileu virou o seu telescópio para os céus e desenhou as quatro luas em órbita de Júpiter, ele estava a blasfemar contra a Igreja.

E esta limitada cosmologia defendia também que não poderia haver tal coisa como o vácuo.

Por isso, quando cientistas como Torricelli e Pascal começaram a bulir com a criação de vácuos, também eles estavam a blasfemar contra a Igreja.

George Bernard Shaw disse uma vez que «todas as grandes verdades começam como blasfémias», o que só por si poderia resumir de forma muito sucinta a busca ocidental pela Ciência.

Para as religiões que promovem a ideia de que um Deus criou o universo somente para os seres huma-nos, a ciência será sempre uma blasfémia, porque a ciência abre brechas na já frágil cosmologia filosófica que as religiões ensinam como verdadeira.

O «Dia da Blasfémia» é um dia de reconhecimento da importância da blasfémia numa sociedade que valoriza o direito à liberdade de expressão.

Sem liberdade para blasfemar, para falar contra as ridículas doutrinas religiosas que mantêm a sociedade na escuridão e na ignorância, não temos realmente liberdade de expressão.

Blasfemar é defender a ideia de que não há nada tão sagrado que não possa ser criticado, ridicularizado, ou até mesmo falado em voz alta.

Como ateu, cada dia é para mim o «Dia da Blasfémia» porque me recuso a colaborar com os dogmas que a religião vende».
Texto (livremente) traduzido do «Skeptic Freethought»

28 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Notícias religiosas

25 de Setembro, 2014 José Moreira

Liberdade religiosa

Sem quaisquer comentários, transcrevo uma notícia recolhida há menos de um minuto.

 

O Tribunal Constitucional (TC) anulou uma decisão judicial de despedimento de uma funcionária de uma empresa, por esta recusar trabalhar após o por do sol de sexta-feira até ao crepúsculo de sábado, devido à religião que professa. Em acórdão publicado hoje em Diário da República, os juízes conselheiros da 3.ª Secção do TC entenderam “conceder provimento ao recurso” apresentado pela recorrente, funcionária de uma empresa de de instrumentos médicos, que alegou “o direito à liberdade religiosa”, consagrado na Constituição. O TC determinou ainda que o Tribunal do Trabalho de Loures, primeira instância, proceda à revogação do “acórdão recorrido, para que seja reformado”. A decisão do 2.º Juízo do Tribunal do Trabalho de Loures, datada de 19 de junho de 2011, considerou a “licitude” do despedimento, porém a funcionária recorreu para a Relação de Lisboa por entender que tinha o direito “de recusar a prestação da sua atividade a partir do por do sol de sexta-feira até ao por do sol de sábado”. Justificava com o facto de “a religião que professa observar esse período como dia de descanso”, pelo que recusou o “cumprimento do horário integral às sextas-feiras”, quando o seu turno “terminava à meia-noite”, ou “prestar trabalho suplementar ao sábado, quando solicitado” pela empresa. A 15 de novembro de 2011, o Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a decisão da primeira instância, sublinhando que a funcionária causou “prejuízos consideráveis à sua entidade empregadora”. No recurso para o TC, a profissional alegou “violação dos princípios constitucionais da proporcionalidade e da igualdade” e sustentou que a Lei da Liberdade Religiosa consagra “o direito de dispensa do trabalho”.

19 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Informação aos leitores

Com o meu pedido de desculpas, informo os leitores de que apaguei um texto de um advogado francês, declaradamente nazi, homofóbico, xenófobo, antissemita e extremista católico.

Como descobri a identidade do autor, alertado por um amigo, entendi que não devia promover uma pessoa cuja conduta devia envergonhá-lo.

11 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Efemérides_ 11 de setembro

1973 – O presidente do Chile, Salvador Allende, eleito democraticamente, foi derrubado por um general católico, Augusto Pinochet, apoiado pela CIA. Tornou-se o paradigma do torcionário, ladrão e fascista que levou o terror ao seu país. com o apoio da Igreja católica. João Paulo II viria a ser o seu grande amigo.

2001 – O ataque aos EUA, perpetrado pelo terrorismo, destruiu as torres emblemáticas do World Trade Center, em Nova York, provocando uma carnificina de quase três mil pessoas. Começou aí a exibição da demência do fascismo islâmico que se tornou a imagem de uma religião que simboliza a decadência de uma civilização falhada.