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Categoria: Arte e cultura

8 de Abril, 2010 Ricardo Alves

Apresentação de livro ateísta

No sábado, às 16 horas, estarei na Livraria Bulhosa de Campo de Ourique (Lisboa, Rua Tomás da Anunciação 68 B) para apresentar o livro «Deus o Homem e a Verdade», de Manuel Sousa Figueiredo, que constitui uma bela e irónica história do cristianismo, seus impasses e contradições, de um ponto de vista ateísta.

Estais todos convidados.

13 de Dezembro, 2009 Ricardo Alves

Caetano Veloso sobre o ateísmo

A longa entrevista do cantautor Caetano Veloso à Ípsilon passa pelo ateísmo.

  • «No livro “Verdade Tropical”, o momento mais criticado foi eu dizer que o Brasil deveria ser ateu. E criticado com razão. Não há o menor indício de que o Brasil tenha vocação para isso.  Mas o ateísmo filosófico moderno, que tem a ver com a experiência do mundo moderno que vimos vivendo, não pode ser simplesmente negado. Eu não acredito na nova religiosidade, e acho que isso é um problema imenso, que tem de ser transposto. O Brasil tem tarefas imensas, e uma virada grande tem de incluir isso [o ateísmo]. Agora, não quer dizer que eu esteja satisfeito com o ateísmo conquistado até aqui. Eu acho que não é satisfatório.»
  • «(…) não me sinto bem com a identificação católica. Tenho uma relação um pouco conflituada com a ideia de religião, uma tendência anti-religiosa. Não é íntima, mas é muito forte. É uma questão de respeito à minha inteligência. Não gosto de ser enganado, não gosto de ver as pessoas serem enganadas, cresci numa casa em que todo o mundo ia para a Igreja…»
17 de Novembro, 2009 Carlos Esperança

Momento de poesia

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Dissertação sobre os nacionalismos…

Nada como fazer da morte

uma vitória

para que a história a glorifique

como uma epopeia ou uma tragédia

só assim os homens e as mulheres

se ajoelham perante Deus

e declaram o amor à Pátria

penitenciando-se nos altares,

louvando os santos e os mártires

e cantando nas paradas marciais

a grandeza dos seus heróis.

Alexandre de Castro
9 de Novembro, 2009 Carlos Esperança

Todos somos Abéis e Caíns

Por

Onofre Varela

onofre_varela“Criticar os costumes dos homens sem atacar ninguém em particular, será, realmente, morder? Não será antes o desejo de ensinar ou aconselhar? Além disso, quantas vezes me tenho criticado a mim próprio? Uma sátira que não poupa nenhuma das condições humanas não pretende atacar homem algum em particular, mas sim os vícios de todos.
Se alguém se ergue a gritar que foi ofendido, confessa que se sente culpado, ou, pelo menos, que em segredo se inquieta”.

(Erasmo de Roterdão, in “Elogio da Loucura”)

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O tema Religião é delicado, principalmente quando abordado sob o ponto de vista de quem não alinha em credos religiosos. Corre-se sempre o risco de levar os crentes a sentirem-se ofendidos na sua fé. Isto acontece invariavelmente, por muito cuidado que se tenha na escolha das palavras e por muito que se repita que a intenção primeira não é beliscar religiosidades, mas reflectir sobre a fenomenologia que conduziu o raciocínio do Ser Humano para a criação dos deuses, e de como tal prática acabou por gerar e desenvolver culturas, sistemas de organização política e social, e fomentar uma indústria e um comércio da Religião e da fé, aprisionando consciências.

Neste Ocidente democrático e civilizado, o respeito pelas crenças não impede a expressão crítica. Era só o que faltava obrigarmo-nos ao silenciamento e à auto-censura para não ferirmos sensibilidades tão susceptíveis de rotura, só porque os clérigos estão (mal) habituados à ditatorial proibição da abordagem de temas que eles consideram intocáveis e propriedade sua, como acontece com a Bíblia (que não é pertença do Vaticano mas Património da Humanidade), da qual não aceitam leitura diversa daquela que a Igreja difunde formatada de acordo com os seus interesses. Respeitemos mas opinemos.

