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Categoria: Arte e cultura

10 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

DN – Suplemento Q – OUVIR

Suplemento Q_o convidado. Hoje, DN

 

Convidado como presidente da Associação Ateísta Portuguesa, deixo aqui as respostas que dei:

OUVIR

Recordo Os vampiros, de Zeca Afonso, talvez pelo momento presente em que a crise do capitalismo encontrou a saída na fuga para a frente, sem reparar na angústia, medo e revolta que semeia com o ultraliberalismo a que, neste momento, quer condenar-nos, em Portugal, na Europa e no Mundo.

Vem-me à memória a primeira quadra: «No céu cinzento sob o astro mudo / Batendo as asas Pela noite calada / Vêm em bandos Com pés veludo / Chupar o sangue Fresco da manada». Não posso deixar de pensar no homem generoso que pôs o seu talento ao serviço dos seus valores numa dádiva constante de um sonhador, para quem a vida foi madraça, e que tanto deu recebendo tão pouco.

Ouvir Zeca Afonso é prestar homenagem a um grande cantor de intervenção que ajudou a mudar Portugal quando não se sonhava que, numa manhã de abril, nasceriam cravos nos canos das espingardas.

Pedra Filosofal – Este belo poema, de António Gedeão, atinge uma sonoridade especial na voz de Manuel Freire. Enquanto houver homens e mulheres para quem o sonho comande a vida, não deixará de ser ouvido. É um hino à liberdade que nos interpela e extasia os sentidos.

Gosto de ouvir a Pedra Filosofal, fechar os olhos e sonhar, porque sei que «sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança, como bola colorida, entre as mãos de uma criança». Quando o mundo volta a ser a preto e branco, quando a realidade quotidiana nos empurra para a melancolia, valem-nos os poetas e cantores para descobrir, por entre as nuvens pardacentas das noites escuras, o raio de luz que desponta para iluminar a aurora dos dias.

Ouvir música, como a referida, e ler um bom livro apazigua e traz a serenidade a que todos devíamos ter direito.

10 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

DN – Suplemento Q – VER

Suplemento Q_o convidado. Hoje, DN

Convidado como presidente da Associação Ateísta Portuguesa, deixo aqui as respostas que dei:

VER

Casablanca é o filme da minha geração

Sendo um filme romântico, fica para sempre a tensão dramática do tema, o desempenho notável de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman e o dilema dilacerante entre a virtude e o amor, numa situação extrema onde o sacrifício do amor é cruel e obrigatório.

Só um filme em que o interesse do tema, a realização exemplar e o sublime desempenho dos atores se conjugam para documentar um dos mais dramáticos momentos da história da Humanidade, podia resistir aos 70 anos que já leva a cativar sucessivas gerações de cinéfilos e espectadores comuns.

Rever Casablanca é uma viagem ao Governo de Vichy e à demência nazi que apavorou a humanidade, particularmente a Europa, e prestar homenagem à resistência heroica que uniu as mais diversas correntes democráticas contra o esmagamento das liberdades pelo extremismo ideológico do nazismo que reuniu o que pode haver de pior em qualquer ideologia: o imperialismo, o racismo e a xenofobia, numa orgia de horror, violência e morte.

Citizen Kane ou «O Mundo a Seus Pés» é um filme de suspense com uma realização soberba de Orson Welles. A palavra “Rosebud“, com que começa, pronunciada imediatamente antes da morte do magnate do jornalismo, acerca do qual se desenrola o filme, perdura pela vida de quem o viu e sentiu necessidade de o rever. «Rosebud» é a palavra enigmática, quiçá, algo que Kane perseguia e não conseguiu, talvez o fracasso derradeiro de quem subiu ao cume do poder, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo, e algo lhe escapou.

Citizen Kane é um filme obrigatoriamente presente na história do cinema. Desde a direção artística à banda sonora, da fotografia à montagem, tudo se conjuga para a apoteose do ator protagonista, o próprio Orson Welles, que interpreta a vida de um homem pobre cuja indiferença alheia o levou a construir uma fortuna colossal e um poder imenso.

