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Categoria: Cinema

4 de Março, 2025 Onofre Varela

Humor e Fé (1)

Estamos a viver tempos perigosos a nível mundial. O desrespeito pelo próximo parece ser lei, e a opinião pública é intoxicada por ideais extremistas escurecendo o futuro de cada um de nós, desrespeitando, totalmente, o Humanismo que devia fazer lei nas relações humanas e entre Estados. 

As actuais políticas económicas e de expansão territorial, estão, filosoficamente, muito perto das tristemente célebres “Cruzadas” que, entre os anos 1095 e 1291 (durante dois séculos) tiveram a missão de reconquistar Jerusalém (denominada “Terra Santa”) do domínio muçulmano, e cujo resultado redundou em morte e destruição. 

O que nos vai salvando os dias é a capacidade que todos nós temos de rir, e muitas vezes rimo-nos do nosso próprio infortúnio. Rir é um bom remédio para qualquer mal (tal como na tropa os comprimidos LM [Laboratório Militar] eram receitados para todos os males). 

Já li opiniões de agentes religiosos defendendo o sentido de humor, considerando-o, até, divino! Mas também já me deparei com opiniões de outros religiosos atacando o humor, considerando-o um sentimento menor, do qual as “pessoas de bem” se devem distanciar. 

Na minha juventude, integrado num grupo da JOC (Juventude Operária Católica) participei em diversões e actividades de palco no Patronato de Rio Tinto, Gondomar (muitos anos depois destruído para dar lugar ao Lar Paroquial da Terceira Idade), que tinha uma boa sala de espectáculos por onde passaram vários actores, de entre os quais recordo Mena Matos, um excelente humorista e imitador, que fazia as vozes de todas as personalidades públicas da época, apresentando-as não só em palco, mas também aos microfones da rádio no programa de humor (e crítica social camuflada por causa da Censura) “A Voz dos Ridículos”. 

A minha participação era de cariz humorístico, fazendo “Stand up Comedy”, modalidade que hoje está na moda, mas que, na época, nem sequer existia com tal designação. Lembro que no final de um desses espectáculos, de sala cheia com aplausos e gargalhadas, o padre lá do sítio subiu ao palco para agradecer a músicos e cantores, mas com reservas para “o contador de anedotas”! 

Com um sorriso beato afivelado no rosto, aquele membro da Igreja elogiou os meus companheiros de palco e agradeceu as suas prestações no espectáculo, mas sublinhou “a indelicadeza do humor” naquele espaço paroquial. Ouvi-o, e ri. Naquele tempo (fins da década de 1960, ainda a meia dúzia de anos de acontecer o 25 de Abril) pouco mais podia fazer perante um discurso beato, que não fosse rir! 

Garanto que o meu humor, apresentado sob a designação de “anedotas”, não tinha nada a ver com as anedotas do meu amigo, e nosso comediante actual, Fernando Rocha, que usa o vernáculo para provocar o riso, e de quem muitos gostam e outros tantos detestam por não tolerarem o palavrão que ele usa como marca distintiva do seu humor. 

Mas o palavrão existe, faz parte da linguagem do nosso Povo e funciona bem em determinados palcos e públicos por retratar os discursos de todos nós. É um humor perfeitamente lícito, e a visibilidade do palco e da televisão acaba por ser entendida como destruidora da clandestinidade, aferindo a legitimidade de se dizer palavrão em público (o que todos nós fazemos em privado) no sentido de fazer rir.

Há quem não goste!… Paciência… eu também não gosto de marisco… mas há quem diga que é muito bom!… 

Aqui chegado, também apelo à paciência dos meus leitores para esperarem pelo resto da prosa… é que este meu espaço tem limite, e já cheguei ao fim… na próxima semana continuarei o mesmo discurso. Até lá, façam por rir… e riam muito (vejam e oiçam o Fernando Rocha… ou discursos políticos!…).

