16 de Março, 2011 Ricardo Alves
Eu vou escolher «Sem religião»
Foi criado no Facebook o evento «Eu vou escolher a opção “Sem religião” na pergunta 36 dos Censos 2011». Adiram e convidem os vossos amigos. Todos ainda seremos poucos.
Foi criado no Facebook o evento «Eu vou escolher a opção “Sem religião” na pergunta 36 dos Censos 2011». Adiram e convidem os vossos amigos. Todos ainda seremos poucos.
A Richard Dawkins Foundation for Reason and Science e a Non-Believers Giving Aid estão a recolher dinheiro para ajuda às vítimas do terramoto e tsunami no Japão. É seguir os linques.
Está na rua o Censo de 2011. Como ateu consciente e cidadão atento à evolução do fenómeno religioso, interessa-me a última pergunta do questionário individual: a delicada «qual é a sua religião». A situação é conhecida: o grupo em que me incluo, os «sem religião», é a maior minoria, e também a que mais cresceu entre 1991 e 2001.
O censo é a única operação oficial de contagem dos residentes em Portugal por critério de religião. Felizmente a única, porque o Estado não deve meter o nariz no que é matéria de convicção pessoal. E assim a Constituição nos garante, como deve, o direito de nem responder à questão.
As respostas registam sempre um número elevadíssimo de católicos, quase quatro vezes superior aos que se encontram na missa em qualquer domingo. O que acontece, em primeiro lugar, porque muitas pessoas entendem a pergunta «qual é a sua religião» como uma questão sobre se foram baptizados ou não. Mas não é disso que se trata.
Não ajuda que a pergunta do censo mencione, logo em primeiro lugar, a resposta «católica». Em mais nenhuma pergunta se seguiu, como a da religião aparenta, o critério da maioria (esperada) das respostas para as ordenar. Por exemplo: as respostas para o país de nascimento (quando no estrangeiro, questão oito) seguem a ordem alfabética. E as respostas à pergunta «como se desloca para o trabalho» (questão 21) começam com «a pé», e não «de carro» ou «de autocarro». No mínimo, o ordenamento é capcioso.
Também não ajuda que as categorias não católicas que se oferecem como resposta tenham designações tão estranhas que dificultam a identificação. «Ortodoxa» é um modo de viver a religião, não é uma religião. Seria melhor usar «católica romana» e «católica ortodoxa». «Protestante» será adequado para luteranos ou anglicanos, mas não para a maior minoria religiosa não católica, os que se designam a si próprios como «cristãos evangélicos». «Judaica» levanta outra questão: porquê incluir uma comunidade religiosa tão diminuta (quatro locais de culto no país inteiro) quando o Censo ignora as Testemunhas de Jeová (650 c0ngregações em Portugal, dizem eles) ou a IURD (que chegam a usar estádios de futebol)? Parece, sejamos claros, discriminatório. Porque, das duas, uma: ou o critério aqui deveria ser o número, e as opções seriam outras, ou a lista deveria ser exaustiva, e seria muito mais longa (ou com uma opção em aberto para se acrescentar «ateu», «agnóstico», «pagão», «satânico» ou «cavaleiro de Jedi»).
Seja qual for a opção, nada melhor do que escolhê-la esclarecidamente.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
Se Deus existisse, há muito que estaria em prisão preventiva e os seus serventuários a garantir que nunca o tinham visto, uma verdade, talvez a única, que apresentariam no pelourinho da opinião pública.
Quem semeia ventos e tempestades, guerras e terramotos, epidemias e pragas, não pode esperar o mais leve gesto de consideração ou estima. Deus é filho do medo e pai dos que vivem à sua custa, uma criação bizarra que explica tudo e o seu contrário sem provas ou recurso à inteligência.
O Deus de cada crente é talvez um mito tolerável, mas o Deus da religião é sempre um ente cruel, vingativo e caprichoso. Quanto mais atrasados forem os crentes mais odioso é o Deus que trazem.
O Deus do Islão é um ser pusilânime e misógino que desata aos pulos quando assiste à decapitação de um infiel, à lapidação de uma adúltera ou à tortura dos ímpios. Porta-se, na presença do toucinho, pior do que um garoto à frente de um prato de sopa e odeia o álcool quase tanto como a liberdade.
O Deus cristão, um pouco mais civilizado graças à cultura helénica e ao direito romano, anda com um colete-de-forças desde a Revolução Francesa, refreado pela separação do Estado e debilitado pela secularização, a liberdade e a democracia.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi a gota de água que fez transbordar o copo do descrédito em relação às baboseiras que Deus proferiu no Monte Sinai ou que segredou a Maomé entre Medina e Meca.