 

27 de Maio, 2013 Carlos Esperança

Aquilino Ribeiro – um escritor que fez escola

Há cinquenta anos faleceu Aquilino Ribeiro, o maior prosador da língua portuguesa da primeira metade do século XX.

A mãe quis destiná-lo ao sacerdócio e foi no seminário que aprendeu decerto o encanto da língua e o desencanto da fé. Aliou a carreira de êxito literário à intervenção política e ao combate cívico, primeiro pela República, depois contra a ditadura.

Sou suspeito a falar de Aquino, que li muito novo, onde encontrei palavras que do meu avô materno e pessoas iguais às que eu conheci. Escreveu sobre gente e paisagens que me eram familiares e o Malhadinhas era a síntese de vários aldeões vivaços e atrevidos que me tratavam por menino por não ter pergaminhos para me dizerem, ora oiça, meu fidalgo.

Escreveu «Quando os Lobos Uivam» num tempo em que as feras andavam à solta e os Tribunais Plenários ao serviço da canalha fascista. Com Aquilino vivi as histórias do volfrâmio de que o meu avô falava e apreendi que as sotainas não escondiam a virtude apregoada e que «Anda(va)m Faunos pelos Bosques».

Manejou a pena e a escopeta, com igual entusiasmo, ao serviço de uma República laica e democrática. A paixão da escrita e da liberdade foram o desígnio do beirão moldado pela rudeza das terras onde nasceu, donde resgatou para a literatura os regionalismos e para a sátira os costumes. A prosa fez dele o estilista que o salazarismo quis esconder e a democracia esqueceu mas a riqueza da sua escrita moldou os que aprenderam nele o gosto pela língua e o amor à liberdade.

Só em 2007 a Assembleia da República decidiu trasladar os restos mortais de Aquilino para o Panteão Nacional, perante o azedume dos que nunca o leram e viam no maçon e, quiçá, carbonário, um expoente da inteligência, cultura e espírito revolucionário.

No 50.º aniversário da sua morte, penso em « Príncipes de Portugal. Suas grandezas e misérias», e é a mestre Aquilino que agradeço ter-me ensinado a conhecer e a amar as terras e gentes da minha infância, a língua que escrevo do povo que sou e a irreverência que me acompanha.

As bombas do jovem anarquista detonaram sem estragos de maior mas a prosa deliciosa anda por aí à espera de quem frua o prazer de a resgatar das «Arcas Encoiradas» para visitar A Casa Grande de Romarigães, descobrir «S. Bonaboião, Anacoreta e Mártir»,e tantas outras pérolas da literatura portuguesa.

Mestre Aquilino, cinquenta anos depois da sua morte, é ainda o herói desconhecido e a referência culta que me conduziu até Saramago.

Foi ainda, através dele, que o clero começou a perder o poder e o respeito.

30 de Março, 2013 Carlos Esperança

A missa na aldeia (Crónica)

Os sinos da igreja intimavam os paroquianos. O templo enchia, homens à frente, mulheres atrás, os «ricos» na primeira fila, sempre conforme à hierarquia e tradição. Uns minutos antes das nove ouvia-se a moto do padre Farias que já tinha despachado a missa das oito em Casal de Cinza e ainda o esperava outra paróquia.

Entrava sempre com ar mal disposto de quem sentia o penoso serviço de Deus como condenação, em paróquias pobres, de gente rude, sem instrução nem banho. Ainda dois dias antes ali estivera a ouvir em confissão os pecadores mais aflitos ou mais avezados à desobriga e à eucaristia. Não tardariam a chamá-lo de novo para levar o viático a um desgraçado que já não descolava da cama nem para a santa missa.

O latim deixava estarrecidos os crentes pelo carácter esotérico que assumia aos castos tímpanos de quem até o português, para lá de algumas centenas de palavras, soava a latim ou parecia língua estranha criada por Deus para confundir os homens nas obras da Torre de Babel.

