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Categoria: Imprensa

28 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Um caso de polícia

Freira não era banqueira

Freira não era banqueira

  

Nota: Não é tanto o facto de uma freira se poder comportar como alguns banqueiros que é preocupante. São apenas casos de polícia. O que devia preocupar-nos é o destino das heranças que revertem para instituições onde as pessoas passam os últimos dias e que, fragilizadas, são compelidas a legar os bens.

É assim que as Igrejas aumentam o poder económico e, com ele, o domínio sobre a sociedade onde a teia económica cria laços de cumplicidade.

5 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Estranha forma de respeito

Nota: Esta resposta vem na sequência do generoso acto de Badaró – velho humorista – que doou o cadáver à Faculdade de Medicina de Lisboa.

1 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Eutanásia – Direito reprimido

Igreja responde a sondagem, dizendo que falta informação.

Ordem dos Médicos está contra

Mais de metade dos portugueses são a favor da eutanásia. E 47,5% defendem que o assunto deve ser referendado. Os dados constam de um estudo de opinião feito pela Eurosondagem. Para a deputada do PS Maria de Belém estes resultados mostram como a discussão sobre o tema é inevitável. Já a Igreja é absolutamente contra, mas admite que há que esclarecer os católicos. Os médicos, por seu lado, estão impedidos de realizar a eutanásia.

Fonte: Expresso

18 de Outubro, 2008 Carlos Esperança

A sociedade precisa de espiritualidade laica

Por

Kavkaz

A rádio TSF, no programa “Pessoal e intransmissível“, de 14 de Outubro de 2008, transmitiu uma entrevista com o escritor e filósofo francês Luc Ferry, 57 anos, autor do livro “Famílias, amo-vos”. Ele foi Ministro da Educação de França em 2002-2004.

Nesta entrevista, com a duração de 35 minutos, Luc Ferry define a Filosofia como “uma tentativa de responder à questão da vida boa, à questão do sentido da vida sem passar nem por Deus, nem pela fé”.

Ele aborda a sua passagem pela política francesa de forma interessante. Na terceira parte dessa entrevista (depois do minuto 22), Luc Ferry conta-nos reconhecer três tipos de famílias:

1) A medieval, em que as pessoas são casadas à força pela comunidade, com um casamento sem amor;

2) A família burguesa, de grosso modo de 1850 a 1950, ainda hoje idealizada pela direita e até pelos chefes religiosos, em que existiam poucos divórcios, mas a mulher sacrificava a sua vida amorosa e profissional por uma família aborrecida, a maior parte das vezes, e não muito bonita. Os maridos frequentavam uma instituição: o bordel. Na família burguesa as pessoas se enganavam, viviam permanentemente na infidelidade e na mentira;

3) A família moderna é fundada nos sentimentos do amor. Quando estes acabam dá-se o divórcio. É uma família muito mais autêntica, sincera e fiel.

Luc Ferry diz-nos que não devemos confundir moral e espiritualidade. A moral é o respeito pelos outros, os direitos humanos. Não é a moral o que nos falta.

Ele entende que a fórmula das sociedades actuais é o mercado mais os direitos humanos. Mas não há nisto qualquer espiritualidade. Vivemos em sociedades hiper-morais que falam da eutanásia, bioética, cuidados com os doentes, apoio aos desempregados, acção humanitária em países longínquos, etc. Mas estão totalmente privadas de espiritualidade. Falta-nos uma espiritualidade não religiosa, uma espiritualidade laica.

A espiritualidade laica aceita a morte. Deve-se preferir uma vida boa, mas mortal, a uma vida falhada de imortal. Para os ateus, ao contrário do que acontece com os cristãos, o objectivo não é aceder à eternidade, à imortalidade. É desta espiritualidade laica que precisamos hoje em dia, diz-nos Luc Ferry.

