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7 de Março, 2015 José Moreira

O JURAMENTO

O juramento é uma tradição antiga. Não há tomada de posse que não tenha o seu juramento, seja do presidente da República, do primeiro-ministro ou do varredor camarário. Toda a gente jura. E, às vezes, até dá direito a benzedura – mas isso é outra conversa. Antigamente, funcionário público que tomasse posse tinha de manifestar o “activo repúdio pelo comunismo e todas as ideias subversivas”. Se, ao mesmo tempo, fizesse o “sinal da cruz”, tinha a promoção garantida. Hoje, felizmente, essa fórmula foi abolida, com largo benefício para a economia de tempo. Basta dizer que vai cumprir fielmente as funções que lhe são confiadas, e toda a gente acredita. Nem é preciso repudiar o comunismo, e está autorizado, a contrario sensu, a ter ideias subversivas. Bom, mas o juramento não existe apenas nas tomadas de posse; ele é largamente aplicado nos tribunais. As testemunhas e os peritos, pelo menos, são obrigados a prestar juramento. Hoje, o juiz pergunta “Jura dizer a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade?”, numa redundância repetitiva incompreensível – pelo menos, para mim. “Só”, não é a mesma coisa que “nada mais”? Mas, mesmo assim, a coisa já está muito simplificada. Nos tempos de antanho, a fórmula era bem mais complexa, obrigando alguns mortais a complexos exercícios mentais. Por exemplo, num qualquer departamento da Polícia Judiciária o agente – Sr. Agente, faz favor! – perguntava: “Jura por Deus dizer a verdade, só a verdade e nada mais que a verdade?” ao que a testemunha respondia, invariavelmente “Juro”. “Nada disso”, tornava o funcionário; “tem que dizer tudo. Repita comigo: Juro por Deus…” e a testemunha: “O Sr Agente jura por Deus…” Mais tarde, julgo que já na “primavera marcelista”, a fórmula foi alterada. Os ateus começavam, timidamente, a mostrar-se e, perante a autoridade, iam dizendo: “…sabe, sr. Agente, eu não acredito em Deus, o juramento não tem valor…” E a testemunha passou a poder optar entre jurar por Deus ou pela sua honra. O que também dava azo a situações caricatas: “Jura por Deus, ou pela sua honra dizer a verdade…” ao que a testemunha respondia: “Sim senhor. Juro por Deus ou pela minha honra dizer a verdade…” Deus deixou de estar presente nos juramentos, provavelmente por se ter concluído que não fazia falta nenhuma. Aliás, nem nos juramentos nem em lado nenhum, mas isso é a minha opinião. Ou antes: deixou de estar presente nos juramentos em Portugal (pelo menos); porque, por exemplo, nos EUA, ele está sempre presente. Dá a impressão de que os americanos não são capazes de se desenrascar sozinhos, precisam de uma bengala. Vai daí, escolheram Deus, como podiam ter escolhido madeira de carvalho ou teca. Deus aparece em tudo quanto é sítio, até no dinheiro. É o lema dos Estados Unidos: “In God We Trust” (confiamos em Deus). Talvez para justificar a afirmação de que Deus está em todada parte”… tal como o Dólar americano, como sabemos. E está também no juramento da tomada de posse do presidente, já agora. Mas, aí compreende-se. Todos sabemos que os americanos são os tipos mais cagarolas do universo – para não dizer do mundo. Isto apesar de todo o potencial bélico. Por outro lado, não gostam muito de assumir as asneiras que fazem. Daí o precisarem de um bode expiatório. Deus está mesmo a jeito: não fala, não contesta, aceita as culpas… é como se não existisse. Por exemplo, George W. Bush invadiu o Iraque porque, segundo disse, Deus o aconselhou. Pronto. Se deu merda, a culpa é de Deus, e não se fala mais nisso. Por isso é que a fórmula de juramento dos presidentes dos EUA é extremamente cautelosa: “Eu, Fulano de Tal, juro blá-blá-blá…. assim Deus me ajude”. Ou seja: se não cumprir o juramento, foi porque Deus não ajudou. Está safo.

27 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Não me parece o melhor caminho

Áustria aprova reforma polémica em lei que regulamenta o islamismo

Lei proíbe investimentos estrangeiros em mesquitas e gera críticas de muçulmanos.

Da BBC

O parlamento da Áustria aprovou nesta quarta (25) mudanças polêmicas em uma lei centenária que regulamenta o islamismo no país.

Um dos objetivos da reforma é coibir o islamismo radical. Por isso, ela veta, por exemplo, o financiamento estrangeiro de mesquitas ou de imãs (líderes religiosos). No entanto, a nova lei também amplia a segurança jurídica aos muçulmanos que vivem no país.

