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Categoria: Ciência

21 de Dezembro, 2008 Ricardo Alves

Feliz solstício

O solstício de inverno acontece neste exacto momento, às 12 horas e 4 minutos.

É o instante em que a ponta norte do eixo de rotação da Terra se encontra inclinada 23.44º para fora da órbita da Terra (ver o lado direito da imagem de baixo). No solstício de verão, a ponta norte do eixo de rotação da Terra encontra-se inclinada para dentro da órbita da Terra (ver o lado esquerdo da imagem de baixo).

O sinal mais evidente do solstício é a menor duração do dia no hemisfério norte (e a menor duração da noite no hemisfério sul). Outra evidência é a menor altura a que o sol «sobe», no mesmo hemisfério, relativamente à linha do horizonte (durante o seu «movimento» diário).

O dia mais curto do ano e a noite mais longa do ano marcam o início de um novo ciclo, com dias que se alongarão sucessivamente durante os próximos seis meses, até ao solstício de verão, quando o sol estará no seu máximo de altura no horizonte.

Bom ano!

23 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Crónica de um fim do mundo anunciado

Por

Renato Soeiro

 

Se hoje escrevo esta crónica, é porque afinal o mundo não acabou no momento em que foi posto em operação o LHC, o grande acelerador de partículas do CERN. Depois das profecias do fim do milénio, abundaram agora as previsões catastrofistas, abusando da ignorância popular e da decorrente tendência para acreditar em deuses e demónios, em desgraças e milagres.

Em Genebra não se fazem milagres, fazem-se coisas muito mais importantes. Abre-se uma porta para darmos mais uns passos no conhecimento da matéria, da sua natureza, da sua história e da sua origem. A matéria de que são feitas as estrelas, de que somos feitos nós, a matéria também de que são feitos os nossos sonhos.

Mas os cientistas do CERN contribuem para a nossa vida muito para além da física das partículas. As suas descobertas e invenções são postas à disposição dos outros investigadores de todos os Estados participantes e das universidades de forma livre e gratuita. Nesta atitude, que contrasta com o mesquinho mundo milionário dos negócios de patentes, estão também a abrir uma porta para um mundo diferente, em que o conhecimento será considerado património comum da humanidade.

Talvez não se lembrem, mas foi exactamente isso que fez, neste mesmo CERN, nos anos de 1989 e 90, o investigador Tim Berners-Lee quando inventou uma coisa a que chamou world wide web (www) e que, conjuntamente com o seu colega Robert Cailliau, insistiu para que fosse disponibilizada para todos de forma livre e gratuita. A essa atitude devemos o facto de hoje dispormos de uma ferramenta universal e gratuita de comunicação. Foi outra porta que o CERN abriu, pela qual hoje passam milhões de pessoas todos os dias.

Nota: Este artigo, de 13 de Setembro, só hoje o li, pedindo desculpa pelo atraso da publicação ao autor e aos leitores

16 de Setembro, 2008 ricardo s carvalho

óscar do jornalismo medíocre: CNN vs TSF

cada vez mais o jornalismo é mau. sensacionalismo, falta de objectividade, mediatismo, especulação, mentira, são as armas mais comuns para vender jornais e noticiários.

a educação científica também não goza propriamente de dias áureos. numa sociedade que ambiciona ser líder tecnológica, procurando consequentemente gozar da resultante prosperidade económica, um alicerce fundamental é a percepção ou a compreensão que a mesma faz das novidades científicas que vão surgindo. quando as pessoas falam do que não sabem, sem se informar, e ao mesmo tempo são completamente desinformadas pelos media, a coisa corre ainda pior…

o que dizer então do jornalismo científico? as espectativas estão, naturalmente, muito em baixo, e o espetáculo mediático da semana passada, por ocasião da data de primeiro feixe no LHC, veio comprovar isso mesmo. for the record, alguns apontamentos sobre quão baixo o jornalismo científico conseguiu descer:

