Foi ontem condecorado o devoto Sousa Lara, o censor do livro “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, do «inveterado ateu» José Saramago, que concorria a um prémio literário europeu.
Disse o pio, que Deus abandonaria nas trapalhadas da Universidade Moderna, que «A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os» e, com tão clemente argumentação, vetou o livro, em nome do Governo presidido pelo devoto que ora lhe concedeu a venera.
O homem não é o único animal religioso mas é o único que reza.
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http://38.media.tumblr.com/c1bf24386fcf930d0576f628cee06edd/tumblr_n6q0l5Yu321ru5h8co1_500.gif (Clique na imagem para ver o milagre)
Por
Frei Bento
Naquele tempo, constara que Jesus, o Nazareno, tinha caminhado sobre as águas. Toda a gente achou grande o milagre, aliás na linha de outros grandes milagres que lhe tinham antecedido e que iriam suceder-lhe. Toda a gente ficou maravilhada, à excepção de Tomé que, caso não saibam, já era de difícil convicção ainda antes da Ressurreição de Jesus Nosso Senhor.
– Ná – dizia ele. – Só vendo eu acredito. Comigo, é “ver para crer”, como S. Tomé – argumentava, sem imaginar que estava a plagiar-se a si próprio. A autoplagiar-se, digamos assim. Eis que as dúvidas de Tomé chegaram aos ouvidos do Senhor que, naturalmente, e para que não se pensasse tratar-se de um embuste, desde logo convocou o incréu para que ele mesmo caminhasse sobre as águas e afogasse as dúvidas todas.
E assim se fez, e assim ficou escrito. O Mestre reuniu-se com Pedro e Tomé, e eis que ambos os três se dirigiram para o Jordão.
– Mestre – perguntou Tomé – que devo fazer?
– Tem fé e reza – respondeu o Senhor.
E eis que o Senhor começa, calmamente, a caminhar sobre as límpidas águas do Jordão. Logo atrás, seguia Pedro, também ele caminhando sobre as águas, pois grande é o poder de Deus. Tomé, um pouco desviado, começou a sentir a água já pelos joelhos. Milagre, nem vê-lo.
– Mestre – informou: – já tenho água pelos joelhos. Que faço?
– Tem fé e reza – insistiu o Senhor. E continuou a andar. Tomé já tinha água pela cintura e, a breve trecho, o líquido já lhe chegava ao pescoço.
– Mestre!!! – gritou aflito – Já tenho água pelo pescoço.
E o milagre deu-se. Jesus, com a calma que o cateterizava quando não estava a expulsar vendilhões, voltou-se para trás e ordenou a Pedro:
– Pedro, ensina àquele gajo o caminho sobre as pedras, antes que o cabrão se afogue.
Palavras do Senhor.
Por
Frei Bento
Naquele dia, frei Nicolau estava particularmente inspirado. Na homilia da missa que lhe calhou por escala de serviço, frei Nicolau excedeu-se, dissertando, de forma incontornável e aparentemente imbatível, acerca da perfeição da Obra de Deus, não confundir com Opus Dei. Tudo, dizia ele, tudo o que fora Criação de Deus Nosso Senhor, era perfeito, mas dentre toda a Obra sobressaía, naturalmente, o Homem, esse sim, paradigma da perfeição absoluta. “Mas haverá,” perguntava, “ao cimo da Terra, algo mais perfeito que esta máquina maravilhosa, que é o Homem?”
Infelizmente para o bom frei Nicolau, ao fundo da igreja postava-se o habitual bêbedo. Com a agravante de ser senhor de não negligenciável corcunda.
“Oh senhor padre”, atirou o bêbedo, com voz algo entaramelada, “se o Homem é assim tão perfeito, o que me diz da minha corcunda?”
“Meu filho”, disse o bom do frade, “posso garantir-te que, como corcunda, está uma perfeição”.
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