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Categoria: Ateísmo

28 de Setembro, 2010 João Vasco Gama

Paul Dirac e a religião

Não subscrevo inteiramente, mas é interessante conhecer a opinião de Paul Dirac sobre a religião:

«Eu não consigo entender porque perdemos tempo a discutir religião. Se formos honestos – e os cientistas têm de o ser – temos de admitir que a religião é uma confusão de falsas asserções, sem qualquer base na realidade. A própria ideia de Deus é um produto da imaginação humana. É bastante compreensível o porquê das pessoas primitivas, que estavam muito mais expostas às forças dominantes da natureza do que nós, terem resolvido personificar estas forças por medo e tremor. Mas hoje em dia, quando entendemos tantos processos naturais, não temos qualquer necessidade desse tipo de soluções. Eu não consigo entender como postular um Deus Todo-o-Poderoso nos pode de alguma forma ajudar. O que consigo ver é que esta suposição leva a questões improdutivas tais como o porquê de Deus permitir tanta miséria e injustiça, a exploração dos pobres pelos ricos e todos os outros horrores que Ele podia prevenir.

Se a religião continua a ser ensinada, não é pelas suas ideias ainda nos convencerem, é porque alguns de nós desejam manter as classes inferiores silenciadas. Pessoas caladas são muito mais fáceis de governar do que as clamorosas e descontentes. São também muito mais fáceis de explorar. A religião é uma espécie de ópio que permite a uma nação tranquilizar-se com sonhos cobiçados e esquecer-se das injustiças que são perpetuadas contra as pessoas. Daí a aliança próxima entre essas duas grandes forças políticas, o Estado e a Igreja. Ambas necessitam da ilusão de que um Deus benevolente recompensa – no Céu se não na Terra – todos aqueles que não se elevaram contra a injustiça, que cumpriram com o seu dever sossegadamente e sem reclamar. É precisamente por isso que a asserção honesta de que Deus é um mero produto da imaginação humana é condenada como o pior de todos os pecados mortais.»

20 de Setembro, 2010 Ricardo Alves

Hitler e os livre pensadores alemães

A Liga dos Livre Pensadores Alemães foi fundada em 1881. Em 1930 tinha 500 000 membros. Foi encerrada na Primavera de 1933, por ordem de Adolf Hitler. A sede nacional foi transformada numa repartição para dar informações ao público sobre as igrejas.

Max Sievers (a principal figura do movimento livre pensador) seria guilhotinado em 1944. Quando Hitler se vangloriou, num discurso em Outubro de 1933, de ter «eliminado o movimento ateísta», era à dissolução da Liga dos Livre Pensadores que se referia.

Noutro discurso, em Agosto de 1934, Hitler afirmou: «o Nacional Socialismo não se opõe à Igreja nem é anti-religioso, pelo contrário, está no campo de um verdadeiro cristianismo. Os interesses da Igreja não podem deixar de coincidir com os nossos no nosso combate contra os sintomas de degenerescência no mundo de hoje (…)».

Ao contrário do que pretende Ratzinger, nem Hitler era ateu nem os nazis pretendiam «erradicar Deus da sociedade». A Concordata de 1933, que foi um triunfo para ambas as partes, aconteceu justamente porque os nazis (em que se incluíam católicos como Hitler e Goebbels) concebiam um lugar para as igrejas na sociedade alemã. E Hitler favoreceu os «Cristãos Alemães», um movimento protestante abertamente racista, que destacava os aspectos potencialmente anti-semitas e racistas do cristianismo.

É portanto uma mentira reles dizer que os nazis pretendiam «erradicar Deus da sociedade», como afirmou o papa romano.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

16 de Setembro, 2010 Ricardo Alves

Woody Allen

  • «Para mim (…) não há diferença real entre uma vidente ou um bolinho da sorte chinês e qualquer uma das religiões organizadas. É tudo igualmente válido ou inválido, na realidade. E igualmente útil.» (Woody Allen, 14/9/2010)
17 de Agosto, 2010 Fernandes

Moralidade

“O último deus desaparecerá com o último dos homens”, escreve o filósofo francês Michel Onfray, no seu Tratado de Ateologia; acrescenta: “E com o último dos homens desaparecerão o temor, o medo, a angústia, essas máquinas de criar divindades”.