CNN YouTube

este video mostra uma notícia que saiu na CNN. a coisa até parece não começar mal, com imagens de CMS e algumas palavras de um cientista respeitável, martin rees. mas é apenas uma questão de tempo: ao minuto 1:10 já a jornalista se refere ao bosão de higgs como “a partícula de deus”, um nome completamente ridículo inventado por algum jornalista com gosto pelo sensacionalismo (lá está, a coisa pega!). continuamos em queda até chegarmos ao momento de glória da mediocridade, do minuto 1:35 ao minuto 1:50 a notícia mostra um video do youtube (e, sem qualquer vergonha, a própria jornalista afirma que a fonte desse video é anónima e que foi retirado do youtube), onde podemos observar uma sequência de má ficção científica com um suposto buraco negro a engolir a terra. 15 segundos de espetáculo onde a jornalista ainda diz que os cientistas afirmam que esse é um cenário que não se pode concretizar (alguém ainda a estará a ouvir?) mas, mais tarde, no final da notícia deixa a dúvida com um “scientistas believe it is worth the cost and the risk. risco? mas que risco??

naturalmente que não existe nenhum, mas para as pessoas menos informadas as imagens podem ter consequências devastadoras:

«[…] Sixteen-year-old Chaya poisoned herself at her home in the central city of Indore, her father, Bihari Lal, said. He said Chaya had been worried the “world would end” when the Large Hadron Collider (LHC) was switched on. Some Indian channels held discussions about the European experiment featuring doomsday predictions. […]

Bihari Lal said Chaya – the eldest of his six children – had been frightened after watching local TV reports that the experiment would cause the “Earth to crack up and everybody in the village would die”.[…]»

(BBC NEWS --- 11 September 2008)

fica a questão: alguém vai ser responsabilizado criminalmente?

cá pelo burgo a coisa não foi tão trágica, pelo menos no que diz respeito à perda de vidas. pois no que diz respeito ao “jornalismo”, a TSF ganhou o prémio da pior reportagem:

«[…] O teólogo Anselmo Borges considera que será muito importante que se possa descobrir a chamada “partícula de Deus” nas experiências que estão a ser feitas no CERN, em Geneva, com o acelerador de partículas.

Contudo, em declarações à TSF, este estudioso entende que a dúvida sobre as razões da existência de um Big Bang permanecerá […]»

(TSF Online --- 10 SET 08)

deixem-me salientar que, no dia 10, esta peça dominou a notícia sobre o CERN no noticiário das 13h! se é certo que noutros noticiários a TSF optou, correctamente, por entrevistar (poucos dos muitos) cientistas portugueses a trabalhar no CERN, não poderia também neste ter mostrado um pouco mais de interesse ou curiosidade, entrevistando cientistas de ALICE ou LHCb, que buscam coisas bastante distintas do bosão de Higgs em ATLAS ou CMS? não se poderia ter interessado pelas aplicações tecnológicas das ferramentas de grid computing desenvolvidas para analisar os dados do LHC? não poderia ter consultado um teórico para explicar aos ouvintes realmente o que é isso do bosão de Higgs (e porque, na realidade, apenas dá massa a uma fracção da matéria do universo)? ora bolas, se tanto gostam de buracos negros, não poderiam ter falado com alguém que realmente saiba o que é um buraco negro?? não… como já alguém disse melhor que eu, decidiram enverdar por outro caminho, o caminho da mediocridade:

«[…] Mas os físicos não percebem nada disto. É o fim do mundo e é preciso consultar um perito em fimdomundologia. Por isso a TSF decidiu entrevistar Anselmo Borges que, enquanto teólogo, está particularmente habilitado a avaliar as experiências do LHC antes sequer de alguém as fazer. […]»

(Que Treta! --- Setembro 13, 2008)

[também no Esquerda Republicana]

11 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Big Bang – simulação da criação do Universo (2)

O sucesso da primeira etapa da mais ambiciosa experiência da Física, realizada até hoje, deixou pasmados os crédulos e assustados os beatos. A religião sai ridicularizada com o avanço da ciência, e os livros sagrados, já pouco críveis, reduzidos a catálogos de mitos que têm os dias contados.

O aproveitamento obsceno de alguns finórios da fé levou-os ao desplante de atribuírem a Deus esta notável experiência humana. Não vacilaram em enfeitar com os louros do êxito um mito criado por homens ignorantes e supersticiosos.

Os traficantes da fé, que no passado queimaram cientistas em nome do mesmo Deus a quem hoje atribuem os feitos dos homens, não desistem de manter um mito e adaptá-lo às circunstâncias que lhes convêm. É a eterna propensão mitómana das religiões e a atitude de camaleão dos seus propagandistas.

