No último dia de novembro de 2003 o Diário de uns Ateus chegou à blogosfera. Foi com este nome que nasceu e, depois de várias vicissitudes, da mudança de nome para Diário Ateísta, e, de novo, para Diário de uns Ateus, aqui continua sem o esplendor de outros tempos mas numa recuperação honrosa que resistiu às contingências do acaso e aos ataques informáticos de que foi alvo.
Quase nove anos e meio depois, atingimos hoje 2 milhões de visitas e todos os dias nos visitam mais de 300 pessoas.
Estatisticamente podemos dizer que 1 em cada 5 portugueses já passou por este espaço onde os ateus se encontram, os crentes de rosto humano vêm procurar o contraditório e os fanáticos cuspir insultos e exibir raiva. De facto, tem sido o espaço de convívio entre portugueses e brasileiros, para afirmar o ateísmo ou para insultar os que aqui escrevem.
Contrariamente aos blogues religiosos, aqui não há censura nem monolitismo político, embora procuremos evitar referências partidárias, exceto quando a laicidade é posta em causa ou algum partido se põe de cócoras sob as sotainas.
Porque não há religiões boas, somos plurais no ataque às diversas crenças, no combate a todas as superstições, na denúncia da maldade de qualquer Igreja. Repudiamos o ódio sectário das religiões como o fazemos a qualquer totalitarismo político que, no fundo, é a política tornada religião e convertida em verdade única.
Como cada religião considera falsas todas as outras e falso o deus de cada uma delas, no que certamente todas têm razão, todos nos podemos considerar ateus. Nós, os legítimos, só consideramos falsa mais uma religião e um deus mais. No fundo todos somos ateus.
Dois milhões de visitas depois, o Diário de uns Ateus, aqui continua firme na defesa da laicidade e na luta pelo direito de todos e cada um à crença, à descrença e à anti crença, em igualdade de direitos, recusando o ódio sectário que as religiões desenvolvem mútua e reciprocamente.
Aos livros sagrados, carregados de ódio e de mitos, sobrepomos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, certos de que à maldade de Deus se deve sobrepor a liberdade e a igualdade dos homens que beberam no Iluminismo os princípios da solidariedade.
A luta contra as religiões e a discriminação de género, que preconizam, encontram neste Diário o combate que a misoginia, a crueldade, a homofobia e o tribalismo merecem.
Andam por aqui alguns crentes à espera da penitência pelos pecados cometidos. Vêm, ansiosos, para agradarem ao seu deus. Não sei se é o desejo de mortificação que os atrai, se a inútil vontade de nos converter. Podiam ser mais originais no que escrevem, mas limitam-se a se subservientes para com os Papas e a debitar louvores a um defunto mais antigo – Jesus Cristo. Depois, repetem até à náusea a prosa e a convicção.
Os créus têm as igrejas, os órgãos de comunicação social, a Concordata, os padres, a água benta, o incenso, as orações e a eucaristia para ruminarem a fé numa posição de privilégio. Todavia arribam a este espaço de incréus onde não se apela ao terço, não se recomendam orações, não se reconhecem milagres nem a bondade do Papa.
Aqui é um espaço de liberdade onde a Declaração Universal dos Direitos do Homem é a Bíblia que nos une, onde a igualdade dos sexos e a não discriminação por questões de raça, religião ou cor são o único credo. Aqui, no Diário de uns Ateus, consideramos que não há a mais leve suspeita da existência de Deus nem qualquer razão para pôr pessoas de joelhos e aliená-las com orações. Não reconhecemos à água benta mais valor do que à outra, nem à hóstia, depois de consagrada, mais calorias do que antes.
Os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que a Revolução Francesa nos legou, são incompatíveis com o direito divino e com as ameaças e castigos com que os seus padres atemorizam. O Inferno somos nós que o fazemos, aliás, sois vós, os crentes. O Vosso Senhor, que se zanga com os homens que procuram a felicidade, que tem uma multidão de clérigos a administrar uma treta a que chamam sacramentos, que aliena as pessoas com ladainhas e orações, é uma ficção perigosa de raiz totalitária.