Um ateu não é mais do que um crítico das religiões, sem se obrigar a papar missas, tal como um crítico cinematográfico, ou literário, critica cinema ou literatura sem se obrigar a filmar e a escrever. Se a religiosidade de cada um é coisa sagrada, a liberdade de expressão é, também, igualmente sagrada. Nem o ateu, nem o religioso são donos da verdade. Nas suas deambulações filosóficas sobre o conceito civilizacional designado Deus, o ateu pode chegar a conclusões tão certas, ou tão erradas, quão certos ou errados estão os que acreditam na intervenção de uma divindade no destino dos homens… porque errare humanun est. Não há infalíbilidades em questões filosóficas e muito menos nos discursos religiosos. Todos nós, incluindo o Papa, emitimos opiniões que podem ser tão certas como certo é a chuva molhar, ou tão falíveis quanto o Orçamento Geral do Estado.

Há (e é muito bom que haja) um pensamento à margem do “politicamente-instituído-como-correcto”, que resulta da observação crítica e do constante questionamento daquilo que nos é mostrado como bem e certo, mas no que se pode detectar algum mal ou erro, e daí nasce a polémica. Todas as polémicas são necessárias e úteis, mas tornam-se desinteressantes quando aquilo que as motiva não é mais do que paixão desmedida. Todos nós sabemos, por experiências vividas na juventude, que as paixões, em regra, são muito emotivas, pouco racionais, e habitualmente têm um prazo de validade curtíssimo… tal como o iogurte e os ovos moles.

O tema Deus é interessante, absorvente, e por isso pode cair na teia das paixões empoladas, terreno onde se corre o risco de se não encontrar uma porta racional por onde se entre ou saia com dignidade e elevação intelectual e moral. A paixão é como o vinho: ou se consome com regra, moderação e racionalidade, usofruindo do prazer que a bebida produz, ou se emborca sem medida até à bebedeira total, correndo-se o risco de tomar atitudes nada dignificantes.

A Bíblia tem muito peso na formação dos povos ocidentais porque todos nós fomos educados nos seus preceitos. É um conjunto de registos contendo algumas narrativas históricas à mistura com conselhos práticos, leis sociais, regras de comportamento e de higiene, poesia, conflito, crimes de vária índole, muita ficção, e fabulosas estórias para a implementação da também fabulosa ideia do monoteísmo. A difusão de tal ideia pertence aos Hebreus, e foi verdadeiramente revolucionária para o tempo em que existia um deus para cada hora do dia! O povo hebreu criou o conceito de um só deus, com o valor de todos os outros, condensado e em versão single. Tal ideia foi iniciada por Abraão, e ao longo de mais de 1.500 anos de História acabou sendo imposta por Judeus, Cristãos e Muçulmanos como Verdade Universal a ser atendida por todos com muito temor e adoração desmedida. Mas a verdade é que o valor histórico dos textos bíblicos onde a ideia é registada, é muito relativo e não inteiramente fiável.

Na existência real de um deus, e na sua intervenção junto dos homens, é que reside a questão, porque tal coisa não tem substância, não é credível à luz de qualquer lei física, e só pode ser afirmada pela fé, a qual não tem qualquer valor para além dela mesma.