A homilia era breve e as ameaças repetidas. Trabalhar ao domingo enfurecia o Senhor, comer carne à sexta-feira era veneno para a alma de quem não tivesse a bula, a côngrua andava atrasada por alguns paroquianos, a trovoada tinha dizimado as searas, era certo, mas a culpa não lhe cabia a ele, padre Farias, que cuidava das almas, a moto não se movia a água nem o mecânico a consertava a troco da absolvição dos pecados. Mas o mais injurioso para Deus e arriscado para a alma era trair a castidade pela qual a Santa Madre Igreja tanto zelava.

Recordo as pias mulheres, embiocadas no xaile e lenço negro, a debitar ave-marias, sem viverem o drama de D. Josefa que Eça descreve «toda sossegada, toda em virtude, a rezar a S. Francisco Xavier – e, de repente, nem ela soube como, põe-se a pensar como seria S. Francisco Xavier, nu, em pêlo».

Já não me surpreende que a Ti Beatriz, transida de frio e carregada de fome, de fé e de filhos, sempre com aquela tosse que irritava o padre e merecia das outras mulheres o diagnóstico de tísica, se debatesse com o outro drama da D. Josefa, de «O crime do padre Amaro», talvez em situações mais graves.

A bondosa D. Josefa juntava à nudez fantasiada do santo outro pecado que a torturava: «quando rezava, às vezes, sentia vir a expectoração; e, tendo ainda o nome de Deus ou da Virgem na boca, tinha de escarrar; ultimamente engolia o escarro, mas estivera pensando que o nome de Deus ou da Virgem lhe descia de embrulhada para o estômago e se ia misturar com as fezes! Que havia de fazer?”

A Ti Beatriz, alheia à metafísica, sofria a mesma consumição A tosse e a expectoração apoquentavam-na durante a eucaristia e o padre Farias já a ameaçara de lhe recusar o sacramento apesar da devoção com que cumpria os deveres canónicos e a regularidade com que paria um filho por ano.

Mal o corpo e o sangue do Cristo, em forma de alva rodela de pão ázimo, lhe tocavam a língua, logo a tosse e as secreções lhe acudiam à boca, parecendo acalmar à medida que o alimento espiritual aconchegava a mucosa gástrica, amansando o jejum e o catarro, seguindo o curso fisiológico.

Dita a missa, antes de destroçarem os paroquianos, o padre fazia avisos: pedia a quem encontrasse uma burra que informasse o dono, lembrava às mães que as crianças deviam ficar em casa se ganissem na missa, que qualquer cristão podia baptizar recém-nascidos em perigo de vida, in articulo mortis, sem necessidade de despachar um estafeta a exigir a sua presença, com risco de não estar ou de lhe minguar o tempo e a paciência.

Depois, enquanto o padre desaparecia sobre a moto, entre nuvens de pó, os homens ficavam a falar da vida, as mulheres regressavam a casa e os garotos enganavam a fome com uma bola de trapos.

8 de Outubro, 2012 Miguel Duarte

Passagem do filme “In defense of secularism”, seguida de debate

No próximo dia 17 de Outubro, nos encontros Ateístas e Humanistas de Lisboa, irá ser passado o documentário “In Defense of Secularism”, seguida de debate. Convidamos todos os interessados a participar e a vir conhecer o grupo (temos reuniões mensais).

Apresentação:

É a separação entre a Igreja e o Estado efetiva em todos os países europeus? É a laicidade um valor fundador da União Europeia?

Através deste documentário vamos discutir estes temas e o papel da Igreja em três países da União Europeia: Roménia, Irlanda e Itália.