O ateísmo nasceu com a primeira religião, mas só entrou no cardápio das ideias abertamente debatidas, com o advento do iluminismo. Os ateus divergem em muitos pontos, mas há alguns consensos. Um deles é o de que a moralidade não é um exclusivo das religiões, e, portanto, um ateu pode ser ético e bom como qualquer crente ou o contrário. A favor da tese está a neurociência, cujas descobertas já provaram que até os chimpanzés têm noções morais, sentimentos de empatia e solidariedade – e não rezam nem crêem em Deus. Outro ponto em que todos os autores sobre ateísmo concordam, é que as religiões deixaram e ainda deixam, um enorme rasto de sangue atrás delas. Além dos exemplos clássicos das Cruzadas ou da expansão islâmica pela espada, há exemplos contemporâneos. Na Irlanda do Norte, protestantes lutam contra católicos. Em Caxemira, são muçulmanos contra hindus. No Sudão, cristãos contra muçulmanos, que também se confrontam na Etiópia, na Costa do Marfim, nas Filipinas… Crentes de diferentes religiões ou denominações guerreiam-se no Irão, no Iraque, no Cáucaso, no Sri Lanka, no Líbano, na Índia, no Afeganistão…

Entre os grupos populacionais a que se convencionou chamar de minorias – racial, sexual ou de género –, a minoria mais rejeitada é a religiosa, ou a anti-religiosa. Será isto uma prova da intolerância das religiões? Fará sentido rejeitar alguém apenas porque acredita noutro deus ou não acredita em deus algum? A verdade é que a sociedade ainda olha o ateu como alguém sem carácter, sem ética, “sem moral”. Segundo alguns estudos, apenas 13% da população votaria num candidato ateu. Num país cristianizado, como Portugal, em que os seus líderes religiosos elegem por patética inspiração divina, Fátima, “Altar do mundo!”; alguém que se confesse ateu é olhado de soslaio. É evidente que a moralidade nada tem que ver com a religião, assim como não é o resultado da sua ausência. Adolf Hitler (1889-1945), que planeou dizimar um povo inteiro, dizia-se religioso. Josef Stalin (1879-1953), cujas vítimas rondam os 20 milhões, dizia-se ateu.

A modernidade, com o aumento da escolarização e a crescente profissionalização de certas camadas sociais, fez com que o número de crentes diminuísse drasticamente. A resistência ao mundo da religiosidade é cada vez mais marcada pela descrença. Percebem-se aqui e ali, sinais de que a religião começa a perder aderentes. Não acabam todos ateus, é claro. Entre eles, há agnósticos, secularistas, cépticos e até quem se confesse, meio a contragosto, que foi católico, mas não tem religião, acredita em Deus, mas não é praticante.

Os “sem-religião” já são no Brasil, o terceiro maior grupo, atrás de católicos e evangélicos. Pelos dados do último censo, os sem-religião no país irmão, somavam 12,5 milhões, mais que um Portugal inteiro.

Nos Estados Unidos os sem-religião chegam aos 15%. O embate entre religiosos e os “sem-fé” ficou mais intenso depois dos atentados de 11 de Setembro. Os líderes religiosos, em vez de condenarem os atentados, afirmaram que foi uma punição de Deus por despenalizarem o aborto e a homossexualidade. A direita cristã, interlocutora de Deus, luta para que o seu rebanho não se disperse, e exerce uma considerável influência nas escolas e tribunais. E cresce um notável preconceito relativamente aos ateus de tal modo que a obsessão dos líderes religiosos é “livrarem-se” do estigma social que eles consideram ser o ateísmo.

Em Portugal, por ocasião da visita ao país do papa Bento XVI. Uma pesquisa relevou que aproximadamente 90% dos inquiridos acreditam na existência de Deus, e quase 80% acreditam que Jesus Cristo subiu ao céu depois de morrer crucificado, sendo que aproximadamente 70% acreditam que Maria deu à luz sendo virgem, e continuou virgem. Estes números revelam um Portugal crédulo e supersticioso – é lícito questionar: – Se são cada vez mais abundantes as descobertas científicas sobre a origem do universo e das espécies e a credulidade não se abala diante delas; talvez nenhuma prova científica, por mais sólida e contundente que se apresente, seja capaz de reduzir a crença e a superstição. Ajudará o facto de ainda hoje passarmos em povoados onde não existe uma biblioteca, uma farmácia ou uma escola, mas lá encontramos uma ou mais igrejas e várias capelas?