A aprovação das mudanças gerou protestos entre a comunidade muçulmana, que é numerosa no país – 7% da população, segundo dados de 2013.

Criada em 1912, a Lei do Islã tornava o islamismo uma religião oficial da Áustria e, na época, chegou a ser considerada um “modelo” para a Europa na forma de inclusão dos muçulmanos. Isso permitiu que eles ganhassem os mesmos direitos de católicos e judeus, tais como poder aprender sobre sua religião em escolas do Estado, por exemplo.

O Ministro da Integração da Áustria, Sebastian Kurz, defendeu as reformas, mas alguns líderes muçulmanos dizem que elas não os tratam com igualdade diante das outras religiões.

Ainda assim, algumas mudanças foram consideradas positivas pelos seguidores do islamismo. De acordo com a reforma, muçulmanos poderão, por exemplo, faltar ao trabalho em feriados religiosos sem receber punição e têm liberdade de orientação espiritual quando forem servir o Exército.

Por outro lado, quem é contrário à mudança diz que a proibição de investimento estrangeiro é algo “exclusivo” para muçulmanos, já que católicos e judeus não têm de seguir as mesmas regras.

Eles dizem a nova lei reflete uma desconfiança generalizada em relação aos muçulmanos e alguns estão pensando em contestá-la no tribunal.

Controle externo
O ministro Kurz disse à BBC que as reformas foram um “marco” para a Áustria e têm como objetivo acabar com a influência política de certos países muçulmanos que usam os meios financeiros para isso.

“O que queremos é reduzir a influência política e controle externo. Queremos dar ao Islão a oportunidade de se desenvolver livremente dentro de nossa sociedade e de acordo com os nossos valores comuns europeus”, disse.

Kurz também fez questão de reforçar que a reforma não foi uma reação aos recentes ataques perpetrados por extremistas islâmicos na França e na Dinamarca.

No entanto, a nova lei do país despertou reações diversas de muçulmanos pelo mundo, com o chefe de relações religiosas da Turquia, Mehmet Gormez, deixando clara sua insatisfação na última terça-feira.

“A Áustria vai regredir 100 anos em liberdade com essa reforma da lei do Islã”, disse Gormez, segundo a agência de notícias estatal Anadolu.

Quase meio milhão de muçulmanos vivem na Áustria hoje em dia, cerca de 7% da população – muitos deles têm origem turca ou bósnia.

25 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Bíblia – A invenção lucrativa

Manuscrito bíblico do sec. 4 omite Jesus ressuscitado

Terça-Feira, 24 de Fevereiro de 2015 / 09:44

Eu nunca seria capaz de imaginar que um post bobinho, uma simples desculpa para colocar uma imagem bonita de um manuscrito antigo, despertaria tanta pancadaria. Mas, milhares de acessos e centenas de comentários depois neste postsobre a versão digital do Códex Vaticano, caí na real. Como os mal-entendidos foram muitos, queria aproveitar para explicar melhor um dos pontos polêmicos do texto anterior: a famigerada “versão estendida” do finalzinho do Evangelho de Marcos, que não consta do Códex Vaticano.

Será que esse é o caso do final do Evangelho de Marcos? Bem, é complicado.Primeiro ponto: existe, de fato, bastante variação nos manuscritos antigos do Novo Testamento bíblico. Hoje, essas variantes estão na casa das centenas de milhares, nas contas dos especialistas . A IMENSA maioria delas não é significativa: assim como as pessoas de hoje, os copistas do Novo Testamento também cometiam erros de ortografia, comiam palavras, pulavam de uma linha para outra na hora de copiar etc. Algumas alterações, no entanto, de fato são significativas: trechos grandes são incluídos e omitidos, alterando o sentido dos textos bíblicos.

Dois dos mais antigos textos completos de Marcos, o Códex Vaticano e o Códex Sinaítico, ambos do século 4º d.C., muito usados como referência por quem estabelece os textos bíblicos padronizados, omitem essa passagem. Eles terminam da seguinte maneira: as mulheres que vão ao túmulo de Jesus para ungir seu corpo encontram um jovem vestido de branco (talvez um anjo), que diz que Jesus ressuscitou e está esperando os apóstolos na Galileia. “Elas saíram e fugiram do túmulo, pois um temor e um estupor se apossaram delas. E nada contaram a ninguém, pois tinham medo.” É o trecho que hoje corresponde a Marcos 16, 1-8.

