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Categoria: Diário de uns ateus

15 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

DIÁRIO DE UNS ATEUS – 10.º aniversário

No último dia de novembro do ano de 2003 o Diário de uns Ateus chegou à blogosfera. Foi com este nome que nasceu e, depois de várias vicissitudes, da mudança de nome para Diário Ateísta, e, de novo, para Diário de uns Ateus, aqui continua sem o esplendor de outros tempos mas numa recuperação honrosa que resistiu às contingências do acaso e aos ataques informáticos de que foi alvo.

Passou esquecido o 10.º aniversário, com  2 milhões e 90 mil visitas e com cerca de 400 visitas diárias. Vimos recordá-lo com quinze dias de atraso. É uma data relevante.

Estatisticamente podemos dizer que 1 em cada 5 portugueses já passou por este espaço onde os ateus se encontram, os crentes de rosto humano vêm procurar o contraditório e os fanáticos cuspir insultos e exibir raiva. De facto, tem sido o espaço de convívio entre portugueses e brasileiros, para afirmar o ateísmo ou para insultar os que aqui escrevem.

Contrariamente aos blogues religiosos, aqui não há censura nem monolitismo político, embora procuremos evitar referências partidárias, exceto quando a laicidade é posta em causa ou algum partido ou o Governo se põem de cócoras sob as sotainas.

Porque não há religiões boas, somos plurais no ataque às diversas crenças, no combate a todas as superstições, na denúncia da maldade de qualquer Igreja. Repudiamos o ódio sectário das religiões como o fazemos a qualquer totalitarismo político que, no fundo, é a política tornada religião e convertida em verdade única.

Como cada religião considera falsas todas as outras e falso o deus de cada uma delas, no que certamente todas têm razão, todos nos podemos considerar ateus. Nós, os legítimos, só consideramos falsa mais uma religião e um deus mais. No fundo todos somos ateus.

Dois milhões e noventa mil visitas depois, o Diário de uns Ateus, aqui continua firme na defesa da laicidade e na luta pelo direito de todos, e de cada um, à crença, à descrença e à anti crença, em igualdade de direitos, recusando o ódio sectário que as religiões mútua e reciprocamente destilam.

Aos livros sagrados, carregados de ódio e de mitos, sobrepomos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, certos de que à maldade de Deus se deve sobrepor a liberdade e a igualdade dos homens que beberam no Iluminismo os princípios da solidariedade.

A luta contra as religiões e a discriminação de género, que preconizam, encontram neste Diário o combate que a misoginia, a crueldade, a homofobia e o tribalismo merecem.

 

6 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

A Nelson Mandela – Homenagem do Diário de uns Ateus

Aos 95 anos faleceu um paladino da liberdade e o grande obreiro da transição pacífica de um regime racista e colonialista para um país multicultural e multirracial – a África do Sul. A grandeza moral levou-o a perdoar aos países que, em 1987, votaram contra a sua libertação incondicional proposta pela Assembleia Geral das Nações Unidas – EUA, Inglaterra e Portugal.

São homens da têmpera de Nelson Mandela, cuja inteligência e sensibilidade os distancia do comum dos dirigentes, que nos levam a ter esperança num mundo onde não seja possível a discriminação por razões de raça, religião, sexo ou convicções políticas.

Nelson Mandela, o prisioneiro 46 664, é o símbolo de quem não desiste de transformar o Mundo e deixar um país que não seja coutada só de alguns.

O velho prisioneiro e primeiro presidente da África do Sul livre, condenado a prisão perpétua, resistiu ao cativeiro 27 anos e ao ódio e à vingança o resto da sua vida. Foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz e foi maior o prestígio para o Prémio do que para o premiado.

Obrigado, Nelson Mandela.

16 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Com que legitimidade?

Papa Francisco dedicará o mundo à Nossa Senhora de Fátima

Depois de mandar cristãos olharem somente para Jesus, Papa celebra a Jornada Mariana.

Após sua celebrada passagem pelo Brasil, na Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco fará parte de outra jornada. O Bispo da Leiria-Fátima, em Portugal, Dom Antonio Marto, anunciou que dia 13 de outubro haverá uma grande celebração no Vaticano.