O Vosso Senhor, o deus que as religiões vendem, com atributos pouco recomendáveis e mau feitio, é uma invenção muito antiga, adaptada ao longo dos séculos e imposta com a barbaridade de que só os clérigos são capazes.
Nós sabemos que Deus vos ama. Não deixem que vos troque por nós, ateus, que apenas queremos que nos deixe em paz.
A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) vê o seu prestígio abalado e a deserção de crentes a aumentar, devido aos casos de pedofilia do seu clero.
Quando os crentes duvidam da virtude dos seus padres começam a interrogar-se sobre o poder do seu deus.
Não é apenas a pedofilia que incomoda os crentes, é a dúvida que os acicata sobre quem é capaz de ofender uma criança. Se um padre não respeita uma criança, o que será capaz de fazer a um anjo?
«Diário de uns Ateus» solidariza-se com Carlie Hebdo
9% dos espanhóis declaram-se ateus apesar dos constrangimentos sociais
Fazemos hoje nove anos.
Longe do fulgor de outros tempos, em que a média diária de visitantes ultrapassou os mil e quinhentos, este Diário resistiu a divergências internas, assaltos informáticos, insultos, ameaças, alteração de domínio e, sobretudo, à alegada cólera divina.
O Diário de uns Ateus mantém-se uma trincheira contra o obscurantismo religioso, as tropelias da fé e as aldrabices clericais. Denuncia o terrorismo demente do islão político, o ódio vesgo dos judeus das trancinhas, a intolerância do protestantismo evangélico, do cristianismo ortodoxo e do catolicismo romano.
Enquanto os fanáticos de deus matam e morrem por um mito, o D1A lança dúvidas sobre a mais mortífera criação humana – deus –, e denuncia os crimes que trazem a sua chancela.
Do terrorismo à indústria dos milagres, o D1A tem sido uma voz crítica e vigilante. A criação de beatos e santos e os milagres obrados não são a maravilha divina com que se enganam os crentes, são um insulto à inteligência e uma fraude com fins lucrativos.
À medida que o fundamentalismo regressa com a crise económica e social que domina o mundo, é preciso ser firme na denúncia do proselitismo e dos objetivos totalitários das religiões do livro que contagiaram o hinduísmo onde já surgem células terroristas.
Deus não é um mal necessário nem as religiões uma praga inevitável ou uma doença icurável.
O Diário de uns Ateus saúda os leitores que acompanham o serviço público que presta e orgulha-se de ter sido o ponto de encontro dos ateus que criaram a Associação Ateísta Portuguesa.
O Diário de uns Ateus nasceu a 30 de novembro de 2003. Já lá vão nove anos, sem censura, com colaboradores que aderiram ao novo Acordo Ortográfico e com os que o não fizeram, procurando ser honrados nas ideias e na gramática.
Vamos continuar sem que deus ou o diabo nos impeçam. Depois de nós outros virão, para denunciar a fábula de Cristo e as outras lendas, para provarmos que deus é um tigre de papel que assusta os tímidos e os que, desde crianças, se habituaram a viver no terror pio.
Continuaremos a mostrar que o Antigo Testamento não é apenas um manual de maus costumes, como lhe chamou Saramago, é um manual terrorista onde foram beber os três monoteísmos que há milhares de anos embrutecem e ensanguentam a Humanidade.
Conheço e aprecio quase todas as grandes catedrais católicas da Europa, bem como os templos protestantes e ortodoxos, alguns templos budistas e mesquitas.
Do Brasil ao Canadá, de Lisboa a Roma, de Atenas a Marrocos, de Efésio a Londres, da Tailândia aos EUA, nunca deixei de apreciar a arte sacra: a arquitetura, a escultura, a pintura e a música. O ateísmo que perfilho, há mais de meio século, nunca me embotou a sensibilidade ou me levou a desequilíbrios psíquicos que me transtornassem em sítios onde os crentes cantam, rezam e se divertem em festejos místicos.
Nunca pensei entrar num templo para fazer a apologia do ateísmo, gozar os crentes que se ajoelham, rastejam e espojam ao som do latim, do grego, do árabe ou da língua autóctone.