Note que em nenhum momento o texto diz que Jesus não ressuscitou — o que ocorre é que Jesus ressuscitado não aparece nesse trecho.

Beleza. Os versículos seguintes, os de 9 a 20, correspondem à “versão estendida” presente em outros manuscritos, relatando tanto as aparições de Jesus a Maria Madalena e a seus discípulos como a ordem por parte dele para pregar o Evangelho pelo mundo e sua ascensão aos céus.

O curioso é que outros manuscritos registram versões estendidas DIFERENTES. Uma delas é bem mais curtinha e diz o seguinte: “Elas [as mulheres] narraram brevemente aos companheiros de Pedro o que lhes tinha sido anunciado. Depois, o mesmo Jesus os encarregou de levar, do Oriente ao Ocidente, a sagrada e incorruptível mensagem da salvação eterna.”

É ADENDO MESMO?

A maioria dos especialistas hoje acha que esses finais são adendos. Alguns dos motivos:

1)Como eu já disse, alguns dos manuscritos mais antigos e de melhor qualidade de Marcos omitem a passagem;

2)A versão estendida parece resumir uma série de aparições de Jesus ressuscitado de outros evangelhos, como para Maria Madalena (em João), para os discípulos de Emaús (Lucas), a ascensão aos céus (Lucas de novo);

3)O estilo do trecho é bem diferente do que aparece no resto do Evangelho de Marcos;

4)O final original diz que Jesus encontraria os apóstolos na Galileia, mas nenhuma menção a essa viagem aparece no final estendido.

Mas sério que Marcos terminaria sua obra-prima dizendo simplesmente “elas tinham medo”? Bom, aí temos as hipóteses que explicariam isso:

1)Foi de propósito. Marcos mostra Jesus sendo incompreendido até por seus discípulos ao longo de todo o seu evangelho. A ideia seria mostrar que essa incompreensão continua, e que cabe ao leitor do evangelho entender e colocar em prática a mensagem de Jesus;

2)Marcos morreu antes de terminar o texto e cristãos posteriores acharam necessário acertar o final;

3)Ele chegou a escrever seu próprio final, mas por algum motivo esse pedaço do manuscrito original se perdeu.

A propósito, seja lá como o final estendido tenha ido parar onde está hoje, a coisa não teve nada a ver com o imperador romano Constantino ou com o Concílio de Niceia. Textos cristãos a partir do ano 160 d.C. (ou seja, um século depois de o evangelho original ter sido escrito) já mencionam esse finalzinho. Trata-se de uma adição bastante antiga também, portanto.

É isso, gente. Zero de teoria da conspiração à la Dan Brown nessa história. Trata-se apenas de mostrar que, crendo ou não na inspiração divina das Escrituras, é preciso reconhecer que, como texto, elas têm uma história tortuosa e complicada e não caíram prontas do céu.

Fonte: UOL/Reinaldo José Lopes

18 de Fevereiro, 2015 José Moreira

Parecia mais complicado…

Segundo leio, essa coisa da beatificação e/ou da canonização não é, afinal, tão complicada como parece. Tudo se resume a um fenómeno que a ciência não possa, não saiba ou não queira, explicar. De preferência, uma cura inexplicável (estão, automaticamente, dispensados os membros que cresçam a amputados. Isso não conta para o Totobola). Depois, é só atribuir o milagre a uma entidade, de preferência completamente morta e em estado defuntivo há anos, quantos mais melhor. Se houver trabalho de equipa, como é o caso em apreço, a coisificasção torna-se ainda mais fácil, como se compreenderá: sempre são dois mortos a obrar o mesmo milagre. Depois, tudo se resolve: o papa de turno consulta o patrão, e este nunca vai contra. Aliás, todos sabemos que a vontade de Deus é, sempre, coincidente com a vontade dos homens, papas ou não papas. Coincidências…

E pronto. Temos a papa feita para caírem mais uns tostões nos cofres da ICAR.

E ainda dizem que há quem saiba mais que o papa…

6 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

A FRASE

«Exige a punição referida no Alcorão para os opressores corruptos que combatem Alá e o seu profeta: morte, crucificação ou corte de membros».

(Hhmed Al-Tayeb, principal autoridade muçulmana sunita sobre a morte do piloto jordano, in DN, ontem, pág. 8)

5 de Fevereiro, 2015 José Moreira

Da blasfémia

O insuspeito “Jornal de Notícias”publica, hoje, nas suas páginas, um interessante artigo de Francisco Teixeira, professor de filosofia, sob o título “Em Defesa da Blasfémia“. Permito-me transcrevê-lo, com a devida vénia e sem comentários.

