Há devotos do Diário de uns Ateus, avezados aos textos aqui publicados, incapazes de migrarem para outras paragens zoologicamente mais adequadas.
Saem das missas, cheios de raiva dos ateus, com a hóstia ainda colada ao palato, a trocar os padre-nossos pelos insultos, as ave-marias pela provocação e a fé pelo ódio. A crença e a malquerença andam misturadas, as orações substituem-se pelo fanatismo e as igrejas são madraças católicas onde explode a raiva, rangem dentes e ruminam vinganças.
Podiam os créus usar um módico de civilidade, um mínimo de bom senso, um resquício de humanidade, mas não se pode esperar muito de quem tem o monopólio do verdadeiro deus, do único livro sagrado e da exclusividade da água benta.
Fazem pena, na sua raiva pequenina, no seu pequeno mundo de um deus que inventaram só para eles. São saprófitas do divino, lacaios do Vaticano, agarrados às sotainas.
Enquanto os ateus se limitam a negar a existência de um ser imaginário e a combater as superstições, os devotos tornam-se malcriados para agradarem ao deus que inventaram e fascistas por tradição. Desde Mussolini, considerado enviado da Providência pelo Papa de turno, os católicos reacionários seguem o déspota, que acabou mal mas deixou bem a Igreja católica, com dinheiro público, um Estado mal frequentado e religião obrigatória nas escolas do Estado.
O Papa não lhe faltou com a bênção nem o povo com o julgamento cruel, à boa maneira católica. É dos descendentes desses trogloditas que nasceram os fascistas malcriados que vêm em bandos a destilar impropérios à caixa de comentários de um blogue nascido contra o obscurantismo e a superstição.
Como eles dizem, nas suas orações, bem-aventurados os pobres de espírito.
Pavão- Cuidado com o monte de merda!
Borboleta- Onde?
Pavão- Ali à frente.
Borboleta- Não é um monte de merda. É apenas cocó.
Pavão- Cocó? Chama-lhe o que quiseres. Para mim é um monte de merda. E dá para cheirar daqui. O tipo que o fez já devia estar morto e não o sabia.
Borboleta- Não digas isso. Não fales assim. É desrespeitoso tanto para o cocó como para quem o fez.
Pavão- Tens a noção de que estamos a falar de merda, certo?
Borboleta- Não. Tu estás a falar de merda. Eu estou a falar de cocó. São duas coisas completamente distintas, só tu é que não vês. O cocó faz parte da vida, faz parte de nós, faz parte do ciclo da natureza. Tem direito ao seu lugar e deve ser respeitado como outra coisa qualquer.
Pavão- Eu também não disse o contrário. Só te avisei para te desviares e não borrares os sapatos. Merda ou cocó, é tudo a mesma coisa.
Borboleta- Não. Merda tem um sentido pejorativo, não dignifica o cocó, denota preconceito da tua parte.
Pavão- Preconceito? Mas tu estás doida?
Borboleta- Sim, preconceito. Sinto isso sempre que estou mais à vontade contigo. Quando estamos sozinhos é que dá para ver o que tu és na realidade.
Pavão- Provavelmente porque quando estamos sós não precisamos de merdas para falar de merda. Merda como aquela que está ali a fumegar e que parece ter olhinhos que pelo tamanho só podem ser caroços de azeitona. Se estivesse aqui alguém connosco provavelmente teria alguma sensibilidade às suas merdas e não me referiria ao monte de merda que ali está como merda, mas sim como cocó ou pupu ou qualquer outra palavra às bolinhas.
Borboleta- Essa indireta das bolinhas foi para a minha saia? Estás a comparar-me à merda? Nunca me enganaste. Começo a ver agora o tipo de pessoa que tu és.
Pavão- Não digas merda, que é feio. É cocó…
Borboleta- Ai eu sou cocó? Logo se vê o que eu valho para ti.
Pavão- Não foi isso que eu quis dizer. Estava a ironizar. Para mim é merda.