A imagem de Nossa Senhora de Fátima, que teria aparecido para revelar três “segredos” a três crianças no início do século passado será levada a Roma. O papa, então, dará início à Jornada Mariana (JM). O ponto alto será a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.

Diário de uns Ateus – A Arábia Saudita também será dedicada à Senhora de Fátima? E a Associação Ateísta Portuguesa?

14 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

O cónego Melo, a estátua e a desmemória

O funeral do cónego Eduardo Melo, da Sé de Braga, deu origem a uma importante concentração fúnebre. Uns foram para terem a certeza de que ficaram livres de uma testemunha incómoda, outros para prestarem homenagem ao homem que não hesitaria em defender a Igreja à bomba.

Não foi a devoção que o celebrizou, foi o poder que o tornou temido e respeitado. A estátua que lhe fizeram não foi uma homenagem às ave-marias que rezou, às missas que disse ou à frequência com que sacava do breviário. Foi a paga dos favores que fez, das cumplicidades que teceu, do poder que tinha. Não era homem para andar de hissope em punho a aspergir beatas que arfavam à sua volta antes da Revolução de Abril, era um homem de ação. Do futebol à política. Do salazarismo ao MDLP.

O cónego Melo pode ter sido alheio ao assassínio do padre Max, cujo crime ficou impune graças a uma investigação pouco eficiente, mas presume-se que não o chorou.

Na morte teve a acompanhá-lo o inevitável presidente da Câmara, Mesquita Machado, o Governador Civil e um secretário de Estado, além de gente anónima que aproveitou os autocarros gratuitos para ir a Braga.

O bem-aventurado cónego, que nunca renegou a admiração por Salazar e a animosidade à democracia, foi a enterrar quatro dias antes do 25 de Abril que tanto detestava. Podia ter vivido até ao 28 de Maio. Era uma data mais grata à sua alma, uma consolação para quem nunca se rendeu à democracia.

Finou-se no ano da graça de 2008 da era vulgar, com direito a um voto de pesar da AR, proposto pelo deputado do CDS, Nuno Melo, com a abstenção do PS e os votos contra do PCP e BE.

Bastaram 5 anos para esquecer o homem e imortalizar o cadáver. Amanhã, dia 15, lá estarão o bem-aventurado Mesquita Machado e, quçá, o canonizável Alpoim Calvão, um cheio de dinheiro, o outro cheio de medalhas, para admirar o bronze do homem com coração de ferro. A morte lava mais branco.

 

15 de Julho, 2013 Carlos Esperança

O HETERONIMISTA METASTÁTICO

Por

João Pedro Moura

1- O heteronimista metastático (doravante designado, abreviadamente, por h.m., para lhe fixar um nome de jeito…) gosta muito de se disfarçar de heterónimos vários e renovados, a fim de se acolher num anonimato, donde se possa exprimir em aparentes e várias personalidades, intrujando o livre debate e dando falsas mostras de várias pessoas a participar no mesmo, supostamente unânimes na crítica aos ateus, indiciando, aos incautos, que haveria uma bateria de mastins, crédulos e ladinos, a fustigar constantemente o Diário de Uns Ateus…

Metastático, porque tais desdobramentos de personalidades fazem lembrar um cancro espalhado em focos, aparecidos aqui e ali, tentando estragar o tecido da convivência cordial e pacífica, com a sua torrencial e verbosa insolência, sempre vituperiosa e pertinazmente acometedora…

2- O h.m., como religionário, aparenta não ter igreja, mas também não critica nenhuma, antes se especializando nas diatribes constantes contra os ateus, qual profissional dedicado, mas obsessivo, em laia de lapa, segregando escorrências religiosas e informes, sem igreja que o acolha, mas acolhendo-se na sua capelinha privada, por si construída e de ritual próprio, supostamente reclamando-se da casa-mãe bíblica, mas ufanando-se de poder escolher o que acha convinhável do ementário geral, preterindo o demais…