16 de Setembro, 2008 ricardo s carvalho

óscar do jornalismo medíocre: CNN vs TSF

cada vez mais o jornalismo é mau. sensacionalismo, falta de objectividade, mediatismo, especulação, mentira, são as armas mais comuns para vender jornais e noticiários.

a educação científica também não goza propriamente de dias áureos. numa sociedade que ambiciona ser líder tecnológica, procurando consequentemente gozar da resultante prosperidade económica, um alicerce fundamental é a percepção ou a compreensão que a mesma faz das novidades científicas que vão surgindo. quando as pessoas falam do que não sabem, sem se informar, e ao mesmo tempo são completamente desinformadas pelos media, a coisa corre ainda pior…

o que dizer então do jornalismo científico? as espectativas estão, naturalmente, muito em baixo, e o espetáculo mediático da semana passada, por ocasião da data de primeiro feixe no LHC, veio comprovar isso mesmo. for the record, alguns apontamentos sobre quão baixo o jornalismo científico conseguiu descer:

CNN YouTube

este video mostra uma notícia que saiu na CNN. a coisa até parece não começar mal, com imagens de CMS e algumas palavras de um cientista respeitável, martin rees. mas é apenas uma questão de tempo: ao minuto 1:10 já a jornalista se refere ao bosão de higgs como “a partícula de deus”, um nome completamente ridículo inventado por algum jornalista com gosto pelo sensacionalismo (lá está, a coisa pega!). continuamos em queda até chegarmos ao momento de glória da mediocridade, do minuto 1:35 ao minuto 1:50 a notícia mostra um video do youtube (e, sem qualquer vergonha, a própria jornalista afirma que a fonte desse video é anónima e que foi retirado do youtube), onde podemos observar uma sequência de má ficção científica com um suposto buraco negro a engolir a terra. 15 segundos de espetáculo onde a jornalista ainda diz que os cientistas afirmam que esse é um cenário que não se pode concretizar (alguém ainda a estará a ouvir?) mas, mais tarde, no final da notícia deixa a dúvida com um “scientistas believe it is worth the cost and the risk. risco? mas que risco??

naturalmente que não existe nenhum, mas para as pessoas menos informadas as imagens podem ter consequências devastadoras:

«[…] Sixteen-year-old Chaya poisoned herself at her home in the central city of Indore, her father, Bihari Lal, said. He said Chaya had been worried the “world would end” when the Large Hadron Collider (LHC) was switched on. Some Indian channels held discussions about the European experiment featuring doomsday predictions. […]

Bihari Lal said Chaya – the eldest of his six children – had been frightened after watching local TV reports that the experiment would cause the “Earth to crack up and everybody in the village would die”.[…]»

(BBC NEWS --- 11 September 2008)

fica a questão: alguém vai ser responsabilizado criminalmente?

cá pelo burgo a coisa não foi tão trágica, pelo menos no que diz respeito à perda de vidas. pois no que diz respeito ao “jornalismo”, a TSF ganhou o prémio da pior reportagem:

«[…] O teólogo Anselmo Borges considera que será muito importante que se possa descobrir a chamada “partícula de Deus” nas experiências que estão a ser feitas no CERN, em Geneva, com o acelerador de partículas.

Contudo, em declarações à TSF, este estudioso entende que a dúvida sobre as razões da existência de um Big Bang permanecerá […]»

(TSF Online --- 10 SET 08)

deixem-me salientar que, no dia 10, esta peça dominou a notícia sobre o CERN no noticiário das 13h! se é certo que noutros noticiários a TSF optou, correctamente, por entrevistar (poucos dos muitos) cientistas portugueses a trabalhar no CERN, não poderia também neste ter mostrado um pouco mais de interesse ou curiosidade, entrevistando cientistas de ALICE ou LHCb, que buscam coisas bastante distintas do bosão de Higgs em ATLAS ou CMS? não se poderia ter interessado pelas aplicações tecnológicas das ferramentas de grid computing desenvolvidas para analisar os dados do LHC? não poderia ter consultado um teórico para explicar aos ouvintes realmente o que é isso do bosão de Higgs (e porque, na realidade, apenas dá massa a uma fracção da matéria do universo)? ora bolas, se tanto gostam de buracos negros, não poderiam ter falado com alguém que realmente saiba o que é um buraco negro?? não… como já alguém disse melhor que eu, decidiram enverdar por outro caminho, o caminho da mediocridade:

«[…] Mas os físicos não percebem nada disto. É o fim do mundo e é preciso consultar um perito em fimdomundologia. Por isso a TSF decidiu entrevistar Anselmo Borges que, enquanto teólogo, está particularmente habilitado a avaliar as experiências do LHC antes sequer de alguém as fazer. […]»

(Que Treta! --- Setembro 13, 2008)

[também no Esquerda Republicana]