Borboleta- Ai eu sou merda? Estás a ver como tu és?
Pavão- Não és tu, pá, é a merda que está ali à frente a querer fazer-nos uma pega de caras que é merda! Merda, pá! Um cagalhão que cheira mal como todos os cagalhões. Um monte de merda que um tipo qualquer cagou, assim como eu e tu cagamos os nossos.
Borboleta- Não precisas de ficar violento. Estás a partir para o ad hominem e isso significa que perdeste a razão e não tens mais argumentos válidos para apresentar.
Pavão- Tu é que me estás a tirar do sério com as tuas merdas por causa da porcaria de um monte de merda.
Borboleta- Vês como tenho razão. Eu já tinha lido sobre tipos como tu. Parecem uns sonsos à primeira vista mas acabam sempre por revelar a sua verdadeira natureza intolerante.
Pavão- Ai sim? E onde é que leste isso? Naquelas revistas pseudocientíficas que uns maluquinhos cheios de recalcamentos publicam para venderem as suas psicoses aos mais desatentos?
Borboleta- Ai agora sou psicótica também…
Pavão- Não és, mas se continuares a permitir que esses merdas psicóticos te influenciem vais acabar por ficar. E tudo por causa de um monte de merda!… Que merda, pá!
Borboleta- Cocó! Cocó! Tu és é um cocofóbico, é o que tu és.
Pavão- Cocofóbico? Mas tu endoidaste de vez? Fobia é medo e eu não tenho medo de merda. Posso não gostar do aspeto e do cheiro, mas isso não tem nada a ver com medo. E não sou obrigado a gostar da merda dos outros. Respeitar o cagalhão alheio é uma coisa. Ser obrigado a amá-lo é outra. De onde é que te saiu essa do cocofóbico? Não me digas que leste um artigo qualquer numa dessas revistas. Mas agora andas a ficar dogmática? Já não consegues separar a realidade da ficção? Já pensas com a cabeça dos outros? Assim não vais longe, acredita. Qualquer dia começam a olhar para ti como uma maluquinha.
Borboleta- Pois, eu é que sou maluca. Mas o preconceituoso és tu.
Pavão- Olha… Ali à frente está um monte de merda. Ou um monte de cocó…
Borboleta- Monte de cocó… Já começam as generalizações…
Pavão- …um pedacinho de bosta… uma coisa com mau aspeto, que cheira mal e que nos vai sujar os sapatos se não lhe passarmos ao lado ou por cima. Vamos andando, que se faz tarde. Por favor, antes que isto dê merda. É que depois desta conversa toda já me apetece ir à casa de banho fazer, sei lá, merda?…
Borboleta- A tua podes ter a certeza que é merda que eu bem tenho que esperar uma boa meia hora para entrar na casa de banho depois de lá saires.
Pavão- Ai os meus cagalhões já são merda só porque são meus!… Já não são cocó. E tu, julgas que os teus cheiram a água de rosas?
Borboleta- Os meus não me cheiram a nada. Já os teus, deixa-me que te diga… já que estamos numa de sinceridade…
Pavão- Pois, a nossa merda nunca nos cheira tão mal como a dos outros. Foi assim que a natureza nos moldou. Os cheiros já foram importantes para a nossa evolução, não aprendeste isso nas tuas revistas?.
Borboleta- Pois então tu não evoluíste, ainda estás na fase Neandertal. Deve ser por isso que és tão preconceituoso com os outros. Ou então é o fel da ruindade que te faz cheirar tão mal.
Pavão- Eu não sou preconceituoso, apenas sei distinguir um monte de merda de um monte de lama. Sou um empirista empedernido, que queres? Tudo o resto é semântica. Olha, vamos acabar com esta conversa de merda e vamos embora que está a cair a noite e não tarda nada temos que andar a apalpar o chão para não tropeçar nos cagalhões dos outros.
Borboleta- Vai à merda.
Pavão- Eu não, que estes sapatos são novos!
E foram.