… Como se os textos sagrados da casa-mãe divina, como se o seu deus, os seus profetas, messias e outros insignes corifeus da “boa nova” fossem, a partir do momento que a pessoa se lhes religa, meros textos opinativos e concetuais, à mercê de cada um, e não a seguir tudo escrupulosamente, como diretivas divinais, portanto, do único, do infalível, cultivadas no jardim da celeste corte…

3- O h.m., no seu antiateísmo obcecado, mais do que no seu depauperado e incongruente ideário religioso, pensa que os ateus têm algum dirigente carismático e tutelar a seguir, a criticar, a concordar ou discordar, à semelhança, quiçá, do seu deus e do seu ectoplasma messiânico, para os quais, de resto, o h.m. se está marimbando, pois que nem sequer consegue articular 1, 2, 3 preceitos cristãos que ele diga assumir e praticar, nem  consegue indicar 4, 5, 6 ideias/conceitos do seu deus e patentes na Bíblia, que interessem para a humanidade…

… O que nem sequer varia muito da multidão de religionários de fancaria, alguns deles ditos “não-praticantes”, como se um não-praticante duma doutrina pudesse ser adepto da mesma…

4- Mas, enfim, desde o patriarca Miguel Cerulário e, sobretudo, desde Martinho Lutero e, mais modernamente, desde Joseph Smith e sua “Latter-Day Saints” e Charles Russell e sua Watch Tower Society, tudo vale e a interpretação da casa-mãe bíblica é livre, sem que o All-MIghty God apareça e defina os seus retos e inequívocos caminhos…

Até lá, teremos de aturar toda a religiofauna terráquea, mais as suas desvairadas e incongruentes ideias, de que a nossa mascote, o heteronimista metastático (h.m., para os inimigos…), é um extravagante e desconcertante “caso de estudo”…

São como canídeos errantes, à procura de tassalhos religiosos que possam rilhar e assimilar, ou procurando aconchego em casa mais acolhedora, mas onde possam rosnar sempre, com a sua insolência persistente e inamistosa, enquanto evocam, vaga e hipocritamente, o Lucas evangelista e o seu “amor aos inimigos”…

5- Valha-lhes S. Roque, que é o padroeiro dos cachorros sem coleira…

 

11 de Julho, 2013 Administrador

Manutenção dos servidores

Informamos os nossos leitores de que os servidores do nosso host entrarão em manutenção no dia 13 de Julho, pelas 03:00h (hora de Lisboa). A operação poderá demorar cerca de sete horas.

Poderão surgir dificuldades de acesso ao site durante esse período, facto que lamentamos desde já.

Obrigado.

20 de Maio, 2013 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_20_05_2013

João César das Neves (JCN), quiçá por ausência prolongada de pecados, andou arredado das homilias pias com que agride a inteligência dos crentes e hilaria os incréus.

Na prédica de hoje, neste ano da Graça de 2013, começa por advertir os paroquianos de como procede quem pretende destruir a sociedade: acusar vários réus «do Governo aos bancos, do euro aos corruptos», para advertir que essa forma é ineficaz.

Quando julgávamos que no bem-aventurado brilhava um módico de bom-senso, quis o predicante esclarecer-nos sobre «A verdadeira conspiração», a forma mais eficiente de «conseguir a aniquilação de Portugal». Engana-se quem pensa que a crise económica, ainda que fosse muito mais severa, ou os métodos políticos e militares eram capazes de nos destruir. É muito difícil destruir Portugal – diz JCN.

Mas… «Há uma maneira, e é simples». E está a acontecer-nos. Basta uma conceção que «degrade o conceito de casamento» a que se juntam «as brutais consequências humanas, psicológicas, educativas, culturais e sociais que nascem de famílias em desagregação». Censura a conflitualidade conjugal, explosão de divórcios, desequilíbrio emocional e precarização de relações», mas ignora que tudo acontece por vontade do seu Deus.

JCN adverte que «tudo nasce de uma ideologia lasciva que impõe o postulado de que no sexo todos os prazeres são equivalentes e devem ser excitados». E deplora «este tempo que promove divórcio, aborto, promiscuidade e depravação».

