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Categoria: Livros

5 de Setembro, 2011 Raul Pereira

Dois livros proibidos

Duas críticas publicadas por José Carlos Fernandes, na Time Out Lisboa, a propósito de dois livros que andam (infelizmente) nas bocas do mundo, na televisão e nas linhas da imprensa e da Internet. Agradeço ao autor a permissão para publicá-las aqui.

 

Benjamin Wiker

Dez Livros que Estragaram o Mundo (10 Books That Screwed Up the World), 2011, Alêtheia (* mauzito)

São 15 e não dez, pois há “mais cinco que também não ajudaram nada”, e vão de O Príncipe (1513), de Maquiavel, a A Mística Feminina (1963), de Betty Friedan, passando por escritos de Descartes, Rousseau, Hobbes, J.S. Mill, Marx, Nietzsche, Lenin e Freud. Quase todos têm fraquezas, alguns (como Mein Kampf) são execráveis, mas poucos merecem ser alvo de simplificações grosseiras, leituras superficiais e citações fora de contexto, de forma a demonstrar, num exercício de panfletarismo sectário e desonestidade intelectual, que as ideias nele veiculadas são a raiz de todos os males do mundo – entre os quais estão o aborto, a homossexualidade, o sexo sem intuito reprodutivo e sem a benção do casamento e a emancipação da mulher.

O que estes livros têm em comum é serem obra de “ateus, e os ateus não gostam de coisas espirituais, porque as consideram enfadonhas” e são criaturas amorais, pois “quando se retira Deus do quadro, deixa de haver limites para o mal”. Do pai de Mill diz-se que estava “persuadido de que o destino e a felicidade dos seres humanos dependiam exclusivamente do esforço dos homens. Era um homem muito perigoso”. Quanto o marxismo, se este “permite demonstrar alguma coisa […] é que a doutrina cristã do pecado é uma doutrina verdadeira”. Já Darwin é um precursor de Hitler e só falta dizer que foi ele que planeou Auschwitz-Birkenau.

Um desses perigosos celerados que não crê no pecado original nem na imaculada concepção de Maria objectará que faltam na lista dois dos livros mais letais de sempre: a Bíblia e o Corão.

[publicado na Time Out Lisboa de 31.08.11]

 

 

Burpo, Todd & Lynn Vincent

O Céu Existe Mesmo (Heaven is for real), 2010, Lua de Papel (+ Infame)

Primeiro as boas notícias: o céu existe mesmo. A Colton Burpo, de quatro anos, filho de um pastor evangélico no Nebraska, estando à beira da morte, foi-lhe concedido visitá-lo e voltar.

Má notícia nº1: o céu de Colton corresponde ao imaginário de um miúdo submetido a doutrinação religiosa maciça desde que nasceu: Jesus tem trono, coroa e um cavalo arco-íris e ajuda as crianças a fazer os trabalhos de casa, reencontramos familiares falecidos, toda a gente tem asas, as portões do paraíso estão cravejados de pérolas, os anjos têm halo na cabeça e usam espadas com que combatem Satanás. Se o Paraíso for mesmo assim, embora as minhas probabilidades de a ele aceder fossem já escassas (demasiada masturbação na adolescência) vou tratar de roubar algumas caixas de esmolas de igrejas – mais vale não arriscar.

Má notícia nº2: 99% do livro é excipiente – vidinha de família numa parvónia do Midwest – e as visões celestiais de Colton cabem numa página.

Má notícia nº3: na redacção do livro, Todd, pai de Colton, teve o auxílio de Lynn Vincent, que possui sólida experiência em mistificações: é autora de Going Rogue, uma biografia glorificada da inefável Sarah Palin.

Má notícia nº4: esta pieguice vendeu dois milhões de exemplares em seis meses e está traduzida em 27 países (oh, por isto, qualquer escritor estaria disposto a morrer clinicamente por uns minutos).

Má notícia nº5: é o meu primeiro encontro com um livro conforme ao português de cafre instituído pelo Acordo Ortográfico, a cujos obreiros desejo que passem a eternidade no céu de Burpo.

[publicado na Time Out Lisboa de 03.08.11]

25 de Julho, 2011 Carlos Esperança

Novo livro

Dados sobre a pouco recomendável Opus Dei

15 de Setembro, 2010 Fernandes

Santos Papas

São mais de 300 páginas com centenas de histórias pouco santas sobre a vida sexual dos Papas da Igreja Católica. O livro do jornalista peruano Eric Frattini, recém-chegado às livrarias portuguesas e editado pela Bertrand, percorre, ao longo dos séculos, a intimidade secreta de papas e antipapas, mas não pretende causar “escândalo”. Apenas “promover uma reflexão sobre a necessária reforma da Igreja ao longo dos tempos”.