O estudo sério, histórico e arqueológico, das narrativas bíblicas é recente. Foi em 1843 que o arqueólogo francês Paul Émile Botta, escavando em Korsabad, na Mesopotâmia, encontrou baixos relevos com inscrições descrevendo as campanhas do rei assírio Sargão II contra o reino de Israel na conquista de Samarina, tal como na Bíblia é referido (Isaías, 20). Só desde então os textos bíblicos saíram da incógnita de mosteiros e sacristias para serem estudados por cientistas de vários ramos da Ciência. Mercê destas consequentes novas interpretações dos textos ditos sagrados, e de outras leituras por credos não católicos, a Igreja reagiu, recentemente (7 de Outubro de 2008), através do cardeal canadense Marc Ouellet, relator geral do
sínodo dos bispos, solicitando ao papa uma encíclica sobre “a interpretação das Escrituras, por haver muitas divergências interpretativas” e algumas delas “divergirem da visão que o Magistério do Papa e dos bispos oferecem sobre a Bíblia”!… Como que se o papa fosse o autor das Escrituras, ou tivesse procuração dos seus escribas, ou a exclusividade dos direitos universais para a sua interpretação!…

Obviamente que a proposta não é ingénua. Ela pretende que a Bíblia deixe de ser interpretada nos meios científicos “apenas sob o ponto de vista académico, pois a Palavra de Deus penetra em todas as dimensões da pessoa”, e legitime, assim, as interpretações de fé colocando-as ao mesmo nível dos estudos científicos!… O que não passa de uma esperteza saloia cardinalícia.

É evidente que o estudo de tais matérias deve ser deixado a cargo de especialistas formados nos diversos ramos da Ciência inerentes à tarefa da interpretação dos textos bíblicos enquanto objecto arqueológico e documento testemunhal da evolução do pensamento, e não apenas aos teólogos que funcionam como advogados de defesa em causa própria.

Dito isto, e terminando esta minha reflexão, em verdade vos digo: todos nós, incluindo o escritor e Prémio Nobel José Saramago, somos livres de aproveitar esta porta aberta por Marc Ouellet — que pretende aferir, paralelamente à Ciência neutra e conclusiva, os entendimentos religiosos —, para também entrarmos por ela e fazermos a nossa interpretação pessoal da Bíblia, cuja liberdade foi legalizada pelo cardeal (embora não precisassemos dela para o fazermos)! Nesse sentido, direi que Abel e Caím protagonizam, metaforicamente, um exemplo ilustrativo do natural e humano espírito de inveja e ciúme — que nos retrata a todos, sem excepção —, e que também pode configurar um tipo de crime com motivações económicas, já que Caím matou o irmão Abel por interesses relacionados com as partilhas da terra e do gado.

Entenda-se: se, pela fé, a um religioso é dada legitimidade para interpretar os textos bíblicos de acordo com o seu entendimento místico, divorciado das interpretações históricas e científicas, então todos nós podemos reivindicar a mesma legitimidade de interpretar os mesmos textos baseando-nos no raciocínio de ateu, de agnóstico, ou de, simplesmente, curioso, divorciado de todas as interpretações de fé que, como se sabe, só têm valor (e muito relativo) no seio das respectivas crenças. Para além do mais, note-se que aquele que lê a Bíblia apenas pelo prisma da crença religiosa… na verdade não sabe nada da Bíblia!… simplesmente porque crer não é saber.

Onofre Varela

28 de Outubro, 2009 Raul Pereira

Momento de poesia

A boa e descansada vida que levam os nossos frades-pios, digna de inveja por todas as considerações

Frade


Desde que nasce o sol até que é posto

Governa o lavrador o curvo arado,

E de anos o soldado carregado

Peleja, quer por força, quer por gosto:


Cristalino suor alaga o rosto

Do barqueiro, do remo calejado;

Do cascavel ao dente envenenado

Anda o rude algodista sempre exposto:


Trabalha o pobre desde a tenra idade;

O destro pescador lanços sacode

Para escapar da fome à atrocidade;


Todos trabalham, pois que ninguém pode

Comer sem trabalhar; somente o frade

Come, bebe, descansa e depois fode.


Antologia poética de António Lobo de Carvalho, poeta satírico vimaranense do séc. XVIII.

