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Categoria: Não categorizado

3 de Outubro, 2015 Carlos Esperança

Homenagem a José Vilhena

Faleceu hoje, aos 88 anos, o ateu, escritor, cartoonista, pintor e humorista português cuja popularidade o tornou desprezado por pretensiosos aristocratas que se acanham a reconhecer-lhe o talento multifacetado.

Iconoclasta, jacobino e democrata era uma figura incómoda. O traço mordaz e a prosa verrinosa valiam-lhe a prisão e apreensão dos livros. É justo lembrar quem tanto gozo proporcionou aos anticlericais no combate solitário que foi a sua imagem de marca.

José Vilhena autorizou a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) a utilizar os desenhos com que zurzia os tartufos.

No seu passamento, aqui fica um.

ZE VILHENA

2 de Outubro, 2015 Carlos Esperança

Citação

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15 de Setembro, 2015 José Moreira

Cena rural

Na pequena aldeia, fazia um frio impressionante. Postado à janela da casa paroquial, o padre Benevides contemplava a neve que acabara de cair. O deserto da rua foi interrompido pela Luisinha que, mal agasalhada, puxava um corpulento touro pela arreata, apesar dos seus pouco mais que dez anos.  Perante a cena, o bom padre não se conteve, e abriu a janela:

– Aonde vais, Luisinha, com este frio?

– Vou levar o touro ao senhor Cirpiano, para lhe cobrir a vaca.

Chocado com o que ouvira, o pio padre exclamou:

– E o teu pai, ou o teu irmão vais velho, não podiam fazer isso?!

– Não, senhor padre. Já experimentaram, mas não dá, tem de ser o touro mesmo.

9 de Setembro, 2015 Carlos Esperança

A Europa, a laicidade e os imigrantes

A Europa, sob pena de renegar os valores, cultura e civilização que a definem, não pode deixar de socorrer e tentar integrar as multidões que fogem de países falhados, Estados terroristas e regiões que o tribalismo e a demência dominam.

A Europa, tantas vezes responsável por agressões devastadoras, cujas consequências ora a confrontam, não pode renunciar ao dever de solidariedade para com os acossados, não por expiação de culpas mas por imperativo ético.

Nunca a metáfora da bicicleta, caindo quando para, foi tão certeira como aplicada à UE, que não soube ou não quis federar as nações que a compõem com o aprofundamento da política comum, nas suas vertentes económica, social, fiscal, militar e diplomática, para quem, como eu, acredita num projeto europeu.

Mal dos europeus se o medo os paralisa e preferem abandonar os náufragos a assumir o risco de salvar um terrorista, mas, pior ainda, se descuram o perigo que a exigência ética comporta, se não souber distinguir os crentes, que precisam de ajuda, das religiões que exigem combate.

A Europa civilizada morre se renunciar à solidariedade que deve e suicida-se se não se defender da perversão totalitária de culturas exógenas que vivem hoje o medievalismo cristão e o pendor teocrático do seu próprio passado que o Iluminismo erradicou.

A civilização europeia será laica ou perece. Não pode ceder a poderes antidemocráticos, permitir a confiscação de espaços públicos por quaisquer religiões que incitem ao crime, em nome de Deus ou do Diabo.

O Islão, na sua deriva sectária, é puro fascismo a exigir contenção. Enquanto não aceitar a igualdade de género, o livre-pensamento e as liberdades individuais não pode ser tratado como as religiões cujo clero se submeteu ao respeito pelas regras democráticas e à aceitação do Estado laico.

A laicidade, paradigma da cultura europeia, é a vacina que salva o pluralismo religioso, preserva a sua civilização e evita a xenofobia que alimenta a direita antidemocrática que pulula nas águas turvas do medo e da demagogia.

Não se exige mais a quem chega do que a quem já estava, a submissão às leis do Estado laico e democrático.

4 de Setembro, 2015 Carlos Esperança

O pastor de peregrinos (crónica)

Por

[Pode dizer que é um texto da autoria dos Irmãos Cavaco da escrita criativa, texto esse que integrará um livro de contos variados a publicar em breve…

Sua benção,
a) ]

Embora haja muitos pastores peregrinos, raros são os pastores de peregrinos. Flávio Manso é um deles.

Um dia, levado por um súbito assomo de crença, decidiu passar a apascentar os caminhantes impelidos pelo poderoso motor da fé.

Como voluntário da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo, conduz rebanhos de peregrinos ao longo das estradas nacionais e florestais, impedindo que se tresmalhem, que saiam do trilho, que sejam “aspirados” por pesados de mercadorias, que utilizem os SOS para “acicatarem” a líbido das amantes…

Condu-los com um cajado, reagrupa-os à “calhoada” quando se afastam do grupo e, sempre que atravessam cadeias montanhosas, coloca-lhes uma coleira de espinhos à volta do cachaço, para evitar que se tornem presas fáceis das famintas alcateias.. Os peregrinos “alzheimarados”, esses, são municiados com o respectivo chocalho.

Flávio não se poupa a esforços para que os seus rebanhos realizem, nas melhores condições possíveis e a médias assinaláveis, as longas e penosas transumâncias religiosas. Para tal, e depois de lhes ministrar workshops de marcha olímpica, organizou uma eficaz e cómoda rede de lameiros (devidamente mapeada), onde os caminhantes pastam num ambiente pousado e bucólico, hidratando-se nas bermas baixas.

Montou diversos pontos de tosquia ao longo da estrada, onde os peregrinos de pêlo mais comprido podem aliviar-se do excesso de carga capilar.

Transformou ainda uma série de casas de cantoneiro abandonadas em confortáveis currais. E que bem acantonados ali ficam os “papa-léguas”, vigiados por diligentes párocos que, atentos ao menor perigo ou movimento suspeito, cumprem na perfeição a exigente função de cães de guarda.

Mas tal como qualquer pastor, Flávio tem de fazer pela vida. Por isso ordenha as peregrinas mais carregadas de leite, fabricando com tão precioso líquido o saboroso queijo de leite de peregrina, pago a peso de ouro por retalhistas gourmet. E aproveitando o bigode dos peregrinos e o buço das peregrinas, que emprestam uma maleabilidade única à grossa lã caseira, confeciona resistentes peças de burel e de surrobeco.

Com a bênção e o apoio da Diocese de Leiria-Fátima, assim vai Flávio Manso cumprindo, como Bom Pastor da Igreja, a devota missão de guiar pelos caminhos da Fé os rebanhos de cristãos que Deus lhe confiou, recompensando os mais obedientes com periódicas visitas a lojas de turismo religioso, cuja perspectiva os deixa sedentos de consumir…

Enviado do púlpito do meu dispositivo Samsung

a) ………………….