No acelerador de partículas não circula água benta, na contagem decrescente para o começo da experiência não houve bênção papal e no decurso da simulação ninguém pediu preces ou peregrinações.

Enquanto a ciência avança, as religiões, cada vez mais anacrónicas e fundamentalistas, limitam-se a proibir o prazer e a abençoar a miséria.

Cientistas de todo o mundo lançam um projecto fascinante enquanto o Papa, os bispos, os talibãs, os rabinos e os aiatolas rastejam, rezam e viajam de joelhos e de rabo para o ar, em fúria contra o progresso e a liberdade. Uns estudam outros rezam.

A ciência vencerá a fé e a razão o preconceito. Enquanto os clérigos se preocupam com a pílula e o preservativo, «o mundo pula e avança».  

3 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Dúvidas metafísicas

“Lembrei-me destas questões que gostaria de ver respondidas pela ASAE:

Se as hóstias forem feitas com trigo transgénico, o sacerdote não deveria informar os fiéis? 

O vinho da eucaristia não deveria ser armazenado em garrafas rotuladas?

A lavagem que o sacerdote faz do cálice não deveria ser feita pelo menos com um detergente, ou com água a não sei quantos graus?

A patena onde se colocam as hóstias para consagração também não deveria ser limpa?

As hóstias não deviam ser entregues em embalagens individuais?

O sacerdote não deveria usar pinças ou luvas para entregar as hóstias?

Quando se comunga de duas espécies, também se serve vinho a quem aparente possuir anomalia psíquica ou esteja embriagado?

Os menores de 16 anos também podem comungar das duas espécies, e assim beber vinho? 

No rito da adoração da cruz, o santo lenho não deveria ser esterilizado após cada ósculo? 

No Domingo de Ramos, onde é que a malta vai buscar os ramos de palmeira ou de oliveira?

As peças do Presépio não deveriam ter a marca ‘CE’?

O incenso espalhado pelos turíbulos pode ser de ópio ou cannabis?

A água da pia ou fonte baptismal não deveria desinfectada com cloro, ou coisas assim?

Os bebés não deveriam estar de touca? 

Como é que se controla a qualidade da água benta que é aspergida pelo híssope

E por fim: Os vasos dos santos óleos não deveriam ser embalado em embalagens munidas com sistema de abertura que perca a sua integridade após utilização e que não sejam passíveis de reutilização?

Nota: Estas dúvidas que afligem os crentes foram-me enviadas por um amigo (MPM). Não sei responder-lhe. Pode ser que um padre nos esclareça.

12 de Maio, 2008 Mariana de Oliveira

Afinal, existe

O sacerdote católico polaco Michael Heller, que é também cosmólogo e matemático, recebeu, em Londres, o Prémio Templeton 2008, atribuído a um estudo que mostre como a matemática pode oferecer provas indirectas da existência de Deus.

De acordo com a agência de notícias católica Ecclesia, as teorias do Padre Heller não se centram tanto em oferecer provas da existência de Deus mas em suscitar dúvidas acerca da realidade.

«A sua especialidade são as fórmulas complexas, desenvolvidas há mais de 40 anos, capazes de explicar qualquer coisa, inclusive a sorte, através do cálculo matemático», revela a Ecclesia, segundo a qual o galardão tem o valor de um milhão e 170 mil euros.

O júri do Prémio Templeton distinguiu o sacerdote pelas suas concepções originais sobre «a origem e a causa do Universo», pois encaixou a visão cristã no quadro mais amplo do contexto cosmológico.

As suas pesquisas «ampliaram o horizonte metafísico da Ciência», segundo a Fundação Templeton, que há 35 anos concede o prémio ao progresso para a pesquisa ou desenvolvimento de realidades espirituais.

Aos 72 anos, Michael Heller, que é docente na Faculdade de Filosofia da Academia Pontifícia de Teologia de Cracóvia, Polónia, junta-se a uma lista de galardoados em que figuram Madre Teresa de Calcutá, o escritor Alexander Solzhenitsyn, o reverendo Billy Graham e o líder espiritual indiano Pandurang Shastri Athavale.

O Prémio Templeton 2008 será entregue pelo Príncipe Filipe, duque de Edimburgo, em cerimónia privada.

Fonte: Sol, 07 de Maio de 2008.

