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Categoria: Cristianismo

23 de Maio, 2014 David Ferreira

Previsão meteorológica

De acordo com vários líderes religiosos ortodoxos, as recentes inundações que assolaram os Balcãs foram provocadas pela vitória de Conchita Wurst no Fjesus facepalmestival Eurovisão da canção. Segundo estes, Deus terá enviado a chuva para relembrar as pessoas que não devem optar pelo seu lado mais selvagem.

Devido à preenchida agenda de Conchita, não param de chegar encomendas de embarcações aos estaleiros navais de todo o mundo.

20 de Maio, 2014 David Ferreira

Pontos de vista

Na Igreja Ortodoxa russa, homens com barba que cantam de vestido afirmam que são contra homens com barba que cantam de vestido .

A coerência nunca foi apanágio das religiões…

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9 de Maio, 2014 David Ferreira

Por minha grande culpa

Disseste que Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados. Mas quando eu te perguntei o que eram pecados, nunca pensei que fosses dedicar tanto do teu tempo a elucidar-me…

Ensinaste-me que Jesus tinha morrido pelos nossos pecados pois só assim alcançariamos a vida eterna. Isso significa que tu para além de mau professor foste um péssimo aluno.

12 de Abril, 2014 David Ferreira

É preciso matar esta tristeza

 

Por coincidência, e após vários dias a discernir sobre uma matéria que sempre me suscitou reflexão, eis que deparo com o texto de um grande escritor, de seu nome Baptista Bastos, que vem precisamente ao encontro da linha de pensamento que procurei reproduzir em breves palavras, e que pode ser lido aqui: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3802752&seccao=Baptista

Abordando a questão com a tenacidade, a cultura e a experiência de vida que caracterizam o escritor, julguei não ser necessário alongar-me demasiado na leiga elucubração que me propus desenvolver, uma vez que o texto de Baptista Bastos reflete na perfeição muito do que pretendia dizer. Fica, contudo, o apontamento de um assunto que julgo ter relevância para um debate sério.

 

 

Vivemos tempos difíceis. A crise económica abateu-se sobre o país com a força de um tsunami deixando a descoberto as nossas centenárias fragilidades, habilmente varridas para debaixo do tapete da ilusão e da esperança ao longo de vários mandatos políticos excessivamente populistas ou escandalosamente interesseiros.

Não obstante as esparsas manifestações de desagrado e o sentimento de revolta que alimenta frívolas conversas de ocasião ou acesas discussões em fóruns ou blogs da internet, a sensação com que se fica deambulando pelas ruas é a de uma incapacidade quase congénita para reagir de forma eficaz à adversidade que nos anestesia o espírito e nos açaima a vontade, tão bem retratada no dizer de uma célebre figura pública – “O país aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”. Como se o soubesse. Como se este fado que assumimos e cantamos fosse um dado adquirido, um protótipo de destino traçado a priori para um indulgente desgraçadinho.

Somente agindo se reage. Só que nós reagimos como um peixe-balão – inchamos o peito e mostramos ao predador que não estamos para brincadeira mas ficamo-nos por aí, o peito inflado de ar, a suster a respiração, ansiando que não nos devorem, confiando na nossa capacidade de apneia. E nunca questionamos de onde nos vem essa capacidade ou inclusive que necessidade temos de constantemente a exercitar.

Interiorizámos o espírito de mártir, de exímio sofredor, um fardo obscuro e demasiado pesado que não raras vezes nos é apontado como característica digna de elogio apesar de nos condicionar a objectividade e a evolução.

A esta particularidade não estarão isentos de responsabilidade demasiados séculos sob o jugo do cristianismo, no nosso caso sob a vertente cristã em comunhão com a Igreja de Roma, cultivando uma experiência existencial demasiado assente no sofrimento, no julgamento, no arrependimento, no castigo, na aceitação acrítica do status de poder de quem inexorável e tiranicamente o define e, em particular, na adoração desprovida de racionalidade ao mito apocalítico da redenção e da salvação, fatores que moldaram uma identidade colectiva quase castradora que teima em emergir em períodos de maior dificuldade, embora se imponha ao imaginário social como reconfortante, otimista e esperançosa.

Apesar do sangue fresco injetado pelas recentes revoluções políticas e sociais, com destaque para o 05 de outubro de 1910 e para o 25 de abril de 1974, a transfusão que alvitrava rejuvenescimento nunca se chegou a concluir e os sintomas tendem a surgir a espaços como a recrudescência da malária. Há uma tristeza inatural que inexplicavelmente nos permeia a identidade sociocultural, tal como o olhar de comiseração das estátuas dos santos perpassa, condiciona e emociona o espírito dos crentes, reprimindo a liberdade do livre pensamento e comprometendo o espírito crítico necessário para a contraposição.