Deus gosta de humilhar os homens e, especialmente, as mulheres. Gosta de os ver de joelhos e de rastos, sempre a caminho dos templos (espécie de casas de alterne para os ofícios religiosos), ocupados na oração e a meterem-lhe cunhas para fazer uns milagres cada vez mais idiotas e ridículos.
Deus está com a cotação em baixa no mercado da razão. É um mito que persiste preso aos interesses dos clérigos, um veneno que se serve na infância e que corrói a inteireza de carácter e a felicidade dos homens.
O menino de dois anos não sobreviveria se não recebesse logo uma transfusão de sangue. Ele estava com anemia crônica e diarreia. Mas o seu pai já tinha entregado à direção do hospital um documento que proibia os médicos de adotar esse procedimento. A mãe se rebelou contra o marido a foi a justiça para conseguir a transfusão. Agora, o bebê passa bem.
A família da mãe ficou abalada. A avó, por exemplo, não entende como alguém em nome de uma religião pode deixar o seu filho morrer. “Será que Deus quer que uma criança morra? Isso não é normal, não”, disse ela.
Lembro que no final do ano passado falei sobre o caso onde um casal foi condenado por preferir rezar a levar o filho ao hospital. Vale lembrar que os religiosos não fazem isso por maldade. Eles realmente acham que agindo de tal forma, mesmo que sacrificando um ente querido, estarão agradando a deus. Ou seja, mais vale um filho morto do que desagradar um ser invisível, inaudível, intangível. E isso tem muito mais de egoísmo (o pai quer evitar que deus se aborreça com ele) do que de virtude.
O “Global Peace Index 2009? é um estudo estatístico que através de seus dados demonstra que quanto menos religioso é um país mais tendência pacífica esse mostra.
No estudo há 23 critérios, incluindo guerras estrangeiras, o respeito aos direitos humanos, conflitos internos, o número anual de homicídios, comércio de armas, o número de pessoas nas prisões, níveis de democracia, etc.
Global Peace Index: Atheist, Irreligious Nations Most Peaceful
Michael Shermer sobre crença em coisas estranhas
Há quem nos ache supérfluos, indignos e mal formados, quem julgue a nossa presença inútil, prejudicial ou perigosa, quem gostasse de nos ver calados, amordaçados ou erradicados. E nós, ateus, teimosamente vivos, perante a impotência de Deus e espanto dos crentes, teimamos em ser uma voz ao serviço da liberdade, do livre pensamento e da descrença.
Da enorme quantidade de religiões que disputam o mercado da fé todas se julgam inspiradas no único Deus verdadeiro, donde se conclui facilmente que na melhor das hipóteses todas são falsas e só uma é autêntica e, no caso mais provável, nenhuma delas passa de um embuste de que se alimentam os parasitas da fé à custa dos crédulos.
Os ateus respeitam os crentes e desprezam as crenças. São como médicos que cuidam os doentes e atacam as doenças; são solidários com os que sofrem e abominam os que incentivam o sofrimento; defendem a felicidade, o conhecimento e a razão e combatem a resignação, a subserviência e a superstição.
Nunca o Diário Ateísta defendeu posições racistas, discriminações com base na raça, no sexo, na religião ou em qualquer outro pretexto. Não faz a apologia do nacionalismo ou estimula atitudes belicistas. Reiteramos a cada momento a nossa determinação na defesa dos princípios que regem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Qual a religião que se conforma com tais princípios?
Defendemos a liberdade, os direitos humanos e a democracia. Combatemos a pena de morte, a prisão perpétua e a tortura. Somos contra o racismo, a xenofobia e a discriminação sexual. Há alguma religião que nos acompanhe? Quem é intolerante?
É ignóbil que alguém procure impedir a prática de uma religião mas é ainda mais abjecto haver quem imponha a sua prática, um hábito a que não renunciam facilmente os prosélitos dos diversos credos, determinados a fazer cumprir a vontade do deus a que se encontram hipotecados, escravos da vontade divina interpretada pela mente embotada dos seus padres.
As sociedades que aprofundam o laicismo não põem em causa o exercício da liberdade religiosa mas as que se submetem a um credo facilmente confiscam todas as liberdades em nome de um Deus que não existe com uma sanha persecutória e vocação totalitária próprias de quem se julga detentor de verdades absolutas.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.