19 de Fevereiro, 2008 ricardo s carvalho

da ciência e da banha da cobra

«[…] O ponto principal é que, embora hajam certas coisas que a ciência moderna não compreende, existem também muitas outras que a ciência compreende em grande detalhe, e o conjunto de todas essas coisas simplesmente não deixa espaço algum para a [coloque aqui a sua banha da cobra favorita]. Isto não quer dizer que sejamos capazes de provar que esta não é real. De facto e em rigor não podemos, mas esta afirmação também não tem qualquer valor ou utilidade pois a ciência nunca prova nada; esta é uma característica muito simples da forma como funciona a ciência. Ao invés, a ciência funciona acumulando dados e dados empíricos a favor ou contra as mais diversas hipóteses. Se podemos demonstrar que [por exemplo] os fenómenos psíquicos são incompatíveis com as leis da física que compreendemos actualmente, então a nossa tarefa seguinte é saber pesar quão plausível é que “algumas pessoas deixaram-se levar por má investigação, testemunhos não credíveis, confirmações viciadas, e ideias demasiado optimistas” ao invés de que “as leis da física que foram testadas por um enorme número de experiências rigorosas e de alta precisão ao longo de muitos e muitos anos estão simplesmente erradas de forma clara e macroscópica, e nunca ninguém reparou nisso”.

O conceito crucial a reter é que, na formulação moderna da física fundamental, nós não só sabemos uma série de coisas, mas também temos um conhecimento muito preciso dos limites das nossas teorias. Noutras palavras, embora saibamos que mais cedo ou mais tarde surgirão algumas surpresas (como cientistas, é por isso que esperamos), há também toda uma série de experiências que sabemos à partida que não vão resultar em quaisquer resultados de interesse — essencialmente porque a mesma experiência, ou alguma equivalente, já foi efectuada.

Um exemplo simples é a lei da gravitação de Newton, a famosa lei do inverso da distância ao quadrado. É uma lei da física com bastante sucesso, suficientemente boa para levar astronautas à Lua e trazê-los de volta. Mas certamente não é uma verdade absoluta; de facto sabemos que esta lei falha em certos regimes, devido a correcções oriundas da Relatividade Geral. Apesar disso, existe um regime em que a gravitação Newtoniana é uma aproximação eficaz, suficientemente boa até uma dada precisão, precisão essa que sabemos estimar. Podemos afirmar com confiança que, se estamos interessados na força gravítica entre dois objectos separados por uma dada distância, e com massas determinadas, então a teoria de Newton diz-nos qual é a resposta correcta com uma precisão bem determinada. […]

Este conhecimento científico tem consequências. Se descobrirmos um novo asteróide em rota de colisão com a Terra, podemos utilizar a gravitação Newtoniana com confiança suficiente para prever a órbita futura do asteróide. De um ponto de vista absolutamente rigoroso, uma pessoa poderia sentir-se tentada a dizer “Mas como sabemos que a gravitação Newtoniana funciona nesta caso particular? Ela não foi testada neste asteróide específico!”. E isso é verdade, pois a ciência nunca prova nada. Mas naturalmente não é assunto de preocupação alguma, e qualquer pessoa que fizesse tal afirmação nunca seria levada a sério.

Tal como os asteróides, tal como os seres humanos. Nós somos criaturas do universo, sujeitas às mesmas leis da física que tudo o resto. Como toda a gente sabe, há muitas coisas que não sabemos no que diz respeito à biologia e às neurociências, para não falar nas leis mais fundamentais da física. Mas há muitas outras coisas que compreendemos com enorme rigor e, [por exemplo], bastam os aspectos mais elementares da teoria quântica do campo para pôr definitivamente de parte qualquer ideia de que nós temos capacidade para influenciar objectos à distância apenas com o poder do pensamento. […]»

(Sean Carroll no Cosmic Variance, "Telekinesis and Quantum Field Theory" --- tradução minha)

28 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

Ciência e teologia

A divergência entre ateísmo e religião não se resume à existência de «Deus». Na sua raiz, é principalmente uma divergência quanto ao método de analisar a realidade. O ateu, normalmente, confia na ciência (teoria -> confronto com a observação -> nova teoria -> etc). O crente, incrivelmente, acha que «houve umas pessoas especiais» que sabem (ou souberam) mais do que as outras sobre a natureza das coisas, apesar de terem vivido há muito tempo em sociedades menos tecnológicas. Enfim, o mundo é um lugar estranho.