[via Torre dos Cães, há muito inactivo, para mal dos nossos pecados]

19 de Outubro, 2009 Carlos Esperança

Tomás da Fonseca – Reeditado

Prefácio Luís Filipe Torgal - Novidade: Outubro 2009  393 pp | pvp €19,90 | ISBN 978-972-608-207-1

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19 de Outubro, 2009 Carlos Esperança

condestavel

Prefácio João Macdonald Novidade Outubro 2009

112 pp | pvp €13,00 | ISBN 978-972-608-206-4

13 de Setembro, 2009 Ricardo Alves

Darwin incomoda

Um filme sobre a vida de Charles Darwin, como escreveu A Origem das Espécies, e como perdeu a fé, não encontrou distribuidor nos Estados Unidos devido à oposição de cristãos fundamentalistas.

Alguém sabe se Creation passará em salas portuguesas?

25 de Março, 2009 Carlos Esperança

O Sr. Duarte Pio e o opúsculo

Li no excelente blogue De Rerum Natura, num post de Carlos Fiolhais, o seguinte:

«De facto, o candidato a rei é autor de um opúsculo laudatório do Beato Nuno, onde se pode ler esta pérola: “Quando passava de Tomar a caminho de Aljubarrota, a 13 de Agosto de 1385, D. Nuno foi atraído a Cova da Iria, onde, na companhia dos seus cavaleiros, viu os cavalos do exército ajoelhar, no mesmo local onde, 532 anos mais tarde, durante as conhecidas Aparições Marianas, Deus operou o Milagre do Sol» (“D. Nuno de Santa Maria – O Santo”, ACD Editores, 2005).»

Fiquei maravilhado com o que li e, sobretudo, por saber que o Sr. Duarte Pio escreve.

O Sr. Duarte Pio, suíço alemão, da família Bourbon, imigrante nacionalizado português pela conivência de Salazar e pelo cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, podia emprestar a imagem às revistas do coração mas precaver-se contra a ideia de publicar opúsculos.

Claro que não é necessário saber falar para escrever e, muito menos, saber escrever para publicar um opúsculo, mas a gramática, o tino e o decoro deviam criar numerus clausus.

É verdade que famosos especialistas são frequentemente alheios ao mister que os celebriza. É o caso do Conde de Abranhos como ministro da Marinha ou de Bagão Félix nas Finanças. E Portugal é um país que resiste a tudo. Resistiu à dinastia de Bragança, ao salazarismo e a Santana Lopes.

O Sr. Duarte Pio há-de ter pensado, em seu pensamento, num esforço heróico, que um livro vinha a calhar para lhe dar o toque de erudição depois das saídas rústicas que lhe mereceu José Saramago a cuja leitura o pouparam a rudimentar cultura e ausência de sensibilidade.

Se o Bush e a Alexandra Solnado são capazes de falar com Deus, e da Alexandra não há razão para duvidar, por que motivo o Sr. Duarte não há-de ser capaz de escrever um livro ou, pelo menos, um opúsculo, ainda que com a ajuda de alguns vassalos?

Há quem, através do estudo e do trabalho, de altas classificações numa boa universidade e de grande tenacidade consiga um emprego ao balcão de uma loja de pronto a vestir mas não será fácil chegar a Grão Mestre da Ordem de N. Sra. da Conceição de Vila Viçosa, da Real Ordem de São Miguel da Ala, Juiz da Real Irmandade de São Miguel da Ala, Bailio Grã-Cruz da Ordem Soberana de Malta, membro do Concelho Científico da Fundação Príncipes de Arenberg e outras distinções guardadas para os descendentes de rainhas de Portugal.

Felizmente vivemos em República. Somos cidadãos e não súbditos. Quando nos cansamos dos titulares dos órgãos de soberania, votamos noutros. E ninguém, com juízo, votaria em quem acredita que Nuno Álvares curou o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo de fritar peixe.