Refeição (a participação no evento custa 7 Euro e inclui a refeição):

  • Pão e azeitonas
  • Folhado de atum e muffins de cenoura e frutos secos (opção vegetariana)
  • Salada
  • 1 Bebida (sumo ou cerveja mini)

Confirmações
Por forma a que se possa garantir um número de jantares adequado e uma disposição correta da sala, solicitamos que pff confirme a sua presença até dia 16, através do nosso grupo no meetup:

http://encontros.humanismosecular.org/events/71911062/

20 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

Areosa – Uma paróquia propensa a equívocos (Crónica)

1 – A tourada (agosto de 2012)

Há três anos foi a festa à santa errada quando Agosto era mês e a fé estava no auge, não porque a piedade tivesse crescido mas porque as férias e o regresso dos emigrantes dão mais colorido às procissões e maior frequência às missas. Este ano foi a tourada que a Câmara Municipal tinha proibido no concelho, em 2008, na presidência de Defensor de Moura, e que ontem se refugiou em terrenos rústicos da freguesia de Areosa, sob escolta policial, enquanto a população, tal como no caso da santa, se dividiu. Um touro perdeu a paciência e espalhou sucessivamente os pegadores pela arena. A inteligência venceu a força.

Desta vez, o confronto entre aficionados e adversários das touradas marcaram o fim de semana da Areosa. Há três anos foi a festa pia, agora foi a festa brava. É a maldição do mês de agosto que persegue a Areosa.

2 – Festas à santa errada (agosto de 2009)

A paróquia da Areosa, que se avista do alto de Santa Luzia, em Viana do Castelo, sofreu com a notícia que o padre João Cardoso Oliveira teve a incumbência de comunicar aos fiéis e, num ato inédito, com a urgente necessidade de sacrificar a santidade por amor à verdade.

A arreliante troca de uma preposição, pela contração da mesma com o artigo definido, pode pôr em causa a devoção, o entusiasmo e a felicidade de quem atribuía à santa as vindimas fartas e a qualidade do vinho.

A santa devia ser a Senhora “de” Vinha mas, vá lá saber-se porquê, obra do demo, quem sabe, por equívoco no nome acabou venerada uma santa que não era a autóctone – uma Senhora “da” Vinha – a quem os devotos passaram a confiar a vinicultura quando a santa da paróquia, a verdadeira, tinha por vocação a pecuária.

Os paroquianos reforçavam com ave-marias a eficácia dos herbicidas e procuravam a sinergia da fé para erradicar ervilhacas, malvas, saramagos, urtigas, gramas, escalrachos  e outras dicotiledóneas e gramíneas que retiram força à cepa e comprometem a vindima. A vera santa da Areosa tinha competência veterinária e especialização «ovínea», donde derivou o nome “de vinha, que em latim se refere a ovelhas e originou o adjetivo “ovino” do português atual e, por lapso, rezaram a uma santa errada, padroeira da vinha, que, afinal, protege a pastorícia.

Durante muitas décadas os paroquianos fizeram a festa e a procissão a uma santa que tutelava a pastorícia e veneraram como protetora e padroeira da vinha. Quantos terços, novenas e missas foram rezados par a proteger do míldio as cepas, e a santa a pensar na sarna, nos parasitas, picadas de moscas, claudicações, mamites e outras moléstias que apoquentam o gado ovino!?

Que utilidade tiveram homilias, festas e orações, para fins agrícolas, dirigidas à santa que só tinha olhos para os rebanhos? E as oferendas de lavradores que não tinham ovelhas e pagaram promessas feitas para proteção das vinhas? Quem os vai ressarcir?

A Senhora da Vinha dá o nome à igreja da paróquia e a devoção levou os autóctones a homenageá-la com uma escultura em gesso que é, nem mais nem menos, uma videira, imune à filoxera mas não à provação do logro.

Quem sabe se a santa não continuaria a fazer milagres à altura da fé que se vai apagando lentamente sem provocar a comoção geral que o padre Oliveira, prior da Areosa, há 25 anos, terá de gerir!