– Constato que continua a ser mais fácil abrir uma igreja do que uma mercearia.

9 de Agosto, 2010 Fernandes

Diálogos de um ateu

– Se temos que começar, eu quero deixar clara a diferença entre fé e razão. – diz o crente.

– A igreja católica, mesmo que você não acredite, nunca esteve contra a razão. E mais, num dos seus últimos concílios, proclamou que a razão pode demonstrar a existência de deus.

– E demonstrou-o?

– Que acha?

– Que quer dizer com essa pergunta?

– Quero dizer que a teologia dos seus correlegionários, é sempre a mesma, após séculos de demonstrações, desde Anselmo a Tomás de Aquino, vem agora dar razão à razão. Não lhe parece irónico?

– Irónico porquê?

– Porque as subtilezas dos teólogos são irónicas. Primeiro, e durante séculos, quiseram demonstrar a existência de deus. Depois, como essas demonstrações não demonstraram nada, decidem afirmar que a razão pode demonstrar a existência de deus. A mim dá-me riso.

– Riso? Não sei porquê, este é um assunto sério.

– Não duvido, mas a seriedade não consiste em dizer uma e outra vez, que a razão pode demonstrar a existência de deus, senão demonstrá-la de uma vez por todas. E eu continuo à espera.

– E continuará. Você não é crente!

– Deixe a crença de lado. Estamos a falar de razão.

– A fé pode ajudar a razão.

– Já tardava… você fala como o papa reinante; nada de raciocinar, deitar mão da fé para que a razão não se extravie, ou seja; deixai o cego como está mas dai-lhe uma tocha. Melhor ainda; deixai o cego como está, mas dai-lhe um Lázaro tonsurado que o leve pelo caminho certo.

– A fé e a razão não são opostas.

– Quantas vezes ouço essa frase. Não só são opostas, como nem sequer se parecem. Não são sequer da mesma natureza. Com a razão só se pode discutir; com a fé só se pode acreditar. Não se parecem em nada. Faça o teste, tente questionar a fé, e verá como a ela desaparece. Pelo contrário, se acreditar em vez de questionar, verá que desaparece a razão.

– Também não é assim como diz.

– Já começa você com trocadilhos.

– Trocadilhos? A que se refere?

– À arte dos trocadilhos, ou a arte de dizer que sim e que não ao mesmo tempo. Arte em que a igreja se especializou, e a que chamam teologia. O simples jogo de mudar o sentido das palavras para dizerem o que queremos que digam. Até agora a razão não conseguiu demonstrar a existência de deus, mas não importa, agora trata-se de dizer que sim, que pode demonstrá-la.

– E assim é!

– Não, não é assim, porque quando tentaram demonstrar não o conseguiram, afinal de que falam? De trocadilhos, de jogos de palavras, subtilezas que nem sequer o chegam a ser, basta olhá-las como são, como mentiras autorizadas, para que desapareçam.

– Mas …

– É verdade! Que fácil seria para a igreja aceitar que santo Anselmo ou Tomás, não conseguiram provar a existência de deus. Que também não o conseguiram a partir da razão. Mas não é preciso que o aceitem ou afirmem. Está à vista.

*Ignacio Ferreras, Juan. – Diálogos del Ateo.

26 de Julho, 2010 Fernandes

Diálogos de um Ateu

Comprei um pequeno livro na livraria Cervantes em Salamanca. Achei-o tão divertido que decidi partilhá-lo.

Um ateu e um crente encontram-se num café. O ateu é um homem educado e com sentido de humor; o crente também mas carece de algum sentido de humor. O ateu, como acontece com a maioria dos ateus, lê bastante; o crente lê menos, mas como costumam dizer, não precisam ler, basta-lhes acreditar. Os diálogos inclinam-se a favor do ateu porque entre os crentes não é fácil encontrar uma pessoa excessivamente culta. Com hábito de leitura, talvez, mas não excessivamente culta. Porque a cultura, a ilustração e o conhecimento, derrubam a fé. Receio que se aplique o aforismo: «Reflictamos, disse o crente, e se fez ateu».