 

“A questão da blasfémia é mais central do que pode parecer. Poder blasfemar e isso ser legal é assumir que os limites do real, aquilo que é divino e não pode ser tocado, afinal podem ser empurrados para trás e desse modo permitir ampliar os limites do que é ser humano. Temos, então, se queremos que o humano seja mais que uma cristalização logo no início, que nos define e definiu para todo o sempre, de insultar os deuses, as religiões e a sua pretensão de definição totalitária e absoluta. E sim senhor, a coisa não vai lá com proposições bem-educadas e trocas argumentativas de tipo académico. Sem uma ampla iconoclastia as religiões definem-nos para todo o sempre e não passaremos, para todo o sempre, de anjos de cera, a amarelecer no altar.

Basta uma relativamente simples análise histórica para perceber que a liberdade sempre se fez no confronto com o religioso, o divino e as igrejas. Foi esse confronto, ganho, pelo menos desde 1789, pelos democratas e liberais, que permitiu que as igrejas deixassem de ser a medida das consciências individuais e da própria ideia de religioso. Bem entendido, não há pensamento sem mediação e algum tipo de relação comunitária sempre terá que existir para que se possa pensar. Mas o fim do comunitarismo religioso obrigatório foi, é, uma condição necessária da liberdade. Se eu não puder imaginar outro Mundo, sem constrangimentos dogmáticos, nada é possível a que ainda se possa chamar humano.Se a blasfémia é dolorosa e tensa? Sim, claro que é. Porque a democracia é, por natureza, agónica e, portanto, tensional. Uma democracia de eterna primavera, sempre de céu azul e sem espirros ou constipações não é mais que uma democracia dietética, um fascismo suave, uma república do respeitinho e da higienização.

Precisamos, pois, de produtos com sal a mais, gordura a mais, sabores intensos e poderosos, paixões assolapadas e perdidas, que destranquem o humano e o real das naturalizações divinas e sacramentais.

Que, porém, seja o Papa Francisco a defender a proibição, e até a violência, contra a blasfémia, não nos deve surpreender. Francisco é um dos papas socialmente mais progressistas da ICAR, aprofundando vertiginosamente a doutrina social da Igreja. Mas nem Francisco é capaz de romper com dois mil anos de intolerância e medo da liberdade. Se todos são assim e pensam assim, na ICAR? Claro que não. Por isso mesmo é que a ICAR ainda é uma religião e não apenas uma máquina de obediência.

PROFESSOR DE FILOSOFIA”

29 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Carta de um leitor

De

Frei Bento

Caríssimo irmão em Cristo e estimado Carlos Esperança. confesso, aliás eu confesso muitas vezes, confesso e confesso-me, neste caso apenas confesso que me sinto algo envergonhado quando lhe solicito a publicação das minhas indigentes epístolas (a humildade é coisa linda, e eu orgulho-me muito de ser humilde). Tanto mais que elas vão, sempre, de encontro às suas profundas convicções. De qualquer modo, estou a adaptar-me ao blogue e, come deverá ter reparado, até já nem escrevo palavrões, que deixo para quando o filho da, quer dizer, o sacristão se engana nos paramentos, nos preliminares da missa. Porque a missa também tem preliminares, não é só… Bom, aduiante.

Deparei, deslumbrado e espavorido, com esta notícia.Deslumbrado,, porque porque esta gajada não pára de descobrir coisas, Deus seja louvado; espavorido, porque  esta gajada cientista são uma cambada de ateus, que o Inferno os leve a todos, estão a dominar tudo, até a Ciência. Repare, querido irmão, que eles tenham visto os planetas, vá que não vá, que a madre superiora diz que, às vezes, até vê as estrelas, mas isso é outra mística… Agora, terem o desplante e a petulância de afirmar que esses planetas gravitam  em volta de uma estrele MAIS ANTIGA QUE O SOL…! Mas esta gente é doida, ou anda a fazer de nós estúpidos? Então, esses filhos da, quer dizer, esses senhores nunca leram a Bíblia? Não sabem que foi TUDO feito no mesmo dia, logo ali no quarto dia? Ou seja, é tudo da mesma idade, dez mil anos, mais centímetro menos tonelada? É quese como dizer que oe gémeos têm idades diferentes. E têm a lata de publicar isso, como se fosse a coisa mais natural do mundo…
Olhe, irmão, veja lá se publica mais este desabafo, sempre quero ver quem vai ser o primeiro a comentar. Eu não o recomendo nas minhas orações, porque não quero correr riscos. Tenho recomendado um comentador, não digo o nome para lhe preservar a privacidade, e o rapaz está cada vez mais besta…
Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.