Ainda hão de maldizer o professor de História da Universidade do Porto, frequentador da festa, que se pôs a esgaravatar no Louvre, em Paris, e descobriu uma pintura do século XIV com a Senhora “da” Vinha, sem parecenças com a Senhora “de” Vinha, salvo na virtude que as há de igualar e não se vislumbra a olho nu.

Maldito o respeito que a Universidade, o Louvre e os professores passaram a merecer e que ofusca o apreço que às imagens pias era devido, com manifesto prejuízo do maior bem que a gente simples possuía – a fé. Por ora, não se adivinha o efeito devastador da investigação histórica, confirmada pelo pároco, na desorientação de uma paróquia tão piedosa, temente a Deus e orgulhosa da santa que era “de” Vinha e os paroquianos julgaram ser “da” Vinha.

22 de Maio, 2012 Carlos Esperança

José, filho de Jacob e Raquel

Por

Leopoldo Pereira

Se leem a Bíblia, o que não me canso de recomendar, sabem que o casal só teve este filho depois de Deus interferir, pois até aí afirmava-se que Raquel era estéril. Entretanto Jacob não esteve parado e teve 10 filhos de outras mulheres, incluindo a cunhada. Escusado será dizer que o menino passou a ser o mais novo dos irmãos (meios-irmãos), mas também o mais querido dos pais. Pode parecer que isso nada tivesse de estranho, mas tinha! Lá na terra os mais novos deviam respeito e obediência aos mais velhos (hábito que nalgumas aldeias do concelho de Pinhel, por exemplo, ainda há pouco era observado). Ao que consta o José, protegido pelos pais, cedo provocou ciúmes nos irmãos; mais, ele gabava-se de ter sonhos onde aparecia sempre em posição cimeira relativamente aos manos.

Claro, foi a gota de água!

Interpretações fidedignas apontam para várias versões sobre a forma como os irmãos, que eram pastores, se desfizeram do maninho. Uma diz que o atiraram a um poço, indo de seguida lastimar-se junto dos pais, que uma fera o tinha devorado. Imagine-se a dor do casal perante tal desgraça, dor que jamais passou, ainda que tivessem tido outro filho: Benjamim.

José deve ter tido a sorte de haver pouca água no poço, ou a de se agarrar ao balde, que puxavam para as pessoas e animais beberem. Pouco depois desta cena horrorosa, passou no sítio a caravana de um ministro, de seu nome Putifar. Pararam para matar a sede e ao subirem o balde… quem havia de aparecer? Um belo rapazinho, que logo a sr.ª Putifar quis adotar, com a anuência do marido. O rapaz saiu atilado e dizem que chegou a obter o diploma das “velhas oportunidades”; a par disso cresceu tão ou mais belo do que era, levando a sr.ª Putifar a perder a cabeça. José não alinhou e lixou-se: A ofendida fez queixa ao marido, que José se tinha metido com ela, e o pobre foi parar à prisão. Podia ter sido pior…

Já na cadeia, o moço voltou aos sonhos, mas agora (com uma razoável formação intelectual), quis ir mais além e dedicou-se a interpretá-los. Foi tão bem sucedido, que a fama chegou aos ouvidos do Faraó. Este, supersticioso até dizer basta, teve uns sonhos esquisitos e quis pôr à prova os conhecimentos de José. O Faraó ficou a saber que a região ia ter uns anos agrícolas bons, mas que a seguir viriam uns maus! A confiança no rapaz foi tanta, que o hospedou no palácio e a breve trecho já era José quem superentendia nos celeiros. Ou seja, na hierarquia dirigente egípcia passou a ser a 2.ª figura. Casou com a filha de Putifar e teve dois filhos.

Como levou a sério a interpretação dos sonhos, encheu os celeiros enquanto pôde. Vieram os anos maus e, tanto os egípcios como os habitantes dos países vizinhos, iam aos celeiros comprar cereais (pão), que era vendido a dinheiro. Foi nesta fase que os malvados dos irmãos apareceram, também a comprar pão. José reconheceu-os, mas só da segunda vez lhes disse quem era. Então soube que tinha um irmão, que a mãe falecera e que o pai ainda estava vivo. Exigiu que lhe trouxessem Benjamim e ao vê-lo comoveu-se, tendo perdoado aos irmãos.