Desprezo as crenças, divertem-me os sinais cabalísticos, condoo-me com os embustes com que o clero explora, aterroriza e torna infantis os crentes, mas não interfiro entre o clérigo quer vigariza e o crédulo que cai no conto do vigário.
Podia esperar a mesma postura dos avençados da fé que entram no Diário de uns Ateus como piolhos em costura. Vêm com surro no cérebro e ódio no coração, fartos de rezas e água benta, a cheirar a incenso e fumo de velas, com o mesmo fanatismo que leva os judeus a quererem derrubar o Muro das Lamentações à cabeçada e os muçulmanos que desejam abrir a porta do Paraíso com explosivos.
Eu sei que a fé os enlouquece, que as orações os embotam e os jejuns os debilitam, mas os padres podiam ensinar-lhes o tino que lhes falta e as maneiras que se usam em casa alheia. Mas vá lá alguém convencer um doido de que não é o Napoleão.
Alguns crentes prometem não regressar ao Diário de uns Ateus. Enquanto ruminam o ato de contrição prometem não voltar, mas voltam sempre. Garantem não voltar a pôr aqui os pés. Mas põem. TODOS.
O batizado de Dinis de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco João de Bragança
Injustamente ignorado das primeiras páginas dos jornais, afastado da abertura dos noticiários televisivos e, perante a imperdoável distração da comissão organizadora do Porto – 2001, teve lugar no dia 19 de fevereiro de 2000 o batizado do menino Dinis de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco João de Bragança, filho do Sr. Duarte Pio. A princípio julguei tratar-se de uma lista pra os padrinhos escolherem o nome mais bonito. Só quando percebi que todos os nomes passavam a ser propriedade do novo cristão, me dei conta da relevância do evento, abrilhantado, aliás, pelo Senhor Bispo do Porto, numerosos membros do cabido, proeminentes plebeus e piedosas senhoras da melhor sociedade.
Foi com alguma emoção que soube libertado dos riscos do limbo o pequeno Dinis através da água vinda expressamente do rio Jordão , embora eu preferisse por razões bacteriológicas a dos Serviços Municipalizados do Porto depois de convenientemente benzida. Escreveu Augusto Abelaira que o homem é o único animal que distingue a água benta da outra, mas nada referiu sobre a diferença da água captada no rio Jordão e a da bacia hidrográfica do Douro. Certo, certo, é que o menino ficou mais puro, liberto que foi do pecado original que carregava desde o dia 25 de Novembro 1999, data em que veio ao mundo por via baixa, num parto eutócico.
Houve patrocinadores e piedosas pessoas que contribuíram com mais de 6 mil contos para tão auspiciosa festa. Apenas temi, por se tratar duma virtude, que ao preço elevado a que ascendeu o primeiro sacramento pudessem tornar-se incomportáveis os primeiros vícios. No entanto, estou certo que as excelsas senhoras, que então acompanharam piedosamente o neófito no caminho da virtude, o não abandonarão com a sua solicitude no primeiro pecado, agora que se aproxima dos 13 anos.
Por opção editorial, o exercício da liberdade de expressão é total, sem limitações, nas caixas de comentários abertas ao público disponibilizadas pelo Diário de uns Ateus em www.diáriodeunsateus.net . A linguagem pode, por vezes, resvalar para o mau gosto e ferir alguns leitores, pelo que o Diário de uns Ateus não aconselha a leitura a menores ou a pessoas mais sensíveis.
As crenças, notícias, controvérsias e linguagem usada pelos comentadores deste espaço não refletem, de algum modo, o pensamento dos colaboradores do Diário de uns Ateus. Os participante são incentivados a comportarem-se com urbanidade e respeito pelos outros comentadores e pela diversidade de opiniões.
A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) reserva-se o direito de fornecer às autoridades informações que permitam identificar quem use as caixas de comentários em http://www.diariodeunsateus.net/ para cometer ou incentivar atos considerados criminosos pela Lei Portuguesa, nomeadamente calúnias, difamações, apelo à violência, desrespeito pelos símbolos nacionais, incitamento ao racismo, xenofobia, homofobia ou quaisquer outros.
Nota: este texto está em linha com advertências similares de outros sites da Internet.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.