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O Cardeal espanhol Rouco Varela tenta aproveitar-se do momento de crise financeira em alguns países europeus para ludibriar e criar falsas ideias e saídas da conjuntura. Disse ele: “Não sairemos da crise se não nos convertermos” e que a crise actual “não é só económica e financeira; estamos também sofrendo uma profunda crise moral e de valores”.
Este discurso é do tipo “chapa 5”. Ele repete o mesmo que já temos ouvido há décadas e se procurarmos mais longe o encontraremos também. Nada de novo. Apenas repete o que não foi ele que inventou.
Os padres gostam muito de falar no plural. “Nós” (os ricos), “estamos também sofrendo…”, isto e aquilo…
Em primeiro lugar diria que estarão a colher o que semearam e que “Deus” lhe deu, se existisse; o Espírito Santo inexistente faltou no apoio à Igreja, esta foi abandonada pelos deuses inexistentes, caíram na crise! Dão razão aos ateus que dizem que os deuses não existem. Se existissem deuses seriam pouco solidários ou nada com a Igreja Católica. Não colaboram em nada nesta crise!
Em segundo lugar, o Clero gosta de confundir a Sociedade como um todo, como se tivesse interesses unidireccionais, onde incluem a entidade pública, o Estado, e a Igreja Católica, entidade privada que pertence a um Estado estrangeiro (o Vaticano, essa multinacional). As pessoas têm dificuldade em perceber esta diferença abismal da realidade e o discurso falacioso dos padres. Os interesses públicos e privados são frequentemente contraditórios (veja-se a questão da Igreja não pagar IMI ao Estado espanhol, como exemplo, mostrando uma falta de solidariedade com os espanhóis e as necessidades do Estado em superar os seus défices financeiros).
É sabido que a Igreja Católica presta serviços religiosos e quanto mais clientes tiver, mais rendimentos conseguirá. Então, o Cardeal espanhol tenta passar a ideia de que com a “conversão” tudo ficará bom. Sabemos que os espanhóis têm sido durante muitos anos maioritariamente ligados ao catolicismo. Isto não os livrou da ditadura, nem da guerra civil, nem da actual crise financeira.
Assim, uma vida normal e com bem-estar nada tem a ver com “conversão”. É uma Mentira religiosa do cardeal Rouco Varela. E a Igreja Católica não transformará a vida dos espanhóis. Ela vive dela. É o seu negócio!
O artista Javier Krahe foi ontem a tribunal, em Espanha, por ter feito o pequeno filme que se vê mais abaixo.
É acusado de «ofensa aos sentimentos religiosos» (ou seja, de blasfémia). Se for condenado, admite exilar-se em França.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
Já aqui partilhei uma excelente série de vídeos sobre uma experiência de desconversão. Pela forma séria, sofisticada e apelativa como está construída e pela clareza e pertinência dos argumentos apresentados, sugeri vivamente o seu visionamento completo.
Recentemente descobri que essa série foi legendada em português. Agradecendo a quem fez a tradução, aproveito para divulgar a série de novo neste espaço.
Aqui está um dos melhores vídeos da série, o momento da desconversão, desta feita legendado em português:
PS- Não esquecer de activar as legendas, para quem não tem essa opção por omissão.
Dizer que o ateísmo é um fenómeno contemporâneo, é uma ideia falsa, que um adjectivo pode tornar verdadeira. O ateísmo data de há pelo menos dois mil cento e cinquenta anos, mas o ateísmo militante, tem apenas um século e meio.
A negação da existência de Deus já estava presente na Grécia e na India no primeiro milénio Antes da Nossa Era. No tempo de Buda (agnótisco mas não ateu), a India tinha os seus materialistas que, através do seu mestre pensador, Ajita Keshakambala, negavam a ideia de reincarnação em função dos méritos: Os cépticos, discípulos de Sanjaya Belatthaputta, achavam impossível (tal como os seus homólogos na Grécia) ter uma certeza do que se passava no “lado de lá”. Os hebreus também tinham os seus ateus. «não existe Deus», diziam os homens «presunçosos» ou «loucos» (Salmos 10,4 e 14,1). mas talvez estes ateus fossem apenas fiéis de um ídolo porque «pregam sobre os não-deuses» (Jeremias 5,7) e renegam o Deus de Israel.