Parece haver um pacto entre a Dr.ª Isabel Jonet, o Governo e a Igreja católica. O Governo contribui com os pobres, a D. Isabel com as esmolas e a Igreja com as indulgências.
A ausência de censura, ao contrário do que é comum nos blogues religiosos, permite a publicação de textos que não estão de acordo com o pensamento dos colaboradores do Diário de uns Ateus e, muito menos, com a Direção da AAP.
O Diário de uns Ateus não se identifica com o conteúdo dos últimos artigos de João Pedro Moura.
João César das Neves (JCN) deu o título de «Gambozinos» à homilia de hoje, no DN, começando por definir os animais imaginários com que se ludibriam os pacóvios, como «animais nocturnos, ariscos e fictícios, caçados em grupo nos bosques portugueses», à imagem e semelhança dos anjos, lobisomens, profetas, virgens e demais fauna mística que povoa a sua imaginação pia.
A homilia começa por afirmações triviais sobre economia, de que é destacado mullah no madraçal* de Palma de Cima, para logo lhe fugir o pé para a chinela, com a boca seca da eucaristia, o coração dorido do martírio do seu deus, o corpo debilitado pelos jejuns e a alma atormentada pelos ensinamentos do Concílio de Trento.
De prudente mullah da economia passa a talibã romano, a execrar a coadoção por casais do mesmo sexo. É a obsessão de quem troca o amor pela abstinência, o êxtase do corpo pela martírio da alma, a felicidade humana por uma assoalhada no Paraíso.
O domingo é um dia difícil para JCN. Depois do êxtase místico, das genuflexões pias da missa, das orações prolongadas e do jejum, é obrigado a aliviar o cilício para cumprir a publicação do dia seguinte, no DN, e, quiçá, a penitência a que o confessor o condenou.
É dessa penitência, com a auréola da santidade e os dedos condenados à tendinite, que emerge o desvairamento com que execra a aprovação da lei da coadoção por casais do mesmo sexo. Atira-se às teclas com o furor de Santiago aos mouros, com a raiva de um cruzado aos infiéis e a metódica tortura de um inquisidor aos hereges.
Afirma JCN que a referida lei «alterou o multissecular conceito natural do matrimónio» como se os adjetivos fizessem jurisprudência, como se o esclavagismo e a tortura, por serem também multisseculares e naturais, fossem justos ou toleráveis.
Exoneradas a inteligência e a razão, ao serviço do seu Deus, JCN considera irrisório que «nos três primeiros anos foi realizado um total de 914 uniões, 0,8% dos casamentos do período. Seria mesmo uma necessidade relevante?».
Que raio de argumentação! Se houvesse 914 pessoas em risco de se afogarem, apenas 0,8% dos afogamentos, discutiria JCN se seria relevante salvar essas 914 pessoas?
Depois do ruido criado pelo líder da JSD, com a proposta do referendo inconstitucional, agora que a proposta de lei, que já devia estar aprovada, voltou à A.R., JCN afirma que «Desta vez discutem a co-adopção e adopção por casais do mesmo sexo…» e adita em pura retórica: «No meio dos dramas nacionais, os deputados sentem-se livres para caçar gambozinos».
Para JCN, a afirmação dos direitos individuais é comparada cinegeticamente como uma «caçada aos gambozinos». «Bem-aventurados os pobres de espírito…»
Caros leitores:
Chegados ao fim de mais um ano, é mister apresentar os votos canónicos de Boas Festas e desejar um feliz Ano Novo. O desejo existe, mas só um incauto acredita.
Em Portugal, os deuses ensandeceram. Com a nossa ajuda, é certo. O desalento grassa, com Passos Coelho, Portas e Cavaco a cuidarem do pântano profetizado por um piedoso engenheiro.
Sobre a Pátria estamos conversados. Valham-nos os versos de O’Neill:
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo
golpe até ao osso, fome sem entretém
….
meu remorso
meu remorso de todos nós…
Para desgraça já basta o ano que ora finda. Para vergonha tivemos a estátua 8,5 metros, em Braga, para o cónego Melo.