Depois pediu ao Faraó que autorizasse a família a fixar-se no Egipto (pedido logo deferido); o pai e os irmãos passaram a residir no Egipto, tendo sido bem aceites pela população local.

A certa altura os pobres camponeses já nem dinheiro tinham; então José aceitava, em troca do pão, animais domésticos. Depois já não tinham animais domésticos e José aceitava-lhes as terras, outrora de cultivo. Desta forma conseguiu encher os cofres do Faraó e torná-lo dono de praticamente tudo, inclusive das pessoas (suas escravas).

Esta história bíblica, como a maioria delas, apesar de “fidedigna” tem muito de fantasiosa. De qualquer modo e numa primeira fase, fiquei fã de José, pois me pareceu representar um final à altura do imortalizado amor que os pais protagonizaram. Mas depois desconfiei que José fosse mesmo o que à primeira vista supus ser. E não é.

Foi fiel ao Faraó e a Putifar, amigo da família, revelou ser inteligente e até admito que não ia à bola com os deuses egípcios, mas foi ESPECULADOR.

Viveu 110 anos (alimentação à base de cereais…) e foi sepultado num sarcófago egípcio.

Permaneço leitor assíduo do Livro Sagrado e, por via disso, porei ao dispor, dos aficionados como eu, mais histórias lá narradas, sempre que decida interpretá-las por escrito.

L. Pereira – 22/05/12

21 de Abril, 2012 Carlos Esperança

Exposição de Onofre Varela – CONVITE

ONOFRE VARELA EXPÕE DESENHO E PINTURA

Na próxima Terça-feira, dia 24 de Abril, pelas 15 horas, será inaugurada uma exposição de Onofre Varela, no Auditório Municipal de Gondomar, mantendo-se patente até 13 de Maio. Integrada na comemoração dos 38 anos da Revolução de Abril, a abertura da exposição será precedida da cerimónia da entrega dos prémios do concurso escolar para a criação do Cartaz de Abril (concurso que tem o alto patrocínio da Câmara Municipal de Gondomar, e foi aberto a todas as escolas do concelho).

A mostra constará de desenho, pintura, ilustração, caricatura,cartune, banda desenhada e ilustração científica, e a erimónia contará com uma pequena representação teatral pelo artista plástico que também se aventura nas artes de palco.

“Obra Vária 6” reúne o maior número de trabalhos que Onofre Varela já expôs, e nela se integram desenhos e pinturas que abarcam um período de tempo alargado, que vai de 1968 a 2012, e algumas das obras são mostradas pela primeira vez. É o caso do “Nu incompleto”, auto-retrato a óleo sobre tela, iniciado na década de 80 e nunca concluído.

A década de 80 foi um período em que o autor experimentou alguma inquietação emocional, o que o levou à produção de desenhos a tinta da china representando seres aflitivos e monstruosos, a que chamou “Pesadelos”. Alguns dos desenhos dessa série têm aqui a sua primeira mostra pública, e contrastam flagrantemente com a sua obra mais conhecida marcada pela forte tónica satírica e humorística. O quadro “Nu incompleto” esteve guardado 28 anos sem ser visto por ninguém, nem pelo próprio autor. É agora mostrado pela primeira vez, juntamente com alguns dos desenhos inquietantes produzidos no mesmo período.

A mostra pode ser vista de Terça a Sexta, das 10h00 às 12h00, das 15h00 às 19h00 e das 21h00 às 23h00. Aos Sábados, das 15h00 às 19h00 e das 21h00 às 23h00, e aos Domingos das 10h00 às 12h00 e das 15h00 às 18h00. Encerra aos Feriados e às Segundas-feiras.