A questão da existência de Deus está ligada, no mundo antigo e no moderno, à recompensa do Bem e à punição do Mal. A partir da época (século VI, A.N.E.) em que se expande, tanto na India como no Próximo Oriente, a crença numa vida futura melhor para os justos e não tão boa para os maus, as injustiças deste mundo deixam de estar automaticamente na origem de uma atitude de incredulidade. Muitos são, no entanto, os que continuam a desejar uma retribuição na terra, como os sábios da Bíblia, Job e Qohélet, que confundiam a dúvida com a fé e vêem no triunfo do Mal a vaidade do mundo e a vacuidade do Bem. O Corão associa igualmente a existência de Deus à recompensa dos crentes: «Não há dúvida quanto a isso mas uma parte não sabe… Dizem: a única vida que existe é a actual» (salmo 45,24). Estes não-crentes podem ser «idólatras» (são mais heterodoxos do que os ateus) mas também muçulmanos cépticos, leia-se ímpios. No século XII, o poeta iraniano Omar Khayyam escreveu: «No xadrez da existência, somos votados aos nossos jogos para cairmos no vazio de um baú.» Entre os amores interditos e a proibição do álcool, muitos poetas árabes ou persas confundem descrença com libertinagem.
Esta mistura é também denunciada na França de Luís XIV por vários predicadores e, sobretudo, por Bossuet: «Il y a un atheísme caché dans tous les coeurs qui se répand dans toutes les actions» (Pensées détachées). «Les athées et les libertins… disent ouvertement que les choses vont au hasard et à l`aventure, sans ordre, sans gouvernement, sans conduit superieure.» Mas falar abertamente pode conduzir à morte: em 1776, o cavaleiro de La Barre, de desanove anos, foi decapitado em Paris por não ter descoberto a cabeça à passagem de uma procissão. O medo do martírio sustém os ateus, porventura mais numerosos do que os raros «espíritos fortes» que confessam a sua não-crença.
O século XIX assiste ao nascimento de um ateísmo menos centrado na moral que no social, resumido na frase do socialista Blanqui: «Nem Deus nem mestre.» O ateísmo “militante” dos tempos modernos, por oposição ao ateísmo “pessoal” das épocas anteriores, toca o coração das multidões «supersticiosas» em que se transformaram as massas trabalhadoras. Estas são levadas a questionar os religiosos ociosos, imorais porque associais. Quanto à libertinagem de antanho, classificamo-la menos como ateísmo do que como hedonismo. Pode dizer-se que ela suscita mesmo uma nostalgia do ideal ateu e da sua moral laica. Entre a esperança e a desilusão, estes homens lúcidos são a um tempo crentes e ateus. Como se em cada crente houvesse um ateu incrédulo disfarçado.
*adaptado: Odon Vallet. Pequeno livro das ideias falsas sobre as religiões.
Uns 24% de la população espanhola declara-se não crente
‘Ateísmo não triunfa porque não se dá espaço nos medos de comunicação’
‘Defendemos a liberdade das pessoas. Somos racionalistas’
Estado tenderá que caminha no mesmo sentido da sociedade’
Ahhh… a religião e toda sua tolerância, tratamento igualitário e compaixão com o próximo me emocionam.
Um estudante de 15 anos teria sido alvo de bullying em uma escola estadual (pública) de São Bernardo do Campo por causa de sua religião – o candomblé. As provocações começaram após o jovem se recusar a participar de orações e da leitura da Bíblia durante as aulas de história, ministradas por uma professora evangélica. O aluno cursa o 2º ano do ensino médio na escola Antonio Caputo, no Riacho Grande.
Segundo o pai do aluno, Sebastião da Silveira, 63, faz dois anos que o filho comenta que a professora utilizava os primeiros vinte minutos da aula para falar sobre a sua religião. “O menino reclamava e eu dizia para ele deixar isso de lado, para não criar caso. Ela lia a Bíblia e pedia para os alunos abaixarem a cabeça, mas isso ele não fazia, porque não faz parte da crença dele”, disse.
Depois disso, começaram a incomodar o garoto. Num caso extremo, lançaram um papel com catarro em suas costas. Em outro episódio, fizeram cartazes com a foto de um homem e uma mulher vestindo roupas características do candomblé e escreveram que aqueles eram os pais do estudante. A pedido da família, o menino foi trocado de sala, mas não quer mais ir para a escola e apresenta problemas de fala, como gagueira, e ansiedade.
O pai do garoto disse que foi até a unidade de ensino para conversar com a professora de história sobre as orações antes da aula: “Ela se mostrou intransigente e falou que era parte da didática dela. Eu disse que se Estado é laico, alunos de todas as religiões frequentam as aulas e devem ser respeitados, mas ela afirmou que não ia parar”.
É a religião construindo um mundo melhor, mais justo e fraternal para todos. Lindo isso.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.