No mês em que se comemora a laxativa revolução dos cravos, sublevação adiada pela inanição colectiva e que nos libertou tardiamente de um longo inverno de opressão clerical fascista, urge refletir e repensar os objetivos capitais que estiveram na génese da mesma, sabendo nós de antemão que nenhuma revolução sobrevive eternamente em autofagia.

Todo o futuro se constrói sobre as ruínas do passado. E nada nos espera senão o futuro. É preciso matar esta tristeza!.

29 de Março, 2014 Carlos Esperança

O antissemitismo cristão

Surpreende o vigor com que o cristianismo e, em particular, o catolicismo nega quase vinte séculos de antissemitismo militante, hoje menos virulento do que o islâmico.

Martinho Lutero que conhecia a Bíblia tão profundamente quanto a corrupção papal, dizia dos judeus: «são para nós um pesado fardo, a calamidade do nosso ser; são uma praga no meio das nossas terras». (1543)

Quanto à ICAR não é preciso recordar o tribunal do Santo Ofício, basta relembrar as declarações papais ou citar as abundantes e descabeladas manifestações de ódio que a o Novo Testamento destila.

Eloquente, chocante e demente foi a atitude do cardeal da Alemanha, Bertram, ao saber da morte do seu idolatrado führer Adolfo Hitler. Já nos primeiros dias de maio de 1945, com a derrota consumada (a rendição foi no dia 8), ordenou que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, nomeadamente «uma missa solene de requiem, em lembrança do Führer». Entretanto o católico Salazar decretou três dias de luto pelo facínora.

Para alguns católicos e, sobretudo, para ateus, agnósticos e fregueses de outras religiões, é preciso dizer-lhes que, de acordo com a liturgia do requiem, uma missa solene de requiem se destina a que os devotos possam suplicar a Deus, Todo-Poderoso, a admissão no Paraíso do bem-aventurado em lembrança de quem a missa é celebrada.

Os quatro Evangelhos (Marcos, Lucas, Mateus e João) e os Atos dos Apóstolos são uma fonte de ódio antijudaico cristão tal como o Corão para os muçulmanos. Felizmente, os cristãos, sobretudo os católicos, leem pouco a Bíblia e creem vagamente no conteúdo.

Porém, em períodos de crise, há o risco de se agarrarem ao livro sagrado como os alcoólicos à bebida e, tal como estes, sem discernimento ou força anímica para renunciarem à droga, impedidos pela habituação e dependência que os escraviza.

O livre-pensamento é uma tentativa séria para promover uma cura de desintoxicação.

 

25 de Março, 2014 Carlos Esperança

O sexo dos anjos e a política europeia

Constantinopla já estava cercada pelos turcos otomanos, mas, antes da queda iminente, os teólogos discutiam, com ardor científico, a dúvida perturbadora do sexo dos anjos.

Todos sabemos que os zelosos funcionários alados, que a vontade divina distribuiu por rígida hierarquia, não podem ser desprezados, nem que o céu caia em cima dos devotos e eminentes investigadores.

Para os menos versados na hierarquia celeste, decalcada da militar, ou vice-versa, aqui fica por ordem decrescente a fauna que povoa o Paraíso:

– Serafins, Querubins e Tronos (oficiais generais); Dominações, Virtudes e Potestades (oficiais superiores); Principados, Arcanjos e Anjos da Guarda (subalternos). Convém esclarecer que Lúcifer, caído em desgraça, era um Serafim, não um anjo de segunda linha ou mero alcoviteiro, ao nível do arcanjo Gabriel.

A importante discussão não foi interrompida nessa terça-feira, em 29 de maio de 1453, em que o sultão Maomé II destruiu o Império Romano do Oriente e fez de Constantino XI Paleólogo o último imperador bizantino, cuja alma logo enviou para o Paraíso.

Nesse dia, a Idade Média expirou na Europa e apenas o sexo dos anjos e o seu nebuloso método de reprodução continuaram uma incógnita.

Lembrei-me da discussão quando foram anunciados os resultados da eleições francesas. O PCP logo descobriu que o PSF foi o culpado e o PS português emitiu um comunicado a dizer que o maior aliado da direita é o PCP. Independentemente da razão que a ambos decerto assiste, e que a este Diário pouco interessa, preocupa-me o ardor dos teólogos da política, mais interessados na caça ao voto do que nos esforços comuns para conter a extrema-direita que surge apoteótica, católica, esquecida a linhagem fascista e a matriz genética donde provém.

Em 1453 acabou a Idade Média – sei que os historiadores inventaram outras divisões –, e agora pode começar o fim da Idade Contemporânea. A vida é um eterno retorno mas as pessoas serão já outras.