Reitero os votos de um feliz 2014, na convicção de que será demasiado mau e com o enorme desejo de errar.
Um abraço.
Carlos Esperança
No último dia de novembro do ano de 2003 o Diário de uns Ateus chegou à blogosfera. Foi com este nome que nasceu e, depois de várias vicissitudes, da mudança de nome para Diário Ateísta, e, de novo, para Diário de uns Ateus, aqui continua sem o esplendor de outros tempos mas numa recuperação honrosa que resistiu às contingências do acaso e aos ataques informáticos de que foi alvo.
Passou esquecido o 10.º aniversário, com 2 milhões e 90 mil visitas e com cerca de 400 visitas diárias. Vimos recordá-lo com quinze dias de atraso. É uma data relevante.
Estatisticamente podemos dizer que 1 em cada 5 portugueses já passou por este espaço onde os ateus se encontram, os crentes de rosto humano vêm procurar o contraditório e os fanáticos cuspir insultos e exibir raiva. De facto, tem sido o espaço de convívio entre portugueses e brasileiros, para afirmar o ateísmo ou para insultar os que aqui escrevem.
Contrariamente aos blogues religiosos, aqui não há censura nem monolitismo político, embora procuremos evitar referências partidárias, exceto quando a laicidade é posta em causa ou algum partido ou o Governo se põem de cócoras sob as sotainas.
Porque não há religiões boas, somos plurais no ataque às diversas crenças, no combate a todas as superstições, na denúncia da maldade de qualquer Igreja. Repudiamos o ódio sectário das religiões como o fazemos a qualquer totalitarismo político que, no fundo, é a política tornada religião e convertida em verdade única.
Como cada religião considera falsas todas as outras e falso o deus de cada uma delas, no que certamente todas têm razão, todos nos podemos considerar ateus. Nós, os legítimos, só consideramos falsa mais uma religião e um deus mais. No fundo todos somos ateus.
Dois milhões e noventa mil visitas depois, o Diário de uns Ateus, aqui continua firme na defesa da laicidade e na luta pelo direito de todos, e de cada um, à crença, à descrença e à anti crença, em igualdade de direitos, recusando o ódio sectário que as religiões mútua e reciprocamente destilam.
Aos livros sagrados, carregados de ódio e de mitos, sobrepomos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, certos de que à maldade de Deus se deve sobrepor a liberdade e a igualdade dos homens que beberam no Iluminismo os princípios da solidariedade.
A luta contra as religiões e a discriminação de género, que preconizam, encontram neste Diário o combate que a misoginia, a crueldade, a homofobia e o tribalismo merecem.
Aos 95 anos faleceu um paladino da liberdade e o grande obreiro da transição pacífica de um regime racista e colonialista para um país multicultural e multirracial – a África do Sul. A grandeza moral levou-o a perdoar aos países que, em 1987, votaram contra a sua libertação incondicional proposta pela Assembleia Geral das Nações Unidas – EUA, Inglaterra e Portugal.
São homens da têmpera de Nelson Mandela, cuja inteligência e sensibilidade os distancia do comum dos dirigentes, que nos levam a ter esperança num mundo onde não seja possível a discriminação por razões de raça, religião, sexo ou convicções políticas.
Nelson Mandela, o prisioneiro 46 664, é o símbolo de quem não desiste de transformar o Mundo e deixar um país que não seja coutada só de alguns.
O velho prisioneiro e primeiro presidente da África do Sul livre, condenado a prisão perpétua, resistiu ao cativeiro 27 anos e ao ódio e à vingança o resto da sua vida. Foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz e foi maior o prestígio para o Prémio do que para o premiado.
Obrigado, Nelson Mandela.
Freira roubada fica sem hóstias
Irmã Goreti ficou muito abalada com o assalto realizado por um homem de cara destapada e que tinha uma faca. Ladrão levou-lhe ainda livro de orações.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.