Há dezenas de teólogos, sobre tudo católicos, que gastam as suas vidas buscando provas da existência da Deus. É uma pena porque a sociedade ficaria grata se os seus trabalhos tivessem melhor fim, ou seja, um fim prático. Escritores ateus não abundam porque como se recordarão, o ateísmo nunca se constituiu em escola e muito menos em igreja ou facção. Os ateus andaram ao longo da história de um lado para o outro, sem instituição que os acolhera, quase sem pai nem mãe. De vez em quando escreviam um livro, de vez em quando eram queimados, os livros e os autores. Eram tempos difíceis que ainda se mantêm em certas latitudes.

Os crentes não queimavam só ateus, também se queimavam e matavam entre si. Vamos aos diálogos:

O ateu oferece um livro sobre ateísmo ao crente .

– Consegue demonstrar-me que Deus não existe? – pergunta o crente.

– Não tenho que demonstrar uma inexistência, pelo contrário, o que é preciso é demonstrar a existência.

– Então não acredita em Deus?

– Eu sou ateu! Você não?

– Claro que não, eu acredito em Deus, sou crente.

– Um crente!? Maravilha. É difícil encontrar um crente.

– Há muitos crentes.

– Olhe que não, há muitos que crêem que acreditam, mas não são crentes.

– Pois eu acredito em Deus.

– Então ofereço-lhe este livro, afinal foi escrito a pensar nos crentes.

– Agradeço mas não aceito.

– Não me surpreende, os crentes sempre se negam a ler livros ateus.

– Não me recuso, mas acredite não o necessito. Eu acredito em Deus.

– Atreve-se então a discutir comigo a inexistência de Deus?

– Atrevo-me a discutir sobre a existência de Deus, que não é a mesma coisa.

– Bom, então vamos discutir um livro que demonstre a existência de Deus, não a sua inexistência porque essa salta à vista a partir dos milhares de livros que foram escritos tentando provar a sua existência. Estou a falar-lhe como compreenderá, de séculos e séculos de Teologia.

– Eu não vou aqui defender os santos padres, um crente de hoje não se parece em nada com um crente de antigamente.

– Quer então dizer-me que se acabou com a proclamação de milagres, aparições, profecias e outras coisas parecidas?

– Penso que não devemos abordar factos que de alguma maneira são inexplicáveis.

– Mas se me diz que são inexplicáveis, nunca chegará a explicá-los!

– Explicar um milagre parece um contracenso.

– Não tenha dúvida que assim é. Eu nunca vi um milagre, seguramente você também não, mas mesmo que o visse, ou seja; mesmo que presenciasse um facto que escapasse ao meu raciocínio, nem por isso negaria a racionalidade.

– Negaria então o facto milagroso?

– Os factos meu caro, não podem negar-se, não são discutíveis, discutível é a sua interpretação. E os crentes, explicaram sempre o que não tem explicação, a partir da fé em Deus. Por isso, e perdoe-me que lhe diga, um crente não pode ser razoável.

– Mas eu não nego a razão. Já lhe disse que sou um crente moderno.

– Não há crentes modernos nem antigos, sempre houve crentes e descrentes, e você é um crente, ou seja; coloca-se fora da razão, e por conseguinte, fora de tempo.

– Está chamar-me atemporal!?

– Claro que sim, tal como as religiões que só subsistem por isso, porque se colocam fora de tempo.

– Bom, gostava de continuar esta conversa mas tenho pressa.

– Pois sim, outro dia será. Gosto de conversar com um crente que tenta ser razoável.

– Sou razoável, não duvide. Até à próxima, adeus.

– Dizer adeus a um ateu, é correcto. O prefixo «a» é negação, logo você vai embora e deixa-me como me encontrou, sem Deus.

*Ignacio Ferreras, Juan. – Diálogos del Ateo.

5 de Junho, 2010 Carlos Esperança

O esgoto do Universo

É assim que o primata, que parece saído do título com que pretendeu definir o ateísmo, intitulou este texto no Jornal da Madeira.

Quando um cruzado sai da Idade Média para bolçar inanidades, não há argumentação que valha, nem paciência que justifique uma resposta.

Faz mais pelo ateísmo este naco de ódio em português medíocre do que a lúcida, serena e inteligente pedagogia dos pensadores ateus.

19 de Maio, 2010 Carlos Esperança

Porto – Debate: Religião e Ateísmo

Nota: Entrada livre. Todos serão bem recebidos. Podem perguntar ao segurança do HSJ, à entrada, que ele indicará o caminho.