(Continua)

15 de Setembro, 2024 Onofre Varela

Ciência, Religião,Ética e Moral

Hubert Reeves, especialista em astrofísica e autor do livro “Um Pouco Mais de Azul”, distingue o domínio da Ciência de quaisquer outros domínios de entre os que regem as sociedades que os homens já construíram.

A Ciência explica como as coisas são ou funcionam, e não se imiscui nos valores sociais. O domínio desses valores pertence a outros campos, como a Política e a Economia. Depois, há a Filosofia, a Religião, e mais um ramo filosófico denominado Ética (tendo acoplada a Moral), transversal a todos os outros campos, limitando poderes e moralizando atitudes.

Na Economia e na Política… parece que a Ética é uma espécie de “figura de estilo” que se encontra apenas nos discursos dos profissionais desses dois ramos para “parecer bem”, mas não nas suas acções e atitudes… pelo menos que nos apercebamos dela no dia-a-dia!…

A Filosofia é um tratado de manuais de Ética estudando os valores que regem os relacionamentos entre as pessoas, a harmonia do convívio na significação do bom e do mau, do mal e do bem, e a sua própria definição aponta para “aquilo que pertence ao carácter”.

Sobre a Religião talvez possamos dizer que é “o modo popular” que as populações têm de entender a Filosofia e procurar a harmonia social nos seus conceitos.

Filosofias há muitas… tal como chapéus (como disse o nosso actor Vasco Santana)… e carácteres também os temos por aí às mancheias, aos lotes e aos pontapés. Os carácteres são tão velhos quanto o raciocínio. O “Carácter” conta a nossa História feita de guerras, de crenças e de negócios sem pinga de Ética. Nas guerras encontram-se “carácteres” que são rastilhos patrióticos, causas religiosas e políticas apresentadas por quem as faz como “exemplos de positividade”… mas sempre em prejuízo do mesmo alvo sofredor: o Povo.

Vasco Santana – Arquivo da RTP

O Povo é sempre o personagem que se encontra na cena das acções de guerra e morre crente na divindade apregoada pelos seus líderes religiosos que fazem a guerra, mas também crente nas razões políticas dos líderes que armam exércitos e destroem cidades, matam velhos e, principalmente, crianças que ainda não tiveram tempo de experimentar o paladar da vida.

Se a maioria dos líderes religiosos (que tanto apregoam a divindade e matam gritando que “Alá é grande”), dos políticos e dos generais que, por crença na divindade e no patriotismo serôdio, fazem a guerra, tivessem vergonha e raciocínio Humanista… terminariam as guerras, as invasões, as destruições de equipamentos e cidades… e não haveria mais morte violenta.

De entre homens de Religião destaco Baruch Espinoza (1632-1677), filósofo holandês de origem portuguesa, autor do livro “Ética”, e que foi acusado de ser ateu… mesmo tendo definido Deus como “o ente absolutamente infinito, isto é, a substância que consta de infinitos atributos”… o que talvez queira dizer que Ética e Religião podem conflituar (e conflituam!) entre si!

A Ética tem, no Cristianismo, o seu expoente máximo na célebre frase “Amarás o próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39), que é cópia do Velho Testamento (Levítico 19:18). É uma frase que traduz um conceito universalista, ultrapassando a Moral Católica que defende a vida uterina quando ainda não há ser humano formado e por isso condena o aborto; mas também condena o divórcio, a eutanásia e as relações homossexuais, que a Ética Laica defende como liberdades individuais lícitas.

A Ética religiosa difere de religião para religião. No Islamismo extremado, por exemplo, defende-se a condenação à morte da mulher que se apaixona por um homem que professe outra religião que não seja aquela que é seguida pela família dela!…

É comum misturar-se Ética com Moral. Não são a mesma coisa. Se a Ética estuda valores morais que orientam o comportamento humano, a Moral é constituída pelos costumes, pelas regras e pelos tabus das convenções instituídas por cada sociedade.