JCN espanta-se que «a população tenha apatia perante a podridão e se assuste com questões económicas, secundárias e passageiras». O que lhe dói é «a incompreensível, boçal e brutal dissolução familiar», referência indireta à lei que prevê a capacidade de co-adoção por casais ou unidos de facto do mesmo sexo, aprovada na generalidade, no Parlamento.

Sem nunca a referir expressamente é a esta lei que chama «A verdadeira conspiração».

Ateo gratias.

JCN -

13 de Maio, 2013 Carlos Esperança

A liberdade mata a fé

O mundo atual chega e as coisas antigas vão ficando para trás. É o que ocorreu com igrejas e templos na Holanda, que se transformaram em pubs, cafés, livrarias e até casas de shows.

Essa transformação ocorreu porque as instituições religiosas não têm mais recursos para manter as construções e elas ficam cada vez mais vazias por lá. Afinal, a última pesquisa realizada no país indica que 44% da população são de ateus. Enquanto os católicos ocupam 28%; os protestantes, 19%; os muçulmanos, 5%, e os fiéis das demais religiões, 4% da população.

25 de Abril, 2013 Carlos Esperança

Esta é a noite que trouxe no ventre a madrugada

Trinta e nove anos passados sobre a manhã libertadora de Abril, regressaram o medo e a fome. Por ora não é ainda a PIDE que prende, é o desemprego e a destruição metódica e eficaz dos direitos conquistados que paralisam o povo e o lançam de novo na aventura da emigração, na incerteza do futuro e na tragédia da pobreza.

Os atuais governantes têm um projeto político extremista e o objetivo de cercear direitos e fizeram do país um laboratório do ultraliberalismo, “custe o que custar”. O desespero que espalham é a semente das convulsões que se avizinham num retrocesso que os mais pessimistas estavam longe de prever.

Apagam os símbolos identitários da Pátria com a alienação dos feriados do 5 de outubro e do 1 de dezembro enquanto o 10 de junho, com um PR de débil cultura, se transforma, como no fascismo, em altar da exaltação da raça, com os feriados pios a permanecerem por imposição do Vaticano, que despreza e humilha o país.

A reabilitação da guerra colonial está em curso, o regresso dos velhos valores têm um discurso, uma lógica e um projeto, seguidos pelos que nunca se conformaram com a perda do Império e o descrédito da ditadura. Só faltava empobrecer os portugueses e submetê-los pelo medo. A fome, o desemprego e o empobrecimento coletivo estão nos planos de um governo reacionário que vê no ultraliberalismo o caminho da salvação.

É o regresso mole a um passado afrontoso e a um quotidiano de desespero.

Abril cumpriu a descolonização, o desenvolvimento e a democratização e não foram os seus capitães que agravaram as desigualdades sociais ou contribuíram para a perda da generosidade, entusiasmo e solidariedade que galvanizaram Portugal e os portugueses.

Não se ignora a crise que se abateu sobre o mundo, mas não há justificação para a falta de equidade na repartição dos sacrifícios nem para a devastação dos direitos a que só a cegueira ideológica e o espírito de vingança marcam o ritmo e a seletividade.

A PIDE, as prisões políticas, a censura, o degredo, o exílio, a tortura, a discriminação da mulher, a violação do domicílio e da correspondência são dolorosas recordações dos mais velhos. Restauraram-se os direitos cívicos, implantou-se a democracia. É pouco? Nunca tão poucos fizeram tanto por Portugal como os capitães de Abril. Não deixemos agora que nos conduzam ao passado.

A escalada contra as conquistas de Abril pode ser parada. Comemorar Abril, ser fiel ao seu ideário e honrar os seus heróis é uma forma de dizer basta à mais violenta ofensiva da direita contra os seus valores, nos últimos 39 anos. Nada, absolutamente nada, pode ser pior do que o Portugal beato, rural e analfabeto que o salazarismo manteve graças à repressão policial.

Na ditadura o País não era a casa comum dos Portugueses. Era a cela coletiva dos que não fugiam. O 25 de Abril transformou Portugal. Tanto tempo nas nossas vidas, tão pouco na história de um povo. É tempo de recuperar o espírito de Abril.

 

Viva o 25 de Abril. SEMPRE.

cravo