2 de Fevereiro, 2014 David Ferreira

Jesus, esse revolucionário incompreendido

Esqueçamos a metáfora. Ponhamos de parte a subjectividade interpretativa de textos avoengos que o passado e os adeptos da sua eternização nos legaram como herança. Tomemos como real a romantizada história dessa enigmática personagem que uns misóginos psicopatas utilizaram como pilar mor para a fabricação da mais poderosa instituição a que a humanidade alguma vez se viu subjugada. Façamos de conta que Jesus, mais tarde Cristo, de facto existiu e que disse precisamente o que vem relatado nos evangelhos sinóticos, numa época primitiva em que o plágio intelectual e a pirataria cultural eram o único meio de passar informação ou de subtrair reconhecimento.

Esqueçamos, disse, o obscurantismo metafísico urdido para controlar a excessividade exibicionista e controladora da testosterona ou os estouvados impulsos púberes do estrogénio. Jesus de Nazaré, a personagem vagamente histórica que as mentes mais perversas e conservadoras preferem cultuar no auge da decadência e do sofrimento foi, sobretudo, e muito mais do que lhe acrescentaram postumamente, um revolucionário, um humanista dedicado, um iluminado precoce, apesar de atormentado pela compreensível crendice mais desesperada, um placebo antidepressivo numa época enclausurada pela selvajaria mais descontrolada.

Nos dias que correm, Jesus seria catalogado como um fanático e perigoso ideólogo de esquerda, um anarquista pós-punk, um yuppie pacifista adepto da contraceção e das praias de nudismo, um alienado rastafári a declamar poemas de amor em pelo no alto de uma montanha após incendiar uma plantação de cannabis, ou quiçá, benzei-vos, um comunista militante, porque ateu para com os antiquados, sádicos e narcisistas deuses capitalistas, excessivamente neoliberais. Apoiaria a Greenpeace, lutaria pelos direitos dos animais, seria membro do movimento LGBT, lutaria pela igualdade da mulher, estaria sempre do lado das minorias castradas de voz e sempre contra as vozes autoritárias do poder hereditário ou ilicitamente açambarcado. Um verdadeiro homem do povo, para o povo e com o povo. Não por ser igual a tantos, mas por a tantos reconhecer a diversidade e as fraquezas. E por a tantos vislumbrar o potencial. E porque a todos Deus criara. Tal como eram. Fossem como fossem. Porque tudo criara, afinal. E quem são os homens para questionar a criação de Deus?

Pasme-se pois, porque creiam que de pasmo aqui se trata, que, volvidos dois milénios (mais ano, menos ano), sejam precisamente os avatares das personagens que Jesus criticou veementemente, os espíritos mais conservadores, elitistas, reaccionários, calculistas e oportunistas, ou simplesmente insensatos, os que mais aguerridamente lhe usurpam o imaginário procurando impor aos restantes um tipo de mundividência em nome de quem categoricamente se entregou à morte para a achincalhar.

Estes que em seu nome falam são os que insistem em misturar o seu abastardado sistema de crenças, impregnado de uma idolatria que os antigos mandamentos já haviam condenado, com o governo dos homens, esquecendo o que ele disse, antecipando em séculos a laicidade: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

Estes são os que falam da necessidade de uma interpretação metafórica para tudo o que à luz do pensamento moderno possa parecer descabido, mas que continuam sem compreender a simbologia bem atual do episódio dos vendilhões do templo; ou que ele entraria em Fátima (um exemplo entre tantos) não de mãos postas e olhar de celibatário sensaborão, mas de cajado em riste, pronto a escavacar a gigantesca tabanca comercial com que os vendilhões do templo atestam os cofres do Vaticano com os parcos tostões que os vendilhões da banca caridosamente permitiram poupar.

Estes são os que no novo oeste negam a ciência e a evolução e lançam guerras santas contra outras de igual índole em terra deserta, e para muitos ainda plana, esquecendo que todos os rostos têm duas faces. E que estas faces, apesar de opostas, são semelhantes e completam o todo.

Estes são os que julgam quem nasce diferente, quem pensa diferente, apenas por não serem iguais à maioria, e se esquecem que o homem aconselhou a não julgar, para não se ser julgado, porque com o juízo com que se julga assim também se será julgado. Ou que atire a primeira pedra o que não tiver defeitos ou não tenha cometido erros. Ou que quem violar os mandamentos será declarado o menor no Reino dos Céus, o que engloba a totalidade da espécie humana.

A história da humanidade é tantas vezes feita de incongruências… Como é possível que alguém que hoje seria visto como um revolucionário de esquerda, passe o cunho ideológico, alguém que lutou pelos mais básicos direitos humanos,  tenha sido utilizado após a sua morte como símbolo para a implementação de sequiosos, torpes e retrógrados valores clericais e da frívola ideologia da direita mais reacionária?

A segunda vinda de Jesus Cristo está prevista na sua biografia não autorizada. Talvez seja por isso que os usurários do seu pensamento insistem em mantê-lo pregado na cruz. Não vá ele próprio tecê-las…

Esqueçamos, então, o obscurantismo. E façamos de conta que tudo isto é real.