Logo, a Ética é mais universalista, enquanto que a Moral (os apelidados “bons-costumes”) é uma herança emocional e colectiva transmitida por cada sociedade aos seus membros… (e muitas vezes não é lá grande coisa!…)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

10 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

DN – Suplemento Q – VER

Suplemento Q_o convidado. Hoje, DN

Convidado como presidente da Associação Ateísta Portuguesa, deixo aqui as respostas que dei:

VER

Casablanca é o filme da minha geração

Sendo um filme romântico, fica para sempre a tensão dramática do tema, o desempenho notável de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman e o dilema dilacerante entre a virtude e o amor, numa situação extrema onde o sacrifício do amor é cruel e obrigatório.

Só um filme em que o interesse do tema, a realização exemplar e o sublime desempenho dos atores se conjugam para documentar um dos mais dramáticos momentos da história da Humanidade, podia resistir aos 70 anos que já leva a cativar sucessivas gerações de cinéfilos e espectadores comuns.

Rever Casablanca é uma viagem ao Governo de Vichy e à demência nazi que apavorou a humanidade, particularmente a Europa, e prestar homenagem à resistência heroica que uniu as mais diversas correntes democráticas contra o esmagamento das liberdades pelo extremismo ideológico do nazismo que reuniu o que pode haver de pior em qualquer ideologia: o imperialismo, o racismo e a xenofobia, numa orgia de horror, violência e morte.

Citizen Kane ou «O Mundo a Seus Pés» é um filme de suspense com uma realização soberba de Orson Welles. A palavra “Rosebud“, com que começa, pronunciada imediatamente antes da morte do magnate do jornalismo, acerca do qual se desenrola o filme, perdura pela vida de quem o viu e sentiu necessidade de o rever. «Rosebud» é a palavra enigmática, quiçá, algo que Kane perseguia e não conseguiu, talvez o fracasso derradeiro de quem subiu ao cume do poder, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo, e algo lhe escapou.

Citizen Kane é um filme obrigatoriamente presente na história do cinema. Desde a direção artística à banda sonora, da fotografia à montagem, tudo se conjuga para a apoteose do ator protagonista, o próprio Orson Welles, que interpreta a vida de um homem pobre cuja indiferença alheia o levou a construir uma fortuna colossal e um poder imenso.

 

8 de Outubro, 2012 Miguel Duarte

Passagem do filme “In defense of secularism”, seguida de debate

No próximo dia 17 de Outubro, nos encontros Ateístas e Humanistas de Lisboa, irá ser passado o documentário “In Defense of Secularism”, seguida de debate. Convidamos todos os interessados a participar e a vir conhecer o grupo (temos reuniões mensais).

Apresentação:

É a separação entre a Igreja e o Estado efetiva em todos os países europeus? É a laicidade um valor fundador da União Europeia?

Através deste documentário vamos discutir estes temas e o papel da Igreja em três países da União Europeia: Roménia, Irlanda e Itália.

Refeição (a participação no evento custa 7 Euro e inclui a refeição):

  • Pão e azeitonas
  • Folhado de atum e muffins de cenoura e frutos secos (opção vegetariana)
  • Salada
  • 1 Bebida (sumo ou cerveja mini)

Confirmações
Por forma a que se possa garantir um número de jantares adequado e uma disposição correta da sala, solicitamos que pff confirme a sua presença até dia 16, através do nosso grupo no meetup:

http://encontros.humanismosecular.org/events/71911062/

11 de Outubro, 2011 Raul Pereira

Se fosse hoje, Terry Jones não se atreveria…

Terry Jones, um dos membros do grupo Monty Python, criadores do belíssimo filme Life of Brian, de 1979, afirmou ontem ao The Guardian que, se fosse hoje, não realizaria o filme, devido ao ressurgimento do fenómeno religioso: «Ao tempo, a religião parecia posta de lado e era como se estivéssemos a pontapear um burro morto. Agora voltou para se vingar, e nós pensaríamos duas vezes antes de o fazer.»

Quem ainda não viu o filme, deve vê-lo. Mais informações no IMDB.