Alguns morreram assassinados pelos maridos das amantes em pleno acto sexual. Outros foram depostos do cargo, julgados pelas suas bizarrias sexuais e banidos da história da Igreja. Outros morreram com sífilis, como o Papa Júlio II, eleito em 1503, que ficou na história por ter inventado o primeiro bordel gay de que há memória.

Nos conventos rezava-se para que morresse. João XII era bissexual e obrigava jovens a ter sexo à frente de toda a gente. Gozava ao ver cães e burros atacar jovens prostitutas. Organizou um bordel e cometeu incesto com a meia-irmã de 14 anos. Raptava peregrinas no caminho para lugares sagrados e ordenou um bispo num estábulo. Quando um cardeal o recriminou, mandou-o castrar. Um grupo de prelados italianos, alemães e franceses julgaram-no por sodomia com a própria mãe e por ter um pacto com o diabo para ser seu representante na Terra. Foi considerado culpado de incesto e adultério e deposto do cargo, em 964. Foi assassinado – esfaqueado e à martelada – em pleno acto sexual pelo marido de uma das suas várias amantes.

* Ler aqui.

8 de Abril, 2010 Ricardo Alves

Apresentação de livro ateísta

No sábado, às 16 horas, estarei na Livraria Bulhosa de Campo de Ourique (Lisboa, Rua Tomás da Anunciação 68 B) para apresentar o livro «Deus o Homem e a Verdade», de Manuel Sousa Figueiredo, que constitui uma bela e irónica história do cristianismo, seus impasses e contradições, de um ponto de vista ateísta.

Estais todos convidados.

19 de Outubro, 2009 Carlos Esperança

Tomás da Fonseca – Reeditado

Prefácio Luís Filipe Torgal - Novidade: Outubro 2009  393 pp | pvp €19,90 | ISBN 978-972-608-207-1

Prefácio Luís Filipe Torgal - Novidade: Outubro 2009 393 pp | pvp €19,90 | ISBN 978-972-608-207-1

19 de Outubro, 2009 Carlos Esperança

condestavel

Prefácio João Macdonald Novidade Outubro 2009

112 pp | pvp €13,00 | ISBN 978-972-608-206-4

25 de Março, 2009 Carlos Esperança

O Sr. Duarte Pio e o opúsculo

Li no excelente blogue De Rerum Natura, num post de Carlos Fiolhais, o seguinte:

«De facto, o candidato a rei é autor de um opúsculo laudatório do Beato Nuno, onde se pode ler esta pérola: “Quando passava de Tomar a caminho de Aljubarrota, a 13 de Agosto de 1385, D. Nuno foi atraído a Cova da Iria, onde, na companhia dos seus cavaleiros, viu os cavalos do exército ajoelhar, no mesmo local onde, 532 anos mais tarde, durante as conhecidas Aparições Marianas, Deus operou o Milagre do Sol» (“D. Nuno de Santa Maria – O Santo”, ACD Editores, 2005).»

Fiquei maravilhado com o que li e, sobretudo, por saber que o Sr. Duarte Pio escreve.

O Sr. Duarte Pio, suíço alemão, da família Bourbon, imigrante nacionalizado português pela conivência de Salazar e pelo cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, podia emprestar a imagem às revistas do coração mas precaver-se contra a ideia de publicar opúsculos.

Claro que não é necessário saber falar para escrever e, muito menos, saber escrever para publicar um opúsculo, mas a gramática, o tino e o decoro deviam criar numerus clausus.

É verdade que famosos especialistas são frequentemente alheios ao mister que os celebriza. É o caso do Conde de Abranhos como ministro da Marinha ou de Bagão Félix nas Finanças. E Portugal é um país que resiste a tudo. Resistiu à dinastia de Bragança, ao salazarismo e a Santana Lopes.

O Sr. Duarte Pio há-de ter pensado, em seu pensamento, num esforço heróico, que um livro vinha a calhar para lhe dar o toque de erudição depois das saídas rústicas que lhe mereceu José Saramago a cuja leitura o pouparam a rudimentar cultura e ausência de sensibilidade.

Se o Bush e a Alexandra Solnado são capazes de falar com Deus, e da Alexandra não há razão para duvidar, por que motivo o Sr. Duarte não há-de ser capaz de escrever um livro ou, pelo menos, um opúsculo, ainda que com a ajuda de alguns vassalos?

Há quem, através do estudo e do trabalho, de altas classificações numa boa universidade e de grande tenacidade consiga um emprego ao balcão de uma loja de pronto a vestir mas não será fácil chegar a Grão Mestre da Ordem de N. Sra. da Conceição de Vila Viçosa, da Real Ordem de São Miguel da Ala, Juiz da Real Irmandade de São Miguel da Ala, Bailio Grã-Cruz da Ordem Soberana de Malta, membro do Concelho Científico da Fundação Príncipes de Arenberg e outras distinções guardadas para os descendentes de rainhas de Portugal.

Felizmente vivemos em República. Somos cidadãos e não súbditos. Quando nos cansamos dos titulares dos órgãos de soberania, votamos noutros. E ninguém, com juízo, votaria em quem acredita que Nuno Álvares curou o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo de fritar peixe.

10 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

As «Provas» de António Ferreira Gomes

Uma série de textos, muitos deles inéditos, do antigo bispo do Porto D. António Ferreira Gomes vão ser apresentados publicamente quinta-feira compilados num novo livro, para recordar os 50 anos da polémica que manteve com Salazar.

O livro «Provas. A outra face da situação e dos factos do caso do Bispo do Porto» é apresentado pelo bispo D. Carlos Azevedo quinta-feira na Associação Católica do Porto e reúne aquilo que é a defesa do prelado na polémica que manteve com o Estado Novo e que o obrigou a exilar-se durante dez anos.

A polémica nasceu com uma carta de Julho de 1958 em que D. António Ferreira Gomes criticava o corporativismo, o regime de partido único e a miséria do país.

Este volume de documentos foi reunido entre 1952 e 1982 para publicação futura pelo próprio prelado que «pôs em causa as bases do regime do Estado Novo», explica na introdução do livro o bispo D. Carlos Azevedo.

«Ao atribuir o título de Provas a este conjunto de documentos, o bispo [D. António Ferreira Gomes] oferecia a relação entre o que narrava nas Cartas ao Papa sobre o seu caso e os factos referidos nas fontes», salienta D. Carlos Azevedo no mesmo texto.

Nos textos reunidos pode apreciar-se a «oscilação entre razões de ordem política e explicações eclesiásticas para justificar o afastamento, remoção ou regresso do bispo do Porto» num «jogo entre agitação política e divisão religiosa», segundo D. Carlos Azevedo.

No livro, estão reunidos conferências, textos, reflexões pessoais do prelado, decisões eclesiásticas, decretos e cartas enviadas a outras entidades num total de mais de uma centena de documentos.

D. Carlos Azevedo, que é também presidente da Fundação SPES (fundada em testamento por D. António Ferreira Gomes), explicou que esta é uma ocasião propícia para «discutir o caso do bispo do Porto» e do seu exílio por dez anos por ter criticado o regime.

Os textos foram coligidos pelo próprio bispo até à década de 80 mas, na ocasião, foi decidido não publicar a obra, recorda D. Carlos Azevedo, que foi seminarista e é um admirador do prelado.

Agora, há já «um tempo suficiente para um juízo sereno de um caso que suscitou tanta polémica», afirmou o prelado, considerando que o futuro do bispo do Porto ensina às novas gerações que a intervenção pública por causas e valores é essencial.

«Não intervir é pecado» e «não arriscar uma solução é ser conivente com o estado da nação» pelo que é necessário «provocar profeticamente» os poderes instituídos, considerou o prelado.

Os textos foram todos colocados numa pasta e incluem introduções e anotações pessoais do próprio bispo, entre as quais cartas enviadas ao Papa ou mesmo documentos em que «ele faz uma interpretação do seu próprio caso».

No livro, está assim a «base documental para o que ele defende nas cartas enviadas ao Papa», explicou D. Carlos Azevedo, que guarda «memórias muito profundas» da figura do seu mentor.

«Foi o meu mestre do meu tempo de seminário e quem depois me nomeou director espiritual» daquela instituição, exemplificou o bispo.

Fonte: Sol, 09 de Julho de 2008.

6 de Janeiro, 2008 Ricardo Silvestre

Razões para ser ateísta

Seis razões para se ser um ateísta, retiradas do livro The Little Book of Atheist Spirituality de Andre Comte-Sponville 

  1. A fraqueza dos argumentos da oposição, principalmente as “provas que Deus existe”
  2. Senso comum: se Deus existisse, devia ser fácil o ver ou o sentir
  3. A capacidade de recusar o princípio que para explicar alguma coisa que não entendo tenho de utilizar algo que entendo ainda menos.
  4. A enormidade do mal
  5. A mediocridade da humanidade
  6. O facto de Deus corresponder tão perfeitamente aos nossos desejos, que só por isso temos todas as razões para acreditar que ele foi inventado para satisfazer esses desejos